Saldo de empregos em um
cenário de zero emissão em 2050 pode chegar a 8 milhões;
Acelerar a descarbonização e
a eletrificação no Brasil trará benefícios que vão muito além dos ganhos ambientais,
com impactos econômicos e sociais significativos para o país, como a
possibilidade de um saldo de 8 milhões de novos postos de trabalho em 2050.
Esta é uma das conclusões do estudo “Caminhos para a Transição Energética no
Brasil”, desenvolvido pela Deloitte, maior organização de serviços
profissionais do mundo, a pedido da Enel, maior empresa privada do setor
elétrico brasileiro.
Elaborada para apontar
cenários e subsidiar a adoção de políticas públicas que ajudem o Brasil a
acelerar a transição energética e a alcançar os compromissos firmados no Acordo
de Paris, a análise aponta que é viável alcançar um cenário de zero emissão no
Brasil até 2050, a partir do envolvimento dos principais setores produtivos, de
avanços regulatórios e de medidas governamentais de incentivo à transição. A
expectativa é de que a versão final do estudo seja entregue a representantes do
governo brasileiro antes da COP 27 — Conferência das Nações Unidas Sobre
Mudanças Climática, prevista para novembro, no Egito.
Realizado com a contribuição
de representantes dos setores público e privado, o estudo está baseado em dois
cenários distintos vislumbrando as mudanças necessárias para tornar a matriz
energética do Brasil mais limpa. No primeiro, são apresentados resultados mais
conservadores, que mostram maiores níveis de emissões de gases de efeito estufa
(GEE) até 2050.
O segundo cenário aponta para
um quadro de zero emissão líquido de carbono em 2050 em linha com o que está
traçado na NDC brasileira — a Contribuição Nacionalmente Determinada, que
apresenta as metas do país para redução de emissões de GEE no Acordo de Paris,
o que demonstra que apesar do pouco tempo, de menos de 30 anos, seria possível
encaminhar o país para uma economia de baixo carbono.
No cenário net zero, além do
saldo de 8 milhões de novos postos de trabalho, a análise estima um crescimento
líquido total de 3% no PIB do Brasil até 2050 motivado pelas ações ligadas à
descarbonização e eletrificação. Segundo o estudo, a área de Construção seria a
principal geradora de novos empregos, diante das medidas adotadas pelo país
para acelerar a transição energética, graças, sobretudo, à construção de novos
empreendimentos de geração renovável, como os parques eólicos e solares.
Estima-se ainda que a participação feminina na força produtiva do setor de
energia cresceria de 22% para 32% no cenário net zero proposto no estudo.
“A transição energética já é
uma realidade e muitas empresas, autoridades e outros representantes da
sociedade civil estão empenhados em frear emissões e assegurar o nosso futuro.
O que este movimento da Enel busca, a partir dos esforços consolidados neste
estudo, é mostrar que podemos acelerar essas mudanças e gerar impactos sociais
e econômicos positivos para a sociedade brasileira a partir de uma nova
realidade que se impõe. Se as premissas apontadas pelo estudo não se
confirmarem, o Brasil não alcançará o net zero em 2050 e perderá uma
oportunidade única. Precisamos manter ligado este senso de urgência”, defende
Nicola Cotugno, Country Manager da Enel no Brasil. “O setor elétrico tem feito
a sua parte e desempenhado um papel fundamental na transição energética,
acelerando, por exemplo, a participação das fontes renováveis na matriz
elétrica, mas é preciso ir além e apoiar as transformações necessárias em todos
os setores. A Enel lidera este movimento, no Brasil e no mundo, antecipando
seus compromissos para neutralizar suas emissões diretas e indiretas e focando
seus investimentos em soluções que auxiliem a sociedade nos desafios da
descarbonização e da eletrificação”.
“A descarbonização é um tema urgente e que deve ser tratado como prioridade pelos indivíduos, pelas organizações e autoridades. Já sabemos que é impossível termos uma sociedade sustentável, com desenvolvimento e prosperidade econômica sem o envolvimento e a atuação conjunta de todos os agentes”, destaca Guilherme Lockmann, sócio e líder de Power e Utilities da Deloitte. “Este estudo que a Deloitte conduziu traça justamente cenários e aponta caminhos para uma transição energética no Brasil, que trará benefícios ambientais, sociais e econômicos, incluindo a criação de novos postos de trabalho e crescimento do PIB”.
Como será o modelo energético brasileiro
O estudo também traz um
comparativo do modelo energético brasileiro em 2050, diante dos dois cenários
possíveis que serviram como premissa para as análises. Enquanto no cenário mais
conservador, a capacidade instalada de energia renovável fica em 65% e 93% (sem
e com hidrelétricas), o percentual sobe para 76% e 95% com a implementação de
políticas mais enfáticas.
No mesmo comparativo da matriz energética brasileira projetada para 2050, a geração de energia renovável, exceto hidrelétrica, passa dos 938TWh, em um panorama mais conservador, para 1.759 TWh com a adoção de esforços para atingir o cenário net zero. Já o uso de energia elétrica na vida cotidiana cresce dos atuais 20% para 32%, no cenário de referência, e para 44%, no de neutralidade de emissões.
Fontes verdes
No cenário net zero, o
consumo de eletricidade no Brasil é suprido principalmente por fontes verdes,
sendo as energias eólica e solar responsáveis, juntas, por 63% dos 2.422TWh
estimados para 2050. No cenário mais conservador, eólica e solar representam,
juntas, 48%, com geração total estimada em 1.752TWh para 2050. Neste quadro, a
geração térmica ainda responde por cerca de 10% da matriz elétrica brasileira.
Hidrogênio verde
O hidrogênio verde se apresenta como complemento para a eletrificação, em especial para setores intensivos em carbono, como indústrias químicas e siderúrgicas. O estudo também aposta no potencial do Brasil para se tornar um exportador do “combustível do futuro”. No cenário net zero, toda a exportação de hidrogênio seria verde, cuja participação alcançará, em 2050, 96% do hidrogênio produzido.
Mudanças nos hábitos de consumo
A análise aponta que a
jornada brasileira rumo à neutralidade das emissões irá modificar por completo
a relação da nossa sociedade com o consumo e a escolha das fontes de energia
para atividades cotidianas. A mobilidade elétrica, por exemplo, estará difundida
tanto nos transportes públicos como na mobilidade privada, gerando economia
significativa para seus usuários e melhorando a qualidade de vida nos grandes
centros urbanos.
O estudo prevê que já a partir de 2025 os carros elétricos passarão a ser uma opção mais barata do que os carros tradicionais movidos à combustível fóssil. Esta mudança se dará por uma série de motivos, como a redução significativa no custo das baterias, além de medidas de incentivo à circulação de modelos elétricos, que vão desde a redução no valor de estacionamento até a implementação de políticas para diminuir o custo de aquisição de veículos eletrificados e seus componentes, com a redução de impostos. A participação de veículos elétricos no mercado automotivo, que em 2019 era de 0,01%, seria de 85% em 2050, no cenário net zero.
Recomendações aos setores estratégicos
Além de traçar cenários, a
análise apresentada pela Enel e pela Deloitte traz recomendações aos setores
estratégicos da economia nacional, indicando ações necessárias para que o
Brasil alcance a neutralidade das emissões. Para o setor industrial, por
exemplo, será primordial gerir de forma estratégica o consumo de energia nas
plantas produtivas. No segmento agrícola, é indicada a eletrificação do
maquinário produtivo. Nas residências, comércios e prédios públicos, uma medida
eficaz será ampliar o uso de aparelhos não elétricos por elétricos, incentivar
edificações com maior automação e melhorar os sistemas de aquecimento,
ventilação e refrigeração. Para a área de transportes, além da eletrificação da
mobilidade, o estudo indica a implementação de semáforos inteligentes e a
melhoria e integração das ciclovias com modais públicos. Já nos setores não
energéticos, ou seja, pecuária, uso do solo, silvicultura e resíduos, são
fundamentais ações como a redução do desmatamento e a promoção do aumento da
área de plantações florestais. A gestão de resíduos também merece um olhar atento,
com a transformação da indústria para uma economia circular e a construção de
aterros sanitários com captação de gás.
O estudo também faz uma ressalva sobre a necessidade de sólidos investimentos em linhas de transmissão de energia. O aporte necessário para ampliar a malha nacional estaria entre 166 bilhões e 178 bilhões de dólares até 2050. Embora a eletrificação dos usos finais aumente 29% nos dois panoramas avaliados pelo estudo, a necessidade de investimento em redes aumenta apenas 7,2% do cenário mais conversador para o net zero. Isso acontece, principalmente, devido ao aumento do uso de baterias como fonte de armazenamento de energia verde, além do incremento da geração distribuída, que demanda menos investimentos em linhas de transmissão em relação à grandes usinas.
Estes necessários investimentos para que o Brasil avance na transição energética e alcance a neutralidade de emissões ainda são menores do que o chamado custo social do carbono. Estes danos representam um impacto financeiro para a sociedade e para as futuras gerações, que aparece em forma de impostos e investimentos públicos e privado para lidar com os efeitos das mudanças climáticas. Perdas nas colheitas, adaptações ao aumento do nível do mar, combate a incêndios florestais e medidas para proteger comunidades de enchentes são apenas alguns exemplos dos danos que as emissões de Gases de Efeito Estufa causam à economia e à sociedade. O estudo reforça, portanto, que o Brasil possui uma oportunidade de combater as mudanças climáticas economizando, ou seja, gerando um benefício social.
A transição energética no Brasil: uma visão em 5 Ds
A urgente redução de emissões
trouxe à tona um termo cujo significado tem sido, em geral, mal compreendido: a
transição energética. (ecodebate)
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