Usina de Fukushima, após o desastre nuclear – Em 11 de março de 2011, o
mundo soube da tragédia de Fukushima: um fortíssimo terremoto e um tsunami de
grandes proporções, a que se seguiu a explosão de uma usina nuclear com todas
as consequências de um acidente nuclear: a difusão de radioatividade, que
permanecerá ativa durante anos, ameaçando muitas gerações.
Nas últimas semanas revelações surpreendentes sobre continuação da
tragédia no complexo de Fukushima Daiichi, no Japão, ocuparam novamente os
meios de comunicação de todo o mundo. Enormes quantidades de trítio, césio e
estrôncio estão sendo despejados, e envenenando o Oceano Pacifico. Menciona-se
a fabulosa quantidade de 300 toneladas de água radioativa por dia despejada.
O governo japonês durante muito tempo confiou na empresa operadora do
complexo, Tokyo Electric Power, também conhecida como Tepco. Esta por sua vez,
omitiu a existência deste vazamento de água altamente radioativa para o oceano.
Este é um pesadelo que não tem fim. O dano que está sendo feito é absolutamente
incalculável.
A cultura do segredo e a falta de transparência cercam as questões
relativas ao nuclear, e o que acontece no Japão, acontece também em outras
partes do mundo, inclusive no Brasil.
O que era denunciado, mas até então sem provas cabais, de que o governo
ditatorial do Brasil, tinha interesse em fazer sua bomba atômica, veio à tona
agora com a abertura de arquivos “secretos” do Estado-Maior das Forças Armadas
(EMFA). Em reportagem recente no Jornal Estado de São Paulo, o jornalista
Marcelo de Moraes relata que em 10 de junho de 1974, o general Geisel expôs em
uma reunião do Alto Comando Militar, a preocupação do governo e dos militares,
em relação ao fato de a Índia ter detonado uma bomba atômica, e à possibilidade
de os vizinhos argentinos, também testassem um artefato nuclear. Defendeu
então, a construção da bomba atômica brasileira.
Em 1979 teve inicio o Programa Nuclear Paralelo, encabeçado pelo governo
militar. A existência do Projeto Paralelo, nunca admitido publicamente, e cujas
pesquisas na direção da fabricação da Bomba iam de vento em popa, permaneceu
secreto. Até que uma reportagem, em 1986, do jornal Folha de São Paulo, revelou
a existência de covas e cisternas e poços profundos na Serra do Cachimbo, no
Pará; e no Raso da Catarina, no semiárido baiano. Tudo indicava que seriam para
testes com artefatos nucleares.
Ministério Público e o Congresso Nacional ao investigarem o caso
descobriram contas bancárias secretas, que dentro do Projeto Paralelo eram
chamadas de Delta. Isto poria um fim na ambição do governo militar de fabricar
a Bomba, apesar de que, no ano seguinte, o Brasil dominou por completo o ciclo
do enriquecimento de urânio. Em 1988 caiu a ditadura, e foi promulgada a atual
Constituição, que proíbe o uso da energia nuclear para fins bélicos. Com tudo
isso, o programa brasileiro passou a ser “legítimo” e controlado pela estatal
Eletronuclear.
Em 1990 outras revelações surgiram sobre o Projeto Paralelo. O fato é
que hoje no Brasil, ainda alguns sonham com a fabricação da Bomba tupiniquim,
como atestam posições públicas de políticos, acadêmicos, ex-ministros de Estado
e militares de alta patente.
A retomada do Programa Nuclear Brasileiro, em junho de 2007 foi outro
exemplo de como atua na surdina, na “calada da noite” o lobby nuclear. Sem
nenhuma discussão com a população brasileira foi reativado este Programa pelo
Conselho Nacional de Política Energética, grupo de 10 pessoas que assessoram a
presidência da Republica. Posteriormente em seu Plano Nacional de Energia (PNE
2030), o Ministério de Minas de energia anunciou a construção de mais 4 usinas
nucleares no país, além da construção de Angra 3.
Para espanto de todos, duas destas novas usinas seriam construídas no
Nordeste brasileiro. Como não bastasse a tragédia do sertanejo frente à omissão
governamental com relação ao fenômeno das secas, imaginem agora que na beira do
Rio São Francisco será instalado uma usina nuclear. Um verdadeiro ato de
insanidade do poder público, que fecha os olhos aos riscos de uma calamidade
possível, como a que esta passando o povo japonês.
E este descalabro agora é promovido pelo Clube de Engenharia de
Pernambuco, que em um Seminário conjunto com a Eletronuclear, enalteceu o
desenvolvimento e as vantagens que a construção de uma usina nuclear trará para
o semiárido Pernambuco. O povo pernambucano merece uma explicação. (EcoDebate)
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