Emissões por combustíveis fósseis aumentam 39% em 18 anos no Estado
Queima de diesel dos veículos é um dos grandes responsáveis pelo crescimento, de acordo com relatório do governo estadual. Legislação paulista definiu como meta cortar 20% dos lançamentos de gases de efeito estufa até 2020, em relação a 2005.
As emissões de gases de efeito estufa no Estado derivadas da queima de combustíveis fósseis, como o diesel e a gasolina, cresceram 39% entre 1990 e 2008 – passaram de 56,9 milhões de toneladas para 79,2 milhões de toneladas.
Poluição
Sistema de transporte deveria favorecer veículos sobre trilhos e usar eletricidade e biocombustíveis, diz especialista.
Os dados estão em relatório que vai compor o inventário estadual de gases-estufa, a ser divulgado no dia 25 deste mês. No total, serão cerca de 20 relatórios de diferentes setores da economia. A legislação paulista definiu uma meta de cortar 20% das emissões até 2020, em relação a 2005. Então, para cumprir o objetivo, o São Paulo precisa saber exatamente quanto emite e avaliar em que setores da economia pode reduzir.
Segundo o relatório, os derivados do petróleo representam o maior consumo de energia do Estado. E o diesel é o que tem maior destaque. De acordo com o documento oficial, a contribuição do diesel no consumo de energia de São Paulo sempre fica próximo dos “15% do total de todas as fontes utilizadas para fins energéticos”.
No inventário brasileiro é o desmatamento o maior culpado pelas emissões. Mas, segundo Josilene Ferrer, secretária executiva do Programa Estadual de Mudanças Climáticas (Proclima), a energia é o principal vilão em São Paulo. “O aumento das emissões nesse setor é natural. A população cresceu e houve um aquecimento da economia.”
Apesar de as emissões de gases-estufa terem aumentado no Estado, os combustíveis fósseis tiveram uma participação ligeiramente decrescente na oferta bruta total de energia – ela variou de 53% em 1990 para 45,5% em 2008. Isso sinaliza “um maior uso de combustíveis não intensivos em carbono (como o gás natural) e o aumento da participação das fontes renováveis (biomassa) no sistema energético paulista”.
O gás natural substituiu em muitos casos o óleo combustível em caldeiras e fornos industriais – a participação desse óleo caiu de 11,8% a 2,1% no período avaliado –, o que é positivo para as emissões. Mas a mudança se deve principalmente à substituição de combustíveis fósseis por derivados da cana-de-açúcar. Hoje, o bagaço da cana é usado para produzir energia e há um aumento crescente do consumo de etanol nos carros.
“Como o Estado possui a maior frota de automóveis do Brasil, com uma marca superior a 8 milhões de veículos em 2008 – o que representa 36,8% de toda a frota brasileira – e os automóveis e comerciais leves do tipo flex fuel atingiram 74,7% da produção total, espera-se que o consumo de etanol apresente taxas de crescimento maiores nos próximos anos”, diz o texto.
Diesel. Tasso Azevedo, engenheiro florestal que ajudou a formular as metas de clima que o Brasil levou para a Conferência do Clima de Copenhague, no ano passado, analisou o relatório a pedido do Estado. Para ele, chama a atenção o fato de o consumo de combustíveis fósseis ter tido um grande crescimento na década de 1990, mas desacelerado na década de 2000.
Em sua opinião, para São Paulo atingir a meta de redução das emissões, “um foco central será lidar com o consumo de diesel, que continua aumentando e é a principal fonte de emissões”. “Isso requer uma remodelagem do sistema de transporte, favorecendo trilhos, melhorando fluxos, utilizando eletricidade e biocombustíveis”, diz ele.
Nicole Figueiredo de Oliveira, coordenadora da campanha de clima do Greenpeace, ressalta que, além de usar menos o diesel, é preciso melhorar a qualidade do combustível – que ainda contém muito enxofre, prejudicando a qualidade do ar e a saúde da população.
Guarany Osório, consultor especializado em ciências jurídico-ambientais, lembra que o Estado quase não usa energia solar – setor que poderia crescer e, com isso, promover uma redução das emissões. E diz que o Estado pode incentivar uma redução das emissões se optar nas compras públicas por produtos de menor intensidade de carbono – como os carros a etanol. (OESP)
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