domingo, 4 de agosto de 2024

Usinas solares no Brasil pecam na manutenção

Para diretor de empresa especializada, maioria sequer lava os módulos e não adota padrão de inspeção.
Com seus 42,8 GW de potência instalada, a fonte solar fotovoltaica é já um mercado maduro no Brasil, o segundo em participação na matriz elétrica e com muitas usinas já há anos em operação, sendo 29,1 GW em telhados, fachadas e terrenos na geração distribuída e 13,7 GW em grandes usinas centralizadas.

A despeito do mérito do mercado em tornar a matriz do país mais limpa nesse período, desde que começou a ser implantada em 2012, essa maturidade da fonte também passou a se refletir, nos últimos anos, no registro de problemas, em usinas há mais tempo em operação, de queda de geração e de outras falhas operacionais por conta de falta de manutenção.

Essa realidade é atestada por empresas de engenharia que também prestam serviços de manutenção nas usinas, como a First Energy, de São Paulo. Segundo seu sócio-diretor, David Carvalho, há cerca de dois anos começou a crescer a procura por serviços para atestar o desempenho dos módulos solares, principalmente de mini geração distribuída, cujos proprietários das usinas começaram a perceber queda na produtividade.

Para ele, a maioria das usinas no Brasil não faz manutenção adequada. “Dá para dizer que 90% não têm preocupação com isso”, afirmou à Brasil Energia. 

A empresa utiliza drones com câmera termográfica para identificar pontos quentes (hot spots) e outras avarias nas usinas. “Na verdade, começamos com o voo do drones para fazer uma termografia antes de lavar os módulos, até para mostrar aos clientes os problemas que acarretam a não lavagem”, aponta. A lavagem é feita com sistema especial de limpeza, um maquinário com bomba de pressão e escova rotativa.

Com a usina limpa, é realizada outra termografia com o drones. “Aí é possível verificar se os problemas persistem. Caso continuem acontecendo mesmo com os módulos limpos, indicamos as ações que devem ser feitas”, explica.

É comum, nesta fase, a identificação dos pontos quentes, partes danificadas cuja temperatura é mais elevada que a do resto do painel, o que afeta a capacidade de geração do módulo. “Se um módulo está danificado e queimar, toda a string de módulos em que ele está conectado para de funcionar”, explica. “No pior cenário, aquele módulo pode queimar e iniciar um pequeno incêndio”, completa.

“Tem muito cliente que procura a gente dizendo que a usina não está gerando bem e que não sabe o porquê. Diz que o integrador já foi lá várias vezes, mas não identificou o problema. Aí nós subimos o drones e encontramos vários módulos com pontos quentes”, diz.

Com a análise termográfica, são apontadas as soluções. No caso dos pontos quentes, a mais comum delas é a troca dos módulos, acionando normalmente a garantia dos fabricantes. De acordo com ele, muito dificilmente, em uma análise termográfica, não são identificadas avarias deste tipo.

Apesar de os pontos quentes poderem ser causados por problemas durante a instalação ou o transporte dos equipamentos, segundo Carvalho, os problemas são agravados por conta da qualidade dos módulos de muitas usinas. Isso porque o mercado brasileiro, explica, tende a receber da China os modelos de qualidade mediana para baixo.

“Os fabricantes chineses têm normalmente os módulos tipo A, B e C. Os tipo A vão para os países ricos, mas como o Brasil e outros países em desenvolvimento compram muito por preço, eles tendem a vender os intermediários, tipo B, para essas regiões. Já os C vão, por exemplo, para a África ou para alguns lugares da América Latina”, explica Carvalho, cuja empresa também faz projetos de usinas.

Na área de serviços, além da lavagem e termografia, a First Energy também faz medições elétricas das usinas, com coleta de informações que geram análise para atestar se a degradação dos módulos está dentro do esperado pelo fabricante, que apresenta uma percentagem tolerável de perda de capacidade ao longo da vida útil do equipamento.

No caso de usinas grandes centralizadas, Carvalho explica que a vantagem delas é ter inversores mais avançados, com sistemas de traçadores de curva, que conseguem identificar em qual string de módulos está ocorrendo problema de menor geração. "Mas eles também não têm contratado muito o serviço de drones termográfico, que é a única tecnologia que pode mostrar em qual módulo tem o problema", completa.

Problemas que podem ocorrer em uma usina solar

De acordo com o diretor, a empresa está negociando um contrato de termografia por drone de usina centralizada de 300 MW. (brasilenergia)

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