As
energias renováveis bateram recordes de crescimento em 2021, segundo a Agência
Internacional de Energia (IEA). Apesar dos persistentes desafios gerados pelo
rompimento das cadeias de suprimentos dos insumos industriais provocado pela pandemia
da covid-19, os incrementos de capacidade da energia renovável aumentaram 6% e
quebraram mais um recorde, atingindo cerca de 295 GW (cerca de 20 usinas de
Itaipu). Esse crescimento é um pouco maior do que o previsto no ano passado
pela própria IEA.
Cabe
destacar que este crescimento ocorreu antes da invasão russa da Ucrânia e deixa
claro que o avanço da transição energética ocorre principalmente em períodos de
paz e não de guerra. Superar a Era dos combustíveis fósseis é urgente para
diminuir a emissão de gases de efeito estufa, implementar a chamada
“carbonização reversa” e evitar um aquecimento global catastrófico.
Globalmente, houve um declínio de 17% nas adições anuais de capacidade eólica em 2021. Porém, isto foi compensado por um aumento na energia solar fotovoltaica e crescimento nas instalações hidrelétricas. A expansão de bioenergia, energia solar concentrada (CSP) e geotérmica ficou estável em 2021 em comparação com 2020. Em termos de velocidade de crescimento, o aumento ano a ano da capacidade renovável em 2021 foi mais lento, após um salto excepcional em 2020, conforme mostra o gráfico abaixo.
A China manteve a liderança isolada na participação de mercado das novas implantações em 2021, respondendo por 46% das adições de capacidade renovável em todo o mundo. No entanto, a nova capacidade chinesa diminuiu 2% em relação ao ano anterior, conforme mostra o gráfico abaixo. A Europa ocupa o segundo lugar no aumento da capacidade instalada, bem atrás da China, mas à frente dos Estados Unidos. A Índia tem avançado, mas bem atrás da China, da Europa e dos EUA. O mesmo pode-se dizer da América Latina. Mas de modo geral há um avanço das energias renováveis em todo o mundo.
Em meio à crise energética global e ao agravamento da emergência climática, a ONU e seus parceiros lançaram em maio de 2022 duas novas iniciativas para acelerar a ação para alcançar energia limpa e acessível para todos e a meta ambiciosa de emissões líquidas zero de carbono. O Plano de Ação da ONU-Energia para 2025 cumpre os compromissos assumidos em uma reunião de alto nível em setembro, que estabeleceu um roteiro global para acesso e transição à energia até o final da década, além de contribuir para emissões líquidas zero até 2050. Uma Energy Compact Action Network também foi lançada para combinar governos que buscam apoio para suas metas de energia limpa com governos e empresas que já prometeram mais de US$ 600 bilhões em assistência.
Contudo,
mesmo que o mundo consiga chegar a 100% de energia renovável em 2050, a
concentração de CO2 na atmosfera (que chegou a 421 ppm em maio de 2022) pode
ultrapassar 500 ppm até 2050 e tornar o aquecimento global incontrolável nos
limites necessários para evitar uma tragédia ambiental e civilizacional.
De
fato, o mundo baseado na energia renovável é não só desejável com é inevitável.
Por isto se diz: “O futuro será renovável ou não haverá futuro”. Porém, embora
o avanço das energias renováveis seja um fato auspicioso e esteja ocorrendo num
ritmo mais rápido do que o previsto no início do atual século, a humanidade
continua queimando hidrocarbonetos e aumentando as emissões de gases de efeito
estufa a uma taxa alarmante.
Não é simples fazer a transição energética. Um estudo publicado na revista Nature Climate Change (2022), disse que a taxa de mudança necessária para enfrentar a crise climática é tão grande que o rápido colapso das indústrias de combustíveis fósseis apresenta grandes riscos de transição. Os pesquisadores estimaram que os projetos de petróleo e gás existentes no valor de US$ 1,4 trilhão perderiam seu valor se o mundo se movesse decisivamente para reduzir as emissões de carbono e limitar o aquecimento global a 2°C. Ao rastrear muitos milhares de projetos através de 1,8 milhão de empresas até seus proprietários finais, a equipe descobriu que a maioria das perdas seria suportada por pessoas individuais por meio de suas pensões, fundos de investimento e participações acionárias.
Além do mais, existem muitas dúvidas se o aumento da capacidade instalada de energias renováveis será capaz de funcionar em uma rede inteligente global. Gail Tverberg (30/01/2017) considera que existe muita ilusão sendo vendida em nome das energias “limpas”. Embora, sem dúvida, o avanço da transição energética é melhor do que a dependência dos combustíveis fósseis. O sol e o vento são recursos naturais abundantes e renováveis, mas, certamente, não podem fazer milagres e nem evitar o imperativo do metabolismo entrópico, como ensina a escola da Economia Ecológica.
A
humanidade já ultrapassou a capacidade de carga do Planeta. Como alertou o
ambientalista Ted Trainer (2012), as energias renováveis não são suficientes
para manter o crescimento exponencial da expectativa das pessoas por um alto
padrão de consumo conspícuo. Trainer prega um mundo mais frugal, com
decrescimento demoeconômico, onde as pessoas adotem um estilo de vida com base
nos princípios da Simplicidade Voluntária.
O
mundo precisa urgentemente descarbonizar a economia e recuperar os ecossistemas,
além de ampliar as áreas anecúmenas e promover o bem-estar de todas as espécies
vivas do Planeta. Zerar o desmatamento e as queimadas, plantar árvores e
recuperar as florestas são uma necessidade urgente.
Acima
de tudo, a mudança da matriz energética é uma condição necessária, mas não
suficiente para enfrentar a crise climática e ecológica. É também uma condição
necessária, mas não suficiente para evitar as guerras pelo petróleo. Evidentemente, a revolução
econômica e comportamental para salvar a vida no Planeta vai muito além do
simples crescimento das energias renováveis. Mas não haverá um mundo pacífico e
sustentável se não for planejado o fim do mundo dos combustíveis fósseis e dos
privilégios sociais que o petróleo sustenta.
A
humanidade já superou a capacidade de carga da Terra e aumenta a probabilidade
de um colapso sistêmico global. A Organização Meteorológica Mundial (OMM),
divulgou um relatório em maio de 2022, mostrando que houve recorde negativo em
quatro indicadores-chave da crise climática: concentrações de gases de efeito
estufa, aumento do nível do mar, calor e acidificação dos oceanos. Assim, o
mundo precisa de um decrescimento demoeconômico global e a transição energética
é um passo essencial para o processo de descarbonização da economia.
Relatório da consultoria Deloitte, mostra que se o mundo agir imediatamente para atingir rapidamente emissões líquidas zero até meados do século, limitando o aquecimento global a até 1,5°C até o final do século, a transformação da economia prepararia o mundo para um crescimento econômico mais forte até 2070. Tal transformação poderia aumentar o tamanho da economia mundial em US$ 43 trilhões em termos de valor presente líquido de 2021-2070.
Ao contrário, se a mudança climática não for controlada ela pode custar à economia global US$ 178 trilhões em termos de valor presente líquido de 2021-2070. Os custos humanos seriam muito maiores: falta de comida e água, perda de empregos, piora da saúde e do bem-estar, redução do padrão de vida. (ecodebate)
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