quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Consumo elétrico nacional se manterá estável em 2016


Consumo elétrico nacional deverá se manter estável em 2016
Para os setores industrial e comercial, ano será oportuno para reduzir custos em um momento crítico de perda de competitividade.
O consumo nacional de energia elétrica do próximo ano deverá se manter muito perto do realizado em 2015, frustrando as previsões dos órgãos de governo que apontavam para um crescimento de até 2,6%. O baixo consumo de energia reflete o cenário macroeconômico do Brasil, com PIB em retração e inflação descontrolada. Por outro lado, o menor consumo deve aumentar a oferta de energia barata no mercado em 2016, criando uma oportunidade para que consumidores dos setores industrial e comercial reduzam custos com eletricidade em um momento crítico de perda de competitividade.
Anova revisão quadrimestral da carga, divulgada pela EPE e ONS em dezembro, aponta que o Sistema Interligado Nacional deverá atingir 63,9 mil MW médios em 2015, retração de 1.255 MW médios ou 1,9% inferior à carga verificada em 2014. Para 2016, a expectativa era de um aumento da carga de 2,4%, mas a nova atualização indica que a carga ficará apenas 1% maior que em 2015, atingindo 64.573 MW médios. Segundo o ONS e a EPE, a nova previsão de carga considera a atualização nas projeções de PIB, refletindo cortes nos gastos públicos; manutenção da taxa de juros elevada; reprogramação de investimentos; elevação das tarifas; campanhas de racionalização do uso da energia; e postergação da interligação do sistema Boa Vista de outubro de 2017 para março de 2018.
A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica informou que a carga neste ano ficará em 63.974 MW médios, retração de 1.259 MW médios (-1,9%) em relação a 2014. Para 2016, a expectativa até o momento é de recuperação, com crescimento de 2,6% em relação a 2015, atingindo 65.610 MW médios. O gerente de Preços da CCEE, Rodrigo Sacchi, já havia infomado que, devido ao comportamento da carga nos últimos meses, o crescimento do consumo no próximo ano deverá ser menor que os 2,6% estimados anteriormente, muito por conta da conjuntura econômica. "A realização de consumo tem sido um pouco abaixo do que era previsto anteriormente, isso deve impulsionar para que a previsão de carga seja um pouco menor", disse. "Pode ser que o mercado livre tenha um desempenho negativo, mas o cativo deve ter um crescimento positivo", completou.
A projeção da GV Energy & Associados aponta para uma queda no consumo de 2,1% em 2016 na comparação com 2015, atingindo pouco mais que 59 mil MW médios. Segundo Pedro Machado, sócio diretor da consultoria, o processo de sazonalização realizado pelos agentes do mercado livre em dezembro dá uma dimensão atualizada das curvas de mercado para o próximo ano. "Estamos vendo as carteiras de todos os consumidores livres oscilando de forma muito mais pessimista em 2016", disse. A expectativa é que haja uma redução de até 6% no consumo do mercado livre em 2016, assim como aconteceu ao longo de 2015.
Nos últimos meses, as afluências têm se comportado mais próxima da média histórica, o que sinaliza uma melhora na condição hidrológica. Mantido esse comportamento durante o período úmido, de dezembro a abril, deve-se haver uma redução nos custos de operação do sistema elétrico. Uma melhora no desempenho da geração hidrelétrica resultará em uma provável redução do despacho térmico por segurança energética ainda no primeiro semestre de 2016.
Esse cenário mudaria o sinal da bandeira tarifária de vermelha para amarela ou verde, o que representaria um alivio de 8% no valor das tarifas do mercado cativo. Há também uma tendência de queda do Preço de Liquidação das Diferenças, com possiblidade do indicador bater no mínimo no final deste período chuvoso. Sacchi acredita que o alívio na tarifa cativa e no preço do mercado spot podem dar um impulso para que clientes cativos e livres retomem o consumo a partir de 2016.
A partir de maio deste ano, o PLD iniciou uma trajetória decrescente, saindo do teto regulatório de R$ 388,48/MWh no primeiro trimestre para uma média de R$ 203/MWh em novembro. A queda do PLD é explica pela influência de três fatores combinados: redução no consumo; menor despacho térmico; e melhora na condição hidrológica.
A redução do consumo de eletricidade no mercado livre acontece por conta da baixa atividade econômica do país, fazendo com que os setores do comércio, serviços e indústria desacelerem o ritmo de produção. O boletim Focus do Banco Central divulgado em dezembro projetou uma retração de 3,5% no PIB brasileiro para este ano e de -2,31% para 2016.
No mercado cativo, a redução do consumo acontece por conta da escalada das tarifas de energia, que praticamente dobraram na média nacional em 2015. A energia é a principal vilã da inflação, estimada em 10,44% para este ano e em 6,70% para 2016. "Essa condição de tarifas mais altas e inflação provoca uma série de condições para que se tenha uma queda no consumo", disse Ricardo Matos, sócio diretor da consultoria Simple Energy. "O consumidor de um modo geral passa adotar uma postura mais moderada em termos de consumo."
O consumo no ano que vem também terá uma queda por conta do clima, que deverá apresentar temperaturas mais moderadas na comparação com este ano, o que reduz o uso de equipamentos de refrigeração. "Este ano tivemos a influência do El Niño e por isso tivemos temperaturas mais altas do que vamos registrar no ano de 2016”, afirmou Patrícia Madeira, diretora de Meteorologia da Clima Tempo. “Em particular, janeiro de 2015 foi muito quente por conta de um bloqueio que diminuiu a chuva e aumentou a temperatura. Em janeiro 2016 o bloqueio deve ser mais curto do que em 2015, por isso a temperatura sobe menos. No entanto, a previsão ainda é de calor acima da média, porém menos intenso do que em 2015”, detalhou a especialista em clima.
A melhora na condição hidrológica nos últimos meses e a expectativa de uma afluência dentro da média para o período húmido indica que haverá uma recuperação dos reservatórios. A tendência é que haja uma redução da geração térmica, o que reduz os custos de operação do setor elétrico. Para o ano que vem, ainda está previsto a entrada de 9.022 MW de energia nova.
Todos esses fatores contribuem para que haja uma oferta maior de energia barata, o que é positivo para os consumidores livres. "O viés positivo disso é que no meio de uma crise pela qual passa o país no setor industrial e comercial, essa oferta de energia já está possibilitando que contratos que atravessam os anos de 2016, 2017 e 2018 estejam semanalmente caindo, gerando oportunidade de economia para os consumidores", disse Machado. "Não à toa os consumidores cativos que podem ser livres estão praticamente todos fazendo estudos de migração para o mercado livre", completou. Há 700 consumidores com pedidos de migração, segundo a Associação Brasileira de Comercializadores de Energia Elétrica.
Segundo Leonardo Lopes, sócio diretor da Simple Energy, a expectativa é que os preços de energia fiquem abaixo de R$ 150/MWh no ACL, podendo cair para R$ 120/MWh em alguns momentos. "O que no fundo não traz uma realidade relativa ao custo de expansão dos sistemas. A gente sabe que os preços nesses níveis são insustentáveis para novos investimentos", lamentou.
Para Machado, da GV Energy, os preços no mercado livre podem chegar a R$ 100/MWh em 2016. Segundo ele, é a primeira vez que uma curva de preços de energia se apresenta com valores mais baixos no primeiro ano. "Desde o mês de julho deste ano e mais agressivamente nos últimos 30 dias, os preços de energia já cruzaram patamares de -30% em relação ao cativo", informou. "Em resumo, tudo isso vai gerar redução do preço no mercado livre e liquidez de oferta. É uma grande oportunidade de reduzir custos em um momento crítico de perda de competitividade."
Para ele, a grande oportunidade é justamente para os clientes que ainda não migraram para o mercado livre. A notícia ruim é que a redução do consumo obrigará alguns agentes a liquidarem energia a preços bem menores que os contratados. "Que vai perder também são comercializadoras de energia que compraram no passado grandes lotes de energia no longo prazo e que ficaram ao longo do ano de 2015 segurando esses contratos de venda aguardando o circo pegar fogo. O gerador que guardou energia esperando preço melhor em 2016 também terá perdas.", analisou Machado.
Para o ACR, a tendência é que a tarifa média A-4 passe de R$ 498/MWh em 2015 para R$ 502 em 2016, chegando a R$ 574/MWh em 2019, isso sem considerar os tributos e a inflação do período, segundo cálculos da Thymos.

(especial2015.canalenergia)

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