Diante da constatação,
procurou o motorista e foi informada que o ônibus era movido a eletricidade —
um dos seis em circulação na capital. Mas não é apenas o silêncio que
caracteriza esse tipo de veículo. Os elétricos emitem menos gás carbônico
quando comparados aos movidos a combustíveis fósseis, como o diesel.
É por conta dessas vantagens
que o Brasil iniciou um processo de substituição da frota de ônibus. Tudo para
cumprir a meta mundial, fechada no Acordo de Paris, de reduzir as emissões de
gás carbônico e manter o aumento da temperatura média do planeta “bem abaixo”
dos 2°C em relação aos níveis pré-industriais.
Nesse contexto, o uso de
veículos elétricos exerce um papel fundamental. Segundo a Federação Europeia de
Transporte e Meio Ambiente, carros elétricos emitem 3 vezes menos gás carbônico
em comparação aos modelos convencionais.
Com isso em mente, governos ao redor do mundo resolveram substituir a frota de veículos utilizados em transportes públicos por modelos menos danosos ao meio ambiente, como os híbridos ou elétricos.
A China é referência no assunto. Cerca de 65% dos ônibus utilizados no transporte público no gigante asiático são elétricos.
Na União Europeia, 43% dos
ônibus adquiridos pelas cidades em 2023 são elétricos ou movidos a hidrogênio
verde. A frota de Londres, por exemplo, já é 60% sustentável. Paris tem planos
para ter 90% da frota composta por veículos elétricos até 2030.
No Brasil, a realidade ainda
é diferente. Segundo a plataforma E-bus Radar, que monitora o transporte
público na América Latina, o país possui 556 ônibus elétricos, em uma frota de
mais de 100 mil ônibus. Sendo assim, os elétricos representam menos de 1% da
frota nacional.
Para Roberto Marx, do Departamento
de Engenharia de Produção da Universidade de São Paulo (USP), o que tem
emperrado o avanço dos ônibus elétricos no Brasil é a falta de infraestrutura.
“Não basta comprar os ônibus. É preciso ter, por exemplo, pontos de carregamento das baterias nas garagens. Tudo isso implica em investimentos”, explica o professor, também coordenador do Laboratório de Estratégias para a Indústria da Mobilidade (Mobilab), que recentemente fez um estudo comparando as emissões de gás carbônico de ônibus de diferentes tecnologias de motorização e combustível.
A pesquisa constatou que além de provocar menos impacto ambientais — por emitir 90% menos carbono da produção ao descarte — os ônibus elétricos têm custos quase iguais dos movidos a diesel.
“Levando em consideração toda
a vida útil, incluindo as despesas com abastecimentos e manutenção, os ônibus
elétricos custam apenas 1% a mais que os movidos a diesel”, calcula.
Ter uma legislação climática, segundo o professor, também pode influenciar na transição energética. “O que tem feito as empresas se mexerem é a questão legal. Isso tem influenciado fabricantes, concessionárias de transporte, de energia, enfim todo o ciclo”.
Lei ajuda transição em São Paulo
São Paulo é uma das cidades
pioneiras na criação de lei que exige a redução progressiva das emissões de
poluentes pelas empresas de transporte. Pelas regras, as concessionárias estão
proibidas de comprar novos ônibus movidos a combustível fóssil desde 2022.
A norma tem como objetivo
principal a queda na liberação de três compostos: óxido de nitrogênio (NOX),
dióxido de carbono (CO2) e material particulado (MP), todos emitidos
pelos motores a combustão.
A lei estabelece metas para
10 e 20 anos. O horizonte é zerar as emissões em 2038. A meta para este ano é
substituir 20% da frota (2.600 ônibus) por energia limpa. A SPTrans, que regula
o serviço de transporte na capital paulista, diz que esse percentual está
mantido. Até o momento, 318 veículos elétricos estão em circulação.
Pela proposta do governo municipal,
as empresas concessionárias do transporte pagariam o equivalente ao ônibus
movido a diesel e a diferença ficaria a cargo do poder público.
Um dos desafios para colocar
esse plano em prática é o financiamento para a fabricação desses modelos. O que
demandaria perto de R$ 8 bilhões.
A prefeitura viabilizou financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial para impulsionar a substituição. O valor soma R$ 5,7 bilhões.
Governo lança programa de incentivo
O Ministério das Cidades
anunciou a seleção de projetos de 98 municípios por meio do Programa de
Renovação da Frota (Refrota), com investimento de R$ 10,5 bilhões. A meta é
substituir cerca de 5.350 veículos antigos por 2.529 ônibus elétricos e 2.782
Euro 6, que são mais eficientes e menos poluentes.
Para o ministro das Cidades,
Jader Filho, a atual frota está envelhecida, o que causa uma emissão maior de
CO2, além de afetar o conforto e segurança de passageiros.
“A frota de ônibus urbano circulando está envelhecida, com uma média de mais de sete anos de idade. Além de uma frota antiga emitir mais CO2 e poluentes locais, há um maior custo operacional de manutenção desses veículos antigos”, diz o ministro Jader Filho.
“Para o passageiro, veículos antigos afetam consideravelmente o conforto e a segurança das viagens. Com o Novo PAC ajudaremos nessa renovação de frota incorporando veículos novos, que melhoram o conforto e a segurança dos passageiros”, completa.
Para o ministro, os ônibus
elétricos, além de serem compatíveis com a agenda na climática, também trazem
melhorias para a população.
“Nosso incentivo à
eletrificação vem exatamente para conciliar a agenda urbana — de melhoria das condições
da população, especialmente de baixa renda, que precisa de um transporte
público de qualidade — com a agenda climática”, afirma Jader.
Segundo o ministro, o principal critério de seleção do programa Refrota foi a utilização de tecnologias limpas pelos projetos participantes.
“O critério de prioridade na seleção das propostas foi a especificação de tecnologias mais limpas. Para nossa surpresa, muitas cidades indicaram o interesse pelo ônibus elétrico. Como a procura foi muito grande, houve um esforço em mobilizar mais recursos e contemplar os ônibus elétricos”, concluiu o ministro. (biodieselbr)
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