domingo, 10 de janeiro de 2016

Geração limpa, renovável e tecnológica

Futuro do setor já está com os seus atores colocados, passam basicamente pela eólica, solar e maior nível de complexidade da rede com smart grid e geração distribuída.
As discussões acerca do clima para os próximos anos e que terminou há poucos dias em Paris na COP-21 passam necessariamente pela forma de como se produz a energia elétrica. Nesse contexto, as fontes renováveis se destacam por serem a saída para reduzir as emissões e até substituir a geração mais suja existente atualmente. E no Brasil, a perspectiva é de que a fonte eólica continuará predominando no setor, mas com o acompanhamento da solar fotovoltaica, que começou a ser introduzida em nossa matriz elétrica recentemente. Ao mesmo tempo, a tecnologia aplicada às redes tende a se fazer mais presente a serviço da descentralização da produção de energia, deixando para trás a era de grandes empreendimentos, tão comuns em um passado não muito distante do Brasil.
As fontes renováveis estão no centro do plano de expansão de energia no país para os próximos anos. Segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim, o Brasil buscará manter o percentual de renováveis da matriz energética nacional em torno de 45%, que já é um dos mais elevados em todo o mundo. "Na média mundial é 13%. Se pegar os países da OCDE é apenas 9%. Então, o nosso desafio é crescer mantendo esse alto nível de participação de fontes renováveis", comenta.
Como nessa conta apresentada pelo executivo da EPE entra o uso de combustíveis, se vê que as fontes limpas de geração tendem a ter uma participação maior no quesito expansão. Tanto que, diz ele, uma questão importante é o aumento, dentro do setor elétrico, da participação das novas renováveis: eólica, solar e biomassa. Essas as três fontes são apontadas como as responsáveis em levar o país a ter pelo menos 23% na matriz elétrica. E afirma que isso significa mais do que dobrar a participação delas na matriz, já que no ano passado, somadas representavam menos de 10% da matriz brasileira.
O principal dever de casa do setor elétrico brasileiro, nos próximos 15 anos, será o de perseguir a expansão sustentável da oferta de energia, como já vem fazendo, para atender o crescimento da demanda e, ao mesmo tempo, contribuir com o atingimento das metas de redução dos gases de efeito estufa do Governo Federal. Essa observação é do presidente da Eletrosul, Djalma Berger.
Segundo o executivo, é possível alcançar as metas estabelecidas para a participação da energia limpa considerando o seu crescimento na última década. Uma importante parcela dessa possibilidade tem como base os programas governamentais de incentivo como o Proinfa e os próprios leilões de energia promovidos pela Aneel dedicados exclusivamente às renováveis.
"No embalo dessas políticas de incentivos, a Eletrosul conseguiu se firmar no segmento eólico, tendo uma participação significativa na expansão da fonte no País, especialmente na Região Sul, assim como as demais subsidiárias Eletrobras estão dando suas contribuições em outras regiões. E, sem dúvida, as estatais continuarão tendo um papel importante para que outras fontes limpas se consolidem no mercado elétrico brasileiro, seja por meio da implantação de empreendimentos ou com pesquisas que favoreçam o desenvolvimento das tecnologias, a exemplo do que a empresa vem fazendo na área de energia solar fotovoltaica. São estudos que visam o domínio tecnológico de toda a cadeia produtiva", avaliou o executivo.
A evolução das renováveis nos últimos anos acima do que se previa pode ser vista na comparação entre o Plano Nacional de Energia 2030 e que foi elaborado entre 2006 e 2008 e o atual momento. As fontes olhadas para o futuro não mudaram drasticamente. Figuravam no plano a eólica, solar e a energia maremotriz, além da biomassa e PCHs, não apontadas como fontes alternativas. Naquele período havia como meta para uma primeira fase de implantação das renováveis os 3.300 MW do Proinfa divididos igualitariamente entre eólica, PCHs e biomassa.
Nove anos atrás já dizia a EPE que o Nordeste brasileiro é a região de maior radiação solar, com média anual comparável as melhores regiões do mundo, como a cidade de Dongola, no deserto do Sudão, e a região de Dagget no Deserto de Mojave, Califórnia.
Dessa forma, a conclusão era a de que pareceria razoável prever para o Brasil o aproveitamento dessa tecnologia após o horizonte do plano em um nível que deve variar com o grau de redução do custo dos módulos, dos incentivos que vierem a ser estabelecidos, talvez em fases posteriores do Proinfa, do custo da eletricidade ao consumidor final, entre outros. Mas o plano destaca em outra parte que a fonte poderia ser competitiva antes de 2020 para mercados como o residencial, onde a tarifa de energia é mais elevada ao adotar ainda as suas especificidades de geração local.
De acordo com a diretora executiva da Thymos Energia, Thaís Prandini, tanto a eólica quanto a solar estão em um nível de desenvolvimento ainda abaixo das já maduras hidrelétricas e PCHs. Os projetos que se utilizam dos ventos estão, naturalmente, em um estágio mais avançado até porque já faz parte do dia a dia do setor há mais tempo, mas ainda assim com campo para se desenvolver. No caso da solar há muito mais espaço para esse desenvolvimento por ser uma fonte que ainda está em seu começo de implantação por aqui.
"O Brasil tem uma característica de trazer para cá tecnologias que já são conhecidas no exterior, principalmente na Europa e Estados Unidos, e que acabam sendo aprimoradas quando trazemos para cá, como por exemplo a eólica e agora a solar", comentou a executiva da Thymos. Por essa razão, disse, o Brasil não deverão apresentar muitas novidades em termos de novas fontes de geração limpa por aqui. Mas, isso não representa um problema porque as duas protagonistas dos próximos anos ainda possuem um amplo espaço para ocupar.
Essa expectativa vai ao encontro do caminho que é apontado para a fonte pelo diretor executivo da Associação Brasileira da Energia Solar Fotovoltaica, Rodrigo Sauaia. Segundo ele, o mercado brasileiro está cerca de 10 anos atrás do que se pratica no exterior, pois lá já passaram pela fase de desenvolvimento e estão no amadurecimento dessa tecnologia. Contudo, afirmou ele, graças a políticas e regulação que foram montadas pelo MME e Aneel, sem contar ainda com medidas dos legislativos estaduais, é possível de se recuperar esse hiato entre o Brasil e os países mais desenvolvidos em um período de três a quatro anos justamente pelo fato de replicar por aqui as melhores práticas adotadas em outros países.
"Até 2013, a solar fotovoltaica não entrava no radar do setor de planejamento, havia referências à instalação da solar conectada no PDE, mas no PNE 2030 não aparece", comentou Sauaia. "Podemos comparar com o que habitualmente acontece ao redor do mundo, a energia solar fotovoltaica foi por repetidas vezes subestimada, até mesmo na Europa, Ásia e Estados Unidos", lembrou o representante setorial.
Por isso, continuou, as perspectivas são otimistas para a fonte no país ao longo dos próximos anos. No longo prazo há questões relevantes que influenciam a implantação da fonte de uma forma mais ou menos acelerada que são os gargalos existentes no país e que podem ser retirados em um determinado momento. "A nossa visão é de que o setor terá uma curva de crescimento acelerada a partir de 2016 e a GD com a resolução 482, que foi aprimorada recentemente pela Aneel será importante por reduzir gargalos da micro e da minigeração", acrescentou, lembrando que a EPE já sinalizou com a possibilidade de se ter um leilão por ano.
A questão, continuou ele, é o volume de contratação, já que o mercado possui uma necessidade de já em 2016 olhar para a demanda de 2017 com 2 GWp de contratos para que tenha a estabilidade necessária para a fabricação de componentes em território nacional.
Dentre as três fontes apontadas por Tolmasquim, a protagonista no avanço dos próximos 15 anos continuará sendo a eólica. Até porque esse tipo de empreendimento chegou a um nível de competitividade, que não onera o consumidor. O problema ainda são as restrições técnicas por ser intermitente. Para o executivo, se dependesse só de preço não teria problema, mas há limites de funcionamento do sistema.
Ainda antes do primeiro leilão da Aneel do qual participou, de 2009, o PNE 2030 indicava que a eólica despontava como uma das principais fontes alternativas de energia e que mais crescia no mundo com expansão de 37% ao ano na Europa. Hoje, seis anos depois, dados da ABEEólica indicam que o segmento encerrará o ano com 6% da matriz elétrica nacional, o que representa 8,44 GW de potência instalada. No longo prazo, a perspectiva não é de problemas para a fonte em decorrência da capacidade de produção de equipamentos que o Brasil dispõe. Além disso, o país já conta com a perspectiva de encerrar 2019 com 18,67 GW.
O maior gargalo que o país vive atualmente é com a questão da transmissão. Ao lado da questão financiamento, a maior preocupação no setor eólico é a de ter a conexão à Rede Básica para escoar a energia contratada em leilões no ambiente regulado. E esse cenário se torna mais importante ainda quando se avalia o tempo em que as fontes renováveis entram em operação, muito mais rapidamente do que projetos de transmissão. Recentemente o CEO da CPFL Renováveis, André Dorf, destacou o avanço dessa modalidade de projetos sobre o total da matriz elétrica brasileira.
“Se olharmos para trás, em um histórico recente temos visto a grande participação na matriz. No triênio de 2007 a 2009 as renováveis responderam por 11% do volume de energia vendida nos leilões, esse montante passou para 31% em 2011 a 2012 e entre 2013 e 2015 já alcançou 58% do total comercializado nos leilões e com a predominância da eólica”, apontou ele.
A presidente executiva da ABEEólica, Élbia Gannoum, revelou que a entidade está muito preocupada com essa questão. Segundo sua avaliação, em um evento realizado na FGV no Rio de Janeiro, esse problema já esta afetando a expansão da fonte e que isso ficou claro no último leilão de reserva. Segundo seu relato, a escassez de linhas reduziu a oferta. Em sua estimativa a demanda por projetos da fonte chegaria a 2 GW, mas por conta desse gargalo que está se formando foram viabilizados 500 MW. Dos cerca de 20 GW em projetos existentes no Brasil apenas 3 GW tem alguma conexão.
Apesar dessa visão para a eólica, para o presidente da EPE, a biomassa - tanto de cana como de cavaco de madeira - e a solar - tanto centralizada quanto a distribuída - também deverão crescer. A biomassa, inclusive, tem uma relação direta com a matriz energética, de combustíveis já que o etanol vai continuar sendo uma fonte importante e ao passo que avança aumenta a disponibilidade do bagaço, principal combustível para a geração por meio dessa fonte. Contudo, Tolmasquim mantém a sua avaliação de que as UHEs ainda continuarão sendo, em termos absolutos, a principal fonte. Mas, em termos relativos, o país verá um crescimento maior das novas renováveis. “Em quantidade de megawatts colocados, a hidrelétrica ainda vai ter importância, mas cada vez mais com uma taxa de crescimento maior das novas renováveis”, aponta.
Para que esse prognóstico se confirme a participação em leilões deverá se manter no ritmo atual. Segundo o presidente da EPE, a eólica continuará a ter sua parcela no A-3. A solar também continuará a ter um lugar cativo nos leilões organizados pela Aneel, contudo, reforçou ele, por mais de uma vez, deverá se manter no leilão de reserva, pelo menos no atual momento.
Já no que se refere ao PNE 2050, que é a atualização do plano para 2030, já se considera a eficiência energética e a geração descentralizada como fontes alternativas. O uso mais racional da energia na redução da demanda é apontado como fundamental para reduzir a necessidade de expansão da oferta no longo prazo, evitando, por exemplo, impactos ambientais decorrentes de novos projetos. “Como uma importante e crescente parcela de contribuição ao atendimento desta demanda, o autoatendimento energético mostra ser uma grande tendência mundial”, afirma a EPE no documento que ainda está em elaboração.
No capítulo de atendimento à demanda de energia no horizonte de 2050, a EPE traça uma  projeção de consumo de energia que em 2030 é de 965 TWh. A introdução da Geração Distribuída no Planejamento Energético de longo prazo impõe-se como questão essencial. E o contexto apresentado de renovação de infraestrutura urbana deverá criar um ambiente favorável para a penetração da GD, principalmente de pequena e média escala, avalia a empresa. Apesar da perspectiva do avanço, a GD de grande escala tende a continuar importante com a expansão de parques industriais, com aumento da eficiência energética, dos custos e em necessidade ao atendimento de questões ambientais cada vez mais restritas.
Segundo as projeções de reduções de custos, estima-se que a geração fotovoltaica distribuída atinja a paridade tarifária em praticamente todo o território nacional, para os consumidores atendidos em baixa tensão, por volta de 2022, enquanto que para consumidores atendidos em média tensão (grupo A4) a paridade tarifária deve se tornar realidade apenas ao final da década de 2020.
Segundo estudo da EPE em 2030 a perspectiva é de que os sistemas de GD fotovoltaica ainda estejam com 10 GWp de potência instalada e com novas políticas para seu incentivo a perspectiva é de que esse volume seja de 20 GWp, o que representa de 1,3% e 2,6% proporcionalmente à carga total no país. Em qualquer um desses dois cenários ainda representará um inicio de inserção, já que no horizonte do plano que é de 2050 a capacidade instalada poderá representar no cenário de referência 5,7% da carga e no de novas políticas 8,7% da carga do SIN. (especial2015.canalenergia)

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