Futuro do setor já está com
os seus atores colocados, passam basicamente pela eólica, solar e maior nível
de complexidade da rede com smart grid e geração distribuída.
As discussões acerca do clima para os próximos anos e
que terminou há poucos dias em Paris na COP-21 passam necessariamente pela
forma de como se produz a energia elétrica. Nesse contexto, as fontes
renováveis se destacam por serem a saída para reduzir as emissões e até
substituir a geração mais suja existente atualmente. E no Brasil, a perspectiva
é de que a fonte eólica continuará predominando no setor, mas com o
acompanhamento da solar fotovoltaica, que começou a ser introduzida em nossa
matriz elétrica recentemente. Ao mesmo tempo, a tecnologia aplicada às redes
tende a se fazer mais presente a serviço da descentralização da produção de
energia, deixando para trás a era de grandes empreendimentos, tão comuns em um
passado não muito distante do Brasil.
As fontes renováveis estão no centro do plano de
expansão de energia no país para os próximos anos. Segundo o presidente da
Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim, o Brasil buscará manter o
percentual de renováveis da matriz energética nacional em torno de 45%, que já
é um dos mais elevados em todo o mundo. "Na média mundial é 13%. Se pegar
os países da OCDE é apenas 9%. Então, o nosso desafio é crescer mantendo esse
alto nível de participação de fontes renováveis", comenta.
Como nessa conta apresentada pelo executivo da EPE
entra o uso de combustíveis, se vê que as fontes limpas de geração tendem a ter
uma participação maior no quesito expansão. Tanto que, diz ele, uma questão
importante é o aumento, dentro do setor elétrico, da participação das novas
renováveis: eólica, solar e biomassa. Essas as três fontes são apontadas como
as responsáveis em levar o país a ter pelo menos 23% na matriz elétrica. E
afirma que isso significa mais do que dobrar a participação delas na matriz, já
que no ano passado, somadas representavam menos de 10% da matriz brasileira.
O principal dever de casa do setor elétrico
brasileiro, nos próximos 15 anos, será o de perseguir a expansão sustentável da
oferta de energia, como já vem fazendo, para atender o crescimento da demanda
e, ao mesmo tempo, contribuir com o atingimento das metas de redução dos gases
de efeito estufa do Governo Federal. Essa observação é do presidente da
Eletrosul, Djalma Berger.
Segundo o executivo, é possível alcançar as metas
estabelecidas para a participação da energia limpa considerando o seu
crescimento na última década. Uma importante parcela dessa possibilidade tem
como base os programas governamentais de incentivo como o Proinfa e os próprios
leilões de energia promovidos pela Aneel dedicados exclusivamente às
renováveis.
"No embalo dessas políticas de incentivos, a
Eletrosul conseguiu se firmar no segmento eólico, tendo uma participação
significativa na expansão da fonte no País, especialmente na Região Sul, assim
como as demais subsidiárias Eletrobras estão dando suas contribuições em outras
regiões. E, sem dúvida, as estatais continuarão tendo um papel importante para
que outras fontes limpas se consolidem no mercado elétrico brasileiro, seja por
meio da implantação de empreendimentos ou com pesquisas que favoreçam o
desenvolvimento das tecnologias, a exemplo do que a empresa vem fazendo na área
de energia solar fotovoltaica. São estudos que visam o domínio tecnológico de
toda a cadeia produtiva", avaliou o executivo.
A evolução das renováveis nos últimos anos acima do
que se previa pode ser vista na comparação entre o Plano Nacional de Energia
2030 e que foi elaborado entre 2006 e 2008 e o atual momento. As fontes olhadas
para o futuro não mudaram drasticamente. Figuravam no plano a eólica, solar e a
energia maremotriz, além da biomassa e PCHs, não apontadas como fontes
alternativas. Naquele período havia como meta para uma primeira fase de
implantação das renováveis os 3.300 MW do Proinfa divididos igualitariamente
entre eólica, PCHs e biomassa.
Nove anos atrás já dizia a EPE que o Nordeste
brasileiro é a região de maior radiação solar, com média anual comparável as
melhores regiões do mundo, como a cidade de Dongola, no deserto do Sudão, e a
região de Dagget no Deserto de Mojave, Califórnia.
Dessa forma, a conclusão era a de que pareceria razoável prever para o Brasil o aproveitamento dessa tecnologia após o horizonte do plano em um nível que deve variar com o grau de redução do custo dos módulos, dos incentivos que vierem a ser estabelecidos, talvez em fases posteriores do Proinfa, do custo da eletricidade ao consumidor final, entre outros. Mas o plano destaca em outra parte que a fonte poderia ser competitiva antes de 2020 para mercados como o residencial, onde a tarifa de energia é mais elevada ao adotar ainda as suas especificidades de geração local.
Dessa forma, a conclusão era a de que pareceria razoável prever para o Brasil o aproveitamento dessa tecnologia após o horizonte do plano em um nível que deve variar com o grau de redução do custo dos módulos, dos incentivos que vierem a ser estabelecidos, talvez em fases posteriores do Proinfa, do custo da eletricidade ao consumidor final, entre outros. Mas o plano destaca em outra parte que a fonte poderia ser competitiva antes de 2020 para mercados como o residencial, onde a tarifa de energia é mais elevada ao adotar ainda as suas especificidades de geração local.
De acordo com a diretora executiva da Thymos Energia,
Thaís Prandini, tanto a eólica quanto a solar estão em um nível de
desenvolvimento ainda abaixo das já maduras hidrelétricas e PCHs. Os projetos
que se utilizam dos ventos estão, naturalmente, em um estágio mais avançado até
porque já faz parte do dia a dia do setor há mais tempo, mas ainda assim com
campo para se desenvolver. No caso da solar há muito mais espaço para esse
desenvolvimento por ser uma fonte que ainda está em seu começo de implantação
por aqui.
"O Brasil tem uma característica de trazer para
cá tecnologias que já são conhecidas no exterior, principalmente na Europa e
Estados Unidos, e que acabam sendo aprimoradas quando trazemos para cá, como
por exemplo a eólica e agora a solar", comentou a executiva da Thymos. Por
essa razão, disse, o Brasil não deverão apresentar muitas novidades em termos
de novas fontes de geração limpa por aqui. Mas, isso não representa um problema
porque as duas protagonistas dos próximos anos ainda possuem um amplo espaço
para ocupar.
Essa expectativa vai ao encontro do caminho que é
apontado para a fonte pelo diretor executivo da Associação Brasileira da
Energia Solar Fotovoltaica, Rodrigo Sauaia. Segundo ele, o mercado brasileiro
está cerca de 10 anos atrás do que se pratica no exterior, pois lá já passaram
pela fase de desenvolvimento e estão no amadurecimento dessa tecnologia.
Contudo, afirmou ele, graças a políticas e regulação que foram montadas pelo MME
e Aneel, sem contar ainda com medidas dos legislativos estaduais, é possível de
se recuperar esse hiato entre o Brasil e os países mais desenvolvidos em um
período de três a quatro anos justamente pelo fato de replicar por aqui as
melhores práticas adotadas em outros países.
"Até 2013, a solar fotovoltaica não entrava no
radar do setor de planejamento, havia referências à instalação da solar
conectada no PDE, mas no PNE 2030 não aparece", comentou Sauaia.
"Podemos comparar com o que habitualmente acontece ao redor do mundo, a
energia solar fotovoltaica foi por repetidas vezes subestimada, até mesmo na
Europa, Ásia e Estados Unidos", lembrou o representante setorial.
Por isso, continuou, as perspectivas são otimistas
para a fonte no país ao longo dos próximos anos. No longo prazo há questões
relevantes que influenciam a implantação da fonte de uma forma mais ou menos
acelerada que são os gargalos existentes no país e que podem ser retirados em
um determinado momento. "A nossa visão é de que o setor terá uma curva de
crescimento acelerada a partir de 2016 e a GD com a resolução 482, que foi
aprimorada recentemente pela Aneel será importante por reduzir gargalos da
micro e da minigeração", acrescentou, lembrando que a EPE já sinalizou com
a possibilidade de se ter um leilão por ano.
A questão, continuou ele, é o volume de contratação,
já que o mercado possui uma necessidade de já em 2016 olhar para a demanda de
2017 com 2 GWp de contratos para que tenha a estabilidade necessária para a
fabricação de componentes em território nacional.
Dentre as três fontes apontadas por Tolmasquim, a
protagonista no avanço dos próximos 15 anos continuará sendo a eólica. Até
porque esse tipo de empreendimento chegou a um nível de competitividade, que
não onera o consumidor. O problema ainda são as restrições técnicas por ser
intermitente. Para o executivo, se dependesse só de preço não teria problema,
mas há limites de funcionamento do sistema.
Ainda antes do primeiro leilão da Aneel do qual
participou, de 2009, o PNE 2030 indicava que a eólica despontava como uma das
principais fontes alternativas de energia e que mais crescia no mundo com
expansão de 37% ao ano na Europa. Hoje, seis anos depois, dados da ABEEólica
indicam que o segmento encerrará o ano com 6% da matriz elétrica nacional, o
que representa 8,44 GW de potência instalada. No longo prazo, a perspectiva não
é de problemas para a fonte em decorrência da capacidade de produção de
equipamentos que o Brasil dispõe. Além disso, o país já conta com a perspectiva
de encerrar 2019 com 18,67 GW.
O maior gargalo que o país vive atualmente é com a
questão da transmissão. Ao lado da questão financiamento, a maior preocupação
no setor eólico é a de ter a conexão à Rede Básica para escoar a energia
contratada em leilões no ambiente regulado. E esse cenário se torna mais
importante ainda quando se avalia o tempo em que as fontes renováveis entram em
operação, muito mais rapidamente do que projetos de transmissão. Recentemente o
CEO da CPFL Renováveis, André Dorf, destacou o avanço dessa modalidade de
projetos sobre o total da matriz elétrica brasileira.
“Se olharmos para trás, em um histórico recente temos
visto a grande participação na matriz. No triênio de 2007 a 2009 as renováveis
responderam por 11% do volume de energia vendida nos leilões, esse montante
passou para 31% em 2011 a 2012 e entre 2013 e 2015 já alcançou 58% do total
comercializado nos leilões e com a predominância da eólica”, apontou ele.
A presidente executiva da ABEEólica, Élbia Gannoum, revelou que a entidade está muito preocupada com essa questão. Segundo sua avaliação, em um evento realizado na FGV no Rio de Janeiro, esse problema já esta afetando a expansão da fonte e que isso ficou claro no último leilão de reserva. Segundo seu relato, a escassez de linhas reduziu a oferta. Em sua estimativa a demanda por projetos da fonte chegaria a 2 GW, mas por conta desse gargalo que está se formando foram viabilizados 500 MW. Dos cerca de 20 GW em projetos existentes no Brasil apenas 3 GW tem alguma conexão.
A presidente executiva da ABEEólica, Élbia Gannoum, revelou que a entidade está muito preocupada com essa questão. Segundo sua avaliação, em um evento realizado na FGV no Rio de Janeiro, esse problema já esta afetando a expansão da fonte e que isso ficou claro no último leilão de reserva. Segundo seu relato, a escassez de linhas reduziu a oferta. Em sua estimativa a demanda por projetos da fonte chegaria a 2 GW, mas por conta desse gargalo que está se formando foram viabilizados 500 MW. Dos cerca de 20 GW em projetos existentes no Brasil apenas 3 GW tem alguma conexão.
Apesar dessa visão para a eólica, para o
presidente da EPE, a biomassa - tanto de cana como de cavaco de madeira - e a
solar - tanto centralizada quanto a distribuída - também deverão crescer.
A biomassa, inclusive, tem uma relação direta com a matriz energética, de
combustíveis já que o etanol vai continuar sendo uma fonte importante e ao
passo que avança aumenta a disponibilidade do bagaço, principal combustível
para a geração por meio dessa fonte. Contudo, Tolmasquim mantém a sua
avaliação de que as UHEs ainda continuarão sendo, em termos absolutos, a
principal fonte. Mas, em termos relativos, o país verá um crescimento maior das
novas renováveis. “Em quantidade de megawatts colocados, a hidrelétrica ainda
vai ter importância, mas cada vez mais com uma taxa de crescimento maior das
novas renováveis”, aponta.
Para que esse prognóstico se confirme a participação
em leilões deverá se manter no ritmo atual. Segundo o presidente da EPE, a
eólica continuará a ter sua parcela no A-3. A solar também continuará a ter um
lugar cativo nos leilões organizados pela Aneel, contudo, reforçou ele, por
mais de uma vez, deverá se manter no leilão de reserva, pelo menos no atual
momento.
Já no que se refere ao PNE 2050, que é a atualização
do plano para 2030, já se considera a eficiência energética e a geração
descentralizada como fontes alternativas. O uso mais racional da energia na
redução da demanda é apontado como fundamental para reduzir a necessidade de
expansão da oferta no longo prazo, evitando, por exemplo, impactos ambientais decorrentes
de novos projetos. “Como uma importante e crescente parcela de contribuição ao
atendimento desta demanda, o autoatendimento energético mostra ser uma grande
tendência mundial”, afirma a EPE no documento que ainda está em elaboração.
No capítulo de atendimento à demanda de energia no
horizonte de 2050, a EPE traça uma projeção de consumo de energia que em
2030 é de 965 TWh. A introdução da Geração Distribuída no Planejamento
Energético de longo prazo impõe-se como questão essencial. E o contexto apresentado
de renovação de infraestrutura urbana deverá criar um ambiente favorável para a
penetração da GD, principalmente de pequena e média escala, avalia a empresa.
Apesar da perspectiva do avanço, a GD de grande escala tende a continuar
importante com a expansão de parques industriais, com aumento da eficiência
energética, dos custos e em necessidade ao atendimento de questões ambientais
cada vez mais restritas.
Segundo as projeções de reduções de custos, estima-se
que a geração fotovoltaica distribuída atinja a paridade tarifária em
praticamente todo o território nacional, para os consumidores atendidos em
baixa tensão, por volta de 2022, enquanto que para consumidores atendidos em
média tensão (grupo A4) a paridade tarifária deve se tornar realidade apenas ao
final da década de 2020.
Segundo estudo da EPE em 2030 a perspectiva é de que
os sistemas de GD fotovoltaica ainda estejam com 10 GWp de potência instalada e
com novas políticas para seu incentivo a perspectiva é de que esse volume seja
de 20 GWp, o que representa de 1,3% e 2,6% proporcionalmente à carga total no
país. Em qualquer um desses dois cenários ainda representará um inicio de
inserção, já que no horizonte do plano que é de 2050 a capacidade instalada
poderá representar no cenário de referência 5,7% da carga e no de novas
políticas 8,7% da carga do SIN. (especial2015.canalenergia)
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