Queda nos custos da energia limpa pode impulsionar ação climática na recuperação pós-COVID-19.
A energia limpa representou 184 GW de nova capacidade em 2019, 12% a mais do que em 2018.
Aumento
ocorreu com investimento semelhante ao de 2018, de US$ 282,2 bilhões, que
demonstra os benefícios da queda de custos.
A
capacidade projetada para 2030 ainda está muito abaixo do necessário para
cumprir os objetivos do Acordo de Paris.
Enquanto
a indústria de combustíveis fósseis está sendo atingida pelos impactos do
COVID-19, as energias renováveis alcançaram seu pico de lucratividade, de
acordo com um novo relatório divulgado hoje. A redução de custos é uma
oportunidade para que pacotes de recuperação econômica pós-pandemia priorizem
as energias limpas, além de aproximar o mundo do alcance dos objetivos do
Acordo de Paris.
O
relatório “Tendências Globais no Investimento em Energia
Renovável 2020”, do Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Centro de Colaboração da Escola
de Frankfurt-PNUMA e BloombergNEF (BNEF), analisa as tendências de investimento
de 2019 e os compromissos assumidos pelos países e empresas com a energia limpa
na próxima década.
O
estudo identificou compromissos que resultam em 826 GW de energia renovável não
hidrelétrica, a um custo provável de cerca de US$ 1 trilhão, até 2030. Para
limitar o aumento da temperatura global em até 2°C – o principal objetivo do
Acordo de Paris, seria necessário atingir 3.000 GW até 2030. A quantidade
exata, entretanto, depende da combinação de tecnologias escolhidas.
Investimentos
previstos até 2030 ficaram bem abaixo dos US$ 2,7 trilhões comprometidos com
energias renováveis na última década.
O relatório também mostra que o custo da instalação de energia renovável está menor, o que significa que investimentos futuros resultarão em resultados melhores. Em 2019, a capacidade de energias renováveis, excluindo grandes barragens hidrelétricas de mais de 50 MW, aumentou 184 GW, 12% a mais que em 2018. Apesar disso, o valor em dólar do investimento em 2019 foi apenas 1% maior que no ano anterior, de US$ 282,2 bilhões.
Graças a melhorias tecnológicas, economias de larga escala e concorrência acirrada em licitações, o custo total ou nivelado da eletricidade continua caindo para energia de fontes eólica e solar. No segundo semestre de 2019, as novas usinas solares fotovoltaicas reduziram custos em 83%, em comparação à década anterior.
“Cada
vez mais vozes estão pedindo aos governos que os pacotes de recuperação
pós-pandemia sejam usados para criar economias sustentáveis. Essa pesquisa
mostra que a energia renovável é um dos investimentos mais inteligentes e
econômicos que podemos fazer”, afirma a diretora executiva do PNUMA, Inger
Andersen.
“Se os governos aproveitarem a queda no valor das energias renováveis
para colocá-las no centro da recuperação econômica pós-COVID-19, daremos um
grande passo rumo a um mundo natural saudável, que é uma das nossas melhores
chances contra futuras pandemias”, explica Andersen.
Na
última década, as energias renováveis têm ocupado uma parte crescente do
mercado de geração de energia elétrica baseado em combustíveis fósseis. Quase
78% dos novos GWs gerados em 2019 correspondem a energia eólica, solar, de
biomassa, resíduos, geotérmica e pequenas hidrelétricas. Esse incremento, que
exclui as grandes hidrelétricas, foi três vezes maior que o das novas usinas de
combustíveis fósseis.
“As
energias renováveis, como a eólica e a solar, já representam quase 80% da
capacidade recém-instalada para a geração de eletricidade. O mercado e os
investidores já estão convencidos de sua confiabilidade e competitividade”, diz
a Ministra do Meio Ambiente, Proteção da Natureza e Segurança Nuclear da
Alemanha, Svenja Schulze.
“A
promoção de energias renováveis pode ser um mecanismo poderoso para a
recuperação da economia após a pandemia, criando empregos novos e seguros”,
acrescenta.
“Ao mesmo tempo, elas melhoram a qualidade do ar, o que também
protege a saúde pública. Ao promovê-las no âmbito dos pacotes de estímulo
econômico pós-coronavírus, temos a oportunidade de investir na prosperidade, na
saúde e na proteção do clima”.
O
relatório também destaca outros recordes em 2019:
As
maiores adições de energia solar em um ano, de 118 GW.
O
maior investimento em energia eólica offshore em um ano, com US$ 29,9 bilhões – um aumento de
19% em relação ao ano anterior.
O
maior financiamento para um projeto de energia solar, com US$ 4,3 bilhões, para
o Al Maktoum IV nos Emirados Árabes Unidos.
O
maior volume de contratos corporativos de compra de energia renovável, de 19,5
GW em todo o mundo.
A
maior capacidade em licitações de energia renovável, de 78,5 GW em todo o
mundo.
O
maior investimento em energias renováveis em economias em desenvolvimento, sem
considerar a China e a Índia, totalizando US$ 59,5 bilhões.
Investimentos
cada vez maiores: um recorde de 21 países e territórios investindo mais de US$
2 bilhões em energias renováveis.
“Vemos que a transição energética está em pleno andamento, com a
maior capacidade de energias renováveis já financiadas. Enquanto isso, o
setor de combustíveis fósseis foi duramente atingido pela crise do COVID-19,
com muitos países enfrentando a queda nos preços do petróleo e na demanda por
eletricidade movida a carvão e gás”, afirma o presidente da Escola de Finanças
e Administração de Frankfurt, Nils Stieglitz.
“A crise climática e a crise do COVID-19, apesar de suas naturezas
distintas, são rupturas que chamam a atenção tanto de formuladores de políticas
públicas quando de gestores. Ambas demonstram a necessidade de maior ambição
climática e de mudança das matrizes energéticas rumo às renováveis”.
Em
2019, a participação de fontes renováveis na geração global de energia, sem
considerar as grandes hidrelétricas, subiu para 13,4%, ante 12,4% em 2018 e
5,9% em 2009. Isso significa que as fontes de energias renováveis impediram a
emissão de aproximadamente 2,1 gigatoneladas de dióxido de carbono em 2019. Isso
representa uma economia substancial, dadas as emissões globais de
aproximadamente 13,5 gigatoneladas em 2019.
“Tivemos um enorme progresso na última década, mas as metas
oficiais para 2030 estão muito aquém do necessário para lidar com as mudanças
climáticas. Quando a atual crise diminuir, os governos precisarão olhar não
apenas para a energia renovável, mas também para a descarbonização dos meios de
transportes, da construção civil e das indústrias”, conclui. (ecodebate)
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