Falar que o Brasil não está
preparado para os carros elétricos é chover no molhado. Por mais que as
empresas que vendem esses produtos até tentem passar a ideia de que dá, sim,
para ter um veículo desses, a realidade é bem diferente, ainda mais em lugares
mais afastados e fora dos grandes centros urbanos.
Evidente que um produto como
o Nissan Leaf beira a perfeição quando pensamos em mobilidade, tecnologia e
futuro, mas é impossível ignorar esse fato quando analisamos um produto desses
no Brasil. É assim com todo e qualquer segmento, e com o Leaf não será
diferente.
Entretanto, passar uns dias
com o carro elétrico da Nissan, com tudo muito bem planejado e dentro da
estrutura que a cidade de São Paulo oferece, dá a impressão de que, quando
tivermos tudo preparado para a popularização dos veículos do tipo, é mais do
que certo que eles dominarão as nossas ruas. É um caminho sem volta.
Sai da frente que eu quero
passar
A primeira coisa que
precisamos dizer sobre os carros elétricos é que o torque é imediato. Ou seja,
ao pisar no acelerador, a força do motor é passada para as rodas no mesmo
instante e isso torna as coisas muito mais divertidas. Portanto, para aqueles
mais puristas que dizem que veículos elétricos não são divertidos, pode ir
tirando o cavalinho da chuva – principalmente com o Leaf. O elétrico da Nissan
é um carro extremamente ágil e gostoso de guiar. O hatch entrega 149cv e
32,6kgf/m de torque que, na prática, seria como guiar um esportivo de entrada
com muito mais potência. Traduzindo em números, o 0 a 100 do Leaf é de 7,9
segundos.
Isso, no trânsito, nos
permite ultrapassagens e retomadas muito ágeis e seguras, além de um rodar
macio e silencioso, algo que só pode ser visto em carros elétricos. Para
ilustrar melhor para o leitor do Canaltech como é guiar um veículo desses,
pense naqueles carrinhos de bate-bate; assim que pisamos, ele logo responde aos
nossos comandos, só que, claro, com muito mais força.
Outras coisas, porém, ajudam
o Nissan Leaf a ter esse desempenho e sensação esportiva de dirigir. Uma delas
é a aerodinâmica, já que o carro possui um desenho agressivo e curvado que
facilita a passagem de ar e o torna mais “rasgador”, por assim dizer. Além
disso, por mais que ele pese 1582 kg, sua bateria é alocada no assoalho, o que
faz com que seu centro de gravidade seja baixo e, consequentemente, o torne
mais preso ao chão. Isso pode ser sentido nas curvas e em manobras mais
audaciosas.
A direção elétrica do Leaf
casa bem com o estilo ágil do carro e foi calibrada de modo muito seguro,
ficando mais firme sempre que pisamos um pouco mais no acelerador. Já para
manobras e estacionamento, sua leveza impressiona e é uma das melhores que
pudemos testar aqui no Canaltech.
Ainda com relação ao
comportamento do carro, sua suspensão também foi ajustada para que o conforto
fosse privilegiado, mesmo com seu comportamento de esportivo não indique sua
maciez. Ou seja: nas curvas, o carro não dobra tanto e, nos inúmeros buracos e
valetas da cidade, ele não quica de modo violento. Traduzindo: ele é uma
delícia.
É necessário se planejar
Vamos ao que interessa quando
falamos de um carro elétrico: consumo e autonomia. Segundo a Nissan, o Leaf é
capaz de rodar 240 km padrões americanos (mais estrada do que cidade) e 350 km
em circuito Europeu (mais cidade do que estrada), que é bem parecido com o que
adotamos aqui no Brasil e é o que nos baseamos para calcular o quanto ele
aguenta rodar com carga completa.
Fizemos um trajeto de 15 km
com dois modos de condução diferentes e ar-condicionado ligado: o primeiro, no
tradicional, com o carro solto; o segundo, no modo Eco e com o câmbio no B, que
faz com que o Leaf use ainda mais a energia motora das rodas e freios para dar
mais carga à bateria.
No primeiro caso, o mostrador
de capacidade da bateria indicou que, ao final dos 15 quilômetros, gastamos
pouco mais de 12 quilômetros de carga. Já no modo econômico, a surpresa: a
economia foi pouca coisa maior, algo em torno de 11,5 km gastos. A explicação
para isso se dá no comportamento do Nissan Leaf nesses dois modos, com o câmbio
no D e no B.
Quando deixamos o carro no
modo tradicional, o carregamento passivo da bateria se dá a partir do momento
em que deixamos de pisar no acelerador e, em um nível maior, quando pisamos no
freio. Com o carro solto, ele segura menos a rolagem e faz com que não tenhamos
que pisar muitas vezes para fazer ele andar, o que economiza bateria.
Agora, quando deixamos o
carro rodar com o câmbio no B, aliado ao modo Eco, por mais que o restante do
funcionamento do carro seja de fato mais econômico, como a climatização, por
exemplo, ele fica muito mais preso no seu comportamento, fazendo com que
tenhamos que pisar no acelerador para fazer com que ele continue andando antes
de quase parar por completo, seja em via reta, seja em descida. Sim, a bateria
regenera com mais vigor, mas, ao termos que pisar para acelerar, a economia
acaba não sendo tanta assim.
Com isso em mente, chegamos
ao seguinte relatório de economia do Leaf: conseguimos rodar, com segurança,
algo em torno dos 330 quilômetros sem a necessidade de bater o desespero para recarregar
o carro. Nos planejamos para eventuais necessidades e, claro, não fomos para
muito longe no quesito estrada.
A diferença ínfima de
consumo, porém, não se justifica não apenas pelos números irrisórios, mas
também por um dos pouquíssimos pecados que o Nissan Leaf tem: ao rodar no modo
Eco + B, o carro fica muito, mas muito preso, como se estivesse, no jargão
popular, correndo de calça jeans. Isso incomoda até mesmo os passageiros.
Ter um Leaf na cidade para
pequenos deslocamentos é o ideal. Ao adquirir o veículo, a Nissan fornece uma
Wallbox para ser instalada em casa e garante carga máxima em no máximo oito
horas e com um acréscimo justo na conta de luz: algo em torno dos 20% em um mês
de uso normal. Porém, se você precisar de um carregamento na cidade, é
necessário pesquisar estabelecimentos que façam isso, além de algumas
concessionárias Nissan, que oferecem o serviço gratuitamente.
Muita tecnologia e conforto
No interior, o Nissan Leaf é
digno de um hatch médio das antigas, só que com muita tecnologia embarcada. O
cluster principal é digital e fornece todas as informações necessárias, como
velocímetro, autonomia e o status das tecnologias de segurança como o sensor de
proximidade frontal e o piloto automático adaptativo.
A central multimídia, na
versão que testamos, era de 7 polegadas, mas era bem completa e fazia o
espelhamento com Android Auto e Apple Car Play. Além disso, todas as
informações referentes ao funcionamento do carro poderiam ser checadas ali. Já
há uma versão do Leaf com o interior completamente remodelado e será testada
pelo Canaltech futuramente. O acabamento do Leaf, apesar de simples, era bem
encaixado e transparecia modernidade, sobretudo no console central, que abriga
o câmbio em formato joystick.
O destaque entre os
equipamentos do Leaf e que o diferencia de modelos concorrentes é a câmera
360º, que vimos na Nissan Frontier, e no e-Pedal, o acelerador especial do
carro. A versão da câmera que foi instalada no Leaf, além de fornecer imagens
da parte frontal e traseira, faz a simulação do entorno do veículo e nos dá uma
percepção clara da lateral do carro, algo muito útil em balizas.
Já o e-Pedal é uma solução
encontrada pela Nissan para tornar a condução mais prática. Ao acionar esse
recurso, você não tem mais necessidade de frenar o carro com o pedal de freio
tradicional, bastando pisar ou soltar o acionamento do acelerador para fazer
com que o carro ande ou pare. Apesar de prático, isso vai demandar uma boa dose
de paciência do proprietário, já que os solavancos poderão ser frequentes nesse
modo.
Completam os itens de
segurança e conforto o Alerta Inteligente de Mudança de Faixa, Sistema
Inteligente de Prevenção de Mudança de Faixa, Assistente Inteligente de
Frenagem de Emergência, Controle Inteligente de Velocidade, Sistema de
Advertência de Ponto Cego, Alerta Inteligente de Atenção do Motorista, Sistema
de Monitoramento de Pressão dos Pneus, Alerta de Tráfego Cruzado Traseiro e ar
condicionado digital.
Som com assinatura BOSE
Algo que chama muito a
atenção nos veículos que testamos para o Canaltech recentemente é o esmero que
algumas empresas têm tido com os sistemas de som. Com o Nissan Leaf não foi
diferente. O modelo elétrico da montadora japonesa conta com a tecnologia da
BOSE: são seis alto-falantes e um subwoofer para deixar os graves ainda mais
vibrantes. Tudo isso fica potencializado com o excelente isolamento acústico,
digno de carros premium.
Ainda por cima, é lindo
Quando temos que falar pouco
sobre o design do veículo é porque ele acertou em cheio. A Nissan caprichou no
estilo do Leaf, com requintes que misturam o auge dos hatches médios com a
modernidade exigida para um carro elétrico. Como falamos acima, suas linhas lhe
proporcionam uma aerodinâmica privilegiada e um visual mais agressivo, o que
ajuda no desempenho.
A grade frontal, por sua vez,
possui um detalhe em azul e é fechada, afinal, estamos falando de um carro
elétrico. O conjunto óptico, por sua vez, é feito inteiramente em LED.
Ainda não estamos preparados.
A experiência com o Nissan
Leaf foi a melhor possível, mas dentro de situações controladas e com o
propósito de análise para essa matéria. Entretanto, se você quer mesmo comprar
um carro elétrico, seja ele qual for, atente-se para a sua estrutura local,
principalmente se você mora em cidades interioranas e não quer desprender de
muito dinheiro para instalar carregadores na sua casa.
O produto em si dispensa
comentários. Bonito, eficiente, divertido, conectado, espaçoso e econômico. Com
um Leaf, você nunca mais irá a um posto de gasolina na vida, principalmente se
o seu uso for estritamente urbano. Mas, como dissemos, ainda não estamos
preparados para que um carro desses se torne popular, principalmente por seu
preço e infraestrutura tímida, para dizer o mínimo.
Quando esse dia chegar,
preparem-se, pois os elétricos irão dominar as ruas.
O Nissan Leaf pode ser encontrado nas principais cidades brasileiras pelo preço de R$ 195 mil.
Ao
comprá-lo, a Nissan disponibilizará uma Wallbox, que será instalada em sua
residência mediante análise local de amperagem e espaço físico.
(canaltech)