Embora seja uma gota num oceano muito maior, o
biodiesel está marcando presença na 21ª Conferência das Partes (COP 21) que
está acontecendo nesse exato momento Paris. Organizado pela ONU, o encontro
reúne de lideranças de todo o planeta para tentar chegar a um acordo capaz de
limitar o aumento das temperaturas médias do mundo em 2ºC, considerados menos
impactantes ao planeta. Para ter uma ideia mais clara do que está acontecendo
por lá, BiodieselBR.com conversou com o presidente da Frente Parlamentar do Biodiesel,
deputado federal Evandro Gussi.
A grande esperança é que, pela primeira vez, os
governos de todos os países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudanças Climáticas consigam costurar um acordo capaz de limitar
seriamente as emissões globais dos gases do efeito estufa (GEEs). “Ainda pairam
dúvidas sobre se o acordo final será ou não vinculante ou se teremos só um
protocolo de intenções e essa, naturalmente, é uma questão fundamental. Devemos
ter uma definição mais concreta sobre esse ponto ao longo dessa semana”,
comentou o parlamentar brasileiro.
Apesar dessa indefinição nos fundamentos, Gussi vê
o processo que está se desenrolando em Paris com uma dose de otimismo. “Para
além do acordo da COP 21, os países perceberam que a discussão [sobre as
mudanças climáticas] chegou num outro nível. Está claro que a pressão interna
dentro de cada país está se intensificando e vai ser uma constante”, opina.
Biocombustíveis
Embora não se ouça falar muito sobre o biodiesel –
ou mesmo os biocombustíveis, de forma mais geral – nos debates de Paris, Gussi
diz ter percebido uma mudança relevante no panorama internacional na direção de
uma maior receptividade sobre o assunto.
Na virada do milênio, os biocombustíveis entraram
no cenário como uma das grandes soluções para reduzir no curto para médio
prazos a dependência global em relação ao petróleo. Esse entusiasmo esfriou
quando os preços das commodities alimentares dispararam a partir da segunda
metade da década passada, [veja gráfico] o que criou dúvidas sobre se os
biocombustíveis não teriam parte da culpa na concorrência por recursos
agrícolas relativamente escassos e que seriam melhor alocados produzindo
alimentos.
“Combustíveis versus alimentos é uma coisa que não
tenho ouvido aqui e que eu ouvia bastante em eventos anteriores”, lembra Gussi.
Hoje, já ficou mais claro de que essa competição entre biocombustíveis e a
produção de alimentos não existe. “Há vários anos que essa questão [da
competição entre alimentos e biocombustíveis] estava sempre colocada e
dificultava bastante a vida das propostas sobre biocombustíveis. Ela, agora, me
parece superada porque temos dados mais robustos mostrando que essa competição
não acontece” comemora.
Liderança brasileira
Esse é um desdobramento positivo para o Brasil uma
vez a que a bioenergia e os biocombustíveis são parte integral da pretendida
Contribuição Nacionalmente Determinar (iNDC, na sigla em inglês) apresentada
pela presidente Dilma Rousseff no começo de outubro. O documento é uma espécie
de proposta inicial do que cada governo colocaria na mesa durante nas
negociações em Paris.
O Brasil, aliás, é um dos players mais influentes
no que diz respeito à agenda ambiental discutida na COP 21. O país arrança
elogios tanto por sua matriz energética diversificada e relativamente limpa em
relação à média mundial, como por ter apresentado uma iNDC considerada
relativamente forte em comparação com os demais participantes. “O Brasil é um
dos países mais citados em todos os eventos paralelos”, afirma Gussi.
Para reforçar esse posicionamento, a Embaixada
Brasileira em Paris vem promovendo uma série de diálogos com técnicos,
cientistas e autoridades nos quais a ministra do Meio Ambiente Izabella
Teixeira tem tomado parte ativa. Esses encontros, de acordo com Gussi,
reforçaram o papel do Brasil no contexto dos debates. Ainda de acordo com o
deputado, esse espaço dá a oportunidade possa discutir questões relativas ao
biodiesel com a representação brasileira nos debates oficiais da ONU onde
garante estar encontrando boa receptividade.
Ainda assim ele diz que é relativamente difícil
entender qual será o espaço que o processo oficial das Nações Unidas vai abrir
para as diferentes opções tecnológicas. “Muitas das propostas que os países
trouxeram nos iNDCs são bastante genéricas e ainda estão sendo consolidadas”,
destaca.
Paralelos
Mas nem tudo se resume ao processo oficial da ONU. Os eventos paralelos são igualmente importantes e é onde a força do protagonismo do Brasil pode ser mais sentida.
Entre os espaços paralelos que poderão gerar impactos reais, Gussi destaca a reunião da Globe International – um fórum mundial de parlamentares – que trouxe delegações de 67 países para acompanhar os acontecimentos em Paris.
“Eu também tive a oportunidade de falar com um grupo de senadores franceses durante um café da manhã onde expliquei o que o biodiesel tem representado ao Brasil”, conta. Essa semana haverá um diálogo com membros do parlamento europeu no qual o biodiesel será, mais uma vez, debatido.
“Acho que precisamos ir além da agenda negativa de não desmatar ou não usar mais fósseis, claro que isso é importante, mas temos que falar mais de uma agenda positiva. Acho que é isso que o Brasil tem feito de diferente em relação ao mundo”, finaliza. (biodieselbr)
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