terça-feira, 30 de junho de 2015

Leitores questionam veracidade de moto movida a água

A reportagem "Moto que anda até com água do Tietê faz 500 km por litro", publicada pelo UOL em 25/06/15, gerou uma grande repercussão entre os leitores do portal. Muitos deles, inclusive, questionaram a veracidade da história e outros indicaram, através de comentários, a impossibilidade científica de o invento ser real.
Entre as contestações dos leitores, a mais comum é que a quantidade de hidrogênio conseguida através da eletrólise não seria suficiente para gerar energia a ponto de manter uma moto em movimento.
"A eletrólise é feita com aditivos e por isso conseguimos um rendimento até 350% superior ao da eletrólise comum", afirmou o químico Gabriel Azevedo, que ajudou o pai, Ricardo Azevedo, na adaptação da moto. "Achamos que podemos chegar a resultados ainda mais expressivos, porque o projeto não está finalizado. Ao longo de seis meses, testamos uma série de componentes químicos e chegamos a um sistema que é viável financeiramente e que apresenta efetiva economia", disse. Gabriel não quis revelar quais produtos utilizou para fazer a eletrólise, pois disse se tratar de um projeto que pode ser vendido ou patenteado.
Embora ressalte que não seja capaz de avaliar o sistema desenvolvido por Azevedo, o professor de Química Ernesto Gonzalez, que atua desde a década de 1970 na USP (Universidade de São Paulo) em São Carlos, confirma que o cenário descrito por Gabriel é possível. "Existe uma série de aditivos químicos que podem ampliar o processo da eletrólise". O cientista está na lista dos mais citados do mundo em sua área e pesquisa o desenvolvimento de novos combustíveis.
Gabriel ressaltou que, embora a adição dos aditivos torne o sistema desenvolvido por ele mais caro do que se houvesse a realização de eletrólise simples, o custo-benefício da utilização deles ainda é compensador. "Por isso buscamos um investidor, justamente para aprimorar o que já desenvolvemos", contou.
Armazenamento do hidrogênio
Muitos leitores também contestaram o fato de o hidrogênio não ser armazenado no tanque de combustível original da moto. Segundo Ricardo Azevedo, isso não foi proposto no sistema porque a ideia original era permitir que a motocicleta também andasse com gasolina.
"Não trabalhamos com armazenamento do hidrogênio, apenas com o consumo imediato. Além disso, a adaptação permite que ela rode tanto com gasolina quanto com hidrogênio", explica.
Outra suposta incoerência apontada pelos leitores foi o fato de o hidrogênio passar pela combustão no mesmo motor que equipa as motos originais, sem adaptações. De acordo com o professor Gonzalez, entretanto, o sistema de combustão original da moto pode ser utilizado para a queima do hidrogênio sem nenhum problema.
Segundo o especialista, acontece com o hidrogênio a mesma forma de combustão utilizada parra carros convertidos funcionarem com gás de cozinha nos anos 1980 e 1990. "O modelo de combustão desses combustíveis é bem similar. A forma de o motor trabalhar é praticamente a mesma, por isso não existe a necessidade de modificar o motor", disse.
Água do Tietê e Recarga
Outro ponto de contestação dos leitores diz respeito à utilização da água do rio Tietê como fonte de combustível. Azevedo reconhece que ela não é ideal para o uso, mas ressalta que tentou mostrar que é possível que ela seja utilizada, embora com perdas de eficiência. "Evidente que é melhor utilizar uma água destilada, enriquecida. Isso altera os resultados, evidentemente. Mas foi uma forma de destacar que é possível", conta.
Já sobre a recarga e os custos eventuais de energia elétrica, Azevedo informa que, embora recargas adicionais possam ser necessárias, o sistema desenvolvido por ele trabalha com recuperação de energia de outros sistemas da moto, como freios, capazes de utilizar a energia para carregar a bateria. "É um sistema parecido com o KERS utilizado na Fórmula 1. Armazenamos essa energia, que abastece a bateria. Mas não posso revelar mais do que isso sem expor os segredos do sistema que criamos", disse. Questionado sobre a autonomia do sistema, Azevedo informou que ainda não terminou de fazer as quantificações, mas que, em pequenos deslocamentos urbanos, o sistema é capaz de manter a bateria por até uma semana sem a necessidade de recarga externa. (uol)

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