Sistema de energia solar
inédito pode ser instalado em Pernambuco em 2017
Energia solar
Um
sistema de energia solar inédito no Brasil, que está sendo estudado como
alternativa às hidrelétricas, pode ser implantado no semiárido pernambucano, no
município de Petrolina, a partir do ano que vem. Com a ajuda de um instituto
alemão, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) e a Universidade
Federal do Ceará (UFC) pretendem construir um projeto-piloto na cidade para
testar a tecnologia heliotérmica que, ao contrário dos equipamentos solares já
usados no país, pode armazenar energia para ser usada, inclusive à noite.
A
geração de energia heliotérmica usa o sol como fonte indireta de eletricidade.
Ela funciona com um conjunto de captadores espelhados, distribuídos em uma área
plana. Os espelhos se movimentam de acordo com a posição do sol e refletem os
raios para uma torre – chamada de torre solar -, onde o calor é armazenado e
transformado em energia. Ela é diferente da geração de energia solar
fotovoltaica, já explorada no Brasil, que não é capaz de guardar o calor
produzido.
“No
caso dos fotovoltaicos, você teria que ter um sistema de baterias bem caro e
complexo para operar. Com o armazenamento térmico é bem mais viável que a
energia fique guardada em forma de calor para, no momento em que for
necessária, ela ser acionada, inclusive à noite”, explica o professor da
Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador do Laboratório de Energia
Solar e Gás Natural da instituição, Paulo Alexandre Rocha.
A inviabilidade de armazenamento da energia produzida pelos painéis fotovoltaicos deu a esse sistema a classificação de forma secundária de energia, usada para complementar a matriz energética brasileira. “A fotovoltaica tem limite de aleatoriedade. Se não tiver sol ela para, então sempre tem que ter a hidrelétrica dando suporte como complementação. No caso da eólica, é muito similar. Se você não tem vento, precisa acionar turbinas da hidrelétrica para compensar a baixa produção. Já com o sistema de armazenamento térmico, as turbinas seriam acionadas em caso extremo”, informa o pesquisador.
A inviabilidade de armazenamento da energia produzida pelos painéis fotovoltaicos deu a esse sistema a classificação de forma secundária de energia, usada para complementar a matriz energética brasileira. “A fotovoltaica tem limite de aleatoriedade. Se não tiver sol ela para, então sempre tem que ter a hidrelétrica dando suporte como complementação. No caso da eólica, é muito similar. Se você não tem vento, precisa acionar turbinas da hidrelétrica para compensar a baixa produção. Já com o sistema de armazenamento térmico, as turbinas seriam acionadas em caso extremo”, informa o pesquisador.
As
hidrelétricas, capazes de armazenar energia, são geradoras de 65% da
eletricidade do país, de acordo com o Balanço Energético Nacional 2015, do
Ministério de Minas e Energia. A intenção é mudar esse quadro, argumenta o
assessor de Planejamento Estratégico da Chesf, Benedito Parente. “À medida que
os recursos hídricos estão exíguos e deficitários, e até por uma questão de
hidrologia estão com pouca água, se faz necessário que rapidamente a gente
encontre alternativa para armazenamento de blocos de energia”.
Localizada
no meio do semiárido nordestino, Petrolina foi escolhida pela intensidade solar
acentuada, de acordo com Benedito Parente. “A maioria do território brasileiro
tem vocação, mas o semiárido tem ainda mais”, reforça. Para ele, a energia
solar heliotérmica é “uma grande esperança para a produção energética do
futuro, uma das mais atraentes”. O projeto terá tamanho reduzido, compatível
com um projeto de pesquisa, mas a intenção da Chesf, segundo o assessor, é
descobrir meios de produzir a tecnologia em larga escala.
Ar no
lugar de fluidos
Outro
ponto considerado inovador pelo coordenador do Laboratório de Energia Solar da
UFC é uma variação no mecanismo de captação de calor da torre. Enquanto
iniciativas de outras regiões do mundo operam essa etapa com sal fundido, a
tecnologia escolhida pelos cientistas usa o ar. O nome do sistema é “receptor
volumétrico aberto”, diz o professor Paulo Rocha.
“Com
isso, a gente não se preocupa com grandes vazamentos. Em sistemas que usam sal
fundido, às vezes você tem esse problema, porque está trabalhando com grandes
variações de temperatura em tubulações onde passa um fluido líquido
pressurizado”, explica o acadêmico.
Esse
receptor é usado em uma usina heliotérmica piloto, construída na Alemanha pelo
Instituto solar de Jülich (SIJ), parceira da Chesf e da UFC no desenvolvimento
da torre solar de Petrolina, que deve ser semelhante ao modelo implantado na
cidade alemã. A empresa alemã Kraftanlagen München GmbH fornecerá a tecnologia
necessária.
Para
que a ideia seja concretizada, o grupo tenta conseguir os recursos – cerca de
R$ 45 milhões – com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), por meio da
chamada pública nº19/2015 – Desenvolvimento de Tecnologia Nacional de Geração
Heliotérmica de Energia Elétrica – do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento
Tecnológico do Setor de Energia Elétrica. Segundo Benedito Parente, o prazo
para receber uma resposta da agência é de até 60 dias.
Em
agosto, a proposta passou por adequações a pedido da Aneel. Caso seja aprovada,
começará em 2017 e será desenvolvida em 40 meses – ou três anos e meio. O
estudo deve dar mais detalhes em relação ao armazenamento da energia: qual a
capacidade, por quanto tempo ela pode ser “guardada”. Os autores da iniciativa
também esperam descobrir a viabilidade econômica da tecnologia, ou seja, qual o
custo-benefício do equipamento.
Sistema contra perda energética
Sistema contra perda energética
O
projeto de construção da torre solar não previa inicialmente a etapa de geração
da energia, mas a Aneel exigiu que essa parte fosse incluída na proposta. O professor
Paulo Rocha, do laboratório de Energia Solar da UFC, disse que para aproveitar
a oportunidade de ganho com pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, o
sistema escolhido foi o Ciclo Rankine Orgânico, que tem o potencial de reduzir
perdas de calor e, consequentemente, de energia. “No Brasil, até onde a gente
sabe, não existe nenhuma planta que utilize”, acrescenta.
O
ORC, a sigla em inglês do equipamento, é uma alternativa ao Ciclo Rankine
padrão, que opera com temperatura mais alta. “O Orgânico se mostra interessante
porque opera com menor calor, então consegue se adaptar em situações
corriqueiras de rejeito de energia, que ocorrem muito na indústria”, compara
Rocha. “Todo sistema de geração de energia elétrica com vapor, principalmente,
precisa jogar calor para fora para funcionar. Isso que a gente chama de rejeito
de calor. O ciclo alternativo vai viabilizar o seu aproveitamento. De alguma
forma estamos conseguindo economizar recursos”, afirma.
Segundo
Parente, a previsão é de que esse bloco de produção gere energia suficiente
para alimentar as próprias instalações da Chesf, com a expectativa de atender
inclusive ao local onde serão desenvolvidas as pesquisas do projeto- piloto. A
viabilidade econômica da aplicação desse sistema também vai ser estudado no
decorrer dos 40 meses de trabalho. (ecodebate)
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