Usinas hidrelétricas reversíveis no Brasil e no mundo:
aplicação e perspectivas
Resumo
As
preocupações ambientais e o encarecimento dos combustíveis fósseis têm
influenciado no desenvolvimento e a expansão das energias renováveis para
geração de eletricidade no Brasil e no mundo. Muitas destas tecnologias estão
associadas à imprevisibilidade dos recursos utilizados para gerar energia, o
que afeta a operação das redes de distribuição de eletricidade, nas quais a
geração deve coincidir com a demanda constantemente. O armazenamento da energia
excedente, para seu uso durante os picos de consumo, pode contribuir para
equilibrar a carga e regular a frequência. As usinas hidrelétricas reversíveis,
também conhecidas como de armazenamento por bombeamento de água ou acumulação
hidráulica, é a principal tecnologia utilizada no mundo para propósitos de
armazenamento de energia elétrica em grande escala. O presente artigo apresenta
uma revisão da literatura sobre o armazenamento de energia elétrica através de
usinas hidrelétricas reversíveis, e o estado desta tecnologia no cenário global
e brasileiro. No documento, se apresentam e comparam brevemente as opções
disponíveis para armazenamento de energia elétrica, e também se descrevem as
generalidades, operação, impactos ambientais, aplicação, oportunidades e
desafios associados às usinas reversíveis no mundo. Finalmente, são discutidas
a história e perspectivas desta tecnologia no cenário brasileiro.
1.
Introdução
Os
sistemas de geração e distribuição de energia, em conjunto com as telecomunicações,
a rede de transportes e os sistemas de distribuição de água e esgoto, formam a
infraestrutura necessária para o desenvolvimento económico e sustentabilidade
das sociedades humanas modernas.
A
energia elétrica, conforme Ibrahim et al. (2008), representa, atualmente, 12%
do total de energia processada pela humanidade, uma percentagem que pode subir
até 34% para o ano 2025, em um contexto de menor consumo de combustíveis
fósseis, sistemas de geração baseados principalmente em energias renováveis e
maior consciência ambiental. Segundo Droste-Franke et al. (2012), os objetivos
simultâneos dos atuais sistemas de energia elétrica podem ser vistos como um
triângulo de eficiência, garantia do fornecimento e compatibilidade ambiental.
Por estas razões, na reconstrução dos mercados de energia elétrica, muitos
países vêm anunciando planos para aumentar significativamente a geração a
partir de fontes renováveis como parques eólicos e fotovoltaicos, visando à
redução do consumo de combustíveis fósseis e seus correspondentes impactos
ambientais negativos.
No
entanto, quase todas as tecnologias de energias renováveis provêm de fontes
naturais imprevisíveis, com disponibilidade variável em diferentes escalas de
tempo. Portanto, a integração de grandes quantidades de energia renovável
coloca desafios importantes no que diz respeito à operação dos sistemas de
geração de energia, principalmente com relação ao equilíbrio entre a geração e
a carga, para assim garantir a regulação primária de frequência na rede.
Para
garantir este equilíbrio, Faias et al. (2009) citam três possíveis soluções; a
primeira, limitar a geração a partir de fontes renováveis, desperdiçando estes
recursos e aumentando a geração termelétrica; a segunda solução é exportar o
excedente através da interligação do sistema, como no caso brasileiro, o que
poderia resultar em um problema de equilíbrio similar ao anterior, só que em
diferente escala; a terceira solução, que evita as desvantagens anteriores,
seria armazenar o excedente de energia elétrica produzida para utilizá-la em
períodos de grande demanda. Para aplicação em grande escala (em termos de
capacidade e potência), a principal tecnologia aplicada no mundo é a das usinas
hidrelétricas reversíveis (UHER), que se baseiam no armazenamento de energia gravitacional
da água através de uma diferença de elevação, e apoiam-se nos mesmos princípios
de conversão de energia das usinas hidrelétricas convencionais.
Nesse
contexto, o presente artigo apresenta uma revisão da literatura sobre o
armazenamento de energia elétrica através de UHER, e o lugar desta tecnologia
no cenário global e brasileiro. Para isto, o documento tem a seguinte
estrutura: primeiro se apresentam e comparam brevemente as diferentes
tecnologias disponíveis para armazenamento de energia elétrica; ato contínuo se
apresentam seções que versam sobre as generalidades, operação, impactos
ambientais, aplicação, oportunidades e desafios associados às UHER no mundo.
Posteriormente, são discutidas a história e perspectivas das UHER no cenário
brasileiro, finalizando com algumas considerações baseadas nos aspectos
tratados neste artigo.
2.
Armazenamento de energia elétrica
Por
causa das preocupações ambientais, encarecimento dos derivados do petróleo,
contínuo desenvolvimento tecnológico, constante crescimento da população
mundial e consequente incremento na demanda de energia, o uso de fontes
renováveis para geração de eletricidade é a primeira opção a considerar no
planejamento energético de qualquer região ou país. Contudo, muitas das
tecnologias de energias renováveis estão associadas à intermitência ou
imprevisibilidade dos recursos utilizados para gerar energia. Com exceção, tal
vez, da energia da biomassa e as usinas hidrelétricas com reservatório, a
potência gerada depende dos padrões diários e sazonais dos recursos naturais
(vento, radiação solar, marés, vazão, etc.) utilizados para a geração de
eletricidade.
O
problema da imprevisibilidade da energia disponível, conforme Vennemann et al.
(2010), é que nas redes de distribuição a eletricidade fornecida deve coincidir
com a demanda durante todo o tempo. Este delicado balanço é permanentemente
regulado através do controle da frequência da corrente alternada (CA) em um
determinado valor, geralmente 50Hz ou 60Hz. Quando o consumo excede a oferta, a
carga adicional desacelera os geradores e a frequência cai. Um consumo menor do
que a oferta reduz a carga do gerador, aumentando a frequência.
Frente
a essa situação, as tecnologias de energias renováveis são mais bem
aproveitadas quando trabalham em conjunto com sistemas de armazenamento de
energia. Segundo Pasquali (2006) e Pereira (2013), o armazenamento pode
contribuir para equilibrar a carga e regular a frequência, atenuando a
irregularidade da produção e ajudando à rede de distribuição a comportar melhor
os picos de consumo, otimizando o desempenho econômico na manutenção e operação
dos sistemas de geração.
Quando
integrados à rede de distribuição, os sistemas de armazenamento de energia
realizam duas funções: 1) como “carga” quando estejam acumulando energia
elétrica, ou 2) como “gerador” durante os períodos em que estejam fornecendo
eletricidade para a rede.
Os
métodos de armazenamento de energia podem classificar-se em: elétricos,
eletroquímicos, mecânicos, potenciais e térmicos. Com relação a sua saída ou
tipo de energia entregue, a International Energy Agency (IEA, 2014) categoriza
as tecnologias de armazenamento em dois tipos: elétrica e térmica. Destas duas
categorias citadas pela IEA (2014), só a primeira é de interesse para o
presente artigo. Com base nisso, os principais aspectos das tecnologias de
armazenamento de energia elétrica são descritos no restante desta seção.
2.1.
Tipos de tecnologia para armazenamento de energia elétrica
Um
sistema de armazenamento de energia elétrica acumula energia quando a produção
excede à demanda em um determinado momento, permitindo utilizá-la para geração
quando esta situação se inverte, diminuindo assim o desperdício de energia
elétrica. O armazenamento de energia elétrica requer a conversão em outro tipo
de energia (cinética, potencial, química) antes de ser transformada de volta
quando for preciso.
Atualmente
existem em uso, ou em avançado estágio de desenvolvimento, as seguintes
tecnologias de armazenamento de energia elétrica: ar comprimido, usinas
hidrelétricas reversíveis, volantes, baterias, supercondutores,
supercapacitores e células de combustível.
2.1.1.
Ar comprimido
No
armazenamento de energia por ar comprimido (compressed air energy storage –
CAES), a energia excedente do sistema em períodos de baixa demanda é utilizada
para comprimir ar em cavernas, instalações subterrâneas ou tanques de
armazenamento. Esta tecnologia utiliza o potencial elástico da energia do ar
comprimido. Quando a demanda de eletricidade aumenta, o ar comprimido é
retirado do reservatório, aquecido, e depois expandido em turbinas de alta
pressão. Após a passagem pela turbina de alta pressão o ar é misturado com o
gás para o processo de combustão, acionando turbinas a gás de baixa pressão,
que por sua vez estão acopladas mecanicamente a geradores eléctricos (DENHOLM
et al., 2010).
Segundo
Ibrahim et al. (2008), o ar pode ser comprimido a altas pressões (40–70bar),
com temperaturas próximas à do ambiente, o que resulta vantajoso em termos de
volume. Pasquali (2006) explica que podem ser utilizados como reservatórios
subterrâneos de ar: cavernas em rocha, minas abandonadas e aquíferos naturais,
sendo estes últimos a opção mais barata e mais utilizada. Ibrahim et al. (2008)
citam que, além destas opções, a compressão e armazenamento do ar podem
realizar-se em tubos subterrâneos, a pressões entre 20 e 100bar. Entre as
vantagens do CAES se pode referir que o período de armazenamento pode
ultrapassar um ano, e outra, o pouco tempo necessário para pôr o sistema em
funcionamento pleno (entre 7 e 15 minutos). A principal desvantagem é a
dificuldade de encontrar formações geológicas compatíveis com as necessidades
do sistema de CAES.
Por
causa do alto custo associado, o armazenamento de ar em tanques metálicos de
alta pressão só está destinado a aplicações de geração de eletricidade em
pequena escala.
2.1.2.
Usinas hidrelétricas reversíveis
Baseada
na maturidade da geração hidrelétrica tradicional, a tecnologia de
armazenamento de energia das usinas hidrelétricas reversíveis (UHER) é também
conhecida como de armazenamento por bombeamento de água ou acumulação
hidráulica. Este sistema de acumulação consiste no bombeamento de água desde um
reservatório inferior para um reservatório superior durante períodos de pequena
carga utilizando energia extra de qualquer outra fonte geradora do sistema,
utilizando esta água armazenada para movimentar as turbinas hidráulicas na
geração de eletricidade nas horas de demanda máxima. A Figura 1 apresenta um
esquema com os componentes básicos de uma usina hidrelétrica reversível.
Por
ser o principal assunto deste artigo, os principais aspectos relacionados a
esta tecnologia são descritos com maior detalhe em seções posteriores deste
documento.
Figura
1 – Esquema de uma usina hidrelétrica reversível
2.1.3.
Volantes
Os
volantes são dispositivos mecânicos que armazenam energia cinética rotacional,
utilizando grandes velocidades de rotação em um disco girante (rotor), para
posterior conversão em energia elétrica. Pereira (2013) explica que quando o
volante descarrega energia, o motor inverte o seu campo e passa a funcionar
como gerador, reduzindo a velocidade de rotação por causa do princípio da
conservação da energia. Em situações de carregamento de energia, existe um
aumento na velocidade do volante, acionado por um motor elétrico. No estado da
tecnologia atual, Pasquali (2006) descreve que os antigos volantes de aço foram
substituídos por materiais como fibra de carbono, e outros compostos cerâmicos.
Igualmente, as chumaceiras e rolamentos metálicos têm sido aperfeiçoados para minimizar
as perdas por atrito, e os invólucros são selados a vácuo para eliminar o
atrito do ar.
Segundo
Droste-Franke et al. (2012), as tecnologias disponíveis de volantes podem ser
classificadas em função da sua velocidade rotacional: baixa velocidade (~5.000
rotações por minuto – RPM), média velocidade (~25.000 RPM) e volantes de alta
velocidade rotacional (~25.000RPM).
2.1.4.
Baterias
As
baterias acumulam energia na forma eletroquímica, por meio da produção de íons
eletricamente carregados. O seu funcionamento consiste na alternância de suas
fases de acumulação e descarga de energia. Ibrahim et al. (2008) explicam que
as baterias transformam em energia elétrica a energia química gerada através
das reações eletroquímicas, e de forma similar no sentido inverso.
Como
se apresenta na Figura 2(a), a corrente entregue pela bateria é do tipo
corrente contínua (CC), razão pela qual a utilização de baterias na rede
elétrica, em CA, implica o uso de conversores eletrônicos de potência, a fim de
converter a CC em CA e vice-versa, nos processos chamados de retificação e
inversão.
Durante
sua operação, o uso de baterias como sistema de acumulação não gera emissões
nocivas ou ruído, além de precisar de pouca manutenção. Entre suas desvantagens
atuais, podem mencionar-se: 1) o seu tempo de vida relativamente baixo para
ciclos de grande amplitude, desde algumas centenas até poucos milhares de
ciclos; 2) a disposição final de resíduos, devido a que as baterias têm entre
seus componentes alguns metais pesados, os quais são nocivos ao meio ambiente.
Utilizando
o descrito por Faias et al. (2009), as tecnologias de baterias podem
classificar-se em baterias eletroquímicas e de fluxo.
As
primeiras usam eletrodos no processo de transferência de elétrons e no
armazenamento dos produtos provenientes das reações em estado sólido do
eletrodo. Deste grupo fazem parte as baterias: chumbo-ácido, níquel-cádmio
(NiCd), hidreto metálico de níquel (NiMH), íons de lítio (Li-ion),
sódio-enxofre (NaS),entre outras.
As
baterias de fluxo são sistemas de dois eletrólitos em estado líquido. A carga e
descarga de energia eléctrica ocorrem por intermédio de reações eletroquímicas
reversíveis entre dois eletrólitos de soluções salinas separadas por uma
membrana. Exemplos deste tipo de baterias são a bateria redox de vanádio e a
bateria de zinco-brometo (ZnBr).
Figura
2 – Diagrama de operação de sistemas de armazenamento utilizando baterias,
supercondutores e supercapacitores.
2.1.5.
Supercondutores
Os
supercondutores magnéticos são capazes de armazenar grandes quantidades de
energia na forma de um campo magnético gerado através da indução de CC por uma
bobina supercondutora mantida a temperaturas muito baixas (geralmente -270°C).
De forma similar às baterias e supercapacitores, os supercondutores precisam de
um sistema de conversão entre CC e CA para sua utilização na rede, conforme se
apresenta na Figura 2(b). Ao contrário das baterias, Ibrahim et al. (2008)
explicam que estes sistemas são capazes de descarregar quase a totalidade da
energia armazenada.
A
elevada eficiência instantânea, longo tempo de vida útil e a capacidade de
descarregar com extrema rapidez grandes quantidades de energia são as
principais vantagens dos supercondutores. A grande desvantagem desta tecnologia
é a necessidade de um sistema de refrigeração, que além de apresentar custos
elevados, complica a operação do sistema.
2.1.6.
Supercapacitores
Os
supercapacitores também são conhecidos como ultracapacitores ou capacitores
eletroquímicos de dupla camada. Estes dispositivos reúnem as características
dos capacitores comuns e das baterias eletroquímicas, com a diferença de não
incluir reações químicas no processo. Esta qualidade permite maximizar sua
capacidade por ciclo, aumentar sua vida útil até 8-10 anos e facilitar sua
reciclagem.
O
armazenamento de energia nos supercapacitores, segundo o explicado por Ibrahim
et al. (2008), é realizado na forma de um campo elétrico entre dois eletrodos.
Este é o mesmo princípio usado nos capacitores convencionais, com exceção que o
material isolante é substituído por um eletrólito condutor iónico, no qual os
íons se movimentam através de um eletrodo feito de material poroso baseado em
carbono, com uma enorme superfície específica.
Esta
tecnologia permite uma rápida carga e descarga devido à baixa resistência
interna, em um processo reversível que pode ser repetido centenas de milhares
de vezes. A energia armazenada deve ser usada rapidamente por causa da descarga
diária própria de aproximadamente 5%. Outra desvantagem é a variação da tensão
com o nível de carga.
De
forma semelhante às baterias e supercondutores, os supercapacitores precisam de
um sistema de conversão entre CC e CA para sua utilização na rede, conforme se
apresenta na Figura 2(c).
2.1.7.
Células de combustível
As
células de combustível são dispositivos eletroquímicos que geram energia
elétrica a partir do hidrogênio. O sistema de armazenamento de energia
utilizando células de combustível inclui três componentes principais: 1)
eletrolisador, que consome eletricidade nas horas de menor demanda para
produzir hidrogénio; 2) a célula de combustível, que utiliza hidrogênio e
oxigênio do ar para gerar eletricidade; e 3) um reservatório de hidrogênio para
fornecer este recurso quando seja necessário.
A
Figura 3 mostra o esquema de uma célula de combustível e o diagrama de operação
de um sistema básico desta tecnologia. Segundo o descrito por Reis (2003), o
combustível (hidrogênio puro ou um gás rico em hidrogênio) é suprido no ânodo
para que ocorra uma reação eletroquímica com um oxidante (geralmente oxigênio)
suprido no cátodo. O eletrólito que se encontra entre os eletrodos permite o
fluxo de íons, mas impede a passagem dos elétrons, que obrigados a percorrer um
circuito externo, geram uma corrente elétrica no processo. Além do calor
liberado pela reação eletroquímica, a formação de agua é o único produto
resultante deste processo, obtido da combinação do hidrogênio com o oxigênio.
As células de combustível convertem a energia química do combustível
diretamente em energia elétrica, sem que exista combustão.
A
diferença entre as células de combustível e as baterias é que nestas últimas a
energia é acumulada nos componentes internos do dispositivo. Nas células de
combustível, a energia elétrica é gerada enquanto for mantido o fluxo de
hidrogênio e oxigênio, sem acumulação de energia no seu interior.
Figura
3 – Esquema básico de uma célula de combustível e diagrama de operação do
sistema
Aplicações,
custos e eficiências das tecnologias de armazenamento de energia elétrica
Algumas
das tecnologias de armazenamento de energia elétrica descritas podem ser usadas
para várias aplicações. Visando sua escolha para integração na rede, uma
definição adequada da aplicação destas tecnologias é importante para permitir a
comparação entre elas desde uma perspectiva técnica e econômica. Droste-Franke
et al. (2012) indicam que existem três classificações para as tecnologias de
armazenamento de energia:
1.
Tipo de serviço e localização dos sistemas de armazenamento
2.
Tempo de descarga e aplicação
3.
Tipo de energia na entrada e saída do sistema de armazenamento
Destas
classificações, a segunda é a mais utilizada na literatura. Macedo (2003)
explica que os sistemas de armazenamento de energia elétrica podem ser
previstos para operar em períodos de alguns segundos (garantindo a qualidade da
energia elétrica), em picos de demanda (de uma até algumas horas); para atender
cargas intermediárias (3-10 horas por dia) ou na base (dias, ou semanas).
A
Figura 4, adaptada do trabalho de Denholm et al. (2010) e elaborada em 2008 a
partir de dados de projetos existentes acoplados a redes de distribuição,
apresenta as faixas de potência e tempos de descarga geralmente encontrados nas
diferentes tecnologias de armazenamento mencionadas neste documento. Os valores
de potência mostrados não representam a gama total de aplicações. Por exemplo,
a potência fornecida por um banco de baterias pode ser escalada a quase
qualquer valor, e muitas usinas reversíveis com potência inferior a 10MW
encontram-se construídas e em operação (e.g.: Gobantes e Urdiceto na Espanha,
Eibele na Alemanha).
Por
estar ainda em estágio de pesquisa e desenvolvimento, a tecnologia de células
de combustível para aplicação em redes elétricas não foi incluída na Figura 4.
Contudo, é interessante citar o projeto de hidrogênio Utsira, na Noruega, na
qual a energia excedente gerada por duas turbinas eólicas de 600kW é utilizada
para produzir hidrogênio utilizando um eletrolisador de 48kW (IEA, 2014).
Também com relação a isto, Macedo (2003) refere que para as próximas duas
décadas é possível prever células a combustível reversíveis + hidrogênio e
baterias avançadas (1-2MWh).
Figura
4 – Potência e tempo de descarga de tecnologias de armazenamento de energia
elétrica
A
partir da Figura 4, igualmente confirmado por Yang e Jackson (2011) e
Droste-Franke et al. (2012), é possível observar que somente existem duas
tecnologias comercialmente disponíveis para armazenamento de energia elétrica
em grande escala (>100MW) e entrega durante prolongados períodos de tempo:
as UHER e CAES. Segundo Chu e Majumdar (2012), estes são também os métodos de
armazenamento a médio e longo prazo mais econômicos e eficientes. Em termos de
energia por ciclo, as UHER são a única tecnologia a oferecer mais de 10GWh de
armazenamento em um único lugar. Isto seria equivalente a 10 CAES ou 100 bancos
de baterias das maiores dimensões.
Por
causa de restrições termodinâmicas, os processos de armazenamento e descarga de
energia elétrica não podem ser realizados sem perdas. A eficiência de conversão
e custo inicial por kW instalado são exibidos na Figura 5. Por exemplo, nas
UHER, a energia tomada durante o bombeamento não pode ser recuperada totalmente
no turbinamento, por causa das perdas nas tubulações e equipamento
eletromecânico.
Figura
5 – Eficiência e custo inicial por kW instalado das tecnologias de
armazenamento de energia elétrica.
3.
Usinas hidrelétricas reversíveis: generalidades e impacto ambiental
Os
componentes e princípio básico de operação das UHER foram apresentados na seção
2.1.2. Nesta seção são descritos os principais aspectos envolvidos na operação
e manutenção das UHER e as considerações ambientais associadas a este tipo de
empreendimentos.
3.1.
Componentes e princípios básicos das UHER
Simplificadamente,
uma usina hidrelétrica reversível está constituída pelos seguintes componentes:
os reservatórios (superior e inferior), os condutos hidráulicos e as
instalações eletromecânicas para bombeamento/turbinamento.
O
planejamento dos reservatórios é possivelmente o elemento mais crítico no
projeto de uma UHER. Schreiber (1978) explica que os reservatórios podem ser
construídos de duas formas. Na primeira, às vezes chamada de “usinas por
bombeamento puro” ou de “circuito fechado”, os reservatórios são independentes
de um rio, de modo que um determinado volume de água oscila entre dois
reservatórios e é necessário apenas um pequeno afluxo para restabelecer as
perdas por evaporação e infiltração. Na segunda, os reservatórios são
construídos no leito de um rio, sendo utilizados por usinas hidrelétricas
convencionais durante o dia, e utilizando o excedente de energias renováveis
para bombeamento durante a noite. A região onde são projetados os reservatórios
deve permitir encher pelo menos um dos reservatórios em tempo compatível com o
cronograma do projeto.
O
modo de formar os reservatórios está em função das condições topográficas. Nos
casos em que uma densa população ou outras restrições impossibilitem a
inundação das áreas necessárias para o reservatório, uma bacia artificial pode
ser construída, através de escavação e a construção de uma barragem
aproveitando o material escavado. Outra opção possível é o aproveitamento de
depressões naturais, ou inclusive o mar, como no caso da usina de Okinawa
Yanbaru no Japão, inaugurada em 1999. Denholm et al. (2010) explicam que o uso
de cavernas ou minas abandonadas para o reservatório inferior ainda não têm
sido aplicado em grande escala.
No
referente aos condutos hidráulicos, estes devem ser dimensionados
cuidadosamente, já que em uma UHER as perdas no bombeamento acumulam-se às
perdas na operação das turbinas.
Na
prática, múltiplos arranjos eletromecânicos têm sido implementados. A solução
mais rudimentar seria a instalação de uma unidade geradora (turbina + gerador)
separada de outra para bombeamento (motor + bomba), selecionando para ambas sua
configuração mais adequada. Porém, a necessidade de equipamentos diferentes faz
deste arranjo o mais caro e, consequentemente, têm sido raras vezes adotado.
Segundo
Schreiber (1978) e Vennemann et al. (2010), quedas maiores que 600m exigem
turbinas do tipo Pelton, acarretando que a configuração do sistema inclua três
máquinas: turbina, motor-gerador e bomba (e.g.: KOPS II na Áustria).
Para
quedas menores que 600m, geralmente são utilizadas turbinas reversíveis, isto
é, que operam tanto como turbinas quanto como bombas. No modo de turbina, a
potência entregue é usualmente controlável, o que permite gerar em uma faixa de
valores desde quase zero até a potência nominal. A instalação de apenas uma
máquina hidráulica significa uma vantagem económica, que por sua vez demandou o
desenvolvimento de dispositivos especiais e sistemas elétricos mais eficientes
para controlar a operação do sistema.
Pasquali
(2006) e Sallaberger (2012) explicam que o estado atual da tecnologia permite
às máquinas eletromecânicas nas UHER operarem em modo síncrono quando estiverem
gerando energia e assíncrono quando estiverem acionando as bombas. Assim, a
velocidade de rotação da turbina-bomba pode ser variada, permitindo ajustar a
capacidade da bomba para utilizar apenas a quantidade de energia disponível no
momento. Isso permite uma estabilização extremamente eficiente da rede.
Com
base em Schreiber (1978), todos os tipos de turbinas de reação podem ser
transformados em reversíveis. A Figura 6 indica a relação entre a queda e
velocidade específica dos principais tipos de turbinas reversíveis. A
velocidade específica (ns) é definida como a velocidade de rotação de uma
turbina geometricamente igual à de interesse, com a mesma eficiência e
produzindo 0,736 kW sob uma queda de 1m.
Uma
UHER permite aproveitar melhor a energia elétrica gerada a partir de fontes de
energia renováveis, como a radiação solar e o vento, as quais apresentam
disponibilidade imprevisível. Para minimizar os efeitos negativos desta
aleatoriedade, as UHER armazenam em um reservatório superior o excedente de
eletricidade produzida nas horas de menor consumo, na forma de energia
potencial da água. Depois, nos picos de consumo, a água acumulada é devolvida a
um reservatório inferior para acionar as turbinas e gerar energia elétrica.
Esta compensação pode ser diária, semanal ou sazonal.
Além
da capacidade de armazenamento, eficiência, maturidade da tecnologia e tempo de
descarga, Vennemann et al. (2010) afirmam que outro fator importante que
distingue positivamente as UHER das outras tecnologias de armazenamento é o
curto tempo necessário para passar do bombeamento para geração máxima (~2
minutos, enquanto que uma turbina a gás precisa de 7 a 15 minutos para aquecer
uniformemente, como já foi mencionado antes).
Figura 6 – Relação entre altura de queda e velocidade
específica de turbinas reversíveis.
3.2. Manutenção e problemas na manutenção das UHERs.
Com base nos dados de operação e manutenção de 35 UHER (24
nos Estados Unidos e 11 no resto do mundo), Sadden (1990) elaborou um estudo
das características destes processos para este tipo de projetos. Entre as
principais descobertas desse estudo encontram-se as seguintes:
Os problemas nas bombas/turbinas diferem apenas em
gravidade aos que ocorrem em instalações hidrelétricas convencionais. As muitas
mudanças no modo de operação, a grande quantidade de partidas e paradas dos
motores, assim como as reversões de rotação, significa um aumento da pressão
sobre os equipamentos. As turbinas convencionais geralmente operam por 30 ou 40
anos sem precisar de grandes reparações. As turbinas reversíveis, em contraste,
precisam deste tipo de manutenção cada dez ou quinze anos.
A vibração excessiva, ou falhas relacionadas com vibração,
foram os principais problemas relacionados aos equipamentos eletromecânicos,
segundo o relatado pelos encarregados das centrais avaliadas.
Apesar de serem obras complexas, enormes e submetidas
constantemente a cargas transitórias, as obras civis e hidráulicas nas UHER não
apresentam diferenças significativas quando comparadas com centrais
hidrelétricas convencionais. Entre os incidentes encontrados se incluem:
vazamento nas barragens, falha das grades nas tomadas de água e a inundação da
casa de máquinas em alguns dos projetos avaliados.
A manutenção
requerida pelas UHER é significativamente menor que aquela necessária em usinas
termelétricas, entretanto, maior que a esperada em uma usina convencional. O
número de horas de trabalho de manutenção em cada UHER depende da idade da
planta, a complexidade do projeto, regime de operação, o tempo desde a última
revisão, etc.
A manutenção
preventiva é realizada, usualmente, uma vez por ano.
Além dessas descobertas, é interessante mencionar que para a
UHER de Okinawa Yanbaru, os custos de operação e manutenção são altos,
principalmente por causa da corrosão nos equipamentos eletromecânicos,
originada pelo uso de agua do mar na operação desta UHER (IEA, 2014).
3.3. Impactos ambientais das UHERs
Os impactos
ambientais podem definir-se como mudanças positivas ou negativas de um
parâmetro ambiental, causadas por uma determinada atividade natural ou
antrópica, quando comparadas com a situação se essa atividade não tivesse
acontecido.
Em função da forma
em que os reservatórios são construídos, muitos dos potenciais impactos
ambientais gerados por uma UHER são similares aos da uma usina hidrelétrica
convencional: alteração da vazão, alargamento do leito do rio, elevação do
nível de lençol freático, alteração de parâmetros climáticos, impactos na flora
e fauna, impactos sociais e econômicos, etc. Como a maior parte desses impactos
é na escala local, Queiroz et al. (2013) afirmam que é possível realizar ações
mitigadoras ou compensatórias para reduzir os impactos negativos destes
empreendimentos, os quais geralmente são superados pelos impactos positivos
gerados.
Além dos efeitos
associados às usinas hidrelétricas convencionais, com base nos trabalhos de
Harris (1992) e Dmitrieva et al. (1992), as UHER poderiam produzir os seguintes
impactos negativos particulares:
Caso a renovação da água não for adequada, a acumulação de
resíduos e decomposição de folhas e animais destruídos pelas bombas e turbinas
favorece o crescimento de algas e plantas aquáticas, com a consequente
eutrofização dos reservatórios.
Incremento na
turbidez da água. Além disso, se os reservatórios estiverem em dois cursos de
águas diferentes, a contaminação de um deles poderia afetar ambos.
Morte de até 90%
do zooplâncton que passa pelas bombas. Contudo, este fator não é tão
significativo quanto parece, já que ter elevadas taxas de reprodução é uma das
características destes organismos.
A rápida e frequente oscilação dos níveis dos reservatórios
pode afetar a estabilidade dos taludes, causando erosão superficial e
deslizamentos de terra.
Impactos devido a
escavações para construção de túneis e casa de força subterrânea.
Impactos causados
pela maior área inundada, devido à necessidade de inundar dois reservatórios.
Contudo, usinas que utilizarem cavernas, depressões naturais ou o mar como
reservatório inferior, em conjunto com um reservatório superior independente do
rio, poderiam resultar em um impacto positivo com relação às usinas
hidrelétricas convencionais.
A partir de estudos
em realizados em várias UHER na Europa e Estados Unidos, Dmitrieva et al.
(1992) mencionam os seguintes impactos ambientais positivos deste tipo de
projetos:
Aumento do
oxigênio dissolvido no corpo hídrico por causa da aeração fornecida pela
intensa circulação das massas de água.
Redução da
estratificação térmica da água.
Redução do
crescimento de algas azuis e verdes.
Intensificação dos
processos de oxidação e mineralização de substâncias orgânicas e biogênicas.
O efeito sobre a ictiofauna é ambíguo, e dependerá
principalmente da adoção de medidas adequadas de proteção à natureza na
elaboração do projeto e planejamento do regime de operação.
Cada UHER é um projeto com características únicas, e seus
impactos devem ser avaliados caso a caso. Para facilitar a compreensão dos
diferentes cenários que podem surgir na relação entre UHER e o meio ambiente,
Yang e Jackson (2011) apresentaram cinco estudos de caso de projetos de UHER
nos Estados Unidos, ocorridos entre 1963 e 2006. As principais descobertas
desses autores revelaram a grande diversidade de situações possíveis. Alguns
projetos foram abandonados ou adiados devido a preocupações ambientais,
enquanto que a motivação de outro foi a de ser utilizado para melhorar a
qualidade da água dos reservatórios. O projeto Bear Lake/Hook Canyon, com seu
reservatório superior situado em um parque nacional, encontrou resistência por
parte de grupos ambientalistas devido ao uso de terras públicas para lucro
privado, e por estarem contra a construção de grandes reservatórios para
armazenamento de energia. Os casos dos empreendimentos Olivenhain-Hodges e do
Lago Elsinore sugerem que as UHER podem ser projetadas para atender múltiplos
usos da água (armazenamento de energia, controle de secas, proteção da
qualidade dos corpos hídricos, etc.), configurando assim um impacto positivo
local e regional.
4. Aplicação global das usinas hidrelétricas reversíveis
O túnel de Samos na
Grécia antiga, o aqueduto romano e as obras de irrigação no vale do Nilo são
exemplos do aproveitamento dos cursos de água ao longo da história das
sociedades humanas. A energia hidrelétrica é a obtenção de energia elétrica
através do aproveitamento da energia potencial e cinética da água. Os avanços
tecnológicos causados pela revolução industrial permitiram o desenvolvimento
das turbinas Francis e Pelton no século XIX, mas os princípios das modernas
turbinas hidráulicas se remontam a meados do século XVIII, com a obra do
francês Bernard de Bélidor. O primeiro uso industrial da energia hidrelétrica
ocorreu em 1880, para iluminação exterior de um teatro e fachadas de lojas na
cidade de Grand Rapids, no Michigan.
A primeira UHER em
operação no mundo foi instalada na cidade de Zurique em 1890 (SALLABERGER,
2012). Já na década de 1930, conforme Mirsaeidi et al. (2012), as UHER estavam
amplamente disseminadas ao redor do mundo, atingindo seu apogeu construtivo
entre as décadas de 1960 e 1980. A primeira turbina reversível do mundo foi
instalada na Usina Elevatória de Pedreira, inaugurada em 1939 no Estado de São
Paulo.
Embora existam conjuntos de dados quantificando a capacidade
de armazenamento instalada atualmente nas redes elétricas do mundo, as
tentativas de resumir de forma abrangente a capacidade mundial instalada têm
fracassado por causa da falta de informações disponíveis e por causa de
definições conflitantes sobre o que deve ser incluído na categoria de
armazenamento de energia elétrica. Com base nessas diferentes estimativas, em
2010, e com mais de 140GW de potência instalada ao redor do mundo, a tecnologia
das UHER representava aproximadamente 99% da capacidade de armazenamento de
energia para uso na rede elétrica, como mostrado na Figura 7 (IEA, 2014).
Figura 7 – Capacidade mundial
instalada de armazenamento de energia elétrica
Atualmente,
a principal função das UHER é operar em conjunto com fontes de energia
intermitentes para moderar as diferenças periódicas na disponibilidade de
energia.
Tal vez a
lista mais completa com relação às UHER instaladas no mundo seja a publicada
anualmente pela International Water Power & Dam Construction. No anuário de
2012 se listam mais de 400 projetos de UHER, seja em operação ou construção, o
que indica a relevância deste tipo de empreendimentos nas redes elétricas do
mundo. A maior parte destes sistemas localiza-se nos países altamente
industrializados, com destaque para: Estados Unidos (38 em operação, mais de 40
projetados), Japão (mais de 40 em operação), Alemanha, Espanha, China, Itália,
Noruega e França (cada um desses países com mais de 20 UHER em operação ou em
construção). A Figura 8 apresenta três exemplos de projetos de usinas
reversíveis no mundo.
Figura 8 – Exemplos de Usinas Hidrelétricas Reversíveis.
Figura 8 – Exemplos de Usinas Hidrelétricas Reversíveis.
5. Oportunidades e desafios associados às usinas
hidrelétricas reversíveis.
Todas as redes elétricas com uma parcela significativa da
geração a partir de fontes de energias renováveis serão confrontadas com o
problema do armazenamento de energia (SALLABERGER, 2012). Devido às vantagens
referentes à eficiência de conversão, capacidade de armazenamento e tempo
necessário para passar do bombeamento para geração, as UHER continuarão a ser
extensamente utilizadas no futuro próximo, permitindo o desenvolvimento de
outras tecnologias que no futuro possam oferecer suporte a esta tecnologia no
armazenamento de energia elétrica em grande escala. Com base nisso, algumas
oportunidades e desafios associados às UHER podem ser descritas nesta seção.
5.1. Oportunidades
Minimizar a emissão de gases de efeito estufa na geração
de energia elétrica é um desafio que precisa do aumento da produção a partir de
fontes renováveis, com destaque para a energia solar e a energia eólica. O
problema é que estes recursos naturais não estão necessariamente disponíveis
quando há demanda de energia elétrica. O incremento da penetração da geração
eólica e solar na matriz energética depende, entre outros fatores, de um
crescimento proporcional das capacidades de armazenamento de energia, e até
hoje, as UHER são o tipo de projeto mais eficiente para este fim.
Uma aplicação das UHER é descrita nos trabalhos de Beluco
(2012) e Mirsaeidi et al. (2012). Estes autores indicam que as UHER mostram-se
bastante adequadas trabalhando em conjunto com centrais de energias renováveis
em redes elétricas com tarifas diferenciadas em função do horário do dia. O
lucro é obtido através do bombeamento nas horas em que a demanda de energia é
menor e a tarifa é mais barata, para turbinar nos horários de pico e aproveitar
os melhores preços pela energia gerada.
Se a potência gerada em um grande parque eólico ou solar
for temporariamente superior que a demanda no sistema, o excedente produzido
deverá ser imediatamente eliminado para assim manter a estabilidade da
frequência na rede elétrica. As UHER permitem moderar esta situação através de
sua função consumidora de carga, regulando a tensão na rede nas horas de carga
leve por meio da criação de carga ativa adicional (bombeamento). Isso permite
operar as outras centrais em função da disponibilidade de recursos, o que
melhora o fator de capacidade dessas usinas e diminui os riscos de avarias nos
equipamentos eletromecânicos, aumentando sua vida útil.
Em muitos locais, a construção de novas centrais hidrelétricas
convencionais é limitada por causa de considerações ambientais, falta de
condições geográficas propícias e problemas de aceitação por parte da
população. Frente a isso, Arántegui et al. (2012) julgam que a construção de
novas UHER sofrem das mesmas limitações, mas consideram que este não seria o
caso para UHER criadas a partir da modificação de centrais hidrelétricas ou
reservatórios existentes. Reservatórios existentes já ocasionaram impactos
ambientais tempo atrás e, possivelmente, formam parte de um sistema estável, no
qual os problemas já têm sido mitigados. Neste contexto, uma UHER reformada em
circuito fechado dificilmente causaria novos prejuízos ambientais
significativos. Assim, a transformação de centrais hidrelétricas ou
reservatórios existentes se converte em uma forma simples de adicionar
capacidade de armazenamento à rede elétrica, com custos e impactos ambientais
menores que aqueles de uma nova central com reservatório ou uma UHER. A
condição necessária seria que ambos os reservatórios tivessem volumes úteis
suficientes.
Usinas reversíveis em circuito fechado oferecem uma maior
liberdade na escolha da sua localização. A disponibilidade de um reservatório
inferior a uma profundidade considerável permite minimizar o tamanho dos
reservatórios, reduzindo os impactos ambientais. Um exemplo disto é a UHER
Okinawa Yanbaru, inaugurada em 1999. Por ser uma ilha, Okinawa têm escassos
recursos de água doce, os que não poderiam ser usados em uma UHER. Porém, o
litoral montanhoso permitiu a construção desta UHER de 30MW e 136m de queda,
utilizando água do mar para sua operação.
Os Estados Unidos é um dos países com maior capacidade
instalada de usinas reversíveis no mundo (~22GW em 2012). Segundo Yang e
Jackson (2011), os baixos preços do gás nos últimos 20 anos do século XX, a
pressão de grupos ambientalistas e poucos investimentos na energia nuclear,
criaram um hiato na construção de UHER nesse país. Contudo, esta situação tem
mudado. Em 2010 a Comissão Federal Regulatória de Energia (FERC, por suas siglas
em inglês) registrava 36 pedidos de licença para construção de UHER, 29 das
quais em circuito fechado, muitas delas utilizando cavernas naturais, minas ou
canteiras abandonadas como reservatórios. Menos de 25% destas pretendiam barrar
um rio. Algumas propõem utilizar águas subterrâneas para eliminar ou minimizar
impactos na ictiofauna.
Entre estes projetos citados por Yang e Jackson (2011),
Mulqueeney Ranch na California é particularmente interessante. Essa usina
reversível em circuito fechado propõe utilizar águas residuais tratadas na sua
operação. Além de não afetar populações de peixes, a operação desta UHER
poderia melhorar a qualidade da água utilizada, já que funcionaria como uma
estação de tratamento de aeração prolongada, projetando o bombeamento para
atingir uma aeração adequada.
O aumento às taxas ambientais por emissão de gases de
efeito estufa poderia gerar outro cenário em que UHER teriam vantagem sobre as
usinas térmicas para geração nos horários de pico.
5.2. Desafios
O primeiro desafio para qualquer projeto de UHER é
encontrar um local com caraterísticas geográficas que permitam a criação de
dois reservatórios separados verticalmente por várias dezenas ou centenas de
metros, mas relativamente próximos horizontalmente. Porém, conforme mencionado
anteriormente, arranjos inovadores que minimizam os impactos ambientais têm
sido propostos.
Outra das principais barreiras para a implantação de UHER,
segundo Yang e Jackson (2011), é a falta de conhecimento da maior parte da
população sobre a importância e benefícios do armazenamento de energia elétrica
em sistemas com geração de energias renováveis, evidenciada pela oposição dos
grupos ambientalistas contra este tipo de projetos.
Em muitos países, a capacidade de reserva de energia
elétrica e serviços auxiliares são fornecidos por centrais térmicas para
geração em horários de pico. Por consumirem mais energia da que geram (sua
eficiência oscila entre 50%-85%, Ver Figura 5), as UHER não podem ser
catalogadas como centrais geradoras de energia elétrica. Esta indefinição
dificulta sua aplicação nos marcos regulatórios dos mercados de energia
elétrica em que esta tecnologia de armazenamento não esteja considerada. Por
exemplo, Yang e Jackson (2011) mencionam que nos Estados Unidos esta
ambiguidade impedia a participação das UHER na reestruturação do mercado de
energia, o que foi resolvido através de uma resolução da FERC em 2007,
facilitando o acesso das UHER a este mercado e renovando o interesse neste tipo
de projetos.
Mais um exemplo de dificuldades causadas pela indefinição
descrita no parágrafo anterior é mencionada por Vennemann et al. (2010). A
partir de 2008, a tarifa elétrica pelo uso da rede na Alemanha também passou a
ser aplicada às UHER, causando um incremento nos custos de armazenamento e restringindo
a expansão da capacidade de armazenamento elétrico na rede. Esta dupla taxação
(como gerador e como consumidor final) teve severas consequências nos custos
totais do fornecimento elétrico, estimado em quase 100 milhões de euros
adicionais por ano, pagos pelos consumidores. Esses autores alegam que estas
taxas são irracionais, devido a que a tarifa inclui cobros por serviços que não
são consumidos pelas UHER, pelo contrário, são fornecidos por estas. Em
mercados formados por vários países, como no caso da Europa, isto pode afetar
gravemente o equilíbrio comercial regional.
6. As usinas hidrelétricas reversíveis no cenário
brasileiro
Apesar de ter sido o país onde foi instalada a primeira
turbina reversível do mundo, o conceito das UHER no Brasil foi abandonado na
década de 1970. A riqueza de recursos naturais do país foi uma das principais
razões disto, já que permitiu dimensionar as usinas hidrelétricas e seus
reservatórios de forma que tivessem potência instalada e volume suficiente para
atender os picos de demanda, pelo menos até 2015 (ELETROBRÁS, 1994).
Adicionalmente, a adoção das tarifas horo-sazonais incentivaram os grandes consumidores
a deslocar ou reduzir seu consumo de energia no horário de pico. A integração
das diferentes regiões do país a través do Sistema Interligado Nacional (SIN)
também fez que outros sistemas de armazenamento fossem desnecessários, pela
possibilidade de aproveitar não só a variabilidade hidrológica sazonal e
regional, mas também as características variáveis do consumo de eletricidade.
Contudo, o setor elétrico brasileiro tem sofrido profundas
mudanças. Citando especialistas do setor, Galhardo (2012) explica que o período
de ponta tem-se expandido, principalmente, nas estações mais quentes e secas do
ano. Devido à mudança de hábito do consumo, o horário de pico não ocorre mais
naquele horário tradicional entre 18 e 21h, passando a ser um platô com duração
de 10 horas. Outra tendência atual é a construção de usinas a fio d'água, sem
reservatórios de acumulação. Em 2001, a capacidade de armazenamento do sistema
de reservatórios do Brasil era 236 mil MW, para uma carga de 37 mil MW, uma
relação de 6,4. Já em 2012, a capacidade de armazenamento cresceu 21% enquanto
a carga aumentou cerca de 60%, baixando a relação para 4,9. Espera-se que em
2019 essa relação chegue a 3, precisando cada vez mais da geração térmica para
atender os horários de máxima carga. Por estes motivos, e em função de uma
tendência mundial de dificuldades no atendimento da carga em momentos de ponta
do consumo e de fragilidades operativas, a aplicação da tecnologia de UHER no
cenário brasileiro tem adquirido novo fôlego recentemente.
6.1. UHER construídas no Brasil
A International Water Power & Dam
Construction (2012) lista quatro UHER construídas no Brasil, com as
características indicadas na Tabela 1. Os dados apresentados nessa tabela, com
relação aos equipamentos e potência, podem diferir dos registros encontrados na
literatura, os quais foram utilizados para descrever brevemente cada um destes
projetos.
Tabela 1 –
Usinas hidrelétricas reversíveis construídas no Brasil
Nome
|
Inaugurada
|
Equipamento
Projetado
|
Potência
Turbinas (MW)
|
Potência
Bombas (MW)
|
Altura
Queda (m)
|
Edgard
de Souza
|
1955
|
1
Francis reversível
|
14,8
|
13,3
|
24
|
Pedreira
|
1939
|
6
Francis reversíveis
|
78,5
|
42,6
|
25
|
Traição
|
1940
|
4
Kaplan reversíveis
|
7,3
|
9,4
|
4
|
Vigário
|
1932
|
4
Francis reversíveis
|
90,8
|
72,0
|
36
|
6.1.1. Usinas elevatórias de Pedreira e Traição
A usina hidrelétrica de Henry Borden, em Cubatão, Estado
de São Paulo, além estar situada dentro do maior centro de consumo do país, é
uma das usinas com maior produtividade no Brasil, produzindo quase 6 MW por
m³/s vertido. Na década de 1930, para aumentar a capacidade de geração desta
usina, foram realizadas as seguintes obras: retificação e reversão do Rio
Pinheiros, a construção das usinas elevatórias de Pedreira e de Traição e a
formação do Reservatório Billings, com capacidade de 1200 hm³ e área inundada
de 130 km².
Segundo Lima (2012), a Usina Elevatória de Traição foi
inaugurada em 1940, com o propósito de reverter o curso das águas do Canal
Pinheiros, para serem encaminhadas à Usina Elevatória de Pedreira e depois ao Reservatório
Billings. A usina possui quatro unidades geradoras reversíveis tipo Kaplan de
eixo vertical e acionadas por motores síncronos. A potência total é de 22MW
distribuídos igualmente entre as unidades, que podem funcionar como geradores
de energia e como unidades de bombeamento. A capacidade de bombeamento é de
280m³/s, elevando as águas em cerca de 5 metros.
A Usina Elevatória de Pedreira foi inaugurada em 1939, com
a entrada em operação da unidade nº 4, a primeira turbina reversível do mundo.
A capacidade da UHER foi sendo ampliada gradativamente, com sua última unidade
instalada em 1993. Lima (2012) descreve que esta usina possui hoje (07) sete
unidades geradoras reversíveis e (01) uma unidade de bombeamento com uma
potência elétrica total de 100MW de energia elétrica dedicadas ao bombeamento
das águas do Canal Pinheiros, lançando-as no Reservatório Billings. Todas as
turbinas são do tipo Francis de motores síncronos. A capacidade atual de
bombeamento desta usina é de 395m³/s, elevando as águas em cerca de 25m.
Além de sua função de geração de energia, o Reservatório
Billings é utilizado desde 1958 para outros usos (abastecimento público,
controle de cheias, lazer, etc). De acordo com Rossetti (2013), o crescimento
populacional da cidade de São Paulo a partir da década de 1950, significou o
aumento significativo do volume de esgoto doméstico a ser recolhido e tratado;
porém, as obras de saneamento básico não acompanharam este crescimento com a
mesma velocidade. Este fato ocasionou a prática de ligações residenciais do
esgoto doméstico em galerias de águas pluviais levando estes esgotos sem tratar
diretamente aos cursos de água, originando a poluição e eutrofização do Rio
Pinheiros. Por esta razão, foi emitida em 1992 a Resolução Conjunta SMA/SES 03/92,
atualizada pela Resolução SEE- SMA-SRHSO-I, de 13/03/96, que dispõe que as
águas do Canal Pinheiros não podem mais ser bombeadas continuamente para o
Reservatório Billings. Esse bombeamento é feito somente quando as vazões
provocadas pelas chuvas elevam o nível das águas do rio Tietê ou do Canal
Pinheiros, podendo provocar enchentes na região. Segundo Barros et al. (2009),
esta medida diminui a capacidade de geração da usina de Henry Bordem em
aproximadamente 75% e, consequentemente, afetou a operação das usinas de
Pedreira e Traição. Segundo a IEA(2014), a capacidade atual da UHER de Pedreira
é de 20MW.
6.1.2. Usina elevatória Edgard de Souza
Em 1899, o advogado canadense Alexander Mackenzie fundou a
The São Paulo Railway, Light & Power Company, iniciando imediatamente a
construção da central hidrelétrica de Parnaíba, posteriormente denominada
Edgard de Souza, situada na cachoeira do Inferno, no rio Tietê e inaugurada em
1901. De acordo com o Comité Brasileiro de Barragens (CBDB, 2011), a barragem
foi construída em alvenaria de pedra com vertedouro de superfície livre em
quase toda a extensão de sua crista. A capacidade instalada inicial era de 2
MW. Em 1954 a antiga casa de força foi substituída por uma estação de recalque
com unidades reversíveis. Com a implantação do Projeto Serra, a crista da
barragem foi alteada de 711,4 m para 717,6 m, e a usina original foi
substituída pela Usina Elevatória Edgard de Souza. Esta usina foi desativada
por considerações ambientais em 1984, com a transferência da unidade reversível
para a Usina Elevatória de Pedreira.
6.1.3. Usina elevatória de Vigário
Inaugurada em 1952 e localizada no reservatório de
Santana, no rio Piraí, Rio de Janeiro. Eleva em quase 36m as águas deste
reservatório para reservatório de Vigário, utilizando quatro turbinas
reversíveis de 22MW cada uma. A usina elevatória de Vigário geralmente funciona
em modo de bombeamento, com capacidade de 188,8m³/s. Esta usina, em conjunto
com a usina elevatória de Santa Cecília, viabiliza a transposição de parte das
águas do Rio Paraíba do Sul para a Bacia do Rio Guandu, garantindo o
abastecimento de água para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Esta usina
forma parte do principal sistema de geração do Grupo Light, o Complexo de
Lajes, que começou a ser construído em 1903. A CBDB (2011) indica que as quatro
unidades de Vigário, instaladas em 1953, foram as terceiras turbinas
reversíveis instaladas no mundo, depois das unidades de Traição e Pedreira em
São Paulo.
6.1.4. Outros projetos e estudos
Além dos quatro empreendimentos descritos anteriormente,
existem outros trabalhos que têm tratado sobre locais no Brasil com potencial
para a construção de usinas hidrelétricas reversíveis. Alguns destes são
descritos sucintamente nas seguintes linhas.
Lindolfo Soares (1974, 1979, 1981), nas décadas de 1970 e
1980 elaborou trabalhos de inventário para UHER no Estado de São Paulo, por
exemplo: para áreas junto à Grande São Paulo, para a região junto às Serras
Geral e da Mantiqueira e para a região junto à Serra do Mar.
No Plano Nacional de Energia Elétrica 1993-2015, a
ELETROBRÁS (1994) apresentou um sumário de uma estimativa preliminar, feita em
1991, do potencial e custo de implantação de aproveitamentos em locais
adequados para UHER nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste do Brasil. O estudo
teve como critérios de seleção: o tempo de utilização de 14 horas (para
operação semanal) e módulos de potência maiores que 1000MW, com custo máximo de
US$600/kW. Nessa avaliação preliminar foram identificados 642 projetos e uma
potência total de 1355GW.
O trabalho de Harris (1992) teve por objetivo aplicar
análise multicritério para identificar o potencial energético reversível do
Estado de São Paulo.
A ELETROBRÁS (2005), no Sistema de Informações do
Potencial Hidrelétrico Brasileiro (SIPOT), lista os projetos de Caraguatatuba e
Pedra do Cavalo como de UHER. Para o primeiro, foram realizados na década de
1970 os estudos de viabilidade. O empreendimento estaria localizado no Rio
Santo Antônio, São Paulo e teria uma potência instalada de 2000MW. O projeto da
UHER de Pedra do Cavalo, no Rio Paraguaçu, na Bahia, encontra-se no estágio de
projeto básico. Segundo Reis (2003), na concepção deste projeto de 300MW se
previa a possibilidade de operar duas de suas quatro unidades na modalidade
reversível, para moderar as características da carga e permitir uma melhor
operação de todo o sistema elétrico e maior utilização de energia renovável.
A THEMAG Engenharia (2004) identificou no rio Cacaria, à
jusante do reservatório de Lajes, no Estado de Rio de Janeiro, um local com
potencial para a instalação de uma UHER com potência total de 1500 MW
utilizando seis unidades reversíveis.
Beluco (2012), com base no relatório técnico elaborado por
D’Agostini Neto et al. (2005), identificou três locais com potencial para a
implantação de usinas hidrelétricas reversíveis na extremidade sul da Serra
Geral, no Litoral Norte do Estado do Rio Grande do Sul.
6.2. Perspectivas
Atualmente, a tendência no setor elétrico brasileiro é de
aumentar as fontes de energia renovável na matriz energética nacional
(evidenciado pelo programa PROINFA, instituído em 2002) e a preferência de
usinas a fio d'água. Devido a isto, a tecnologia das UHER perfila-se como uma
melhor opção futura, desde o ponto de vista ambiental, que as usinas termoelétricas
para garantir a estabilidade do sistema elétrico brasileiro e o atendimento da
carga nos picos de consumo.
O anterior é de grande importância no cenário apresentado
por Reis (2003), quem coloca a possibilidade da diminuição e o adiamento de
projetos de grande porte na região amazônica. No Brasil existem muitos locais
para a instalação de UHER. Como a maioria dessas possíveis usinas estaria nas
regiões Sul-Sudeste, os centros de carga de maior consumo, estas UHER poderiam
firmar e aproveitar para bombeamento o excedente de energia produzida em usinas
hidrelétricas a fio d’agua construídas na bacia Amazônica. Essa providência
evitaria os possíveis impactos ambientais causados se essas usinas tivessem
reservatórios de regularização. Uma proposta similar foi discutida por
Schreiber (1978), quem indica que os grandes potenciais hidrelétricos do Brasil
encontram-se no interior do país, e que a transmissão da energia de ponta, em
tais distâncias gera grandes perdas. Esse autor também menciona que nas montanhas
no Leste do país existem muitas possibilidades de implantação de UHER com
grande queda, e por isso, relativamente econômicas.
No artigo escrito por Galhardo (2012), se estabelece que o
principal desafio das UHER no Brasil é buscar a viabilidade comercial destes
projetos, já que de acordo com as regras atuais, os ativos de geração são
recompensados pela energia que o empreendimento garante entregar ao sistema.
Entretanto, uma representante do Operador Nacional do
Sistema Elétrico (ONS) citada nesse texto, explica que usinas reversíveis ou
qualquer outro recurso disponível para o atendimento da ponta a um custo menor
é válido, já que o ONS trabalha por ordem de mérito, minimizando o custo da
operação.
Com relação ao impacto ambiental, uma vantagem da falta de
investimentos em UHER nas últimas décadas no Brasil, é que permite aproveitar a
ampla experiência e tendências atuais no cenário internacional no tocante a
esta tecnologia. Segundo Galhardo (2012), os projetos mais modernos de UHER,
aqueles que utilizam o circuito fechado, sem estar associado à construção de
reservatório e aproveitando depressões naturais ou lagos existentes, apresentam
menores impactos ambientais e maior agilidade no processo de licenciamento.
7. Considerações finais
Nas últimas décadas, as preocupações ambientais, o
encarecimento dos combustíveis fósseis e a disponibilidade de recursos têm sido
fatores responsáveis pelo desenvolvimento e a expansão das energias renováveis
para geração de eletricidade em todo o mundo. Segundo a International Renewable
Energy Agency (IRENA, 2014), a participação das energias renováveis na matriz
energética mundial poderia passar da percentagem atual de 18% para 36% em 2030.
A imprevisibilidade das principais fontes de energia
renovável, em diferentes escalas de tempo, acarreta desafios na operação dos
sistemas de geração e distribuição de energia elétrica, principalmente no
relacionado à regulação de frequência na rede, mantida através do equilíbrio
entre geração e carga. A melhor solução para esta situação, conforme Faias et
al. (2009), é o armazenamento do excedente de energia elétrica produzida para
seu posterior aproveitamento em períodos de grande demanda. Em termos de
capacidade e potência, a acumulação hidráulica tem sido a principal tecnologia
utilizada no mundo para propósitos de armazenamento em grande escala.
Devido às perdas de eficiência em ambos os processos,
poderia parecer ilógica a ideia de bombear água a uma altura de várias dezenas
de metros só para deixá-la cair de novo e movimentar turbinas hidráulicas.
Contudo, a maturidade da tecnologia, a quantidade de projetos e capacidade
instalada em países desenvolvidos, confirma que as usinas hidrelétricas
reversíveis são, até hoje, a melhor opção para armazenamento de energia
elétrica em grande escala. Adicionalmente, novos arranjos de UHER vêm sendo
desenvolvidos, visando diminuir os impactos ambientais e maximizar a capacidade
de armazenamento e potência.
Brasil teve sua primeira turbina reversível instalada em
1939, a primeira máquina deste tipo no mundo. Porém, problemas ambientais nos
projetos existentes, a riqueza de recursos naturais para geração de energia e a
eficiência do Sistema Interligado Nacional fizeram a participação das UHER no
mercado de energia elétrica do país basicamente inexistente nas últimas
décadas. Segundo Galhardo (2012), a implantação de UHER poderia se tornar
urgente no curto prazo, devido à tendência de diversificação de fontes da
matriz energética brasileira e a diminuição da regularização de vazões em novas
usinas. (periodicos.ufsm)
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