A reportagem "Moto que anda até
com água do Tietê faz 500 km por litro", publicada
pelo UOL em 25/06/15, gerou uma grande repercussão entre os leitores do portal.
Muitos deles, inclusive, questionaram a veracidade da história e outros
indicaram, através de comentários, a impossibilidade científica de o invento
ser real.
Entre as contestações dos leitores, a mais comum é que a quantidade de hidrogênio conseguida através da eletrólise não seria suficiente para gerar energia a ponto de manter uma moto em movimento.
Entre as contestações dos leitores, a mais comum é que a quantidade de hidrogênio conseguida através da eletrólise não seria suficiente para gerar energia a ponto de manter uma moto em movimento.
"A eletrólise é feita
com aditivos e por isso conseguimos um rendimento até 350% superior ao da
eletrólise comum", afirmou o químico Gabriel Azevedo, que ajudou o pai,
Ricardo Azevedo, na adaptação da moto. "Achamos que podemos chegar a
resultados ainda mais expressivos, porque o projeto não está finalizado. Ao
longo de seis meses, testamos uma série de componentes químicos e chegamos a um
sistema que é viável financeiramente e que apresenta efetiva economia",
disse. Gabriel não quis revelar quais produtos utilizou para fazer a
eletrólise, pois disse se tratar de um projeto que pode ser vendido ou
patenteado.
Embora ressalte que não
seja capaz de avaliar o sistema desenvolvido por Azevedo, o professor de
Química Ernesto Gonzalez, que atua desde a década de 1970 na USP (Universidade
de São Paulo) em São Carlos, confirma que o cenário descrito por Gabriel é
possível. "Existe uma série de aditivos químicos que podem ampliar o
processo da eletrólise". O cientista está na lista dos mais citados do
mundo em sua área e pesquisa o desenvolvimento de novos combustíveis.
Gabriel ressaltou que,
embora a adição dos aditivos torne o sistema desenvolvido por ele mais caro do
que se houvesse a realização de eletrólise simples, o custo-benefício da
utilização deles ainda é compensador. "Por isso buscamos um investidor,
justamente para aprimorar o que já desenvolvemos", contou.
Armazenamento do
hidrogênio
Muitos leitores também
contestaram o fato de o hidrogênio não ser armazenado no tanque de combustível
original da moto. Segundo Ricardo Azevedo, isso não foi proposto no sistema
porque a ideia original era permitir que a motocicleta também andasse com
gasolina.
"Não trabalhamos com
armazenamento do hidrogênio, apenas com o consumo imediato. Além disso, a
adaptação permite que ela rode tanto com gasolina quanto com hidrogênio",
explica.
Outra suposta incoerência
apontada pelos leitores foi o fato de o hidrogênio passar pela combustão no
mesmo motor que equipa as motos originais, sem adaptações. De acordo com o
professor Gonzalez, entretanto, o sistema de combustão original da moto pode
ser utilizado para a queima do hidrogênio sem nenhum problema.
Segundo o especialista,
acontece com o hidrogênio a mesma forma de combustão utilizada parra carros
convertidos funcionarem com gás de cozinha nos anos 1980 e 1990. "O modelo
de combustão desses combustíveis é bem similar. A forma de o motor trabalhar é
praticamente a mesma, por isso não existe a necessidade de modificar o
motor", disse.
Água do Tietê e Recarga
Outro ponto de contestação
dos leitores diz respeito à utilização da água do rio Tietê como fonte de
combustível. Azevedo reconhece que ela não é ideal para o uso, mas ressalta que
tentou mostrar que é possível que ela seja utilizada, embora com perdas de
eficiência. "Evidente que é melhor utilizar uma água destilada,
enriquecida. Isso altera os resultados, evidentemente. Mas foi uma forma de
destacar que é possível", conta.
Já sobre a recarga e os
custos eventuais de energia elétrica, Azevedo informa que, embora recargas
adicionais possam ser necessárias, o sistema desenvolvido por ele trabalha com
recuperação de energia de outros sistemas da moto, como freios, capazes de
utilizar a energia para carregar a bateria. "É um sistema parecido com o
KERS utilizado na Fórmula 1. Armazenamos essa energia, que abastece a bateria.
Mas não posso revelar mais do que isso sem expor os segredos do sistema que criamos",
disse. Questionado sobre a autonomia do sistema, Azevedo informou que ainda não
terminou de fazer as quantificações, mas que, em pequenos deslocamentos
urbanos, o sistema é capaz de manter a bateria por até uma semana sem a
necessidade de recarga externa. (uol)
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