Carro elétrico pode ser mais
eficiente e ecológico que os veículos a combustão; mercado está em expansão,
mas ainda há dúvidas e desafios.
Em 2024, os elétricos já representam quase a metade do mercado de
veículos novos eletrificados. Até maio, já foram emplacados no País nada menos
que 26 mil modelos a bateria. Assim, com a crescente ascensão desta tecnologia,
a tendência é que os elétricos fiquem cada vez mais baratos conforme novos
lançamentos cheguem ao Brasil. Estes veículos não emitem gases pelo escape e,
assim, colaboram para reduzir a poluição do ar.
Atualmente, a China é o maior mercado do mundo para veículos
elétricos. Por isso, algumas novas marcas chinesas de eletrificados estão a
caminho do Brasil. Mas ainda há dúvidas sobre o nível de confiabilidade, o
processo de descarte das baterias, bem como a eficiência real desses modelos em
relação aos carros com motores a gasolina, flex e diesel.
Carro elétrico tem “emissão zero”
Em 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, a ecologia vira debate. Nesse sentido, os veículos elétricos têm papel crucial na redução de emissões, já que não emitem dióxido de carbono (CO2). Isso ocorre porque os carros a bateria (BEV) não queimam combustíveis como gasolina e diesel. Dessa forma, o elétrico é sim mais ecológico.
GWM
Mauricio Crivelin, CEO da Kinsol, empresa especialista em energias
renováveis, compara a expansão do mercado de carros elétricos com o de energia
solar. “É como foi com a energia solar num passado não muito distante. De
início, era inviável. Mas passou a ser viável. Com os elétricos, as baterias
representam 70% do custo. Contudo, de 2010 para 2022, o valor caiu em mais de
90% no custo de produção. Isso fez com que chegassem elétricos mais acessíveis
em 2023”, recorda o executivo.
Em relação à emissão de poluentes, os motores elétricos conseguem
ser mais eficientes na conversão de energia. Ou seja, há menos desperdício que
no processo de queima. Crivelin também aponta que, para um veículo popular à
combustão andar 350 km, o condutor gastará em torno de R$ 190. Já no carro
elétrico popular, a mesma quilometragem tem custo de cerca de R$ 40.
Ecológico e eficiente
Em geral, os veículos elétricos conseguem ser mais eficientes que
modelos a combustão. Enquanto os carros a bateria apresentam eficiência de 80%
a 90% no aproveitamento de energia, modelos a gasolina e a diesel entregam de
25% a 35%.
Rafael Catapan, professor da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), explica: “Para cada 100 kWh abastecidos em um veículo
elétrico, cerca de 80 kWh a 90 kWh são convertidos em movimento. Nos veículos a
combustão, este número não passa de 35 kWh. O restante da energia é
desperdiçado pelo sistema na forma de calor”, pontua.
“É preciso enxergar nos veículos elétricos uma alternativa promissora para reduzir emissões de poluentes nos grandes centros urbanos, bem como o custo operacional para o motorista. Porém, devemos reconhecer que há uma discussão crescente sobre os impactos do seu uso, as emissões associadas ao ciclo de vida, que também incluem desafios ainda não superados quanto ao descarte ou reutilização das baterias”, salienta o professor.
E o descarte das baterias?
Atualmente, quando uma bateria chega ao fim do ciclo de vida, a
montadora é responsável por retorná-la à fábrica e garantir o reuso. Se uma
fabricante produzir 100 carros elétricos, por exemplo, é necessário que receba
de volta o mesmo número de baterias para reciclagem. Entretanto, para Rodolfo
Levien, COO da VoltBras, que oferece soluções para recarga de carros elétricos,
diz que o descarte das baterias não é mais um problema.
“A reciclagem de baterias é algo extremamente benéfico, pois praticamente todos os materiais podem ser reaproveitados. Portanto, mesmo que antigo, o componente tem grande valor por conta reciclagem dos materiais. Por esse motivo, as consequências para o futuro são muito baixas, visto que já existem políticas para incentivo do reuso e devolução dessas baterias, onde é possível reciclar e reutilizar todos os materiais. Então, se seguirmos com essas normas, o descarte de baterias não trará grandes impactos para o meio ambiente”, explica Levien.
Futuro da mobilidade urbana
Os três especialistas consultados pelo Jornal do Carro concordam
neste ponto: há espaço e futuro para os carros elétricos no Brasil. Aliás, um
futuro que já é realidade. Por isso, as montadoras estão direcionando cada vez
mais dinheiro e pesquisas para os carros eletrificados – a Nissan, por exemplo,
anunciou nos últimos dias que não investirá mais em motores combustão.
Contudo, Rafael Catapan diz que é preciso ter cuidado com as
outras etapas do veículo elétrico para que ele seja efetivamente ecológico. “É
preciso incluir as emissões provenientes da fabricação do veículo, incluindo os
componentes; da geração e transporte da energia, que pode ser tanto um
combustível de origem fóssil, como um biocombustível ou eletricidade, e também
emissões provenientes da infraestrutura operacional e do descarte desses
veículos”, aponta.
Segundo o professor da UFSC, um estudo recente de outra
universidade, a Unicamp, mostra que as emissões de CO2 por
quilômetros rodados podem ser maiores em veículos elétricos que nos híbridos,
mesmo no Brasil. “Isto é consequência direta das emissões que ocorrem na
fabricação das baterias e na geração de eletricidade”, explica.
Para Rodolfo Levien, há ainda outro ponto de atenção: “Se deixarmos de ter o controle de reuso e reciclagem de baterias, o que funciona muito bem hoje, acredito que haverá uma grande consequência para o meio ambiente a longo prazo”, alerta.
Carros elétricos estacionados em um terreno na França não têm baterias que podem vazar. (jornaldocarro)
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