Para físico do
Greenpeace, falta monitoramento adequado na área de risco da usina de Fukushima
‘Controle em Fukushima
é insuficiente’, diz físico do Greenpeace.
Cerca de 300
toneladas de água altamente radioativa vazaram de um tanque de armazenamento na
usina nuclear. Segundo Heinz Smital, falta de monitoramento adequado na área de
risco complica situação.
A operadora Tepco,
responsável pela usina de Fukushima, encontrou nesta quinta-feira (22/08) novos
focos de radiação perto dos tanques de armazenamento de água contaminada. A
descoberta elevou os temores de novos vazamentos, já elevados desde a véspera,
quando foi anunciado que 300 toneladas de água radioativa haviam vazado nos
últimos dias.
Para Heinz Smital,
físico nuclear e especialista do Greenpeace da Alemanha, há uma falha
sistemática de vigilância na usina. Em entrevista à DW, ele diz que a queda no
nível de água radioativa nos tanques deveria ter sido detectada bem mais cedo.
“É necessário um
maior monitoramento dessas centenas de tanques, cada um com mil toneladas de
líquido altamente radioativo. O controle ainda é insuficiente”, afirma.
DW: O vazamento
radioativo das últimas semanas foi considerado o maior desde a catástrofe com
os reatores de Fukushima, em março de 2011. Qual é a real seriedade do
incidente?
Heinz Smital: É um incidente grave e que poderia ter sido
evitado. Em princípio, o importante era manter a água em tanques de aço. O
vazamento só foi descoberto depois que o nível da água diminuiu em metros
dentro do tanque. Isso mostra que o monitoramento foi totalmente inadequado.
O que deveria ser
feito?
Seria preciso
aumentar a vigilância. O líquido é altamente radioativo, e uma queda no nível
de água deveria ter sido detectada bem mais cedo, e não depois de uma grande
quantidade ter desaparecido. Pelas contas, foram cerca de 300 toneladas, e a
radiação é de 80 milhões de becquerel por litro – um nível muito elevado.
O que significa
esse valor para uma pessoa?
Essa é uma dose
direta que foi medida em 100 millisieverts por hora perto da água vazada. Uma
pessoa aguentaria por pouco tempo essas condições. O limite normal para a
população é de 1 milisievert por ano – no caso de trabalhadores de usinas, 20
millisieverts. Isto significa que uma pessoa receberia uma dose muito elevada
em uma hora, mas que só suportaria cerca de cinco minutos no local. Segundo a
autoridade reguladora nuclear japonesa, os níveis de radiação fora da usina em
Fukushima estão inalterados.
Qual a
credibilidade desta declaração?
A água provavelmente
se infiltrou no solo, mas provavelmente há também fluxos de águas subterrâneas.
Isso significa que a radiação fora da usina aumentará cada vez mais com o
tempo. O que não se pode esquecer é que, mesmo que tenha vazado muita radiação,
a maior parte ainda continua nos reatores. Apenas uma pequena porcentagem foi
libertada. E caso aumente a quantidade de água subterrânea, pode ser que estas
fontes alcancem distâncias mais longas.
Qual a
probabilidade de a água contaminada chegar ao Pacífico?
Sempre houve sinais
de que radioatividade é descarregada no mar. A Tepco ainda tentou negar o fato,
embora existam evidências. Há algumas semanas, a Tepco acabou admitindo que, há
dois anos, cerca de 300 toneladas de líquido altamente radioativo são
descarregadas no mar todos os dias. A partir do momento em que a substância foi
depositada no mar, ela se espalhou. No entanto, o efeito de distribuição não
foi tão grande como esperado. Nos anos 50 e 70 havia a esperança de que
resíduos nucleares se diluiriam de tal maneira que não haveria mais perigo de
contaminação. Mas isso não é verdade. Por meio de correntes oceânicas e pela
absorção feita por plantas e pelo plâncton, a radioatividade pode aumentar.
Ainda de acordo com a
Tepco, o conteúdo do tanque danificado será bombeado para tanques intactos.
Além disso, o solo radioativo e água vazada devem ser removidos.
Isso é o
suficiente?
Esta é a medida a ser
tomada, se não se sabe a origem do vazamento. Mas, no geral, é necessário um
maior monitoramento dessas centenas de tanques, cada um com mil toneladas de
líquido altamente radioativo. O controle ainda é insuficiente. Desde o início,
a gestão da crise financeira e a política de informação da Tepco e do governo
japonês receberam críticas pesadas.
O acidente pode
servir como lição para o Japão?
Enquanto o foco for
ativar novos reatores, a experiência nuclear, que está em atividade no momento
no Japão, continuará a ser utilizada incorretamente. O governo vai continuar
tentado minimizar a gravidade da situação em Fukushima. Mas os fatos vão voltar
a aparecer. É uma situação muito difícil, que deve ser encarada de outra forma.
(EcoDebate)
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