Abren sugere abertura
antecipada do mercado para energia de resíduos sólidos.
Proposta atingiria
consumidores com carga acima de 5.000 kWh, atendidos em baixa tensão.
De olho em um mercado
potencial estimado em cerca de 200 mil consumidores comerciais, industriais,
iluminação pública e prédios públicos conectados na baixa tensão, a Associação
Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos propôs ao Ministério de Minas
e Energia a antecipação do cronograma de abertura do mercado exclusivamente
para a geração de energia a partir de resíduos sólidos. Essa abertura ocorreria
em 2021 para esse segmento e atingiria consumidores acima de 5.000 kWh por mês,
que representam 0,02% das unidades atendidas no país e têm carga total em torno
de 2 GW médios.
“Isso tem baixíssimo impacto
no mercado. A gente conseguiria viabilizar muitas usinas assim”, argumenta o
presidente executivo da Abren, Yuri Schmitke Belchior Tisi. Para o executivo, a
medida proporcionaria incentivo à atração de investimentos e o desenvolvimento
da fonte, além de estimular parcerias entre empresas públicas e privadas. A
associação representa investidores em geração de energia elétrica que usam
tecnologias de tratamento térmico de resíduos sólidos conhecidas como
Waste-to-Energy.
A Abren apresentou a proposta
de tratamento preferencial para a venda de energia das usinas WTE em
contribuição à Consulta Pública 77, que trata do calendário de abertura do
mercado. A associação considera que “destinar 35% dos RSU (resíduos sólidos
urbanos) para usinas WTE de tratamento térmico seria um excelente alvo a ser
perseguido”, já que permitiria a geração de aproximadamente 1.300 GWh/mês, com
atendimento de 3,29% da demanda nacional de energia elétrica. Os investimentos
em projetos desse tipo ficariam em torno de R$ 28 bilhões. Até 2031, o Brasil
precisará investir R$ 11,6 bilhões por ano em infraestrutura para a gestão
sustentável dos resíduos sólidos, destaca a entidade.
Para o executivo da
associação, é possível atender aproximadamente 4% da demanda nacional de
eletricidade com incineração e biodigestão. Na biodigestão, não teria tanta
venda de energia, mas haveria a produção de biofertilizante, explica Yuri
Schmitke.
Uma possibilidade para a
fonte é a venda de energia no ambiente regulado, seja por meio de leilões, seja
por chamada pública das distribuidoras, que podem por lei contratar até 10% da
carga de fontes alternativas nessa modalidade. “A gente entende que a energia
de uma usina WTE pode ser vendida a R$ 400/MWh, chegando até a R$ 500/MWh. Só
que ela tem um atributo ambiental muito melhor do que uma usina térmica a gás.
E a usina a gás chega em torno de R$ 350, R$400/MWh. Então a gente consegue
ficar no mesmo patamar”, afirma o executivo.
Seria, porém, necessário
substituir a Taxa de Limpeza Urbana cobrada pelas prefeituras por uma tarifa,
que se tornaria um recebível para os financiadores de futuros projetos. Isso
permitiria aos municípios fazer Parcerias Público-Privadas ou a concessão da
destinação final do lixo a um investidor. “A tarifa pode ser dada em garantia a
um agente financiador, a um banco, e você consegue pegar um empréstimo. Ai,
você tem um PPA (contrato) no ACR (Ambiente de Comercialização Regulada). Com
isso, torna o WTE viável no Brasil”.
Outra questão que precisa ser
resolvida é a regulamentação dos aterros sanitários, prevista na lei que
instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. A legislação é de 2010, mas
não existe uma norma federal de licenciamento. “A gente está trabalhando nisso,
porque um aterro sanitário pode ser qualquer coisa para o município. Ai faz um
lixão, que vulgarmente é um aterro controlado, e não tem proteção de solo
direito, não tem captador de emissões, e eles chamam de aterro sanitário”,
afirma o presidente da Abren.
Ele diz que a associação está
trabalhando para auxiliar as autoridades na tomada de decisão, e a missão é
juntar o público e o privado para o desenvolvimento da fonte no Brasil. A
associação recém-criada terá seu lançamento oficial no próximo dia 24, em Brasília,
mas já se movimenta entre autoridades do governo, agências reguladoras,
embaixadas e outras instituições. (canalenergia)
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