Dilma
veta energias renováveis não hidráulicas no Plano Plurianual 2016-2019
A
presidente retirou do Plano Plurianual 2016-2019 objetivos, metas e iniciativas
voltadas para o fortalecimento das fontes renováveis na matriz energética
brasileira, contradizendo seu discurso durante a COP de Paris, em dezembro 2015.
Dilma
discursa na COP de Paris
Na
semana passada, Dilma Rousseff vetou diversos pontos do Plano Plurianual (PPA)
para o período de 2016-2019. No Programa 2033, com foco nos objetivos, metas e
iniciativas para o setor de energia elétrica, todos os vetos dizem respeito às
energias renováveis não hidráulicas e às energias alternativas. Os trechos no
PPA que tratam de hidrelétricas e termelétricas (nenhum deles vetado pela
presidente) superam em muito aqueles que se referem a energias alternativas e
renováveis.
O
Objetivo 1169 do Programa diz “Promover o uso de sistemas e tecnologias visando
a inserção de geração de energias renováveis na matriz elétrica brasileira” e
foi vetado juntamente com as respectivas metas e iniciativas. Elas incluem a
adição de 13.100 megawatts de capacidade instalada de geração de energia a
partir de fontes renováveis; o incentivo ao uso de fontes renováveis por meio
da geração distribuída; o uso de fonte solar fotovoltaica; e a implantação de
projetos de desenvolvimento de fontes renováveis. Dilma também vetou
iniciativas como “Implantação de Usinas de Fonte Solar em Instalações Públicas”
e “Incentivo à Geração de Energias Renováveis”.
“O
veto não é condizente com os compromissos assumidos no acordo de Paris e não é
condizente com os últimos leilões de energia que já estão priorizando energias
renováveis no Brasil”, afirma Paulo Artaxo, físico e professor da Universidade
de São Paulo e referência mundial em mudanças climáticas. O ex-deputado Alfredo
Sirkis, diretor executivo do Centro Brasil no Clima, considera a justificativa
para o veto “surrealista, meio incompreensível”.
Entre
as razões, a presidente escreve que “o Objetivo [1169] seria redundante em
relação a outros Objetivos existentes no PPA”, o que “prejudicaria a expressão
da política pública, a organização do planejamento e da atuação governamental
prevista na estrutura programática do Plano”. A justificativa do veto termina
com a afirmação de que as fontes renováveis correspondem a cerca de 40% da
matriz energética brasileira. O argumento da redundância foi utilizado para
diversos outros vetos do PPA.
Sirkis
considera que houve avanços recentes em relação às fontes solar e eólica no
país, como “nova regulamentação do solar distribuído pela ANEEL [Agência
Nacional de Energia Elétrica]” e o crescimento das energias eólicas. Em 2014,
por exemplo, o Brasil foi o quarto colocado mundial na expansão da potência
eólica. “[…] Não vamos superestimar os efeitos desses vetos. Mas também não
devemos deixá-los passar em brancas nuvens senão virá mais retrocesso”, afirma
Sirkis.
O
presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP),
José Goldemberg, referência internacional na questão de energia, não considera
os vetos “má vontade do governo com energias renováveis”. Ele afirma que “esse
documento [o PPA] não é um documento que realmente vai fixar politicas de
governo, ele fixa linhas gerais”. Para ele, os itens vetados podem ter sido
considerados muito específicos pelo governo.
Já o
pesquisador Paulo Artaxo cita as propostas brasileiras para a Conferência do
Clima de Paris, realizada no fim do ano passado: “Se o Brasil, na sua INDC [o
documento com as propostas de cada país para a Conferência do Clima], assumiu o
compromisso de aumento da fração de energias renováveis, não faz sentido vetar
um item, por exemplo, que implementa o incentivo ao uso de fonte solar
fotovoltaica de geração de energia elétrica”.
A
INDC brasileira tinha como meta alcançar 45% de contribuição das energias
renováveis – incluindo a hidrelétrica – na matriz até 2030. Em discurso na
Conferência do Clima de Paris (COP-21), no fim do ano passado, Dilma destacou o
papel das renováveis na redução de emissões: “O governo e a sociedade
brasileira estão fazendo sua parte. […] Seguimos com nossos esforços de ampliar
a participação das energias renováveis na nossa matriz”.
Eu a vi fazer uma defesa vibrante da solar na sua conferência de imprensa, na COP-21”, lembra Sirkis em entrevista ao ISA. “Bem, passado o ano e em janeiro ela volta à sua postura tradicional, tudo isso é bobagem, é complementar, intermitente, ainda não conseguimos ‘armazenar vento’, solar é perfumaria, o negócio são grandes hidroelétricas e pau na moleira”.
Eu a vi fazer uma defesa vibrante da solar na sua conferência de imprensa, na COP-21”, lembra Sirkis em entrevista ao ISA. “Bem, passado o ano e em janeiro ela volta à sua postura tradicional, tudo isso é bobagem, é complementar, intermitente, ainda não conseguimos ‘armazenar vento’, solar é perfumaria, o negócio são grandes hidroelétricas e pau na moleira”.
Para
o sócio fundador do ISA, Márcio Santilli, são vetos do passado contra o futuro.
“Esses vetos protegem o modelo corrupto de geração centralizada contra qualquer
ameaça à sua hegemonia moribunda”.
Plano Plurianual
O
Plano Plurianual é um instrumento com diretrizes para o desenvolvimento das
políticas públicas do governo em médio prazo. Previsto pela Constituição, ele
contém objetivos, metas e iniciativas para orientar as ações do Estado em um
período de quatro anos em diversos setores, incluindo energia elétrica.
(ecodebate)
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