Itaipu faz voo histórico do
1º avião elétrico tripulado da América Latina
A Itaipu Binacional e a
empresa ACS Aviation, de São José dos Campos (SP), colocaram no ar em 23/06/15
o primeiro avião elétrico tripulado da América Latina. O voo inaugural e a
apresentação oficial da aeronave, batizada de Sora-e, ocorreram na pista do
aeroporto da binacional, localizada na margem paraguaia da usina, no município
de Hernandarias.
O engenheiro Alexandre
Zaramella, sócio-diretor da ACS Aviation, foi o piloto responsável pelo voo
histórico, de apenas cinco minutos de duração – o suficiente para situar o
Brasil e o Paraguai na vanguarda do desenvolvimento tecnológico de aeronaves
tripuladas com propulsão elétrica.
A apresentação foi
acompanhada do diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek; pela diretora
financeira executiva da Binacional, Margaret Groff; pelo diretor técnico
executivo, Aírton Dipp; e pelo coordenador brasileiro do Programa Veículo
Elétrico (VE), Celso Novais.
O Sora-e decolou exatamente
às 14h28 (horário de Brasília) e sobrevoou o entorno do reservatório da usina
Itaipu. Às 14h33, tocava novamente a pista do aeroporto, exatamente como
previsto no plano de voo. Na hora do aterrisagem, a proteção do trem de pouso
dianteiro se rompeu, mas nada que atrapalhasse o resultado do teste. A
performance do motor elétrico foi perfeita.
“Nós hoje estamos nos
sentindo como Santos Dumont, quando fez o primeiro voo com o 14 Bis. [Na época]
Ninguém acreditava, mas era o primeiro passo de uma grande caminhada. Por isso,
este é um teste vitorioso, que mostra a viabilidade do processo”, avaliou Jorge
Samek.
Segundo ele, as pesquisas com
o avião elétrico reforçam o compromisso do Brasil e do Paraguai de desenvolver
tecnologias limpas e “mostram que é possível compatibilizar o desenvolvimento,
a geração de emprego, a vida do planeta e, ao mesmo tempo, preservar o meio
ambiente”.
Margaret Groff lembrou que
Itaipu já é referência na área de mobilidade elétrica sustentável, com carros,
ônibus e caminhões elétricos, e também no desenvolvimento de sistemas
inteligentes de armazenamento de energia e de monitoramento de frotas. Agora,
torna-se referência no setor aeronáutico.
“O avião representa mais um
passo que estamos dando no desenvolvimento de protótipos elétricos. E é uma
inovação até mesmo para a América Latina. Todo esse trabalho serve de base para
as nossas pesquisas, especialmente no desenvolvimento de componentes para a
indústria. Nossa meta é fortalecer a indústria nacional na área de mobilidade”,
afirmou.
Alexandre Zaramella comemorou
o voo e lembrou que Itaipu e ACS partiram do zero para desenvolver a nova
tecnologia. “Conseguimos em pouco tempo o desenvolvimento completo da aeronave.
E o voo foi muito bom, dentro do esperado e de forma tranquila”, avaliou.
Ainda segundo ele, “o Sora-e
é mais silencioso e a resposta do motor elétrico é mais rápida do que no
sistema a combustão”. Zaramella destacou também a “curva de torque”, ou seja, a
resposta do avião ao comando de potência do piloto. “Essa é a grande
diferença”, disse, na comparação com o avião convencional. “O avião elétrico
está mais na mão.”
Sobre o Sora-e
Desenvolvido pelas equipes
técnicas de Itaipu e da ACS, o Sora-e está equipado com dois propulsores Enrax,
de 35 kW cada um, fabricados na Eslovênia, e seis packs de baterias de lítio
íon polímero, totalizando 400 volts.
O modelo pode levar duas
pessoas (piloto e passageiro) e tem autonomia de 45 minutos de voo, expansível
para uma hora e meia, com velocidade de cruzeiro de 190 km/h e velocidade
máxima de 340 km/h.
A estrutura é de fibra de
carbono e a hélice foi fabricada nos Estados Unidos, pela empresa Craig Catto,
atendendo as especificações do projeto. São 8 metros de envergadura (de uma
ponta a outra da asa) e peso total de 650 quilos.
As pesquisas para desenvolver
o Sora-e começaram em 2012, dentro do Programa VE de Itaipu, em parceria com
própria ACS Aviation e a Finep, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia
e Inovação. A base do projeto foi o modelo esportivo acrobático ACS-100 SORA,
com motor a combustão, produzido pela empresa paulista.
Os testes de bancadas e
simuladores foram feitos em agosto do ano passado no Centro de Pesquisa,
Desenvolvimento e Montagem de Veículos Movidos a Eletricidade (CPDM-VE) de
Itaipu. Já os ensaios em solo foram concluídos em dezembro, em São José dos
Campos.
O primeiro voo de avaliação
técnica, fechado para a imprensa, ocorreu no dia 18 de maio, também em São José
dos Campos, com a presença da equipe técnica de Itaipu. O modelo foi certificado
pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) na categoria Pesquisa e
Desenvolvimento.
Materiais compostos
De acordo com Celso Novais, o
interesse de Itaipu no projeto é aprofundar os estudos sobre materiais
compostos usados no setor aeronáutico, considerados fundamentais para a redução
do peso dos veículos elétricos. Quanto menor o peso, maior a autonomia.
“O avião é um meio de
transporte em que o peso é determinante. Por isso, esse know-how nos ajudará a
encontrar soluções para melhorar a autonomia dos nossos veículos elétricos”,
comentou.
Para a ACS Aviation, um dos
objetivos do projeto é viabilizar modelos elétricos comerciais e ajudar a
impulsionar este mercado. Zaramella disse que o maior desafio do setor, hoje, é
desenvolver baterias com maior densidade, para aumentar a autonomia dos modelos
elétricos. “A gente espera que em cinco ou dez anos já tenhamos baterias para
aviões com até quatro ocupantes.”
Família de elétricos
O Sora-e é o novo integrante
da família de elétricos de Itaipu, que desde 2006 desenvolve o Programa VE, em
parceria com várias companhias do Brasil e do exterior. Neste período, a
empresa já montou mais de 80 protótipos elétricos, a metade incorporada à
própria frota e o restante destinado a parceiros do programa.
As linhas de pesquisa do VE
incluem carros de passeio, caminhão, utilitário e ônibus, todos equipados com
motor elétrico. A empresa ainda mantém uma oficina para montagem dos compactos
elétricos modelo Twizy, em parceria com a Renault, e trabalha no projeto da
bateria de sódio nacional, com recursos da Finep e parceria com o Parque
Tecnológico Itaipu (PTI). Outro projeto é na área de armazenamento de energia,
em conjunto com o Exército brasileiro.
Há um ano, Itaipu também
desenvolve, em parceria com o Centro para a Excelência e Inovação na Indústria
Automóvel (Ceiia), de Portugal, o Programa de Mobilidade Inteligente (Mob-i),
com projetos-pilotos em Foz do Iguaçu, Curitiba e Brasília.
Além de carros elétricos, o Mob-i conta com postos
para abastecimento (os eletropostos) e utiliza a plataforma Mobi.me, aplicativo
que fornece em tempo real indicadores como o dinheiro poupado em abastecimento,
o CO2 que deixou de ser emitido na atmosfera e o número de
quilômetros rodados. (itaipu)
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