sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Scania apresenta 1º ônibus nacional movido a biometano/GNV


Scania apresenta primeiro ônibus nacional movido a biometano/GNV
Modelo é opção sustentável e viável para a mobilidade urbana; Scania fabricante iniciará demonstrações a partir de setembro/16.
Após o sucesso no Brasil das demonstrações com um modelo sueco abastecido com biometano e GNV, a Scania apresenta veículo similar nacional. Primeiro ônibus nessa configuração no País, o produto iniciará fase de demonstrações em território nacional. O primeiro destino, a partir de 08/09/16 é a cidade de Sorocaba (SP).
“Desde quando a Scania trouxe o modelo sueco, no fim de 2014, para uma série de apresentações, o veículo, que utiliza como combustível biometano, GNV ou uma mistura de ambos em qualquer proporção, vem despertando o interesse da sociedade como uma solução para mobilidade urbana mais sustentável, considerando os aspectos sociais, ambientais e econômicos”, explica Silvio Munhoz, diretor de Vendas de Ônibus da Scania no Brasil. “Esse ônibus chama a atenção pela redução de custos operacionais por quilômetro rodado, bem como da poluição sonora e de emissões. Em comparação com um veículo similar a diesel, aliás, ele emite 85% menos gases poluentes, se abastecido com biometano, e 70%, se estiver com GNV.”
“A partir da disponibilização desse veículo completo nacionalizado, estamos habilitados a realizar demonstrações transportando passageiros nas linhas urbanas. Ou seja, neste segundo momento vamos levar o ônibus para a população poder conhecê-lo, indo ou voltando do trabalho, por exemplo. Por outro lado, as empresas de transporte e os órgãos gestores dos municípios poderão comprovar na prática todos os seus benefícios”, afirma Munhoz. “Mais do que demonstrações com os usuários, queremos provar que essa solução é viável para a mobilidade urbana, que necessita de medidas sustentáveis urgentes.”
Linha pronta para atender às urgências da mobilidade urbana
A linha Scania com motor a gás veicular natural (GNV/biometano) oferece três modelos. O K 280 4×2, que pode receber carrocerias de 12,5 a 13,20 metros de comprimento e levar de 86 a 100 passageiros, o K 280 6×2, de 15 metros de comprimento, dois eixos direcionais e capacidade para até 130 passageiros – ambos equipados com motor de 280 cavalos –, e o articulado K 320 6×2/2, de 18 metros e capacidade para 160 ocupantes, com propulsor de 320 cavalos.
Para iniciar as demonstrações, o primeiro ônibus movido a biometano e GNV registrado no Brasil é um K 280 6×2, de 15 metros, com capacidade para até 130 passageiros.
Profundo estudo de engenharia
O ônibus movido a biometano ou GNV, ou ainda com a mistura de ambos, já é uma realidade reconhecida na Europa. Para oferecer todas as vantagens desse produto inovador, plenamente adaptado às necessidades do operador brasileiro, a Scania iniciou um projeto que exigiu novo layout da carroceria. O modelo recebe um trem de força importado da Suécia, pois seu motor já atende a geração mais avançada da legislação de emissões, a Euro 6. No Brasil, a lei atual exige conformidade com a norma equivalente à Euro 5.
Para se tornar um ônibus movido a biometano e GNV não são necessárias muitas mudanças na carroceria tradicional. O modelo escolhido para esse lançamento tem chassi de piso baixo, por isso os cilindros do combustível – seis no total, e cada um com capacidade de 200 litros – foram instalados no teto. Para tanto, a carroceria foi reforçada.
A linha também dispõe de uma versão de piso alto. Nesse caso, os cilindros de gás são alocados abaixo do assoalho. Os modelos equipados com seis cilindros de gás terão autonomia aproximada de 300 quilômetros. Caso a operação necessite de autonomia maior, é possível avaliar a colocação de mais cilindros.
Demonstrações comprovam viabilidade do ônibus biometano/GNV da Scania
De outubro de 2014 a agosto de 2015, foram realizadas oito demonstrações com um modelo sueco usando o biometano e o GNV no versátil motor Scania. Para provar a viabilidade, a fabricante organizou uma agenda de apresentações para autoridades, clientes e representantes de instituições públicas e privadas.
Com o ônibus abastecido de gás natural veicular (GNV) foram cinco oportunidades, em 2015. O veículo passou primeiramente por Sorocaba (SP), depois por Londrina (PR), Florianópolis (SC), São José dos Campos (SP) e pela capital paulista. Em São Paulo, a demonstração foi durante os meses de junho a agosto de 2015. No período, o veículo rodou 5.000 km movido a gás, e os resultados foram aferidos pela Netz Engenharia Automotiva. O teste idôneo de campo monitorado pela Netz consistiu em pôr o veículo a gás para acompanhar um ônibus similar a diesel (chamada operação sombra) num total de 12 semanas por duas linhas do Sistema SPTrans. O custo por km do GNV foi 28% inferior ao do diesel, já contabilizado o consumo do Arla 32.
Com o modelo movido a biometano a Scania fez três demonstrações. De outubro a novembro de 2014, na Itaipu Binacional; em janeiro de 2015, no Rio Grande do Sul, e em março no Rio de Janeiro.
Exemplos de resultados das demonstrações
São Paulo (SP) – resultados aferidos pela Netz Engenharia Automotiva
GNV
X
Diesel
700
Km rodados
700
1,26 km/m³
Média de consumo
2,14 km/l
R$ 1,12*
Preço (m³/lt)
R$ 2,65**
555 m³
Consumo total
327 litros
R$ 621,60
Custo total
R$ 868,00
R$ 0,89
Custo por km rodado
R$ 1,24
* preços praticados no período dos testes
** inclui Arla 32
Sorocaba (SP)

  GNV
X

Diesel
700
Km rodados
700
1,23 km/m³
Média de consumo
1,60 km/l
R$ 1,98*
Preço
R$ 2,66*
571,4 m³
Consumo total
439 litros
R$ 1.131,5
Custo total
R$ 1.166,65
R$ 1,61
Custo por km rodado
R$ 1,73
* preços praticados no período dos testes
Rio Grande do Sul
Biometano
X
Diesel
1.500
Km rodados
1.500
2,02 km/m³
Média de consumo
2,2 km/l
R$ 1,80*
Preço
R$ 2,60
743 m³
Consumo total
682 litros
R$ 1.337,40
Custo total
R$ 1.773,00
R$ 0,89
Custo por km rodado
R$ 1,26
(newsroom)


China assume liderança na produção de carros elétricos

A produção de carros elétricos dispara e a China assume a liderança
A produção global de veículos elétricos plug-in (cuja bateria utilizada para alimentar o motor elétrico pode ser carregada diretamente por meio de uma tomada) aumentou mais de 10 vezes entre 2011 e 2015, passando de cerca de 50 mil unidades para mais de 500 mil unidades. A China que estava atrás dos Estados Unidos, União Europeia e Japão, assumiu a liderança em 2015 e tende a responder por mais da metade da produção mundial nos próximos anos.
A China já é líder na produção de energia eólica e solar. Depois de se tornarem a número 1 na produção e venda de veículos elétricos no ano passado, o governo chinês está planejando um aumento de mais de 1.000% nas vendas até 2025. Para tanto, está oferecendo subsídios que podem totalizar 60% do preço de etiqueta de cada modelo, como mostra artigo de Joe Romm, no site Think Progress (03/09/2016).
A China considera que os Veículos Elétricos (EV em inglês) são a tecnologia fundamental para o transporte de baixo carbono, além de incentivar a penetração das energias renováveis na rede elétrica. Dois vetores aceleram a indústria de EV na China: 1) os altos níveis de poluição nas cidades; 2) o desejo de liderar e criar um mercado de exportação de produtos de uma indústria que, segundo a Agência Internacional de Energia, deve ser hegemônica até 2050.
Segundo a Bloomberg New Energy Finance (BNEF) um terço de todos os carros vendidos no mundo até 2040 serão elétricos, pois os preços das baterias estão caindo tão rapidamente que em meados da década de 2020, os EVs competirão com os carros movidos a gasolina diretamente no preço de etiqueta (e sem subsídios).
Ironicamente, a China saltou para a liderança global nesta tecnologia, essencial para o processo de descarbonização da economia, a partir do desafio lançado por Elon Musk, que em 2006, disse pretender tornar a Tesla Motors na líder mundial na produção de carros e baterias elétricas. Como mostrei em artigo anterior (Alves, 31/08/2016), existem dúvidas se Elon Musk vai conseguir efetivar todos os seus planos de produção. Além do mais, no dia 01 de setembro um foguete Falcon 9, da empresa SpaceX, também de Musk, explodiu antes do lançamento em Cabo Canaveral (Flórida, EUA), destruindo o satélite Amos 6 que fazia parte da Internet.org, em parceria com o Facebook e custava cerca de US$ 95 milhões. A explosão do foguete da SpaceX fez a fortuna de Musk encolher US$ 779 milhões em apenas um dia.
Enquanto isto, a China avança na mudança da matriz energética, com sua imensa capacidade de produção, sua montanha de dólares em reservas internacionais e a grande capacidade de subsídio do governo. Além reduzir os impostos, a China está exigindo que os carros elétricos respondam por pelo menos 30% do total de veículos comprados pelo governo até o final de 2016.
Existem, no “Império do Meio”, cerca de 200 startups de Veículos Elétricos (EV). Enquanto Tesla planeja a venda de 400.000 unidades de seu principal modelo, a firma chinesa, BYD (fabricante de automóveis com sede em Shenzhen) já vendeu mais EVs do que a Tesla, a GM e a Nissan juntas. A empresa (na qual a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, tem uma fatia de 9% das ações) tem 18% de participação no mercado de veículos de novas energias da China. No salão de Pequim, a BYD comercializará seu novo SUV, chamado The Yuan, que será vendido de forma competitiva a partir de US$ 32 mil.
Portanto, o governo chinês está promovendo o que considera um setor estratégico para seu projeto de potência mundial. O plano é superar 3 milhões de unidades por ano em 2025, contra cerca de 300 mil em 2015. Em fevereiro, o premiê Li Keqiang exortou o governo local e os operadores do setor a acelerarem a construção de instalações de recarga para acomodar 5 milhões de veículos elétricos em 2020. Sair da produção de carvão mineral e dos motores a combustão é a alternativa para evitar o “arpocalipse” e reduzir as mortes por problemas respiratórios, especialmente nas megacidades.
Sem dúvida, há uma revolução em curso no sentido de avançar com as energias renováveis e diminuir a dependência dos combustíveis fósseis. Carros elétricos vão avançar rapidamente. A Bloomberg New Energy Finance estima que as vendas de veículos elétricos devem chegar a 41 milhões de unidades em 2040, representando 35% do total de cerca de 120 milhões de veículos novos.
Infelizmente, os últimos governos brasileiros resolveram investir centenas de bilhões de dólares em refinarias de petróleo (inacabadas) e no chamado “bilhete premiado” do pré-sal, jogando o Brasil no fundo do poço de uma tecnologia ultrapassada, cara, poluidora e emissora de gases de efeito estufa. O Brasil está bastante atrasado na produção de energias renováveis, lento na transição para a nova matriz de energia mais limpa (eólica, solar, etc.) e totalmente distante da produção de veículos elétricos, quando comparado com Estados Unidos, União Europeia, China, Coreia do Sul, etc.
Mas, como escrevi no outro artigo, embora chegar a 100% de energia renovável seja fundamental, nenhuma revolução energética, por si só, será capaz de sustentar uma sociedade consumista em constante crescimento, que degrada o meio ambiente e destrói os ecossistemas. Assim, não basta avançar com a produção de veículos elétricos, pois isto apenas encheria de carros as vias públicas das cidades, congestionando as ruas e agravando a imobilidade urbana.
O mundo precisa democratizar e socializar a energia solar e a produção de veículos elétricos, ampliando a democracia em todos os seus aspectos, no sentido de melhor o padrão de vida da coletividade e da simplicidade voluntária, evitando o egoísmo e a ganância do individualismo. (ecodebate)

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Consumo de energia tem crescimento de 0,9% em julho

Consumo de energia tem crescimento de 0,9% em julho, segundo EPE.
No acumulado até julho, o consumo caiu 1,3% e nos últimos 12 meses, a queda chegou a 2,1%.
O consumo nacional de energia elétrica totalizou 37.006 GWh em julho, com crescimento de 0,9% em relação ao mesmo mês de 2015, segundo divulgou em 02/09/16 a Empresa de Pesquisa Energética. No acumulado até julho, o consumo caiu 1,3% se comparado com o mesmo período do ano anterior, ficando em 268.508 GWh. Já nos últimos 12 meses, a queda chegou a 2,1%, com um consumo de 460.770 GWh.
Considerando apenas a indústria, o consumo de eletricidade somou 13.860 GWh em julho, com queda de 0,2% em relação ao mesmo mês de 2015. Em termos regionais, segundo a EPE, julho foi o primeiro mês do ano com aumento na demanda de energia do Sul (+1,7%). No Centro-Oeste e no Norte também houve aumento de 2,8% e 1,3%, respectivamente. Já no Sudeste e no Nordeste, o setor industrial apresentou quedas mais brandas no consumo de, respectivamente, 0,5% e 3,8%.
No consumo residencial, aponta a EPE, o crescimento de 2,8% em julho é o quinto consecutivo no ano, confirmando a trajetória ascendente do consumo residencial de eletricidade nos últimos meses. No mês o consumo na classe atingiu 10.380 GWh, sendo que desde abril, o consumo médio nas residências mostra-se em recuperação moderada. Em 2015, a piora da economia e o choque tarifário levaram a uma forte retração no consumo, fazendo com que o consumo médio residencial regredisse a patamar semelhante ao de 2013. Entretanto, as quedas verificadas em relação a igual mês do ano anterior estão cada vez menos intensas, possivelmente, de acordo com a EPE, devido a certo alívio nas medidas de redução do consumo adotadas em reação ao choque tarifário.
Na classe comercial, o consumo, em julho, totalizou 6.706 GWh, o que representa uma queda de 1,6% ante o mesmo mês de 2015. Notou-se queda em praticamente todos os estados do Sudeste (-3,1%), Sul (-1,6%) e Centro-Oeste (-1,8%), exceção somente em Santa Catarina (1,9%) e Goiás (1,6%). No Norte e no Nordeste, ao contrário, houve avanço no consumo comercial, com as maiores taxas no mês sendo verificadas no Pará (5,6%) e no Ceará (4,5%), respectivamente. (canalenergia)

Demanda global por energia atingirá pico em 2050

Segundo analistas, no futuro não haverá espaços para fontes caras de eletricidade.
Apoio. Linhas de transmissão de energia em Itaipu.
A demanda mundial de energia vem crescendo a um ritmo vertiginoso desde o século 19. Isso mudará em cerca de 40 anos, segundo a Sanford C. Bernstein & Co.
A demanda atingirá o pico na década de 2050 e depois começará a perder força com a queda do consumo de energia por unidade de produto interno bruto, disseram analistas da Bernstein, incluindo Neil Beveridge, em nota de 26/08/16.
O crescimento da demanda já está diminuindo como resultado da desaceleração do crescimento populacional, da expansão econômica fraca e da mudança do crescimento liderado pela indústria para o crescimento liderado pelos serviços, disseram.
“Este será um momento seminal na história da humanidade”, disseram os analistas. “Escolher vencedores em longo prazo no futuro da energia nunca é simples, mas é fácil ver quem sairá perdendo. Não há lugar para produtores de energia com custos altos e grandes emissores de carbono no mundo que está por vir”.
O consumo de carvão provavelmente atingirá o pico em torno de 2020 e o mesmo ocorrerá com o petróleo na década de 2030, disseram os analistas.
A transição para o gás natural e as energias renováveis continuará, mas a transição para as energias solar e eólica levará décadas.
A pressão para frear as emissões de dióxido de carbono está se intensificando, especialmente após o Acordo de Paris, o tratado global fechado em dezembro para combater as mudanças climáticas.
Já existem sinais de estagnação do crescimento da demanda energética. O consumo energético per capita pode ter chegado ao pico, afirma a Bernstein.
Demanda global por energia deve atingir pico em 2050, depois de crescimento vertiginoso que já dura quase dois séculos.
Contudo, a demanda global ainda poderá crescer mais 30% nos próximos 40 anos antes de chegar ao pico, disseram os analistas.
“O obituário do fim da demanda energética parece prematuro”, disseram os analistas. “Ainda precisamos que a energia cresça”. (biodieselbr)

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Carros elétricos vão decolar

Os carros elétricos vão decolar — e muita coisa vai mudar
Com a carga toda: nos próximos 10 anos, os elétricos se tornarão uma opção mais econômica do que os carros à gasolina na maioria dos países, prevê estudo.
Não restam dúvidas de que os carros verdes vieram para ficar. As principais montadoras do mundo investem cada vez mais em modelos de menor consumo de combustível e impacto ambiental que, aos poucos, caem no gosto dos consumidores. O preço, naturalmente, ainda é um empecilho para a expansão em massa deste mercado. Mas isso deve mudar.
Uma nova pesquisa da Bloomberg New Energy Finance (BNEF) sugere que, com a contínua redução dos preços das baterias, os veículos elétricos e híbridos se tornarão, até 2025, uma opção mais econômica na maioria dos países, até mesmo do que os modelos a gasolina ou diesel. Adicione mais alguns anos, e o cenário é ainda mais promissor. 
O estudo, publicado nesta quinta-feira (25), prevê que as vendas globais de EVs (do inglês 'Electric Vehicle') irão bater 41 milhões em 2040, representando 35% das vendas de veículos novos leves. Isso seria quase 90 vezes o valor equivalente às vendas de 2015, estimadas em cerca de 462 000, 60% a mais que em 2014.
Atualmente, só um país no mundo tem taxas quase tão elevadas assim — a Noruega, onde os veículos movidos a eletricidade já representam um quarto das vendas totais de quatro-rodas. Dono de uma das maiores reservas de petróleo do mundo (e de um dos litros de gasolina mais caros), o país não apenas eliminou impostos sobre os automóveis limpos, como passou a oferecer estacionamento gratuito e acesso a corredores de ônibus. 
Mudanças no tabuleiro energético
No cerne da previsão da BNEF está uma análise sobre os preços das baterias, que caiu vertiginosamente nos últimos anos. Para se ter uma ideia, os custos das bateria de íon de lítio reduziram 65% desde 2010, chegando a US$ 350 por quilowatt-hora (kWh) de energia armazenada no ano passado. E não para aí: a expectativa é que chegue a menos de US$ 120 por kWh em 2030.
Esta tabela da BNEF mostra a projeção do crescimento das vendas de modelos híbridos e elétricos no mundo:
Esta mudança de motorização projetada para os próximos anos terá implicações para além do mercado de automóveis. Segundo os analistas da BNEF, o aumento iminente de veículos elétricos poderia desencadear uma nova rodada de problemas para a indústria petrolífera.
Pelos cálculos, um quarto de carros "verdes" nas estradas do mundo até 2040 representará menos 13 milhões de barris por dia de petróleo.
Por outro lado, quanto mais pessoas começam a recarregar seus carros nas tomadas elétricas, em vez de encher o tanque nos postos de gasolina, maior será a pressão sobre os sistemas de geração de energia dos países.
Na ponta do lápis, uma frota eletrificada em peso representaria uma demanda extra de 1 900 kWh de eletricidade, ou cerca de 8% do consumo global de eletricidade em 2015, segundo o estudo. 
Para realizar essa previsão, os analistas da BNEF basearam-se na recuperação do preço do petróleo bruto para a casa dos US$ 50, e em seguida voltando até US$ 70 ou mais até o ano de 2040.
O mais curioso, de acordo com o estudo, é que se o preço do petróleo cair para US$ 20 e estacionar aí, a adoção em massa dos EVs só iria atrasar cerca de cinco anos.
Incentivos governamentais
Apesar do rápido crescimento do mercado de carros elétricos e híbridos — e seus 1,3 milhão de modelos vendidos em todo o mundo, com destaque para o Nissan Leaf e o Chrevrolet Volt —, eles ainda representam menos de 1% das vendas de veículos comerciais leves atualmente. 
Neste contexto, os governos continuam a desempenhar um forte papel em várias áreas relacionadas com a adoção de veículos elétricos. De todos os fatores que impulsionam este mercado, o subsídio à compra direta ainda é o mais eficaz. Porém, outras investidas também ajudam a impulsionar os verdinhos.
Estímulos: a Noruega eliminou impostos sobre os veículos limpos e passou a oferecer estacionamento gratuito, além de acesso a corredores de ônibus.
"Foi a combinação de incentivos fiscais, estacionamento exclusivo e acesso a corredores de veículos que levaram os elétricos na Noruega a um quarto das vendas totais bem antes do que se pensava possível na maioria dos países", disse à EXAME.com Colin McKerracher, analista líder de transporte avançado na BNEF.
"Mas os governos também têm um papel ativo na promoção de infraestrutura especial. Por exemplo, recentemente, um regulador na Califórnia aprovou dois grandes planos de serviços públicos para a construção de redes de infraestrutura de recarga, repassando esses custos através de tarifas de eletricidade", sublinha. 
Brasil
No Brasil, desde outubro do ano passado, os carros elétricos estão isentos da tarifa de importação de 35%, o que em teoria ajudaria a estimular as vendas por aqui. Mas, segundo o especialista, pelo menos ao longo dos próximos cinco anos, a penetração dos elétricos no país ainda será bastante limitada: "provavelmente menos de 1% das vendas de veículos novos e principalmente focado em modelos mais sofisticados".
"A partir de meados da década de 2020, esperamos um crescimento mais forte, com a redução dos custos do veículos e melhorias no desempenho", destaca McKerracher. 
Seja como for, a verdade é o que Brasil tem um perfil bem diferente quando o assunto é eletrificação dos transportes.
"No Brasil, a pressão para a redução das importações de petróleo e das emissões de gases efeito estufa são menos críticas por causa da forte indústria nacional de etanol", observa o analista.
Os 8 países mais entusiastas de carros elétricos e híbridos
Noruega lidera ranking de mercados mais quentes para modelos verdes
Ligados na tomada
São Paulo - Líder no mercado de modelos verdes no mundo, a Noruega eliminou impostos sobre os veículos limpos e foi ainda mais longe, oferecendo estacionamento gratuito e acesso a corredores de ônibus.
Atualmente, os carros híbridos e elétricos são, praticamente, "bestsellers" no país. No primeiro trimestre de 2015, 8.112 veículos movidos a eletricidade foram vendidos por lá, representando quase um quarto das vendas totais de veículos no país.
Os dados são de um relatório produzido pela consultoria IHS Automotive, especializada na indústria automotiva mundial.
Já os Estados Unidos registraram 15.000 verdinhos novos no mesmo período, mas o número absoluto representou apenas 0,8% das vendas totais de carros no país no primeiro trimestre.
Veja a seguir os 8 maiores mercados de carros elétricos e híbridos no mundo.
1. Noruega
Número de carros elétricos vendidos no 1º trimestre de 2015 - 8.112
Porcentagem em relação à venda total de carros - 22,9%
Variação em relação ao ano anterior - 40,5%
Modelo de carro mais querido: VW e-Golf
2. Holanda
Número de carros elétricos vendidos no 1º trimestre de 2015 - 5.760
Porcentagem em relação à venda total de carros - 5,2%
Variação em relação ao ano anterior - 74,2%
Modelo de carro mais querido: VW Golf plug-in híbrido
3. Reino Unido
Número de carros elétricos vendidos no 1º trimestre de 2015 - 8.864
Porcentagem em relação à venda total de carros - 1,2%
Variação em relação ao ano anterior - 392,3%
Modelo de carro mais querido: Mitsubishi Outlander plug-in híbrido
4. Estados Unidos
Número de carros elétricos vendidos no 1º trimestre de 2015 - 14.832
Porcentagem em relação à venda total de carros - 0,8%
Variação em relação ao ano anterior - 392,3%
Modelo de carro mais querido: Tesla Model S
5. França
Número de carros elétricos vendidos no 1º trimestre de 2015 - 3.626
Porcentagem em relação à venda total de carros - 0,8%
Variação em relação ao ano anterior - 101,3%
Modelo de carro mais querido: Renault ZOE
6. Alemanha
Número de carros elétricos vendidos no 1º trimestre de 2015 - 4.250
Porcentagem em relação à venda total de carros - 0,6%
Variação em relação ao ano anterior - 97,7%
Modelo de carro mais querido: VW Golf GTE plug-in híbrido
7. Tóquio, Japão
Número de carros elétricos vendidos no 1º trimestre de 2015 - 7.750
Porcentagem em relação à venda total de carros - 0,6%
Variação em relação ao ano anterior -19,5%
Modelo de carro mais querido: Nissan LEAF
8. China
Número de carros elétricos vendidos no 1º trimestre de 2015 - 12.555
Porcentagem em relação à venda total de carros - 0,3%
Variação em relação ao ano anterior - 744,9%
Modelo de carro mais querido: BYD Qin plug-in híbrido (abril)

Carros elétricos mudarão o mundo

Carros elétricos devem mudar o mundo: impactos dessa revolução sobre diversos setores
A mudança iminente para veículos elétricos e digitalmente conectados terá implicações dramáticas para o setor de transporte. Mas este é só uma parte da revolução que afetará diversos segmentos.
Uma das principais características de sistemas complexos, como os setores mundiais de energia e transporte, é que o processo de transformação vivenciado por eles tende a não ser linear. Eles alternam de um estado para o outro em um modo que tem forte analogia à mudança de fase das substâncias, conforme estudamos nas aulas de ciências.
Uma segunda característica importante desse tipo de mudança de fase econômica é que, quando um grande setor se transforma, o resultado pode trazer consequências para toda a economia, gerando impactos em escala social.
Estamos vendo esse efeito no setor elétrico neste momento. A rápida aceitação das energias renováveis pelo sistema energético não pode mais ser freada devido à redução de custos proporcionada pelas fontes eólicas e solares. Elas transformaram a forma como o mercado de energia funciona, tornando investimentos em outras fontes praticamente impossíveis; elas alteraram o paradigma do controle da rede baseado em cargas e picos para um de previsão e equilíbrio; elas mudaram o fluxo de investimentos, que passou dos sistemas de energia para os fornecedores de tecnologia; elas forçaram uma digitalização acelerada de todos os equipamentos. E elas também estão mudando a maneira como os prédios são projetados, os funcionários do setor de construção são treinados e as infraestruturas são financiadas.
Nós já vimos esse efeito antes – e não foi em um passado distante. Quando os primeiros celulares apareceram, a suposição era de que eles iriam funcionar como telefones normais, mas móveis. Entretanto, com a redução dos custos, os usos desses aparelhos foram ampliados e eles demandaram a digitalização da rede de telefonia, exatamente como a energia renovável está fazendo a rede elétrica.
Três décadas depois, os celulares empurraram os telefones fixos para as margens. O que é mais importante, no entanto, é que eles levaram a profundas transformações no setor e, depois disso, em toda a economia — o tipo de férias que vamos tirar, como fazemos as reservas, a presença de lojas nas principais ruas e centros comerciais, o modo como nos movemos pela cidade. Telefones celulares engoliram indústrias inteiras (câmeras fotográficas, despertadores, mapas) e devem fazer o mesmo com outras (jornais impressos, pagamentos, músicas). Nenhum setor está imune, desde o design de móveis e o tamanho dos bolsos costurado nas peças de vestuário até a quantidade de jantares que um restaurante planeja servir em uma única noite.
Nos últimos anos, a equipe da Bloomberg New Energy Finance (BNEF) tem dedicado mais e mais atenção ao setor de transporte. Como aconteceu em 2004, quando sentimos que a indústria energética e seus principais analistas haviam falhado para entender a escala, a iminência e as implicações da revolução da energia renovável, em 2010 começamos a sentir o mesmo com relação aos veículos elétricos. Uma das sete tendências de longo prazo que citamos em nosso evento daquele ano foi “A Transformação do Transporte”, a qual ilustramos com fotografias dos veículos elétricos daquele momento – carrinhos britânicos para transporte de leite, o Sinclair C5 e vários carros pequenos e de aparência estranha, como o G-Wiz – seguidas por imagens dos veículos elétricos do futuro, que se pareciam com carros normais.
Este ano, a BNEF foi a primeira grande empresa de pesquisas do setor energético a publicar uma previsão compreensiva sobre a penetração dos veículos elétricos no mercado de carros. O cenário principal mostrava que, até 2040, 35% das novas vendas seriam de elétricos, com a possibilidade desse número chegar até a 47% dentro de certas condições (preços altos do petróleo e ampliação do uso de automóveis compartilhados).
Se algo mudou desde a publicação daquela previsão, é que nós agora acreditamos em uma entrada ainda mais rápida nesse mercado, mesmo com os persistentes preços baixos do petróleo. Na primeira metade deste ano, as vendas mundiais de veículos elétricos foram de 285 mil unidades, uma alta de 57% na comparação com 2015.
A razão do nosso otimismo com relação aos veículos elétricos não se deve somente ao fato de que o custo das baterias está caindo em taxas similares ao que vimos acontecer com a indústria de energia solar, com uma redução de 65% nos últimos cinco anos. O que acontece é que os veículos elétricos estão ultrapassando seus concorrentes a combustão interna em muitas dimensões importantes: com uma direção mais macia e com melhor aceleração, eles podem ser carregados em casa ou no trabalho, requerem menos manutenção, ajudam a solucionar os problemas da qualidade do ar e aumentam a autonomia energética de países importadores de petróleo.
Claro, eles têm um alcance limitado e demoram para carregar, mas isso é, na prática, irrelevante para a grande maioria das situações de uso. Mais de 40% dos carros nos Estados Unidos são de segunda mão. Alguém pode pensar em uma boa razão para comprar um carro usado a diesel ou a gasolina daqui a 15 anos?
Outro poderoso motivador para a ascensão dos veículos elétricos é que eles são uma plataforma muito superior para a direção autônoma, sistema de informação ou entretenimento para os passageiros e para tecnologias que transformam o transporte em um serviço. De forma simples, é possível dizer que o sistema de transporte está se digitalizando, assim como aconteceu com os telefones e com a rede energética, e que isso trará benefícios drásticos em termos de utilização de recursos (em outras palavras: custos), flexibilidade, níveis de serviço e limpeza. E simplesmente não faz sentido ter uma unidade de geração de energia análoga – que vibra, queima combustíveis líquidos e é altamente poluidora – no coração de um veículo totalmente digitalizado, repleto de sensores e controlado por um sólido sistema eletrônico.
A mudança iminente para veículos elétricos e digitalmente conectados terá implicações dramáticas para o setor de transporte. Boa parte da atenção da mídia está focada na Tesla Motors, o novo participante dessa corrida e que estacionou os carros elétricos de modo firme no gramado da indústria automobilística.
A habilidade da Tesla em manter sua liderança inicial dependerá de seu contínuo acesso a capital barato, particularmente durante os próximos três anos, enquanto lida com a produção em escala de seu primeiro modelo para um mercado de massa ao mesmo tempo em que enfrenta as críticas rigorosas a respeito da tecnologia de direção autônoma. Pode ser que, por enquanto, os principais investidores não estejam se importando muito com quanto dinheiro a companhia está perdendo ou quão longe a empresa está de suas metas de produção. Mas isso deve mudar com o tempo, o que explica (para quem enxerga pela lente de confiança dos investidores) porque a aquisição da SolarCity se parece com um risco desnecessário.
Enquanto a Tesla se aquece com a atenção, houve pouca ou nenhuma crítica robusta com relação às estratégias de outras empresas para os veículos elétricos. Há muita admiração para os carros-conceito, os lançamentos de modelos elétricos e os anúncios de plantas industriais ambiciosas. Mas quais companhias estão realmente comprometidas com os carros elétricos e quais estão simplesmente seguindo a onda? Quais estão apostando em veículos exclusivamente à bateria e quais estão buscando opções híbridas? Quais ainda estão esperando que as células de combustível a hidrogênio caiam do céu? Não dá para saber apenas acompanhando as notícias de grandes veículos.
Ao invés disso, estamos recebendo uma cobertura ampla sobre o potencial de novos competidores no mercado de carros. A Dyson faz um bom aspirador de pó e tem um conhecimento mundialmente reconhecido sobre baterias e motores. Mas isso será suficiente para bater a GM, a Ford e a Toyota? A Faraday Future apresentou um batmóvel elétrico e a imprensa internacional adorou.
E tem a Apple. Em Abu Dhabi, fiquei na ilha Al Maryah, recuperada do mar em 2007, mas o Apple Maps ainda mostra uma rede de estradas no meio do mar. Se a Apple não consegue mostrar onde fica o estacionamento do meu hotel, alguém acredita seriamente que ela pode me vender um carro com direção autônoma? Até mesmo o Google – embora ele pareça ter estabelecido uma posição forte nas tecnologias de inteligência artificial que irão definir as funcionalidades dos carros – dificilmente se descobrirá suficiente para assumir a liderança da indústria automobilística do futuro.
A notícia mais importante deste ano não é qual executivo deixou o Google ou se juntou à Apple; talvez não seja o lançamento do Model 3, da Tesla. Ao invés disso, podem ser os processos judiciais de US$ 15 bilhões contra a Volkswagen por conta do dieselgate, que incluíram um comprometimento de US$ 2 bilhões para a promoção de veículos de emissão zero nos Estados Unidos. Isso é apenas uma parcela dos US$ 11,2 bilhões que a Volkswagen pretende gastar na próxima década com veículos elétricos – um compromisso que, segundo as expectativas da empresa, deve resultar em um aumento de 25% nas vendas de unidades de carros elétricos até 2025. Colocando em contexto: isso significaria chegar a 2,5 milhões de veículos vendidos por ano em menos de uma década; 30 vezes mais que a atual marca de 85 mil unidades da Tesla.
É difícil prever quando uma mudança de fase em um sistema complexo vai começar e é ainda mais difícil estimar quando ela vai terminar. Nenhuma lista de potenciais impactos da transformação nos transportes está completa. No entanto, uma coisa é certa: nossas previsões sobre a ascensão dos veículos elétricos estão corretas. E nenhum segmento da economia global deixará de ser afetado, de uma maneira ou de outra.
A seguir, confira alguns setores que podem ser atingidos já nos primeiros impactos:
Cadeia de fornecimentos automotivos
As empresas de carros representam a principal espécie em um ecossistema de fornecedores de serviços e tecnologia. Todos eles devem vivenciar uma ruptura com a mudança para os veículos elétricos e digitais.
Os maiores beneficiários provavelmente serão os grandes fornecedores de baterias, como Panasonic, LG Chem e Samsung, mas também haverá muitos outros novos provedores de softwares e de sensores para rastreamento e cyber-proteção, sem mencionar aqueles que irão fornecer a tecnologia para a direção autônoma. Mas, à medida que o mercado para motores a combustão encolher, aparecerão perdedores em toda essa enorme cadeia de suprimento, incluindo fabricantes de marchas, montadores de sistemas de combustível, fornecedores de sistemas de exaustão e catalisação e toda uma indústria associada de suprimentos e componentes.
Traçando um paralelo: em 1904, havia 61.306 pessoas empregadas na fabricação de vagões e carruagens nos Estados Unidos. Em 1921, esse número havia caído para 8.025.
A indústria de químicos também será profundamente impactada. A demanda por químicos de baterias – em particular lítio, no futuro próximo – irá aumentar, assim como a demanda por outros metais de terras raras, necessários para muitos motores e outros componentes elétricos modernos. O uso de aço nos veículos elétricos irá cair, com os fabricantes buscando pela redução do peso para contrabalancear o efeito inevitável da solidez das baterias, motivando um uso maior de resinas, materiais compostos e aerogéis.
Redes de concessionárias e mecânicas
Não são apenas os fabricantes e os preços do petróleo que serão afetados. A expectativa é que o número de concessionárias, revendas e mecânicas também caiam ao longo das próximas décadas.
Os veículos elétricos terão uma menor necessidades de manutenção, pois eles terão menos partes móveis, com apenas algumas vedações no motor elétrico, na direção e na suspenção. As estatísticas ainda são esparsas nesse estágio da indústria, mas parece razoável esperar que a bateria principal dure por pelo menos 110 mil quilômetros – e ainda mais no futuro. Muitos ajustes no sistema podem ser feitos remotamente por meio de atualizações no software ao invés de nas mãos de um mecânico e as revisões anuais passariam a ser principalmente sobre a troca de pneus, a substituição ocasional do pedal de freio e a reposição do fluído para limpar o para-brisas.
Ao mesmo tempo, softwares de suporte ao motorista – prevenção de colisões, estado de manutenção de pista, alerta de cansaço, estacionamento sem motorista, acompanhamentos em geral e outros – também devem reduzir o número de acidentes. Ainda que veículos completamente autômatos ainda pareçam muito distantes, o que reduziria o número de empregos de motorista em todo o mundo, a redução da manutenção e dos trabalhos de reparo já está acontecendo e deve apenas ganhar velocidade.
Em relação ao varejo, a ameaça econômica do quase fim das manutenções e reparos deve quebrar a atual racionalidade do clássico vendedor de carros suburbano. A expectativa é que passem a existir mais showrooms em localizações convenientes (como o centro das cidades e áreas de grande fluxo) e lojas de usados fora das cidades.
Sistema de eletricidade
Em nossas previsões para o futuro do setor de energia, publicadas em junho, nós estimamos que os veículos elétricos devem acrescentar 2,7 TWh à demanda global anual por eletricidade até 2040 – ou 8% do total – ou ainda mais, caso o segmento cresça de forma mais acelerada. Essa é uma boa notícia para as usinas, especialmente em um período onde produtos mais eficientes energeticamente trabalharão no sentido contrário, para reduzir a demanda.
Mas não se trata apenas do consumo de energia: uma grande frota ativa de veículos elétricos implica em um enorme potencial para a relação entre demanda e capacidade de resposta. Os veículos elétricos podem ser carregados quando o preço da energia está baixo ou quando a geração de energia solar ou eólica está em alta. E eles também podem – assumindo que esteja em vigor uma regulação própria para isso – descarregar a energia de volta à rede quando a geração de eletricidade estiver baixa. Isso cria novas oportunidades para quem oferece serviços auxiliares.
Além disso, embora o benefício para a rede proporcionado pelas baterias de segunda mão dos veículos elétricos ainda não seja uma realidade, ele pode ser substancial. Quando a performance da bateria diminuir em torno de 30%, ela pode ser disponibilizada para armazenagem estacionária. Pesquisas em andamento feitas pela equipe de transporte avançado da BNEF sugerem que, até 2018, essas segundas vidas das baterias podem custar aproximadamente US$ 49 por kWh redirecionado, um valor bem menor que os atuais US$ 300 por kWh das opções disponíveis atualmente. Se isso acontecer, as baterias irão dar um suporte adicional à economia tanto por meio de veículos elétricos quanto de energias renováveis, acelerando a vantagem de ambos.
Para completar, também existem os mercados que não fazem parte da rede elétrica, onde uma melhora na tecnologia das baterias proporcionada pelos veículos elétricos poderia trazer grandes benefícios. Uma possibilidade é a substituição dos geradores a diesel, que seriam trocados por uma mini rede, uma opção mais limpa, silenciosa e de baixa manutenção.
Empresas produtoras e exportadoras de petróleo
O outro lado da demanda adicional por eletricidade por causa dos veículos elétricos é, obviamente, a redução na demanda por petróleo em uma frota que, até o momento, é totalmente dependente de combustíveis líquidos. Em nosso cenário-base, a redução diária será de 13 milhões de barris de petróleo até 2040. Contudo, existem outras questões quando se trata dos níveis absolutos da demanda por gasolina, incluindo o impacto do crescimento do PIB em mercados emergentes na compra de carros, melhoras na eficiência interna dos motores à combustão, mudanças nos modelos de transporte e a penetração de gás natural comprimido, biocombustíveis e outros combustíveis alternativos. Mas o que está claro é que uma rápida mudança para os veículos elétricos, na escala em que estamos esperando, seria cruel para a demanda por gasolina.
No mês passado, a consultoria Wood Mackenzie relatou que a previsão de investimentos na indústria do petróleo entre 2015 e 2020 sofreu um corte de US$ 1 trilhão como consequência da queda nos preços observada em 2014. A visão ortodoxa – certamente compartilhada pelo ministro do petróleo da Arábia Saudita, Ali Al Naimi, no momento em que seu país decidiu ‘abrir as comportas’ – é que o preço do petróleo inevitavelmente voltará a subir em seu próprio tempo, especialmente à medida em que o crescimento da demanda absorva a capacidade excedente sem que surjam novos fornecimentos. Mas um rápido crescimento dos veículos elétricos, como o previsto pela BNEF, faz com que esse quadro se torne bem menos provável.
O fato é que, agora, existe uma nova tecnologia em escala competitiva para concorrer com os veículos a combustão interna. Isso significa que há uma limitação para os preços do petróleo no longo prazo – que atualmente está em torno de US$ 80 por barril, mas que deve cair rapidamente. Esqueça a ideia de “preços baixos por mais tempo”, pois existe a possibilidade de que eles se tornem “preços baixos para sempre”. Isso levaria a muitos prejuízos para as companhias internacionais de petróleo e os fornecedores de serviços no setor. A Venezuela dificilmente será a última nação produtora de petróleo a pedir por um resgate internacional.
Infraestrutura de estradas e pontos de carregamento
O aumento no número de veículos elétricos deve ser, obviamente, acompanhado por uma melhora na infraestrutura para carregamento. Será algo similar ao surgimento de empresas provedoras de internet nos primeiros anos da popularização da tecnologia. Boa parte do foco de atenção está atualmente no carregamento nas ruas, mas o fato é que o dono médio do carro elétrico irá esperar que seja possível carregar seu carro na rua, em casa, no trabalho, no centro comercial ou em grandes rodovias durante viagens mais longas. Isso representa uma grande quantidade de pontos de carregamento que precisarão ser construídos.
A indústria da construção será uma das maiores beneficiadas, assim como os fornecedores de equipamentos elétricos e de softwares associados. Em um primeiro momento, haverá muito trabalho com escavação de estradas e pavimentação para a instalação de pontos de carregamento e dos cabeamentos para residências, estacionamentos e grandes varejistas. No médio e longo prazo, as construções serão adaptadas com designs que já apresentam pontos de carregamento em garagens e residências, sendo que também haverá a necessidade de trocas de equipamentos para alguns dos pontos já existentes.
Em relação a estradas, nos Estados Unidos, a infraestrutura da era da gasolina conta com postos de abastecimento localizados fora das cidades em intervalos de aproximadamente 15 a 30 km de distância em eixos rodoviários e a cada 30 a 50 km de distância em autoestradas. O destino disso tudo ainda está em aberto. É muito cedo para dizer como será a formatação final da rede de distribuição: em um primeiro momento, muitos potenciais compradores de veículos elétricos podem mudar de ideia se não perceberem que existe um maciço número de estações de carregamento. Com o tempo, os números serão alterados ao sabor do nível real de demanda, assim como acontece com os postos atuais.
Ao final, muitos motoristas de veículos elétricos podem tentar evitar usar estações de carregamento nas principais estradas e rodovias por motivos de tempo e custo. Aqueles que tiverem que fazê-lo – talvez por estarem em viagens mais longas – terão que passar um longo tempo no local, criando novas oportunidades para serviços de alimentação e compras. Enquanto isso, os postos de gasolina e diesel irão continuar em sua tendência de diminuição ao passo em que os veículos elétricos engolem suas demandas.
Cidades e mobilidade urbana
Há uma literatura ampla sobre como a invenção do carro moldou a cidade moderna, levando à criação dos subúrbios. A mudança para a eletrificação e digitalização do transporte não irá mudar essa tendência – inclusive, veículos autônomos provavelmente devem tornar possível deslocamentos maiores, uma vez que os motoristas poderão usar seu tempo de modo mais produtivo.
Além disso, a alteração para a frota elétrica deve trazer mudanças em nosso ambiente físico. A mais óbvia delas será a construção dos pontos para carregamento. Cidade após cidade verá serem retirados seus parquímetros, que serão substituídos nas ruas por estações de carregamento.
De forma ainda mais perceptível, os pontos para carregar os carros estarão presentes em vagas de estacionamento, sejam públicas ou privadas, na frente de supermercados e em centros comerciais, hotéis e restaurantes. Como a maior parte dos proprietários não será dona de garagens adaptadas, o varejo deve liderar o carregamento, percebendo que cargas gratuitas será uma boa forma de assegurar clientes regulares.
A eletrificação do transporte urbano também terá consequências inesperadas. Muitas áreas comerciais famosas em cidades mais antigas estão atualmente sendo afetadas por uma conjuntura que envolve alto tráfego de veículos, barulhos nas ruas e poluição. Ao mesmo tempo, a digitalização dos serviços de ônibus pode reduzir a concentração em um pequeno número de rotas superlotadas. Será que os veículos elétricos e o transporte digitalizado poderão, sem querer, motivar a retomada de nossas principais avenidas e criar um novo valor de mercado para diversas propriedades?
Outros setores de transporte
A eletrificação do transporte não ficará restrita ao mercado de carros. Na verdade, já existem 200 milhões de bicicletas elétricas apenas na China e seu uso está se espalhando pelo mundo todo. Melhores baterias, motores e tecnologias de controle de energia irão desafiar o domínio de pequenos veículos movidos a combustíveis fósseis em cada setor: barcos a motor, cortadores de grama, veículos para neve e motocicletas.
Com a redução dos custos das baterias, a eletrificação irá se espalhar também para os veículos pesados. Vans de entrega serão um mercado inicial natural, pois circulam por distâncias relativamente pequenas e há uma vantagem comercial na eliminação de barulhos e poluição atmosférica. Balsas elétricas também estão começando a aparecer. E Tesla, Mercedes e outras estão trabalhando duro para produzir caminhões para cargas pesadas.
No mês passado, dois aventureiros suíços, Bertrand Piccard e André Borschberg, completaram a primeira volta ao mundo realizada a bordo de uma aeronave solar, a Solar Impulse II. Em 2009, na primeira vez que ouvi Piccard falar sobre esse desafio, questionaram se algum dia teríamos aviões para passageiros movidos a energia solar e a resposta foi um simples “não”. Afinal, o projeto havia sido visionado como um gigantesco desafio de engenharia. Contudo, este ano, depois de completar a circum-navegação, ele disse: “Estou certo de que, em 10 anos, nós veremos aviões elétricos transportando 50 passageiros em voos curtos e médios”. Essa é uma boa analogia para mostrar a velocidade com que a tecnologia de eletrificação está progredindo, com uma variedade de aplicabilidades que podem encontrar usos práticos.
Economia mundial
Se estivermos certos sobre a escala e a rapidez das transformações nos transportes, a área final que será transformada serão os ministérios da economia pelo mundo.
Embora seja óbvio que qualquer coisa que reduza a demanda por petróleo pode ser vista como negativa pelos governos das nações produtoras do óleo, o fato é que, até mesmo em países consumidores, a mudança para veículos elétricos e conectados deve gerar dores de cabeça consideráveis.
Em primeiro lugar, na Europa, o petróleo e o diesel estão sujeitos a altas taxações e representam até 7% das receitas governamentais. Reduzir a demanda e, talvez, o preço fará com que caiam também as arrecadações dos países. Embora haja estímulos econômicos, ainda existe a questão de onde os governantes irão encontrar substitutos para essa repor essa perda na receita.
Ao mesmo tempo, como descrito anteriormente, é provável que ocorra uma grande redução na quantidade de trabalhadores envolvidos com manutenção, reparo e, eventualmente, direção. Por mais que seja esperada uma eventual recuperação econômica, à medida que essas pessoas estiverem livres para ocuparem outros papeis na força de trabalho, é questionável se elas conseguirão formações relevantes. Assim, o debate sobre projetos de renda garantida deve crescer se o setor de transporte começar a gerar milhões de desempregados pelo mundo mesmo em um contexto de crescimento econômico.
Por fim, energias limpas e tecnologias de transporte, quase que por definição, requerem investimentos iniciais muito maiores, com menos gastos ao longo da produção. Dessa forma, qualquer mudança significativa nessa direção precisará da criação de novos investimentos de capital em longo prazo, gerando impactos macroeconômicos com relação à produtividade e às taxas de juros. (biodieselbr)