Principal desafio da energia
solar é político, afirmam especialistas
Até 2024, a Agência Nacional de Energia Elétrica estima que o Brasil terá 1,2 milhão de telhados com painéis solares fotovoltaicos. A quantidade, contudo, ainda é considerada abaixo do potencial do País, na avaliação de especialistas do setor.
Até 2024, a Agência Nacional de Energia Elétrica estima que o Brasil terá 1,2 milhão de telhados com painéis solares fotovoltaicos. A quantidade, contudo, ainda é considerada abaixo do potencial do País, na avaliação de especialistas do setor.
O
uso da energia solar tem sido cada vez mais visto como um fator importante para
a otimização e diversificação da matriz elétrica brasileira, abastecida em
grande parte pelas hidrelétricas. Até 2024, a Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) estima que o Brasil terá 1,2 milhão de telhados com painéis
solares fotovoltaicos. A quantidade, contudo, ainda é considerada abaixo do
potencial do País, na avaliação de especialistas do setor.
Em
audiência pública realizada nesta terça-feira (30) pelas Comissões de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e de Minas e Energia da Câmara dos
Deputados, representantes dos setores acadêmico, produtivo e governo apontaram
o desafio político como o maior obstáculo para expandir a energia solar no
Brasil, cuja capacidade pode chegar a 30 mil gigawatts (GW) – 200 vezes a
capacidade total instalada no País hoje, que é de 143 GW.
Para
começar a aproveitar todo esse potencial, políticas públicas estratégicas
precisariam ser implementadas para estimular o uso da fonte nacionalmente.
“Duas peças são muito importantes para expandir a solar e ambas estão nas mãos
do Congresso: liberar o FGTS para o brasileiro comprar o sistema fotovoltaico,
porque é o governo que usa o FGTS; e constituir uma cadeia tributária
diferenciada para os componentes do sistema fotovoltaico, com isenções”,
afirmou a coordenadora de Campanha de Energias Renováveis do Greenpeace Brasil,
Barbara Rubim.
A
especialista lembrou que em 2012, o Greenpeace lançou ao governo federal o
desafio de criar políticas públicas que permitissem ao Brasil ter, até 2020, 1
milhão de telhados solares. “Na época foi vista como uma meta absurda, e hoje
sabem que é possível. Se mexêssemos em peças que geram maior impacto,
conseguiríamos chegar em 2030 com um aumento de 623% de casas solarizadas. Isso
significaria cerca de 8 milhões de telhados solares no Brasil, residenciais e
comércio. Além disso, conseguiríamos ter, só com geração solar distribuída,
mais de duas vezes a energia projetada para hidrelétrica de São Luís de
Tapajós”.
Apesar
de ser tecnicamente e economicamente possível, o professor doutor de Engenharia
Elétrica do Laboratório de Fontes Renováveis da Universidade de Brasília (UnB),
Rafael Shayani, reforça que a energia solar não deslanchou ainda no País
devido, essencialmente, a dois fatores: o conservadorismo presente no setor
elétrico brasileiro, ainda atrelado às hidrelétricas, aliado à falta de vontade
política para mudar esse cenário. Prova disso, ressalta o docente, é que a
fonte solar atualmente representa apenas 0,02% da matriz elétrica nacional.
“O
desafio maior realmente é político. O Brasil, o mundo e o setor elétrico
precisam de uma nova orientação, uma nova política, que supere as dificuldades
trazidas pelas mudanças climáticas. Podemos continuar na visão tradicional e
conservadora das hidrelétricas, e causar mais impactos ambientais, ou fazer
essa mudança de paradigma adotando a energia solar”, alertou.
Segundo
Shayani, para o uso da fonte solar avançar é necessário que governos considerem
os custos diretos da geração de eletricidade com as hidrelétricas e as
termoelétricas – mais caras e poluidoras -, e suas implicações futuras, em
especial ao meio ambiente e à saúde da população.
“Quanto
custa alagar árvores na Amazônia com as hidrelétricas? Quanto custa para o
sistema de saúde ter mais poluição? Essa visão política que precisamos ter para
então utilizar as inovações tecnológicas como o painel fotovoltaico. Ele gera
bens para o governo e meio ambiente, evita a construção de novas usinas,
garante energia para o crescimento do País e reduz perdas para o setor
elétrico. É preciso visualizar e quantificar esses ganhos”, disse o professor.
Produção
Produção
Além
da falta de políticas públicas, o setor tem dificuldades na produção dos
painéis fotovoltaicos. Segundo o assessor da Área de Geração, Transmissão e
Distribuição de Energia Elétrica da Associação Brasileira da Indústria Elétrica
Eletrônica (Abinee), Roberto Barbieri, apesar de o Brasil ter uma das maiores
reservas de minério de silício do mundo – material para produzir os módulos
fotovoltaicos -, ainda assim as placas são feitas em sua maioria com produtos
importados.
“Temos
o material, mas a indústria nacional não está participando desses
fornecimentos. Exportamos o silício metalúrgico a US$ 2,5 o quilo, e quando
trazemos uma célula fotovoltaica com esse silício, importamos ela a US$ 44 o
quilo. Está aí uma grande agregação de valor que o Brasil está deixando de
fazer porque não temos um pedaço da cadeia produtiva, que demanda investimento
e uma política estratégica”, comentou Barbieri.
De
acordo com o especialista, o Brasil possui em Minas Gerais empresas
metalúrgicas que atuam nessa área e estão dispostas a atender a cadeia
produtiva fotovoltaica. “Mas elas precisam de um empurrão, um incentivo, uma
política firme para termos a cadeia fotovoltaica toda. A vontade é política, e
se queremos ter a presença solar na nossa matriz de forma significativa, temos
que ter controle sobre essa produção de energia”, ressaltou.
Na Capital
Na Capital
Uma
política voltada ao estímulo da energia solar tem sido desenvolvida no Distrito
Federal, segundo o secretário adjunto de Estado do Meio Ambiente do DF, Carcius
Azevedo. Contudo, vários entraves são recorrentes na tentativa. “O Executivo é
onde mais precisa de eficiência e renovação. É um desafio podermos implementar
políticas de fato inovadoras e que aconteçam em um período de tempo exequível”,
pontuou.
Um
exemplo citado pelo secretário foi na tentativa de instalar recentemente placas
fotovoltaicas em escolas públicas da região. “Nos deparamos com um conjunto de
dificuldades estruturantes. O recurso era de uma emenda parlamentar, mas que
dizia respeito a aquisição de placas, não instalação. Não existia verba no
orçamento para instalação. Além disso, não existia quadro técnico no governo
capacitado para instalar as placas solares nas escolares. Foram diversas
amarras”, lembrou.
Atualmente,
outras políticas no setor solar estão em andamento no Distrito Federal. De
acordo com o secretário, o governador do DF, Rodrigo Rolemberg, pretende lançar
um decreto que institui o Programa de Estímulo a Energia Solar, com recursos
voltados para capacitação de jovens adultos na instalação das placas em
escolas. “A gente precisa criar mecanismos inteligentes e reais que façam com
que essa política seja de fato implementada.” (ecodebate)
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