Energia heliotérmicas ou energia solar térmica
concentrada ou internacionalmente conhecido como CSP (Concentrating Solar
Power) é uma tecnologia de geração de energia elétrica renovável que transforma
irradiação solar direta em energia térmica e subsequentemente em energia elétrica.
Através da concentração dos raios solares diretos, temperaturas acima de 1000°C
podem ser atingidos.
Uma usina solar térmica concentrada consiste em
duas partes: o coletor térmico e o ciclo de potência. Espelhos de configurações
variadas servem para concentrar os raios solares; no foco dos espelhos circula
um fluido de trabalho que é aquecido com o calor da concentração. No ciclo de
potência acontece a expansão desse fluido de trabalho em uma turbina, ou,
alternativamente o vapor pode ser utilizado diretamente em processos
industriais. Para garantir um funcionamento mais flexível e confiável da usina
heliotérmica, de dia e de noite, é possível incluir um armazenamento térmico ou
uma co-combustão de combustíveis reservas no ciclo de potência. Dessa forma, a
usina heliotérmica é capaz de gerar energia despachável.
Em 2012, uma capacidade total de 1.7 GW foi
instalada no mundo, gerando 3.19 TWh de eletricidade. No mesmo momento, 2.7 GW
se encontraram em construção e 8.2 GW em fase de planejamento.
Coletores
A função geral do coletor é a concentração dos
raios solares e o aquecimento do fluido de trabalho, que circula em um
receptor. A taxa de concentração determina a relação entre a abertura do
coletor e a área de absorção do receptor. Quanto maior a taxa de concentração,
mais altas são as temperaturas do fluido de trabalho. O aquecimento solar de
água em aplicações domésticas não usa o conceito da concentração e funciona a
base de um receptor só. Com essa tecnologia temperaturas maximas de até 100° C
podem ser atingidas dependendo da irradiação atual. Com as tecnologias
heliotérmicas, somente a radiação solar direta é aproveitada, enquanto elas não
são capazes de transformar a radiação solar difusa em calor. Por isso, não é
possível gerar energia elétrica com o céu nublado. Para seguir o movimento do
sol, o coletor solar concentrado tem de ser rastreado em um ou dois eixos. O
rastreamento é mais complexo usando dois eixos, mas assim uma taxa de
concentração maior e portanto temperaturas mais altas são obtidas. Atualmente
existem quatro tecnologias comerciais para a concentração, nomeadamente
concentradores cilindros-parabólicos, refletores linear de Fresnel, torres
solares com helióstatos, e discos parabólicos.
Calha de coletores cilindro-parabólicos
Coletores cilindro-parabólicos
Os coletores cilindro-parabólicos são considerados
a tecnologia heliotérmica mais madura, penetrando o mercado desde a década dos
anos 80. O coletor constitui de uma calha de espelhos parabólicos. A superfície
do espelho é revestida com uma camada de máxima reflexão. Os raios solares são
refletidos através do espelho e acertam o receptor tubular na linha do foco. O
receptor é um tubo preto com revestimento anti-reflexivo, alta capacidade de
absorbância e baixa emitância de irradiação térmica. O coletor é rastreado em
um eixo que é paralelo á linha da calha. Geralmente, vários módulos de calhas
são arranjados em fileiras longas, com varias fileiras de calhas instaladas
paralelamente. Com essa tecnologia de foco linear, o fluido de transferência
atinge temperaturas até aproximadamente 400°C.
O modelo Fresnel foi desenvolvido para cortar os
custos de produção. Ao contrário dos grandes espelhos da tecnologia parabólica,
um refletor linear de Fresnel consiste em varias fileiras de espelhos planos,
rastreados em um eixo. Esses espelhos focam os feixes em o absorvedor fixado
acima dos espelhos. O absorvedor se constitui de um receptor tubular e um
espelho parabólico que coleta os raios vindos dos espelhos que não atingem o
refletor diretamente. Com essa tecnologia, taxas de concentração de 10 - 100
são possível, correspondendo a temperaturas de 60° C - 450° C. Os refletores
lineares de Fresnel são considerados uma tecnologia mais nova com grande
potencial de reduzir custos. Porém, das usinas heliotérmicas em construção, só
6% utilizam a tecnologia linear de Fresnel. A tecnologia Fresnel é a mais
indicada para aplicações não elétricas da tecnologia heliotérmica, usadas para gerar
calor de processos na indústria e agricultura.
Torres solares operam com concentração em um único
ponto: Uma multidão de espelhos lineares, denominados heliostatos, são
rastreados individualmente para concentrar os raios solares em um ponto no alto
da torre. Neste foco se encontra o receptor, onde uma substância de
transferência de calor, como ar ou um sal especial, é aquecida. Dependo do
número de heliostatos no campo solar em volta da torre, uma taxa de
concentração de 300 – 1500 é atingida, resultando em temperaturas de 150° C -
2000 °C. A torre solar é a mais eficiente na geração de energia elétrica,
devido às alturas elevadas da temperatura atingida através da concentração.
Outro campo de pesquisa é a sintetização de combustíveis solares.
Como as torres solares, os discos parabólicos
operam como tecnologia de foco em ponto. O espelho da geometria de disco
parabólica concentra os raios solares em um ponto em frente do coletor. Lá, um
receptor é montado e aquece um liquido. Existem dois modos principais: o
sistema central e o sistema individual. No sistema central, um conjunto de
vários discos parabólicos é conectado por uma tubulação para gerar eletricidade
de forma centralizada em um ciclo de potência único. Mais comum é a aplicação
individual, onde um motor de Stirling é localizado no foco do coletor. Acoplado
a um gerador, eletricidade é gerada sem ajuda de outros componentes.
Comparação entre tecnologias
Tabela comparativa das tecnologias para usinas
heliotérmicas
Nome
|
Foco
|
Arranjo dos Espelhos
|
Grau concentração
|
Temperatura operação foco
|
Calha Cilindro/Parabólico
|
Linha
|
Fileiras espelhos linear-parabólicos
|
≈ 100 vezes
|
≈ 450ºC
|
Coletor Linear Fresnel
|
Linha
|
Fileiras espelhos linear-planos
|
≈ 100 vezes
|
≈ 450ºC
|
Disco Parabólico
|
Ponto
|
Unidades discos espelhos parabólicos
|
≥ 1.000 vezes
|
700 a 1.000ºC
|
Torre Solar
|
Ponto
|
Campo de heliostatos espelhos planos
|
≥ 1.000 vezes
|
700 a 1.000ºC
|
Ciclo de potencial
O característico principal de uma usina
heliotérmica é o coletor, que é responsável por grande parte dos investimentos
de uma usina heliotérmica. Porém, para a geração heliotérmica outros
componentes são indispensáveis: um bloco de potencia para gerar eletricidade,
um armazenamento térmico para evitar interrupções e eliminar oscilações e
eventualmente, um boiler para co-combustão à base de combustíveis
convencionais.
Ciclo termodinâmico
O ciclo termodinâmico que acontece principalmente
durante a geração heliotérmica é o ciclo Rankine. O conteúdo energético do
fluido de trabalho, calor e pressão, é transformado em energia rotativa por
meio de expansão do fluido. Um gerador elétrico, acoplado a uma turbina, gera
eletricidade e alimenta a rede elétrica. Após a expansão, o fluido de trabalho
vai para um condensador, onde é resfriado. O fluido então liquido retorna á
bomba antes de ser aquecido novamente através dos receptores solares. Este
ciclo se repete enquanto a usina fique ligada.
O ciclo Sterling, acontecendo no coletor disco
parabólico, é baseado em várias etapas.
A eficiência máxima dos ciclos termodinâmicos é
descrita pela eficiência Carnot:
onde T0 é a temperatura ambiente e TH
é a temperatura do fluido de trabalho.
Em respeito á geração térmica, quanto maior é a
temperatura TH, maior é a eficiência.
Eficiência
Eficiência da planta heliotérmica
como função da taxa de concentração C e da temperatura TH
Para sistemas termodinâmicos solares, a eficiência
máxima entre sol e trabalho pode ser
deduzida considerando tanto as propriedades da radiação solar quanto o segundo
princípio termodinâmico de Carnot. A radiação solar primeiramente deve ser
convertida em calor usando um receptor com a eficiência :
onde , , são o fluxo solar de
entrada, o fluxo absorvido do receptor e o fluxo perdido respectivamente.
A eficiência total da usina heliotérmica depende
da eficiência Carnot :
No ciclo de potencia real existem outros tipos de
perdas, que deveriam ser incluídos na equação da eficiência total. Porém, e , são os maiores contribuintes
para a eficiência total .
Para um fluxo solar I (e.g. 1000 W/m2)
com a taxa de concentração C, a eficiência dos sistemas óticos , a área do receptor A e a
absorbância , os fluxos solares absorvidos
são calculados da seguinte maneira:
,
.
Se pode assumir que a perda de calor por
superfícies de altas temperaturas é unica devido á radiação. Assim, se calcula com a lei de
Stefan-Boltzmann:
.
Simplificando estas equações considerando óticas
perfeitas (\math>\eta_\mathrm{optica} = 1
), áreas A de absorção
e radiação iguais, e absorção e emisididae máxima (α=1, ε=1), resulta na
formulação da eficiência total de:
Devido ás perdas da radiação, a eficiência não é
só uma função da temperatura máxima, como no ciclo Rankine. Por cada taxa de
concentração C existe uma temperatura ótima Topt. Além disso, quanto
maior a taxa de concentração, maior será a eficiência máxima do ciclo total.
Sistemas de armazenamento térmico
Usinas heliotérmicas tem a capacidade de armazenar
partes do calor em um sistema de armazenamento térmico para equilibrar a
produção de eletricidade e eliminar variações de curto prazo. Isso constitui em
um ganho de flexibilidade com vantagens de operação comparado à usinas
fotovoltaicas. Durante a radiação máxima do dia, a planta produz mais calor do
que a turbina pode processar. Esse calor não é perdido como seria em uma planta
sem armazenamento. Pelo contrário o calor é utilizado para gerar eletricidade durante
a noite. Em uma usina com armazenamento, o calor de excesso não entra na
turbina, más aquece um fluido de armazenamento. Tecnicamente, o armazenamento é
realizado através de dois tanques, um de baixa e o outro de alta temperatura.
Entre os dois tanques acontece a transferência de calor através de um trocador
de calor, aquecendo o fluido de armazenagem, por exemplo sal fundido. Para o
dimensionamento do tanque de armazenamento da planta, os custos e os requisitos
precisam ser levados em consideração. Para operação na base, tanques com grande
capacidade são necessários para manter a produção durante a noite e dias
nublados. Entretanto, tanques menores com custos mais baixos são suficientes
para a operação intermediária (i.e. entre 8 e 19 horas).
Co-combustão e Modo Híbrido
Em muitas usinas heliotérmicas, a co-combustão a
base de combustíveis é aplicada, ajudando a regular a geração e garantir
capacidade. A co-combustão pode operar de forma contínua, híbrida ou temporária
para garantir a operação durante períodos de ponta ou quando houver pouca
radiação. Outra vantagem é o aumento da temperatura máxima TH do
fluido de trabalho para melhorar a eficiência de Carnot. A queima de
combustíveis fosseis, biogás, ou combustíveis solares pode aumentar a temperatura
do fluido de trabalho ou também a quantidade de calor armazenado.
Uma outra solução no modo híbrido é um campo
pequeno de coletores que apoia uma grande usina térmica convencional. Assim, o
uso e os custos dos combustíveis para a usina térmica podem ser diminuídos. A
instalação de componentes heliotérmicos também pode ser feita em usina já
existentes, como demonstrado na usina Liddell em Austrália: a usina
heliotérmica apoia uma usina a carvão de 2000 MWth com 9 MWth
de capacidade solar térmica. Apesar de ser um campo solar relativamente
pequeno, os coletores economizam aproximadamente 4000 toneladas de CO2
por ano.
Energia heliotérmica no mundo
As primeiras atividades na área das tecnologias
heliotérmicas foram realizadas na década dos anos 80 nos Estados-Unidos (EUA),
estimuladas pela crise de petróleo dos anos 70. Nos anos 90 diminuiu a pressão
de criar um abastecimento autónomo e com ela, os investimentos na heliotermia.
Até então, 345 MW de capacidade foi instalada no mundo. Somente mais tarde,
depois da virada do milênio, as tecnologias heliotérmicas vivenciaram uma
revolução com novos projetos, pesquisa e desenvolvimento em vários países. Até
2012, 2.52 GW foram instalados no mundo, cujo maior mercado se situou na
Espanha com uma quota total de 66% das instalações.
Heliotermia no Brasil
O Brasil dispõe de uma alta taxa de radiação
normal direta em todo seu território nacional. Porém, as melhores condições
para a geração heliotérmica se encontram no Nordeste do Brasil aonde os valores
de irradiação cheguem a valores acima de 2000 kWh/m². O governo brasileiro
incentiva atividades nas tecnologias heliotérmicas, especialmente na área de
pesquisa e desenvolvimento. Em 2010, um acordo de cooperação técnica entre o
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Ministério de Minas e
Energia (MME) foi assinado, cujo objetivo é o fornecimento de energia solar no
Brasil. O acordo destaca a pesquisa em e produção de tecnologias heliotérmicas
no Brasil e um dos primeiros passos da sua realização é a instalação de uma
planta heliotérmica de pesquisa com uma capacidade de 1 MWel em Petrolina. A
plataforma deve operar como centro de pesquisa, trabalhando na certificação de
equipamentos e na capacitação de acadêmicos e técnicos. No ano 2013 e no ano
2014, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) autorizou a participação de
projetos heliotérmicos nos leilões de energia, portanto, nenhum dos projetos
entregues conseguiu vencer na concorrência com outras tecnologias. Através do
fundo de investimento INOVA Energia, um projeto híbrido de biomassa e
heliotermia se encontra em realização e deve integrar de um centro de
treinamento. Além disso, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)
anunciou a publicação de uma chamada estratégica focada em tecnologias
heliotérmicas para ser lançada no ano 2015.
Heliotermia em Portugal
De todos os países europeus, Portugal possui uma
das melhores condições geográficas para o uso da energia solar - o país tem o
maior numero de horas de sol com altas taxas de radiação. Porém, atividades
existem somente de forma isolada. Em Tavira, Algarve, opera uma usina
heliotérmica de 6.5 MW com refletores Fresnel. Em Évora, Alentejo, a empresa
alemã Siemens está construindo uma planta de pesquisa para investigar sal
fundido de diferentes tipos como fluido de transferência.
Custos e previsão
Os custos para a geração de energia heliotérmica
ainda são elevados e variam de país para país. Para previsão dos custos, o
parâmetro mais influente é a localização da usina: Quanto maior a irradiação e
o número de horas de sol, menor serão os custos de geração. Por efeitos de
economia de escala, a capacidade da usina também é um fator importante:
dobrando a capacidade instalada da usina é possível reduzir os custos iniciais
de 15%. No investimento total de uma usina heliotérmica, os custos de
investimento representam a maior parte. Desses custos em média 30% se devem à
compra do campo solar e dos coletores, 10% ao armazenamento e 5% ao bloco de
potência. Em contrapartida, os custos de operação e manutenção da planta são
relativamente baixos, graças ao sol que é uma fonte de energia abundante e
gratuita.
Como a tecnologia heliotérmica ainda é vista como
uma tecnologia nova, o futuro promete reduções significantes nos custos de
produção de eletricidade. O Department of Energy dos Estados Unidos estima que
os custos devem cair de 70%, comparando o ano 2012 ao ano 2020. A despeito do grande potencial de reduzir
custos na cadeia de valor heliotérmica, a maioria de investimentos em
tecnologias solares nos últimos anos foram atribuídos à energia fotovoltaica,
devido à sua rápida redução de custos experimentada nos últimos anos.
(wikipedia)
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