A companhia japonesa
Tepco diz ter conseguido controlar a radioatividade em Fukushima, palco de
acidente nuclear após tsunami em 2011. Mas vazamento de água radioativa
continua contaminando o Pacífico.
A Tokyo Electric
Power Company, conhecida como Tepco, é responsável pela restauração do complexo
de usinas atômicas Fukushima Daiichi e pela reparação dos danos causados pelo
acidente nuclear de dois anos atrás, consequência de um sismo seguido de um
tsunami no litoral do Japão. Formalmente, a Tepco é uma empresa privada. Parte
dela pertence ao Estado.
Apesar de possuir
poder para interferir na administração da companhia, o governo japonês se
recusa a fazê-lo. Essa posição de afastamento tem saído cara.
O próprio governo
admitiu que, há dois anos, há vazamentos de água radioativa do lençol freático
da região da usina atômica para o Oceano Pacífico. Estima-se que, diariamente,
vazem no mar cerca de 300 mil litros desse líquido. Em uma semana, essa
quantidade poderia preencher uma piscina olímpica, de 2,5 milhões de litros.
O Instituto para
Ciências Industriais da Universidade de Tóquio pesquisou as consequências desse
vazamento no solo marinho. “Nós encontramos mais de 20 locais, onde a poluição
por radiação de césio era dez vezes maior do que nos arredores. Essas áreas têm
até 100 metros de diâmetro”, conta o coordenador da pesquisa Thornton Blair.
Ordens contraditórias
Depois do acidente
nuclear em março de 2011, a maior produtora de energia atômica do país recebeu
do governo japonês duas missões contraditórias. Por um lado, a Tepco deveria
assumir sozinha todas as consequências decorrentes do acidente, pois a
companhia não havia se preparado de maneira correta para possíveis tsunamis.
Por outro lado, a
empresa deveria voltar a ter lucros o mais rápido possível através da
implementação de medidas de economia e de reestruturação. Dessa maneira, a
Tepco pagaria de volta os empréstimos estatais, ou seja, as injeções diretas de
capital e os adiantamentos dos fundos de compensação.
Mas, na realidade, a
Tepco jamais poderá saldar os custos do acidente nuclear sozinha. No início de
2013, o presidente do conselho administrativo da empresa, Kazuhiko Shimokobe,
alertou para uma possível falência, caso o Estado não assumisse alguns gastos.
O valor do
desmantelamento dos reatores danificados foi calculado em um trilhão de ienes,
o equivalente a cerca de 23 bilhões de reais. Até o momento, a Tepco já gastou
300 bilhões de ienes e calcula que a reforma custará cinco vezes mais. A
empresa precisa, até março de 2014, de mais 24 bilhões de reais, somente de
capital, para poder pagar suas dívidas antigas.
Reconhecimento
atrasado
Muro de proteção
está sendo construído na usina
Esses números indicam
que a Tepco não tem dinheiro para os consertos necessários em Fukushima. Mas
apenas após os vazamentos radioativos o governo japonês foi obrigado a
reconhecer que não pode mais deixar a companhia sozinha.
O primeiro-ministro,
Shinzo Abe, pediu que o ministro da Indústria apoie a empresa na luta contra os
vazamentos. Pela primeira vez, o dinheiro de impostos será utilizado para conter
as consequências do acidente nuclear. O valor inicial em discussão é de 40
bilhões de ienes, o equivalente a 937 milhões de reais.
Com esse dinheiro, a
Tepco pretende construir uma parede de resfriamento subterrânea para evitar o
acumulo de água nos porões dos reatores. Para resfriar a parede, canos
refrigeradores serão instalados perpendicularmente ao solo.
O novo sistema será
construído em torno de quatro reatores, com uma extensão de 1,4 quilômetros e
até 30 metros de profundidade. A técnica é aplicada na construção de túneis,
mas nunca foi testada dessa forma.
Devido ao grande
consumo de energia e aos custos de manutenção, o muro de proteção é uma
alternativa cara em longo prazo. Segundo um porta-voz do Ministério da
Indústria, a Tepco não possui a quantia necessária para esse investimento, por
isso o Estado precisa ajudar financeiramente a empresa.
Sem saída para o
vazamento
Vazamento está
fora do nosso controle, afirma Ono.
A intervenção do
governo gerou novas dúvidas sobre a competência da Tepco para realizar os
trabalhos de limpeza e desmantelamento da usina nuclear danificada. No início
de 2013, críticos apontaram um colapso no sistema de refrigeração dos reatores.
A parte elétrica da usina ainda era provisória. O curto-circuito foi causado
por uma ratazana.
Assim, o vazamento de
água do subsolo também pode indicar a incapacidade da Tepco: só a construção de
uma barreira subterrânea conseguiu elevar o nível do lençol freático. “Esse
vazamento está fora do nosso controle”, afirmou o diretor da Tepco, Masayuki
Ono.
A quantidade de água
contaminada aumenta tão rapidamente que no fim só restará uma solução, escoá-la
para o Pacífico. “A situação está longe das possibilidades da Tepco”, afirma o
ex-construtor de usinas nucleares e crítico da energia atômica Masashi Goto.
Segundo Goto, a Tepco
não se recusa a fazer o necessário, mas não existe uma solução perfeita. O novo
presidente do Departamento de Regulação Nuclear do país, Shunichi Tanaka, já
demonstrou que já será compreensivo caso a água seja menos contaminada que o
permitido. (EcoDebate)
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