Observatório do clima defende
investimentos em fontes renováveis de energia
O
exemplo do governo da Noruega, que no mês passado anunciou retirada de
investimentos do fundo soberano em empresas que têm parte significativa de seus
ativos na exploração e queima de carvão, deveria ser seguido pelo Brasil, com
maiores investimentos em fontes renováveis. A opinião é do secretário executivo
do Observatório do Clima, Carlos Rittl. Com a decisão do Parlamento norueguês,
o Fundo de Pensão Governamental Mundial (GPFG), considerado o maior fundo
soberano do mundo, deverá retirar investimento de 122 empresas, no total de 7,7
bilhões de euros.
“Ele
manda uma mensagem clara para o mercado e para os investidores: a tendência é
buscar alternativas aos combustíveis fósseis”, disse Rittl em 07/07/15 à
Agência Brasil. Para ele, as políticas brasileiras de expansão da geração de
energia deveriam considerar as mudanças climáticas e os riscos dos
investimentos na hora de alocar os recursos. Ele destacou que hoje, o Brasil
projeta colocar 70% dos investimentos em energia em combustíveis fósseis, nos
próximos dez anos. Esses recursos vão gerar impactos no clima e podem se
transformar em investimentos de alto risco, apontou.
Embora
o Plano Decenal para Expansão de Energia, da Empresa de Pesquisa Energética
(EPE), preveja aumento dos investimentos em fontes limpas, esses investimentos
ainda são reduzidos, “perto do que se tem de potencial, em especial em algumas
fontes”, avaliou Rittl. É o caso, por exemplo, da energia eólica (dos ventos),
que segundo ele, o Brasil estará, nos próximos anos, aproveitando menos de 10%
do potencial de geração dessa fonte. Ou da energia solar, em que o Brasil
“ainda engatinha, enquanto outros países desenvolvidos e em desenvolvimento
estão caminhando muito rápido”.
Nesse
sentido, destacou os Estados Unidos, a Alemanha, a China e a Índia, que além de
avançar,estão estruturando cadeias produtivas, que geram empregos e produzem
uma tecnologia que será solução para os próprios países e para o mundo inteiro.
“O Brasil está deixando de lado o aproveitamento de algumas fontes, que
poderiam ser mais bem exploradas, e poderia investir muito mais nessas fontes”.
Membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, Carlos Rittl
observou que a energia solar é a fonte cujos custos mais caem no mundo. Por
isso, sugeriu que o Brasil tenha mais estratégias para investir nessas fontes
renováveis.
Ele
disse que as mudanças climáticas devem ser incorporadas em todo o planejamento
energético, englobando as emissões que os combustíveis fósseis irão gerar.
Segundo Rittl, mesmo que exporte parte importante do petróleo do pré-sal, a
exploração desse óleo vai gerar emissões dentro do Brasil, o que acaba tornando
de risco tais investimentos. “Temos que entender de que forma as mudanças
climáticas impactam a nossa segurança energética.”
A
situação recente de seca, com nível baixo dos reservatórios das hidrelétricas,
acionou termelétricas movidas a combustíveis fósseis, o que ampliou emissões de
gases causadores do efeito estufa. O aumento de participação de fontes não fósseis
na matriz energética e a substituição de combustíveis fósseis na matriz de
transportes são soluções apontadas por Rittl para reduzir as emissões de gases
poluentes no Brasil.
As
projeções de investimentos em fontes de geração de energia não devem olhar para
os anos passados, mas incorporar o cenário climático futuro, que aponta o que
vai ocorrer nos próximos 30 ou 40 anos, que é o período de vida útil de uma
grande usina, indicou Rittl. “Não estamos fazendo isso”. Daí, o país corre o
risco de ver projetos, como o da Usina de Belo Monte, com alta vulnerabilidade
à mudança de clima, associada a impactos sociais, ambientais e locais. É
preciso olhar para o clima futuro de maneira mais estratégica, afirmou.
Na
opinião do coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Nivalde de Castro, o exemplo norueguês
indicado por Rittl não se mostra muito consistente em função das diferenças
entre o Brasil e a Noruega. A evolução da matriz elétrica brasileira vai necessitar,
“obrigatoriamente”, de usinas termelétricas, para garantir a segurança
energética, pois o Brasil não tem mais capacidade de dar segurança por meio dos
reservatórios, porque eles não crescem mais em relação à demanda e todas as
outras fontes são “interruptíveis”, manifestou. (ecodebate)
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