Essa tentativa de
corresponder ao “Politicamente correto”, ao “Conscientemente Sustentável” e ao
“Revolucionário” estaria realmente beneficiando a sociedade? O termo “Leigo
Curioso” é usado porque, mesmo o texto tratando sobre assuntos complexos, quis
me aventurar na esfera automotiva e até mesmo na química para sanar
questionamentos próprios e, talvez, gerar novos. Eis o motivo do Leigo: sou um
leigo completo com relação aos assuntos presentes. Mas também o motivo do
Curioso: buscar respostas num mundo onde a “desinformação” cresce
propositadamente e a passos largos.
- Pois bem, quanto ao “Motor”
do veículo: Considerando a Força de Torque de um carro elétrico perante a de um
carro a combustão, ela se mostra imensamente mais potente, isso porque enquanto
um carro a combustão precisa alcançar uma rotação maior para gerar seu torque
máximo (que aumenta conforme a rotação do motor aumenta), o motor elétrico,
porém gera torque imediatamente (igual quando ligamos um ventilador: ele não
demora a acelerar as hélices, isso porque o motor elétrico gera muito Torque
imediatamente)
Qual seria a desvantagem então? Considerando que os acidentes de trânsito estão entre as 10 maiores causas de morte no mundo, segundo estudo de 2018 da OPAS, esses números teriam um aclive pela inexperiência dos condutores com tamanha tração num intervalo de tempo tão curto.
- Imaginemos um engarrafamento numa rodovia. Um toque no acelerador bastaria para que o carro saísse da inércia. Essa aceleração brusca poderá, nas mãos de condutores inexperientes ou irresponsáveis, causar inúmeros acidentes. Em estacionamentos onde há a necessidade de se manobrar o carro para encaixá-lo em uma vaga, os números de batidas em outros veículos seriam altíssimos, sem contar atropelamentos.
- Outro fator importante
sobre essa nova modalidade de veículos é que eles não produzem ruídos como os
usuais. O ruído de um motor a combustão é característico, exagerado e muitas
vezes “marca registrada” de uma empresa, como por exemplo, o barulho das motos
“Harley Davidson”. Mesmo que muitos carros possuam abafadores para suprimir o
ruído é possível ouvir claramente quando seu motor está ligado ou desligado.
- Porém, o futuro promete
cada vez menos ruídos produzidos pelos veículos. Não levemos isso como algo
ruim, problemas sonoros em cidades grandes diminuiriam, e muito, com o advento
de motores silenciosos, mas o problema está naquilo que as pessoas ainda
provavelmente não perceberam.
- Pedestres hoje, em sua
grande maioria, acham que podem atravessar faixas de pedestre em plena
segurança sem nem mesmo olhar para ver se há algum veículo se aproximando.
Pessoas que ignoram a sinalização de semáforos e se “atiram” nas faixas de
pedestres tendo certeza de que os veículos pararão por estarem no uso pleno de
seu direito de atravessar. Pessoas que, por desatenção, estresse, preocupação,
embriaguez e por outros fatores atravessam a rua ignorando a presença de
veículos, não “olhando para os dois lados” e apenas baseando-se pelos ruídos —
ou falta deles.
- Não podemos negar que
existem pessoas atentas e desatentas e que em vários momentos nos orientamos
mais pelos sons do que pela visão, como, por exemplo, atravessar a rua. Caso o
carro elétrico seja um que esteja passando quando uma pessoa for atravessar a
rua, ele não produzirá ruídos para alertar o transeunte, podendo, caso ambos
estejam desatentos, causar um acidente que poderia ser evitado. E quanto às
pessoas cegas? Elas que definitivamente não podem valer-se da visão para ir de
um ponto a outro teriam de ter uma atenção redobrada para tentar ouvir se há ou
não um veículo se aproximando. Em uma cidade grande, porém, essa tentativa
seria mais do que nula, deixando-a mais vulnerável.
- O avanço de sinal fechado
dos semáforos é comum e acontece em todas as cidades do Brasil e talvez do
mundo. Seria, portanto, ingenuidade considerar que com carros silenciosos esses
infratores respeitariam a sinalização evitando causar acidentes. Isso apenas
intensificaria as chances de um acidente ocorrer.
- A realidade é a de que acidentes de trânsito podem aumentar muito. A falta de ruídos provocados pelos motores elétricos é uma inovação, mas também um perigo para os desatentos e os imprudentes, portando é preciso cautela de ambas as partes para evitar acidentes.
- Quanto à questão da energia do carro, ela é fornecida por meio de baterias. Elas seriam ecologicamente sustentáveis de serem produzidas ou danificariam o meio ambiente?
- A Produção dos motores
elétricos seria mais custosa e menos sustentável do que a dos motores comuns a
combustão porque envolve a mineração de um minério menos abundante no planeta
do que o ferro: o Lítio. Ao pesquisarmos nos navegadores online sobre a
“Porcentagem de ‘ferro’ no planeta”, por exemplo, encontramos a resposta de que
apenas 4% da superfície da Terra é composta por ferro. Em contrapartida apenas
0,004% dessa superfície é composta por Lítio. Isso significa que (explorações
pelo mineral) seriam no mínimo 1000 vezes mais intensas do que são em
comparação ao ferro para se equipararem em produção hoje. Essa mineração
intensa causaria devastações em diversas regiões onde o minério se encontra,
além de poluição e outros fatores ambientais que devem ser muito bem medidos
antes de colocada em prática. Seria possível o desenvolvimento de novas formas
de mineração eficientes o suficiente para substituir as atuais? As antigas
podem ser melhoradas? Quanto custaria para manter o maquinário dessas minas?
- E qual seria o custo de uma
bateria elétrica para um veículo? Os preços variam muito e ainda são
desconfortáveis para muitos brasileiros. As baterias hoje começam seus custos
em R$10.000 e engordam conforme o valor do veículo aumenta. Porém, está
acontecendo uma “corrida” para produzir baterias mais eficientes. Previsões
estimam que até 2025 essas baterias já tenham superado a autonomia dos carros
convencionais a combustão e tornem-se uma opção mais rentável para os
consumidores, um fenômeno nomeado de “Paridade”.
- Há ainda mais um problema:
abastecer um carro convencional é muito mais rápido e prático do que um
elétrico. Os convencionais abastecem-se pela injeção de combustível em seus
tanques diretamente de postos de gasolina e demoram questão de minutos para
serem abastecidos e o serviço ser pago. Já os elétricos carregam da mesma forma
que um celular: devagar e sempre. Para aqueles que desfrutem de placas
fotovoltaicas em casa esse problema pode diminuir um pouco, mas o tempo
despendido para carregar o veículo continua o mesmo. Em casa, utilizando
aparato adequado para que não haja riscos de explosão, danos na rede elétrica
ou até mesmo no próprio veículo, levariam horas para que o veículo fosse
totalmente carregado. Em postos de carregamento seriam necessárias por volta de
2 horas para que a carga fosse completa. Se a bateria de um celular demora
quase 1 hora para ser carregada hoje, a de um carro não será mais rápida.
- Pensando em uma viagem em
família do interior do estado de São Paulo até o litoral, por exemplo, ela
deveria ser interrompida por pelo menos 2 horas para que o carro possa ser
recarregado, o que aconteceria muito provavelmente antes que pudessem atingir o
final da viagem. Além disso, no Brasil há pouquíssimas estações de
carregamento: a maioria na Região Metropolitana de São Paulo, alguns poucos
postos no Rio de Janeiro e um ou dois em Minas Gerais. Isso quer dizer que
dependeríamos de mais postos espalhados pelo país para que o consumo desse tipo
de tecnologia começasse a ser viável e, mesmo assim, o tempo despendido para
carregamento não se igualaria em nada ao do abastecimento de veículos comuns.
- Mirando um pouco “fora da
caixa”, os primeiros veículos surgiram séculos atrás e eram baseados em tração
animal. Posteriormente surgiram os veículos automotores, movidos principalmente
por carvão (um mineral fóssil sólido). Quase nos anos de 1900 os primeiros
carros movidos a combustíveis líquidos surgiram e são usados até hoje
(obviamente considerando avanços tecnológicos que melhoraram esses veículos,
mas a base é a mesma). Considerando os “estágios” da evolução dos veículos, não
seria errôneo considerar que, ao sairmos da tração animal e percorrermos 2
estados fundamentais da matéria como forma de combustível, o correto é apenas
pular o estado gasoso e partir direto para a eletricidade? Não seria prudente
investir no combustível gasoso (que é considerado “verde”) em vez de avançarmos
para o elétrico “de cara”? . Seria uma questão de “dar passos conforme o
tamanho da perna” ou “não colocar a carroça na frente dos bois”, já que estamos
falando de veículos.
- Hoje a autonomia de um veículo elétrico top de linha é de quase 400 km, mas o veículo movido a hidrogênio tem autonomia de mais de 600 km com um “tanque”. Seu preço para ser abastecido de €$ 60 (R$ 400) decorre de um mercado que ainda engatinha e mesmo assim parece inovador e promissor. A tecnologia que seria desenvolvida para o carro movido a hidrogênio, posteriormente quando estiver mais avançada, poderia ser usada como base para desenvolver carros elétricos mais potentes do que os presentes hoje. Existem diversos benefícios a serem explorados na tecnologia da combustão do hidrogênio e existem estudos que comprovam isso.
- Também, mas não menos importante, a ocorrência de acidentes com baterias de lítio deve ser ponderada. Vídeos pela internet mostram veículos elétricos explodindo, causando acidentes graves e deixando o próprio veículo destruído. Cabe dizer que essas baterias são feitas pelo minério Lítio. Ao pesquisar sobre a reação do Lítio na água, constata-se que o composto se dissolve nela e emite um gás altamente inflamável. Reação: 2Li [S] + 2 H2O [L] → 2LiOH [AQ] + 2 H2 [G].
- Baterias, tanto de celular
quanto de carros elétricos podem explodir, e sua explosão produz gases e fogo.
Pessoas despreparadas para lidar com esses veículos certamente tentariam apagar
o fogo com água, o que apenas pioraria a chama e causaria novas explosões pelo
contato da bateria de lítio com a água, juntamente do fogo com o gás inflamável
emanado pela primeira reação. Dessa forma, o descuido e o desconhecimento das
pessoas poderiam causar acidentes. Até mesmo bombeiros precisam estar atentos a
essas circunstâncias para evitar novas explosões.
- Então para evitar esses acidentes
o país precisa de normas de segurança para regulamentar a produção e controle
de qualidade, tanto dos veículos quanto de postos de carregamento para que
explosões e acidentes sejam evitados. Também vale refletir como acontecerá a
manutenção dos veículos e baterias, se será imensamente custosa e de que forma
será feita? Tais medidas desbancarão inúmeras concessionárias e oficinas
mecânicas ou alavancarão um novo ramo no mercado? O pessoal que trabalhará com
esses novos veículos precisará de conhecimentos específicos para saber lidar
com problemas eventuais e, dessa forma, encarecerá a mão de obra no país?
- E como será feito o
descarte do material usado, velho ou quebrado? Para onde essas baterias de
lítio irão? Hoje há empresas que recebem as baterias, mas como esse material
chegará até tais empresas? Certamente isso despenderá dinheiro público ou
investimentos dessas empresas para abranger locais de coleta de resíduos.
- Aparentemente não há ainda
legislação que regulamente o descarte correto, e muito menos fiscalização
severa.
- Portanto o carro elétrico no Brasil, segundo esse ponto de vista, ainda é uma escolha equivocada. Essa tecnologia é sem dúvida revolucionária e merece ser pesquisada e melhorada, mas enquanto esses melhoramentos não ocorrerem e seus efeitos tanto em infraestrutura quanto em legislação não se fizerem presentes no Brasil, os veículos comuns parecem ser a melhor opção.
(ecodebate)
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