Uma questão real de eficiência
energética: a iluminação residencial e pública
A
crise no setor elétrico brasileiro ainda está presente. A situação da Petrobras
diariamente debatida na mídia acaba por encobrir as dificuldades que o setor de
eletricidade vem passando. Há termos como rombos financeiros, preços altos das
contas de luz, riscos hidrológicos, racionalização no uso da eletricidade,
entre outros, que circulam na maioria das análises sobre a situação do setor
elétrico. Cada um desses termos pode dar origem a um ou mais artigos. Afinal o
setor elétrico brasileiro passa por uma série de fatos negativos que se
encadeiam, dando margem a diversas análises.
Como
a situação futura do abastecimento energético é um ponto de interrogação, as
ações para economizar energia devem ser consideradas como medidas estratégicas
e urgentes da política energética.
A
Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em seus estudos para elaboração do Plano
Decenal de Energia (PDE 2023) estimou que o montante total que deverá ser
conservado de eletricidade é de 54 TWh. Isto significa que nas projeções do
consumo total de eletricidade, esse montante já foi abatido. Para que se tenha
uma referência do que corresponde a esse valor, o consumo de eletricidade
mensal brasileiro hoje gira em torno de 40 TWh. Assim, o que foi apontado nas
projeções da demanda de eletricidade do governo no final do período do PDE
corresponde a cerca de um mês e meio do consumo total atual.
O
estudo da EPE destaca que o setor residencial deverá ter um papel importante
nesse processo devido à substituição de lâmpadas ineficientes e também pela
penetração da tecnologia de energia solar na geração distribuída.
Realmente,
destacando o consumo nos segmentos de iluminação residencial e também no de
iluminação pública, pode-se inferir que haverá redução tanto pelo alto preço
das tarifas, quanto pelo plano de metas estabelecido pela Portaria
interministerial 1007/2010. O referido ato jurídico estabeleceu que a partir de
julho de 2014 estaria proibida a comercialização de lâmpadas incandescentes com
potências superiores a 60W que não atendessem aos níveis mínimos de eficiência
energética. Com a conta de luz pesando cada vez mais nos bolsos dos
consumidores, a troca de lâmpadas nas residências e na iluminação pública é uma
ação que pode ser priorizada por cada morador e pelos gestores públicos
responsáveis pela iluminação dos logradouros. Caso um processo maciço de troca
de lâmpadas eficientes ocorra em boa parte das residências e nas ruas dos
municípios brasileiros, a economia do consumo de eletricidade será grande.
Atualmente a tecnologia da lâmpada LED (Light Emitting Diode) traz uma grande
economia de eletricidade. O problema ainda é seu custo, bem mais alto do que o
de uma lâmpada de menor eficiência.
O
Brasil não teve uma estratégia adequada nesse campo quando houve o racionamento
de 2001. Naquele momento, poderia ter sido criado um programa de incentivos
para as empresas migrarem da tecnologia incandescente para as mais eficientes.
A China investiu nas lâmpadas fluorescentes compactas e sugou a produção
mundial. O Brasil, na contramão de um planejamento industrial com visão
estratégica, não incentivou suas fábricas para migrarem das incandescentes
tradicionais para as fluorescentes compactas, por exemplo. Como o foco sempre
foi priorizar a oferta de eletricidade mais sustentável, as medidas de economia
de energia voltadas ao consumo nunca foram colocadas no mesmo nível de
importância. Atualmente há uma forte dependência de produtos importados
voltados para a iluminação. Isso dificulta a decisão do consumidor de
substituir suas lâmpadas, pois fica sem saber se investe agora em novas
lâmpadas e luminárias para um retorno financeiro no futuro.
No
caso dos logradouros, segundo o portal e-cidadania, a iluminação pública está
concentrada nas cidades e ocupa 15 milhões de pontos de luz, sendo uma despesa
que absorve grande parte da receita disponível dos Municípios. O próprio portal
alerta que o sistema de iluminação a LED exige um conhecimento técnico para sua
aquisição e instalação. Caso determinadas avaliações não forem observadas
haverá prejuízos nessa opção. As luminárias para lâmpadas a LED a serem
utilizadas nas ruas exigem altos investimentos e os fabricantes dão um exíguo
prazo de garantia. Assim, o conjunto do equipamento luminotécnico fica
dispendioso para as prefeituras, considerando a relação custo x benefício.
Há
uma proposta descrita pelo portal citado acima que é o uso do gás argônio em
luminárias LED com 10 anos de garantia mínima de fábrica. Isso traria maior
facilidade de decisão dos gestores municipais para a reforma da iluminação
pública por lâmpadas mais eficientes. Mas essa solução ainda não deslanchou.
Assim
o processo de substituição por lâmpadas mais eficientes nas residências ou em
cada logradouro público não se prende à compra e instalação de lâmpadas. São necessárias
ações de política pública para a difusão de tecnologias para uma iluminação
eficiente.
Conclui-se
que as estimativas de conservação de energia baseada em iluminação mais
eficiente, como apontadas nos estudos prospectivos do governo, podem não ocorrer
no mesmo valor. Assim a demanda projetada certamente seria maior e a oferta de
energia elétrica indicada pelo planejamento seria insuficiente. A consequência
de um cenário como esse já se conhece. O governo aplica à força medidas de
restrições ao consumo de eletricidade, ou seja, aumenta as tarifas e, no
limite, o País pode até se deparar com o racionamento de energia elétrica.
Afinal ocorreria um consumo maior do que o esperado e a geração não teriam sido
projetados para atender à demanda.
A
eficiência energética abrange vários setores e segmentos. O segmento de
iluminação é um deles. Cada segmento necessita de uma avaliação a ser
amplamente discutida entre os gestores de políticas públicas e as associações
industriais e de consumidores, administradores estaduais e municipais. Um
grande processo de “auscultação” trará entendimento de problemas que, na
maioria das vezes, são desconhecidos pelos planejadores. Uma avaliação real das
questões de cada segmento trará resultados reais e significativos para a economia
de eletricidade que o País tanto necessita. (ambienteenergia)
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