Comunidades isoladas da
Amazônia usam energia solar para purificar a água
Os
aparelhos funcionam com energia solar e fornecem água limpa para pessoas que
vivem em locais remotos, sem acesso à energia elétrica.
Purificadores
de água compactos desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia
(Inpa) estão garantindo água potável para comunidades isoladas da região
amazônica. Os aparelhos funcionam com energia solar e fornecem água limpa para
pessoas que vivem em locais remotos, sem acesso à energia elétrica. Entre as 13
populações com o purificador já instalado, estão os índios da etnia Deni, que
residem a 25 dias de barco de Manaus, no Alto Rio Juruá.
O
purificador elimina 99,5% das bactérias, fungos e coliformes da água dos rios
por meio de uma lâmpada de luz ultravioleta C, os raios mais perigosos da
radiação ultravioleta. A lâmpada é colocada no interior de um tubo metálico.
Quando a água passa pelo tubo é bombardeada pela luz e sai desinfetada. Um
painel de energia solar carrega a bateria que acende a luz.
Durante
a 67ª reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São
Carlos, o pesquisador do Inpa Carlos Bueno, em entrevista à Agência Brasil,
disse que o projeto foi desenvolvido para evitar mortes por contaminação e
verminoses, principalmente de crianças, devido ao consumo de água não potável.
Os testes em aldeias indígenas começaram em 2007. “O purificador é resultado da
remodelagem de tecnologias que já existiam”, explicou.
Segundo
o pesquisador, apesar da grande quantidade de água doce na região amazônica, há
muita água de baixa qualidade. “Nos rios próximos a comunidades, as águas
encontram-se poluídas por populações que vivem de costas para o rio”,
ressaltou. Bueno atribui o fato a fatores culturais, como a crença de que a
sujeira jogada no rio é levada embora.
O
Inpa, em parceria com o sistema de saúde, está avaliando os impactos da
tecnologia nos números de contaminação e verminoses das populações
beneficiadas. “Os resultados são altamente positivos, os indígenas, inclusive,
apelidaram o aparelho de ‘benção de Deus’”, disse Bueno.
O
Instituto tem 56 aparelhos montados. De acordo com o pesquisador, ainda este
ano, serão instalados dois purificadores em cada estado da Região Norte, em
comunidades isoladas, unidades de conservação e pelotões de fronteira do
Exército.
Acoplado a um painel de energia solar e à caixa de água, o purificador filtra 400 litros por hora.
Acoplado a um painel de energia solar e à caixa de água, o purificador filtra 400 litros por hora.
O
purificador é uma caixa metálica de 13 quilos, e todo o sistema custa R$ 2 mil,
incluindo o painel solar e o filtro de entrada. A lâmpada e a bateria duram
cerca de 10 mil horas, ou seja, de três a quatro anos. Bueno acrescenta que a
manutenção é mínima neste período.
Acoplado
a um painel de energia solar e à caixa de água das comunidades, o purificador
filtra 400 litros por hora, ou seja, 5 mil litros por dia, o suficiente para
fornecer água limpa para beber e cozinhar a 300 pessoas.
Mas,
para que o purificador funcione com eficiência, a água que passa pelo aparelho
precisa ser límpida, translúcida, permitindo que a luz a atravesse. Bueno conta
que as águas dos rios da Amazônia são diversificadas, assim como a fauna e a
flora da região. “Temos água branca, preta, como no Rio Negro, e igarapés,
vermelha, como em São Gabriel da Cachoeira, barrenta ou branca, como do Rio
Amazonas e Solimões, e verde, como a do Rio Tapajós.”
O
pesquisador explicou que cada uma dessas águas têm quantidades diferentes de
resíduos em suspensão, que precisam passar por um filtro físico antes de entrar
no purificador, que é um filtro biológico. “Com água barrenta, por exemplo, a
eficiência da radiação não vai ser boa, então o aparelho exige que sejam
acoplados filtros para melhorar a qualidade da água antes que seja purificada”,
explicou.
Os
filtros usados nos purificadores em operação foram comprados prontos no
mercado, mas o Inpa está patenteando um projeto de filtro natural feito com
sementes de plantas como as palmeiras e tubos de PVC. “Entre as vantagens desse
tipo de filtro é que, além de retirar materiais em suspensão, ele tira o cheiro
da água. E como as sementes são a parte mais nutritiva das plantas, ricas em
minerais, tornam a água mais rica.”
O
especialista informou que, para expandir a produção do purificador, o Inpa
assinou um contrato de parceria com uma empresa que trabalha com energias
alternativas. “Estão trabalhando junto com o Inpa e vão dar escala de produção para
o aparelho.”
O
instituto também fez parceria com o Exército para desenvolver um projeto
chamado Homem Água, que consiste em um modelo mais compacto do aparelho que vai
caber em uma mochila. “Quando os soldados estiverem em treinamentos na selva,
por exemplo, vão poder instalar o sistema e tratar água para o pelotão inteiro
tomar quando pararem”, explicou Bueno. (ecodebate)
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