Preconceito barra carro
elétrico, diz estudo feito por pesquisadores do MIT
Pesquisa
conclui que 87% das viagens diárias nos EUA, país que mais usa carros no mundo,
poderiam ser feitas com modelo de veículo barato e que já está no mercado com
uma carga por dia
Nissan Leaf, carro usado como modelo pela pesquisa.
Nove
em cada dez dias de uso de carro hoje nos Estados Unidos poderiam ser supridos
por veículos elétricos baratos e que já estão no mercado hoje, com uma única
carga de bateria. O resultado disso seria uma economia de gasolina – e das
emissões de carbono correspondentes – de 60% no país que tem a população mais
motorizada do mundo.
A
conclusão surpreendente é de um estudo feito por pesquisadores do MIT
(Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e do Instituto Santa Fé, ambos nos
EUA, publicado em 15/08/16 no periódico científico Nature Energy.
A
pesquisa desmonta um dos principais mitos que ainda impedem a adoção mais ampla
dos carros elétricos: a chamada “ansiedade de autonomia”. Segundo os
cientistas, liderados por Jessika Trancik, do MIT, existe entre os consumidores
uma noção de que veículos movidos a eletricidade não possuem autonomia
suficiente para realizar os deslocamentos cotidianos necessários. Isso
obrigaria os usuários a parar para recargas demoradas de bateria numa rede de
“postos de eletricidade” que não existe hoje nem mesmo nos EUA.
Desconfiados
dessa ladainha, Trancik e colegas resolveram olhar os dados. Eles compilaram
uma pilha de informações disponíveis em várias bases de dados sobre o padrão de
deslocamento de carro do cidadão americano médio em 12 cidades em todo o país.
Essas bases existem graças ao GPS, que permite a programas como o Waze
monitorar em tempo real o deslocamento de milhões de pessoas.
O
que os cientistas descobriram foi que a maior parte das viagens de carro são
curtas, especialmente nas cidades. E que 87% dos dias de uso de automóvel
poderiam ser supridos usando um carro quase popular: o modelo 2013 do Nissan
Leaf, um veículo que custa de US$ 21 mil a US$ 29 mil, menos do que a média de
preço dos 94 carros mais vendidos nos Estados Unidos.
Trancik
e colegas construíram um modelo de transportes que levasse em conta os
deslocamentos e as variações no consumo de energia do Leaf com uma bateria de
19 kWh (por exemplo, se o ar-condicionado está ligado a autonomia cai) e
chegaram à média de 73 milhas (117 km) por recarga. É mais do que suficiente
para dar conta dos deslocamentos da maioria dos moradores das cidades
estudadas. Supondo a média de uso dessas pessoas revelada pelos bancos de
dados, a cada cem dias o uso de um carro a gasolina seria necessário em apenas
13. Na zona rural, onde as distâncias são maiores, esse número aumenta para 20.
As recargas poderiam ser feitas em casa durante a noite, período de baixa
demanda por eletricidade.
O
grupo se apressa em dizer que não dá para aposentar o carro com motor a
explosão ainda: os 13% dos dias de viagem que sobram, afirmam, “tendem a
envolver longas distâncias e direção em maior velocidade”, razão pela qual o
consumo de gasolina não cai na mesma proporção do potencial aumento na adoção
de veículos elétricos.
“Realizar
esse nível de adoção exigiria que seus prospectivos donos tivessem acesso a
outros veículos com maior autonomia para atender às suas necessidades”,
escrevem os autores. “Prever os dias de maior [demanda por] energia e prover
soluções convenientes – como, por exemplo, programas comerciais de
compartilhamento de carros a combustão interna (…) ou modais alternativos de
transporte – pode, portanto, ser crítico para aumentar a posse de veículos elétricos
a bateria.”
No entanto, um carro elétrico que atendesse às
metas do programa federal americano Arpa-e
(Agência de Projetos
Avançados de Pesquisa em Energia), de elevar a capacidade da bateria para 55
kWh, poderia atender a 98% da demanda americana. Uma bateria dessas deverá
estar pronta para o uso comercial em poucos anos. Hoje, a meta climática
americana de reduzir de 26% a 28% as emissões de gases-estufa em 2025 em
relação a 2005 poderia ser cumprida com folga no setor de transportes usando
carros elétricos, avalia a pesquisa.
“O
trabalho de Trancik e colegas mostra como os veículos elétricos podem suprir a
maior parte da demanda por deslocamentos, o que torna sua baixa adoção um
mistério”, escreveu Willet Kempton, da Universidade de Delaware, em comentário
ao estudo na mesma edição da Nature Energy.
Não
bastasse a desconfiança do consumidor, os veículos a bateria ainda precisarão
enfrentar uma ofensiva de propaganda da indústria fóssil nos EUA: os irmãos
Koch, financiadores do negacionismo climático americano, estão bancando uma
campanha de US$ 10 milhões para “bombar os combustíveis derivados de petróleo e
atacar os subsídios do governo para carros elétricos”, segundo reportou o
DeSmog Blog. (ecodebate)
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