Mudança do clima pode causar insegurança energética
Estudo desenvolvido pelo Cebds aponta que efeitos das
alterações climáticas, como irregularidade no regime de chuvas, pode afetar
significativamente a produção de eletricidade no país, uma vez que a matriz
energética brasileira é altamente dependente das usinas hidrelétricas.
Cerca de 14% da matriz energética brasileira é baseada na
energia gerada pela água. No setor elétrico, a porcentagem é ainda maior: 80%
da produção de eletricidade do país é proveniente de fonte hidráulica, o que
deixa claro que o Brasil é extremamente dependente de um recurso com futuro
cada vez mais incerto no planeta.
O Estudo Sobre Adaptação e Vulnerabilidade à Mudança
Climática: o caso do setor elétrico brasileiro, divulgado pelo Conselho
Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) alerta para o
fato de que essa dependência que o setor elétrico brasileiro tem da energia
produzida em hidrelétricas pode acentuar, em médio prazo, a insegurança
energética no país. A culpada? Novamente ela, a mudança climática.
De acordo com a pesquisa, as alterações no clima provocam
efeitos na natureza – como secas e irregularidades no regime de chuvas -
que podem afetar significativamente a geração de energia hidrelétrica,
sobretudo nas usinas a fio d’água - modelo de hidrelétrica que é
priorizado, atualmente, no país por causar menos impacto ambiental, uma vez que
não possui reservatório ou possui represa em dimensões menores do que
suportaria.
"A atual estratégia de geração elétrica brasileira,
dissociada de uma percepção mais precisa das mudanças climáticas, levará a um
ambiente de ainda mais insegurança energética, física e econômica",
explica Marina Grossi, presidente do Cebds.
Para chegar a essa conclusão, o estudo analisou - com
base em modelos globais como o do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC) – a vulnerabilidade climática de três usinas
hidrelétricas brasileiras, localizadas em duas das principais bacias
hidrográficas do país, que respondem por mais de 60% da capacidade elétrica
instalada do Brasil.
Nos três casos estudados, registrou-se - em cenários a partir
de 2020 e 2050 – déficits de geração de energia em diferentes meses do
ano, como consequência das mudanças climáticas. Para o Cebds, o resultado deixa
clara a necessidade de investir, desde já, na diversificação de fontes de
energia limpa na matriz brasileira, para que não seja preciso recorrer a fontes
mais caras e poluidoras - como a energia térmica - no futuro, quando
as hidrelétricas começarem a apresentar queda na produção elétrica por conta
das alterações do clima.
O estudo ainda apresentou outras ações que podem (e devem)
ser adotadas em curto, médio e longo prazo, para que o Brasil deixe de ser tão
dependente das hidrelétricas e, assim, sofra menos com a redução da produção de
eletricidade por conta das mudanças climáticas. Entre elas:
- estimular o uso racional de energia;
- promover maior eficiência energética na transmissão e
distribuição de eletricidade;
- estimular novos modelos de negócios;
- ampliar o conhecimento de medidas para conservação de
energia e
- buscar conhecimento para reduzir as vulnerabilidades do
setor elétrico.
"A inclusão da preocupação climática na agenda de
planejamento e definição estratégica de expansão do setor de energia brasileiro
se mostra indispensável", conclui Marina Grossi. (abril)
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