sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Carro elétrico, bateria e o telhado solar

Elon R. Musk (nascido em Pretória, África do Sul, em 28/06/1971) é um empreendedor que tenta fazer (no Brasil se diz ganhar) dinheiro revolucionando a indústria automobilística e de produção de energia solar, como forma de acelerar a descarbonização da economia, contornar o pico do petróleo e incentivar as energias renováveis. “Precisamos atingir uma economia de energia sustentável ou ficaremos sem combustíveis fósseis para queimar e nossa civilização entrará em colapso”, escreveu Musk.
Depois de formado em economia e física pela Universidade da Pensilvânia mudou-se para a Califórnia e fundou a empresa Zip2, uma companhia que desenvolvia conteúdo para portais de notícias. Em 1999 a empresa foi comprada pela Compaq por US$ 307 milhões. Mais tarde conseguiu a venda do PayPal para o eBay por US$ 1,5 bilhão. Com cerca de 30 anos se tornou um multimilionário e considerado um empreendedor de sucesso.
O desafio atual de Musk é deslanchar a produção de veículos elétricos da fábrica Tesla (nome adotado em homenagem ao inventor sérvio Nikola Tesla, 1856 – 1943, que revolucionou a transmissão de energia no início do século XX, em oposição a Thomas Edison) e as baterias elétricas de energia solar da empresa SolarCity.
Em julho de 2016, Elon Musk anunciou o ambicioso plano de fundir as duas empresas, visando fabricar o modelo 3 e a Powerwall (baterias para armazenamento de energia em casas ou empresas).
Para tanto, está em construção uma megafábrica da Tesla, localizada no deserto de Nevada (EUA), com 13 km² de área construída. Trata-se de um investimento de US$ 5 bilhões, em parceria com a japonesa Panasonic, que começou a sair do papel em 2014. O plano é ser 100% sustentável, além de contribuir para a fabricação de 500 mil veículos elétricos por ano, como caminhões e ônibus.
A queda do preço das baterias elétricas é chave para o sucesso dos carros elétricos e para as baterias colocadas nas casas. Se estes preços continuarem caindo, pode haver uma nova dinâmica com os consumidores produzindo a energia com as placas solares no teto das casas, a bateria para armazenar a energia que pode ser utilizada nos aparelhos domésticos, mas também como combustível limpo para os veículos automotores. Contudo, qualquer empreendimento desta magnitude não está isento da emissão de gases de efeito estufa.
A pretensão atual de Elon Musk é construir telhados solares que dobrem as funções das telhas tradicionais com a recolha de energia renovável. Ele diz: “Não é uma coisa no telhado. É o telhado”. Disse que a energia solar e as baterias ficarão tão bem juntas como geleia e manteiga de amendoim num sanduíche. Mas, a despeito de todo espírito inovador de Musk, cabe observar que já existe o telhado solar antes da SolarCity, como mostra artigo de Lloyd Alter (agosto 2016).
Há grande expectativa em relação ao futuro de Elon Musk e seus empreendimentos que visam impulsionar a produção e o consumo de energia solar. O volume dos investimentos é bem elevado. Mas há muitas dúvidas sobre a viabilidade financeira destes projetos e até mesmo sobre o uso do lítio usado nas baterias solares, pois se trata de um mineral raro e não renovável e como mostrou James Stafford as baterias dependem da oferta deste mineral escasso e cuja demanda está crescendo mais rápido do que a oferta.
O acidente fatal que envolveu a função “Piloto Automático” do “Tesla Model S” lançou dúvidas sobre as metas mais ambiciosas da empresa. Além do mais, o que o mundo precisa não é necessariamente de mais carros elétricos e mais carros com pilotos automáticos, mas sim maior e melhor sistema de transporte público. A Tesla e a SolarCity prometem uma revolução na produção e uso de energias renováveis e no transporte, mas segundo o “Paradoxo de Jevons”, pode ser apenas uma forma de aumentar o “carmageddon” e a imobilidade urbana.
Não está claro se Elon Musk terá sucesso nos seus empreendimentos. Até agora o “inovador schumpeteriano” não comprovou a viabilidade econômica definitiva de suas empresas. Alguns analistas, como Robert Rapier, são céticos em relação à possibilidade dos veículos elétricos (Eletric Vehicles – EV) se tornarem uma força dominante na indústria automobilística. Há também críticas como as de Michael Reilly do MIT e de Robert Bradley Jr da Forbes sobre a sustentabilidade destas tentativas de inovação empresarial.
Os ganhos do avanço da energia solar poderão ser expressivos se o seu uso vier para viabilizar o desenvolvimento local e a autonomia dos domicílios para gerar sua própria força para movimentar os aparelhos da casa e os veículos que garantam a produção local e a mobilidade espacial.
Os defensores do Ecossocialismo falam em criar um “comunismo solar”. Sem dúvida é preciso democratizar a produção e o consumo das energias renováveis e não está claro se os investimentos de Elon Musk contribuirão simplesmente para a acumulação de capital de uma grande empresa ou para a difusão de uma nova matriz energética, com empoderamento popular.
Mas, de qualquer forma, nenhuma revolução energética, por si só, será capaz de sustentar uma sociedade consumista em constante crescimento, que degrada o meio ambiente e destrói os ecossistemas. O mundo precisa democratizar e socializar a energia solar e ampliar a democracia em todos os seus aspectos, inclusive respeitando os direitos intrínsecos da natureza. (ecodebate)

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