domingo, 30 de junho de 2013

Materiais orgânicos na produção de combustíveis

Uso de materiais orgânicos na produção de combustíveis tende a aumentar, diz pesquisados
Embora a maioria não note a diferença no cotidiano, a geração de energia e a fabricação de produtos a partir da biomassa – matéria orgânica, animal ou vegetal – já se tornaram realidade. A eletricidade gerada do bagaço de cana-de-açúcar abastece as próprias usinas sucroalcooleiras e alguns lares brasileiros. O mesmo bagaço pode ser usado na produção de papel. Do etanol, biocombustível feito da cana extrai-se compostos como polietileno para fabricação de embalagens plásticas. A partir de resíduos de soja e sebo bovino é possível produzir outro combustível renovável, o biodiesel.
O uso do material orgânico tende a crescer, pois há pesquisas em curso para descobrir mais aplicações. Muitas são conduzidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Segundo o pesquisador José Manuel Cabral, chefe de Transferência de Tecnologias da Embrapa Agroenergia, entre os estudos desenvolvidos está um para obter fibras de celulose a partir de resíduos do dendê. O pesquisador vê um futuro com cada vez mais biorrefinarias, nome usado para designar um conceito recente análogo ao das refinarias, que são unidades onde o petróleo é processado.
Apesar do interesse na biomassa, as matrizes energéticas renováveis não devem substituir completamente as não renováveis tão cedo. De acordo com o mais recente Balanço Energético Nacional da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), referente a 2011, 44,1% da oferta interna de energia no país provinham de fontes renováveis como hidráulica, eólica, etanol e biomassa, enquanto 55,9% originavam-se de combustíveis não renováveis. “Levando em conta a projeção da EPE, para 2030 o que vai haver de importante é o gás natural, que é um combustível fóssil. Estamos investindo muito em petróleo, e as reservas de petróleo têm gás natural também. O uso do petróleo vai diminuir e o da biomassa vai subir um pouco”, explica José Manuel Cabral.
Agência Brasil - O que é a biomassa e por que ela está se tornando uma aposta e uma alternativa aos combustíveis fósseis?
José Manuel Cabral - Na sociedade atual, você tem algumas fontes de combustíveis e produtos químicos. O petróleo, o gás natural, o carvão são combustíveis fósseis. Deles é possível extrair alguns produtos que são chamados blocos construtores. Você tem que chegar à molécula e [ela] servirá para um monte de coisas. [Para produzir] plásticos, pneus, remédios. Os polímeros, como o polietileno, dão origem ao plástico. As grandes fontes de combustíveis e matérias-primas são essas, além da biomassa, sobre a qual a gente está intensificando as pesquisas. Biomassa é tudo que é orgânico. Por meio de processos químicos que a transformam, ela se torna gás, líquido e sólido. No Brasil, em relação a combustíveis, a situação é um pouco diferente do resto do mundo. Temos uma matriz energética com alta participação das fontes renováveis e, como consequência, também da biomassa. Temos hidrelétrica, queima de lenha, etanol. A energia usada a partir da cana-de-açúcar inclui etanol e bioeletricidade, gerada a partir do bagaço da cana. O uso do etanol e bagaço chega a superar o da energia das grandes usinas hidrelétricas. Segundo dado oficial da EPE, 15,7% de toda energia usada no Brasil vêm da cana e 14,7%, das hidrelétricas.
ABr - A bioeletricidade do bagaço de cana já está chegando às casas no Brasil?
Cabral - Sim. Ela abastece as próprias usinas, mas muitas [delas] têm excedentes e jogam para a rede de distribuição. Por meio de leilões, ela chega às casas.
ABr – Quais as vantagens do uso da biomassa?
Cabral - A mais importante em termos mundiais é que quando você usa uma fonte desse tipo, renovável, você diminui a emissão dos gases de efeito estufa. No caso da cana e do eucalipto, por exemplo, a planta absorve gás carbônico. Uma parte do que é gerado na queima do combustível é absorvida de novo. Em termos locais, no Brasil, a produção da biomassa tem efeito de geração de emprego e desconcentração de renda. O petróleo é explorado por algumas poucas grandes empresas. No caso da produção de cana, soja, florestas energéticas, estamos falando de centenas de milhares de produtores. Há ainda o próprio fato de que são fontes renováveis, não vão acabar. A questão dos resíduos também ganha importância. Os resíduos da biomassa eram problemas ambientais e hoje são fontes de matéria-prima. É o caso do sebo bovino. Nos frigoríficos, [ele] era vendido como sabão ou jogado fora. Muito rico em gordura, ele causava grandes problemas ambientais. Hoje é usado para produção de biodiesel. O bagaço da cana também sempre foi queimado. A folha da cana não era aproveitada. Há dez anos, antes de cortar, queimava-se a folha e isso liberava gás carbônico para a atmosfera. Hoje ela é usada para produzir mais etanol. É o chamado etanol celulósico.
ABr – Que tipo de pesquisas estão sendo conduzidas na Embrapa a respeito desse tema? Qual será o futuro, o próximo passo em relação à biomassa?
Cabral – Há várias pesquisas para melhorar o aproveitamento do resíduo [de biomassa], novos materiais. Temos aqui pesquisas com fibras que podem ser usadas para muita coisa. Há um projeto que a gente chama de nanofibras de celulose, a partir dos resíduos do dendê. Um outro [projeto] usa a glicerina, produzida junto com biodiesel, como matéria-prima para o xilitol e o sorbitol. Os dois são álcoois muito importantes, com aplicação na indústria. O sorbitol é usado como conservante de alimentos. Para o futuro, a tendência é aumentar o número de biorrefinarias. Assim como existe a refinaria de petróleo – onde ele chega e é desmembrado em combustíveis, produtos para a indústria química, asfalto –, a biomassa chega à biorrefinaria e é transformada em vários produtos. Entre eles estão os biocombustíveis, alimentos, as rações animais, os produtos químicos, a bioeletricidade. As atuais biorrefinarias são as usinas de açúcar e álcool e as fábricas de biodiesel. O conceito de biorrefinaria, que é recente, deve se tornar mais popular.
ABr – Quais as perspectivas para o futuro da matriz energética brasileira?
Cabral – De toda a energia que consumimos no Brasil, mais de 30% vêm do petróleo. Você tem toda uma cadeia produtiva, refinarias, indústrias. O grande motivo de [isso] continuar sendo tão importante é que esses polos não podem ser abandonados. Levando em conta a projeção da EPE para 2030, o que vai haver de importante é o gás natural, que é um combustível fóssil. Estamos investindo muito em petróleo, e as reservas de petróleo têm gás natural também. O uso dele vai diminuir e o da biomassa vai subir um pouco. (EcoDebate)

Japão desenvolve etanol de resíduos agrícolas

Japão desenvolve etanol de resíduos agrícolas a preço competitivo
A japonesa Kawasaki Heavy Industries Ltd disse que desenvolveu tecnologia para produzir combustível para carros a partir de resíduos agrícolas a um custo competitivo com o etanol importado, inclusive do Brasil, feito a partir de produtos alimentícios, como cana-de-açúcar.
A substituição dos combustíveis fósseis por bioetanol para automóveis pode ajudar a reduzir emissões de dióxido de carbono (CO2), substância que contribui para o aquecimento global, mas o custo de produção e a competição com fontes de alimentos reduzem o seu apelo.
Um estudo de cinco anos, subsidiado pelo governo japonês, provou que a nova tecnologia da Kawasaki Heavy, se introduzida no mercado, pode produzir etanol a partir da palha de arroz, a um custo de 40 ienes (40 centavos de dólar) por litro, disse a empresa.
Se os custos de coleta dos resíduos de palha do cultivo de arroz no Japão forem adicionados, o custo seria de 80 ienes por litro, disse um porta-voz da empresa.
Isso se compara com 80 a 100 ienes por litro para a importação de etanol do Brasil, disse um funcionário do Ministério de Agricultura do Japão.
Companhias petrolíferas japonesas atualmente usam um aditivo feito a partir do etanol brasileiro para misturar com a gasolina para ajudar o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo nos esforços de reduzir o aquecimento global.
O porta-voz da Kawasaki disse que a empresa não tem um plano específico para a produção comercial e acrescentou que a tecnologia seria competitiva em um país com recursos de biomassa amplos, com custos trabalhistas mais baixos, como o Brasil e nações do Sudeste Asiático.
O governo japonês é mais cauteloso sobre as perspectivas para essa tecnologia.
Quando o Ministério da Agricultura traçou planos para a tecnologia de produção de bioetanol, em setembro, disse que levaria cerca de cinco anos antes que a produção comercial de etanol a partir de produtos não-alimentícios fosse economicamente viável. (EcoDebate)


Rendimento de óleo das Sementes

As oleaginosas promissoras para a produção do biodiesel devem ter avaliadas suas reais potencialidades técnicas e seus efeitos secundários como o aproveitamento dos seus subprodutos e em função desse diagnóstico, modelar essa produção, considerando as características da regionalização como sazonalidade e escala periódica, para definição de qual tecnologia é aplicável, qual o tamanho das unidades produtoras e principalmente os aspectos relacionados à qualidade do biodiesel, fatores que implicam na sua aceitação pelo mercado.
Com relação à seleção de óleos vegetais com potencial tecnológico para a produção de biodiesel, existem os óleos monoinsaturados, que necessitam ser mais bem investigados quanto aos seus problemas, como o índice de iodo. Outra categoria seriam os óleos de características únicas, como é o caso do óleo de mamona. Existe uma categoria extremamente importante, que são os óleos laurílicos, derivados das palmáceas, que por serem saturados conferem as melhores propriedades ao biodiesel. Ésteres destes últimos tem estabilidade à oxidação significativamente melhor. (biodieselbr)

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Por uma nova política energética

Os especialistas da área energética do governo federal, inclusive a mais “famosa” e que ocupa o principal cargo público da nação, têm demonstrado o quanto suas decisões estão na contramão da história.
O Brasil, elogiado até então por contar na sua matriz elétrica com mais de 80% de sua geração com fontes renováveis de energia, em particular as hidrelétricas, não tem levado em conta a nova realidade do papel mundial das fontes renováveis de energia. Indo mesmo na direção contrária, conforme atestam os dados produzidos pelo próprio governo, e de decisões tomadas. Segundo o último inventário de emissões de gases de efeito estufa 2005-2010, lançado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); houve no setor de energia uma alta das emissões no período, de 21,4%.
Com o mesmo discurso do desconhecimento do setor energético, a presidente repetiu a “chantagem” feita pelo seu antecessor. No passado recente foi dito que, ou se aceitava a construção de mega-hidrelétricas na Amazônia, ou teríamos que conviver com novas usinas nucleares. Agora o discurso proferido em abril último é de que, ou se constrói novas hidrelétricas ou aumenta-se a participação das termelétricas a combustíveis fósseis na geração energética.
Só que não dá mais para continuar a enganar ninguém, pois a opção declarada e escrita do governo federal, que consta no Plano Nacional de Energia 2030 (PNE), é de ofertar energia elétrica construindo mega-hidrelétricas, termelétricas a combustíveis fosseis e novas usinas nucleares.
Ao mesmo tempo, se concentra na indústria brasileira do petróleo (o maior vilão do efeito estufa) em torno de 2/3 dos investimentos feitos pelo país no setor energético.
Para alguns, a surpresa maior foi à portaria 137 de 30/4/2013 do Ministério de Minas e Energia (MME), liberando usinas térmicas a carvão mineral – a fonte de energia que mais libera CO2 entre todos os combustíveis fósseis, além de outros gases tóxicos, como o enxofre – a participar do leilão de energia elétrica A-5, programado para agosto próximo. O que contribuirá efetivamente para um aumento da participação desta fonte energética, que hoje corresponde a 1,5% da matriz elétrica do país. Ao mesmo tempo foi proibida a participação da energia eólica neste leilão.
Mesmo que a energia nuclear esteja sendo questionada mundialmente, devido aos riscos de acidentes, o Brasil irá investir R$ 850 milhões no setor, e ainda prevê a construção de um reator multi-propósito. Além, dos R$ 10 bilhões na construção de Angra 3. No PNE esta previsto ainda até 2030, a construção de mais 4 usinas nucleares, sendo 2 no Nordeste, e mais 2 no Sudeste. Tudo isto com a defesa apaixonada pela energia nuclear do atual ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (como seus antecessores já haviam feito), que chegou a declarar que a reativação do programa nuclear brasileiro para fins pacíficos é “um dos principais programas da pasta”, do qual ele “não abre mão”. Pode-se contrastar este depoimento, com o que falou o eminente físico Robert Oppenheimer, responsável pela construção da primeira bomba atômica, quando visitou o Brasil, em 1953: “Quem disser que existe uma energia atômica para a paz e outra para a guerra, está mentindo”.
O que acontece na área energética se assemelha ao “modus operandi” como as decisões e opções nefastas têm sido adotadas em outras áreas. Sem consulta e participação popular verificam-se decisões completamente autocráticas e descoladas dos anseios da maioria da população. Decisões que afetam não só as gerações atuais como as futuras.
Opções existentes e são apontadas por inúmeros documentos produzidos pela comunidade acadêmica e organizações não governamentais que militam na área energética. Por exemplo, o relatório O Setor Elétrico Brasileiro e a Sustentabilidade, lançado em novembro de 2012, mostra a potencialidade da energia solar e eólica no Brasil. Estas fontes são menosprezadas nas políticas públicas. Este documento aponta que, com as tecnologias atuais de energia solar, seria possível atender a 10% da demanda atual de energia elétrica do Brasil. No caso da energia eólica, o potencial inexplorado chega a 340 GW, quase três vezes o total da capacidade elétrica instalada atualmente no país.
Sem contar com outras medidas factíveis, como a implantação de programas de eficiência energética e redução de demanda. Segundo estudo da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), cerca de 10% do total consumido anualmente (430 TWh) são desperdiçados, volume superior ao consumido pelo total da população do estado do Rio de Janeiro, que alcança cerca de 36 TWh.
Alternativas existem, e daí a necessidade urgente de se discutir uma Nova Política Energética para o Brasil. Este assunto foi debatido em um seminário nos dias 23 e 24 de maio último em Brasília, promovido pelo Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social, e que teve ao seu final o lançamento de um documento assinado por mais de 40 organizações, instituições e pesquisadores presentes, intitulado “Mensagem a Sociedade Brasileira Por uma Nova Política Energética”. Neste documento a sociedade, os participantes não aceitam mais o modelo autocrático em que são tomadas as decisões, pregam a urgência na mudança de rumo no setor energético, exigindo ampla participação e controle social em uma área estratégica do país. (EcoDebate)

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Eólicas já receberam R$ 8,9 bilhões do BNDES

De 2005 a 15 de maio de 2013, último dado disponível, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou R$ 8,9 bilhões para financiamento de usinas eólicas. São cerca de 90 em operação no País, e mais de 80 estão em construção.
Para o chefe do Departamento de Energias Alternativas do BNDES, Antonio Carlos de Andrada Tovar, o mercado de energia eólica "é superpromissor". "O preço do leilão no ano passado foi de R$ 89 o megawatt/hora", diz. "Quando comparamos o custo da eólica no Brasil com projetos de outras partes do mundo temos um dos preços mais competitivos." Em 2012 foi R$ 89; em 2011, R$ 105. Quando o real se valorizar, esse conceito pode variar, segundo Tovar.
"Se o dólar se valoriza, obviamente, o equipamento fica mais caro. Mas US$ 50 o MW/h é competitivo em qualquer lugar do mundo." Tovar insiste que as eólicas têm impacto ambiental muito mais suave que outras formas de produção de energia. "Basicamente, você tem a torre do aerogerador. Quer dizer, tem um trabalho de escavação relevante. Mas quando você compara com as outras alternativas para geração de energia, sem sombra de dúvida o impacto de uma eólica é muito menor do que o de uma térmica a carvão, uma térmica a óleo combustível, uma grande hidrelétrica ou mesmo uma pequena central hidrelétrica (PCH)."
Ele ressalta, contudo, que os órgãos ambientais são os responsáveis por realizar a avaliação dos requisitos para conceder a licença de instalação e verificar se esses requisitos estão sendo cumpridos pelo empreendedor. "O banco libera um subcrédito, com taxa zero, para que o empreendedor possa utilizar em projetos que vão beneficiar a comunidade local."
Financiamentos
R$ 3,3 bilhões foi o valor total dos investimentos liberados pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no ano passado, para a construção de novos parques eólicos. O valor é recorde desde 2005 quando os financiamentos começaram a ser liberados. (OESP)

Empresas eólicas negam problemas

Em nota, empresas negam problemas
Companhias geradoras dizem que estão tomando providências para sanar 'anormalidades'.
Empresas controladoras de usinas de energia eólica em Aracati (CE) e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Ponta do Tubarão (RN) negam, em notas oficiais, alguns dos problemas apontados pelas comunidades. Em outros casos, afirmam que providências foram ou estão sendo tomadas para sanar as anormalidades e procuram se mostrar dispostas a dialogar.
Controladora de três parques eólicos na região de Aracati, a CPFL Renováveis afirma, em nota, que todos estão licenciados segundo a legislação ambiental vigente e diz que tem procurado manter um "relacionamento próximo com a comunidade". A empresa admite que, por causa dos ventos, cabos de energia ficam expostos, mas diz que não há riscos para os moradores.
"Sempre que identificados movimentos das dunas, a companhia toma medidas para assegurar que os cabos voltem à condição de subterrâneos." Segundo o texto, a empresa e a população do Cumbe já assinaram um termo de compromisso com a Defensoria Publica do Estado do Ceará, que assegura o acesso às vias de circulação interna dos parques eólicos.
Controladora dos Parques de Alegria I e Alegria II, no Rio Grande do Norte, a Multiner S.A. afirma que ambos foram "licenciados, implantados e entraram em operação após cumprimento de todas as condicionantes ambientais" e afirma que as estradas de acesso que construiu foram "traçadas e licenciadas, de modo a interferir o mínimo possível no meio ambiente".
Apenas uma duna foi estabilizada com vegetação nativa porque havia risco às operações, diz a nota. O texto afirma que tanto a retirada de sítios arqueológicos quanto a de árvores foram autorizadas pelos órgãos competentes - Iphan e Idema, respectivamente. A Multiner também diz que nunca usou água de lagoas naturais. Segundo o texto, a eólica "sempre usou água de poço e caminhões pipas para o abastecimento".
A Bioenergy, controladora da Miassaba Geradora Eólica, também defende a usina de Miassaba II. A nota da empresa diz que o canteiro de obras cumpriu as exigências ambientais e trabalhou autorizada pelos órgãos competentes. "Apesar de ser uma propriedade privada, o terreno onde a Bioenergy construiu uma estrada ganhou cinco passarelas para o uso livre de pescadores, em local indicado por eles e aprovado pelo órgão ambiental."
A empresa diz que desconhece o "problema com a Lagoa do Carnaubal, sendo que tal fenômeno (a extração de água para construção da usina) não foi citado em nenhuma das audiências públicas". O Estado contatou a Martifer Renováveis Geração de Energia e Participações S.A., controladora da Rosa dos Ventos, mas não houve resposta.
Órgãos oficiais
A coordenadora do Núcleo de Parques Eólicos do Instituto de Desenvolvimento e Meio Ambiente (Idema) do Rio Grande do Norte, Maria Cristina Taveira, afirma que a maioria dos impactos das obras para instalação de eólicas já estava previsto no estudo de impacto ambiental apresentado, “tendo sido tomadas todas as medidas mitigadoras necessárias para minimizar os impactos negativos”.
O mesmo texto diz que a localização do Parque Miassaba II obedeceu a estudo de dinâmica costeira aprovado pela Universidade Federal do RN. A coordenadora também defende, na nota, a legalidade do uso de Relatório Ambiental Simplificado (RAS) para instalar as usinas, tendo em vista a “Resolução CONAMA 279/01, que classifica os Parques Eólicos como empreendimentos de baixo impacto ambiental, e em suficiência, uma vez que o mesmo abrange todas as informações necessárias para subsidiar a análise”.
“Ainda sobre o enquadramento do empreendimento, salientamos que, de acordo com o Código Florestal e a Resolução CONAMA 369, os Parques Eólicos são considerados empreendimentos de utilidade pública, possibilitando intervenção em áreas de preservação permanente - APPs, como por exemplo, em dunas”, diz.
Por fim, lembramos que todos os empreendimentos localizados dentro da RDS Ponta do Tubarão passaram por aprovação no Conselho Gestor da Unidade de Conservação com todas as exigências feitas nestes momentos de reuniões, acatados em parecer técnico.
A Secretaria de Meio Ambiente do Ceará informa que os empreendimentos citados na reportagem estão licenciados. (OESP)

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Novos cenários na iluminação

Em 2017 as lâmpadas incandescentes não mais poderão ser comercializadas no Brasil, assim como já ocorreu em 2012 na Europa, e a tendência é de que sejam substituídas pelas fluorescentes compactas (LFC). Já a partir de 1º de julho as lâmpadas incandescentes de potência superior a 100 W não deverão ser encontradas no mercado, de acordo com a portaria interministerial 1.007/2010, pela própria impossibilidade deste modelo alcançar os parâmetros de eficiência energética estabelecidos pela portaria.
Para o pesquisador e coordenador do Laboratório de Equipamentos Elétricos e Ópticos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Mario Leite Pereira Filho, a medida implicará uma grande redução no consumo de energia elétrica no País. Estima-se que a iluminação seja responsável por 17% do total da energia total consumida no Brasil, inclusive a doméstica, que utiliza principalmente lâmpadas incandescentes. Outro fator a ser considerado é a maior durabilidade das LFC em comparação às incandescentes.
“Dependendo do modelo, a lâmpada fluorescente compacta é quatro ou cinco vezes mais econômica do que a equivalente incandescente. Imagine a economia para um prédio que substitui mil lâmpadas de 100 W pela fluorescente compacta! Sem falar na redução de consumo com ar condicionado, por exemplo, ao retirar lâmpadas que aquecem mais o ambiente, além da questão da sustentabilidade, pois há menor descarte de lâmpadas e redução no consumo de combustível e água utilizados nas hidrelétricas”, afirma o pesquisador.
Entretanto, o pesquisador adverte que as indústrias fabricantes de lâmpadas fluorescentes compactas precisam investir cada vez mais em tecnologia e aprimorar os processos de produção, pois o custo final para o consumidor da LFC é três ou quatro vezes maior em relação ao da incandescente. “No Brasil são fabricadas as lâmpadas fluorescentes tubulares e as incandescentes, porém as fluorescentes compactas em geral são produzidas na China. Para o consumidor final perceber concretamente a economia, as LFCs precisam ter um custo menor e uma vida útil ainda maior”, adverte.
Outro fator que provoca a resistência do consumidor em substituir a lâmpada incandescente pela fluorescente compacta é a questão do conforto e da cor. As LFCs normais apresentam cor branca, daí a denominação de lâmpadas frias, e não são indicadas para todos os espaços, como uma sala de estar ou um quarto de dormir, por exemplo.
“A referência ideal de iluminação é o próprio sol, que fornece calor e a melhor reprodução de cor. As pesquisas têm evoluído no sentido de melhorar as características das lâmpadas fluorescentes compactas – já está disponível no mercado uma LFC com a cor mais amarelada, percebida como mais aconchegante, mas o custo ainda é elevado e há uma redução de cerca de 10% na luminosidade”, afirma Pereira Filho. Há outras opções de iluminação, como a lâmpada dicroica que tem a vantagem da cor quente, mas o fluxo de luz é direcionado e sua eficácia ainda é menor que a das LFC, e cresce o consumo da lâmpada LED – entretanto, ela tem alto custo e a reprodução de cor é ainda pior do que a LFC.
O Laboratório de Equipamentos Elétricos e Ópticos tem acompanhado as mudanças do mercado e da legislação, e possui condições para elaborar todos os tipos de estudos e testes de fluxo luminoso, de eficácia luminosa, de vida útil do produto e de segurança para o usuário, um aspecto fundamental para um dispositivo ligado diretamente à rede elétrica. Para Oswaldo Sanchez Jr, pesquisador do laboratório, as inovações no campo da iluminação são constantes e ainda haverá muitas novidades no segmento. “A tendência é que as lâmpadas LED sejam produzidas em maior escala, baixando seus custos e passando a competir com as fluorescentes compactas. Por sua vez, os fabricantes das LFC terão que investir em tecnologia para tornar seu produto cada vez mais vantajoso para o consumidor”, afirma ele (ambienteenergia)

sábado, 22 de junho de 2013

Energia hidrelétrica e as florestas tropicais

Abastecimento de energia advindo de Projetos Hidrelétricos depende da conservação de Florestas Tropicais.
Uma pesquisa publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, mostra que a conservação das florestas da Bacia do Rio Amazonas aumentará a quantidade de eletricidade gerada por projetos hidrelétricos na região. O estudo é o primeiro a quantificar o impacto da cobertura florestal regional sobre a produção de energia elétrica. Seus resultados revelam que as florestas tropicais são mais cruciais do que se imaginava no processo de formação de chuvas que impulsionam os fluxos fluviais, e que por fim produzem energia em áreas tropicais. A pesquisa mostra que, se o desmatamento continuar aumentando na Amazônia, as projeções de energia para uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo – a Belo Monte, no Brasil – diminuirão em um terço.
“Nosso estudo mostra que os grandes avanços alcançados pelo Brasil no sentido de reduzir o desmatamento da Amazônia estão de fato ajudando a garantir o abastecimento de energia no país”, diz Claudia Stickler, a autora principal do estudo, e cientista do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – Programa Internacional (IPAM-IP). “Mas esses esforços devem continuar lado a lado com a conservação no âmbito regional.”
A potencial perda de capacidade de produção devido ao desmatamento regional pode vir a dificultar os esforços brasileiros para suprir a lacuna pendente de energia elétrica no país. Mais especificamente, o estudo mostra que se o desmatamento não for controlado na Amazônia, a energia fornecida pela hidrelétrica de Belo Monte no Brasil – projetada para ser a terceira maior hidrelétrica do mundo – será reduzida em 30% abaixo das estimativas atuais do setor, um total equivalente ao consumo de energia de quatro milhões de brasileiros.
“Estes resultados são extremamente importantes para o planejamento energético em longo prazo”, explica um dos autores do estudo, o climatologista Marcos Costa da Universidade Federal de Viçosa no Brasil. “Estamos investindo bilhões de dólares em usinas hidrelétricas em todo o mundo. Quanto mais florestas em pé, mais água teremos nos rios, e mais energia elétrica poderemos gerar a partir desses projetos.”
Combinando suas especialidades em hidrologia, ecologia, ciência do uso da terra, climatologia e economia, os pesquisadores modelaram a produção de energia em diferentes níveis de desmatamento na Bacia do Rio Amazonas. Os cenários com mais florestas também produziram mais energia. Com os níveis atuais de desmatamento na região, os resultados mostram que a precipitação é cerca de 6 a 7% abaixo do que seria caso houvesse uma cobertura florestal total. E com a perda de 40% de florestas tropicais antecipadas por alguns até 2050, a precipitação seria entre 11 e 15% mais baixa, resultando assim em 35 a 40% menos energia.
Expansão hidrelétrica em florestas tropicais mundiais
“Temos agora fortes evidências de que a capacidade brasileira de gerar eletricidade depende da conservação das florestas”, diz o coautor Daniel Nepstad, Diretor Executivo do IPAM-IP “Esses resultados não são importantes apenas para o Brasil – a cobertura florestal pode afetar a produção de energia em áreas tropicais úmidas em toda a Amazônia, assim como na África e Sudeste da Ásia”
Áreas com florestas tropicais tendem a ter grandes quantidades de chuva, tornando-as locais privilegiados para projetos hidrelétricos que se aproveitam dos altos fluxos fluviais para gerar eletricidade. O Banco Mundial estima que a energia hidrelétrica não explorada nestas áreas é quase quatro vezes maior do que a capacidade já estabelecida na Europa e América do Norte – e grande parte deste potencial se encontra no coração das florestas tropicais.
“O Brasil, Peru, Colômbia, Congo, Vietnã e Malásia estão se voltando para a ‘energia verde’ produzida por hidrelétricas para atender as demandas de suas economias em crescimento”, diz Nepstad.
Embora não sejam livres de controvérsias, as hidrelétricas em geral produzem menos gases de efeito estufa do que muitas outras fontes de energia. Devido a alta tecnologia e capacidade de armazenamento, elas também são consideradas mais confiáveis e viáveis do que projetos de energia solar e energia eólica em grande escala. Somente no Brasil estão previstas mais de 45 novas usinas, e a previsão é que a usina de Belo Monte forneça 40% do crescimento na produção de eletricidade brasileira até 2019.
Integrando os efeitos de cobertura florestal em estimativas de energia e planejamento do uso da terra
O novo estudo destaca a necessidade de que os planejadores de energia hidrelétrica levem em consideração a cobertura florestal regional ao calcular o potencial de fornecimento de energia do projeto.
“O problema é que os projetistas de usinas normalmente ignoram os efeitos do desmatamento futuro. Ou, quando isso é levado em consideração, eles presumem que o desmatamento vai aumentar a quantidade de água que flui para as represas “, explica Stickler. “Quando nós incorporamos os efeitos do desmatamento no âmbito regional, nossos resultados mostraram exatamente o contrário.”
Os cientistas pedem que os responsáveis pelo planejamento de projetos de energia considerem estes resultados – e o impacto das mudanças na cobertura florestal – ao analisarem a viabilidade de projetos hidrelétricos. Eles também pedem que os tomadores de decisões políticas prestem atenção aos custos de energia associados aos esforços de desenvolvimento como a derrubada de florestas para construção de novas estradas e fazendas. E em contrapartida, que sejam considerados os benefícios energéticos gerados através de programas de apoio a agricultores e pecuaristas a fim de se reduzir o desmatamento.
“Nos últimos anos, o Brasil progrediu muito na luta contra o desmatamento, alcançando a diminuição das taxas de desflorestamento em 24% comparadas a média histórica”, diz Nepstad. “Mas estes números estão começando a subir de novo, e isso deveria gerar a preocupação de todos. Acabar com o desmatamento deve ser visto também como uma questão nacional de segurança energética”.
“Nós mostramos que as políticas que maximizam a conservação também maximizam a geração de energia. Isso não é algo apenas conceitual, temos números que comprovam isto”, acrescenta Costa. “Esta descoberta me dá esperança. O desenvolvimento sustentável não é apenas possível, mas alcançável. ”(EcoDebate)

terça-feira, 18 de junho de 2013

Focus Electric ganha até US$ 10.000 de incentivos

Ford Focus Electric ganha até US$ 10.000 de incentivos na Califórnia
O Ford Focus Electric obteve duas importantes vitórias no mercado californiano no início de 2013.
A primeira é a obtenção do bônus de US$2.500 do governo local para carros elétricos.
Assim, o valor é somado ao bônus federal de US$7.500, chegando então a um desconto de US$10.000.
O que é muito bom, pois o Ford Focus Electric sairá por US$37.475.
Além disso, o Ford Focus Electric passa a ter direito de circular pelas pistas exclusivas para carros com mais de duas pessoas (HOV), presentes nas principais vias do estado americano.
A Ford anuncia que o Ford Focus Electric gera uma economia de US$1.464 em combustíveis durante um ano.
Seu consumo de energia é equivalente a 44,5 km/litro. (noticiasautomotivas)

Focus Electric com produção na Europa

A Ford iniciou, na semana passada, um novo capítulo na sua história, com o início de produção do Focus Electric na fábrica de Saarlouis, na Alemanha – o primeiro veículo totalmente elétrico da marca feito na Europa. O modelo com emissões zero encabeça a linha de veículos elétricos e altamente eficientes da Ford na Europa, que será acompanhado pelo lançamento do híbrido plug-in C-MAX Energi no ano que vem e do novo Mondeo Hybrid logo depois.
Desenvolvido como veículo global dentro do plano One Ford, o Focus Electric tem um conjunto avançado de motor elétrico e bateria de íons de lítio que gera 143 cv e atinge a velocidade máxima de 136 km/h. Ele é produzido na América do Norte desde dezembro de 2011 e estará disponível para os consumidores europeus a partir de agosto próximo.
“O Focus Electric marca o começo de uma era nova e empolgante de carros de passageiros totalmente elétricos na Ford na Europa e mostra o sucesso da estratégia One Ford em trazer para os consumidores europeus este veículo sofisticado”, diz Barb Samardzich, vice-presidente de Desenvolvimento do Produto da Ford Europa. “É um carro que atende as necessidades de mobilidade e as preocupações ambientais dos consumidores de hoje do modo mais direto possível – combinando desempenho e tecnologia avançada com emissões zero.”
A Ford investiu 16 milhões de Euros para integrar a produção do Focus Electric à linha atual do Focus na fábrica de Saarlouis, com flexibilidade para reagir à demanda do mercado e aumentar os volumes de produção.
“O início de produção do Focus Electric em Saarlouis é altamente significativo para a Ford na Alemanha e destaca a liderança da marca em inovação automotiva”, diz Bernhard Mattes, presidente da Ford Alemanha. “Estamos dando aos consumidores o poder de escolher o que é melhor as suas necessidades: um motor convencional com consumo eficiente ou um veículo elétrico.”
O novo Focus Electric é o primeiro veículo totalmente elétrico produzido em uma linha de alto volume na Alemanha. Ele é equipado com um carregador de bordo totalmente integrado de 6,6 kW, que oferece uma autonomia de cerca de 100 km com carga de 2 ou 3 horas, ou autonomia de 150 km com carga de 3 a 4 horas em uma fonte de 32 A. O tempo de recarga pode variar com as condições climáticas e uso do veículo.
O Focus Electric traz um novo painel chamado SmartGauge, que calcula e informa a autonomia do veículo com a energia disponível, considerando o estilo de direção do motorista, dados de frenagem e aceleração e o uso de acessórios como ar-condicionado e sistema de som.
Ele também é equipado com um sistema sofisticado de frenagem regenerativa que recupera até 95% da energia cinética normalmente perdida durante a frenagem e com um sistema que orienta o motorista a usar o freio gradualmente de modo a gerar mais energia para a bateria. (ambienteenergia)

domingo, 16 de junho de 2013

Glicerina, biocombustíveis e bioprodutos

A glicerina é um produto químico com múltiplas utilidades, havendo mais de 2.000 aplicações conhecidas em cosméticos, alimentos, química fina, e outros usos como insumo ou produto final. Devido ao aumento recente na produção de biocombustíveis líquidos, a glicerina – que é um subproduto da produção de biodiesel – tornou-se abundante, demandando inovações que possam aumentar a demanda, para equilibrar a oferta ascendente.
Considerando a associação muito forte entre a produção de biocombustíveis e de glicerina, não apenas a atual indústria de biodiesel, porém a perspectiva de biocombustíveis de segunda geração, como bioetanol celulósico e biodiesel de algas continuará a produzir grandes quantidades de glicerina. No entanto, novas rotas associadas à demanda da indústria de biocombustíveis, como glicerina-para-metanol e glicerina-para-etanol podem mudar rapidamente a situação do mercado.
O que é hoje um coproduto de baixo custo pode tornar-se um recurso valioso para os seus próprios processos de produção. Isso poderia mudar rapidamente a situação do mercado para outras indústrias, que agora contam com o fornecimento de glicerina da indústria de biocombustíveis. O fulcro da presente análise é a extraordinária dinâmica e as perspectivas do mercado de glicerina, nos próximos anos.
Recurso promissor
Historicamente, a produção de glicerina provém da indústria de sabão, um processo do qual a glicerina é um subproduto, ou sintetizada a partir de matérias-primas do petróleo, como o propileno.
A glicerina é usada numa ampla variedade de aplicações, desde produtos farmacêuticos e alimentos até explosivos. Durante a última década houve excesso de produção, devido ao impulso na produção de biodiesel, causando descompasso entre oferta e procura do produto. As antigas linhas de produção de glicerina viram suas margens de lucro despencarem, com a queda de seu preço no mercado. Algumas indústrias encerraram suas atividades ou dirigiram a produção para outros produtos finais. Considerando tratar-se de um produto químico versátil, registrou-se um aumento substancial nas pesquisas objetivando o desenvolvimento de novos produtos à base de glicerina.
Pagliaro et al. publicaram uma revisão em 2007, revista em 2009, que apresenta numerosos exemplos industriais de conversão de glicerina e aplicações em produtos e usos inovativos]. Posteriormente os trabalhos de Johnson e Taconi, da Silva et al., Fan e Burton e Stelmachowski], apresentaram as possibilidades de conversão tanto termoquímica quanto biológica da glicerina para obtenção de combustíveis e outros produtos químicos. A longa lista de produtos químicos e intermediários que podem ser produzidos a partir de glicerina inclui 1,3-propanodiol, vários éteres de butilo, ácido propiônico, β-caroteno, epicloridrina, etanol, metano, gás de síntese, e hidrogénio.
As rotas propostas para estes compostos incluem fermentação por bactérias e fungos, reforma a vapor, reforma em fase líquida, pirólise e gaseificação. No entanto, não havia um estudo robusto com foco em como o mercado de glicerina vai continuar a se desenvolver, analisando possíveis obstáculos para as novas tecnologias baseadas em glicerina até a publicação do artigo de Bauer e Huteberg, que permite desanuviar os caminhos futuros.
Primeiros desenvolvimentos
A produção de glicerina industrial fechou um círculo completo no que diz respeito à tecnologia de matéria-prima. Historicamente, a glicerina era obtida a partir de gorduras e óleos, como um subproduto na indústria de sabões. O processo consiste em misturar as gorduras ou óleos com soda cáustica, em alta temperatura, para formar sabão e glicerina. A obtenção de glicerina por fermentação de açúcares é uma rota conhecida desde meados do século XIX, e foi usado industrialmente durante a Primeira Guerra Mundial, devido à alta demanda por glicerina para produção de explosivos. Devido ao seu alto custo, esta rota não vinha sendo utilizada e, com o surgimento da indústria de biodiesel, pode ser considerada fora do mercado.
Em meados do século XX, a produção de glicerina sintética aumentou de forma rápida, passando a responder por cerca de metade do mercado nos anos 1960 e 1970. A síntese da glicerina a partir de propileno segue três vias principais. O primeiro processo, desenvolvido nos anos 1940, usa cloreto de alila como um intermediário, que é então convertido em epicloridrina. Usando hipoclorito é promovida a hidrólise de epicloridrina, obtendo-se a glicerina. Um segundo caminho foi desenvolvido na década de 1950 e elimina o uso de cloro, sendo o propeno oxidado para acroleína. A acroleína é convertida em álcool alila e, em seguida, glicidol, o qual é hidrolisado para glicerina. A terceira rota converte propeno a óxido de propileno, em sua primeira etapa, que é o isomerizado para álcool alila, o qual através de glicidol é convertido em glicerina.
Em 1990, esta produção baseada em combustíveis fósseis foi responsável por 30% da produção de glicerina. Recentemente, estas rotas entraram em declínio comercial, devido à saturação do mercado com glicerina obtida na transformação do biodiesel, de menor custo. Em algumas das plantas industriais que produziam glicerina sintética houve até reversão do processo, sendo a glicerina usada para produzir epicloridrina, que é um insumo para outros produtos químicos.
A demanda tradicional de glicerina é estimada entre 750.000 e 1 milhão de toneladas anuais em aplicações que incluem creme dental, plásticos, celofane, medicamentos, cosméticos e tabaco (Fig.1).
No tabaco, a glicerina é usada como um aditivo para o revestimento das folhas, para impedir sua ondulação durante o processamento. Na cosmética, é utilizada em cremes e loções como um amaciador da pele. Na indústria alimentar é usada como meio de transferência de calor em contato direto com alimentos de congelamento rápido, e como um lubrificante em máquinas e aparelhos de processamento de alimentos. É também usada para adoçar produtos alimentares, em substituição a outros polióis, como o sorbitol. As muitas aplicações para glicerina são uma consequência das suas propriedades e características: glicerina é solúvel em água, doce, inodora, não tóxica, incolor, biodegradável, plastificante, sendo absorvente de água.
Situação e perspectivas
O uso de biocombustíveis líquidos provavelmente continuará a aumentar, devido às políticas públicas que visam à redução do impacto ambiental e à soberania energética. Projeções sobre o mercado de biocombustíveis líquidos mostram que a produção de bioetanol continuará a crescer mais rápido do que o biodiesel, porém ambos aumentarão, progressivamente, até o final da década, como pode ser observado na Figura 2.

A oferta de glicerina no mercado atual é majoritariamente proveniente da produção de biodiesel. No entanto, existe também a possibilidade de extrair a glicerina coproduzida na fermentação de etanol, um processo pouco conhecido, estudado ou divulgado.
A glicerina bruta pode ser dividida em duas classes principais: a glicerina bruta hidrolisada, que é derivada da hidrólise das triglicérides e contém traços de sais inorgânicos; e a glicerina salgada, obtida residualmente da indústria de sabões e da indústria de biodiesel. Ambas podem ser refinadas para grau alimentício ou farmacêutico. A glicerina bruta, proveniente da produção de biocombustíveis, é especialmente interessante como matéria-prima para os produtores da Europa, uma vez que é creditada como emissão zero de dióxido de carbono, até o processo de coleta. Também é muito importante para a indústria brasileira de biodiesel, por ser parte do seu mix de rentabilidade.
Glicerina e biodiesel
Com a produção de biocombustíveis líquidos em larga escala, a oferta de glicerina tem se situado em nível superior à demanda. Isto se deve ao fato de que a glicerina é um coproduto inevitável da produção de biodiesel, que aumentou de quase nada para mais de 2 milhões de toneladas por ano, em pouco mais de uma década.
No processo de produção de biodiesel, os triglicérides (óleos vegetais) são transesterificados com um álcool, normalmente metanol, para formar ésteres de ácidos graxos – o biodiesel. A glicerina, que constitui a espinha dorsal das triglicérides, e representa 10% dos resultantes da reação, é liberada no processo e depois separada do biodiesel.
A reação de transesterificação gera duas fases: uma fase oleosa, que contém os ésteres de ácidos graxos; e uma fase polar, contendo glicerina (50-60 %), metanol (10-30%), sais do catalisador (8-20%), água (-5%), e alguns sabões, ácidos graxos livre e outros componentes presentes na matéria-prima.
A fase polar é processada para recuperar o máximo de metanol, e os sais do catalisador são neutralizados pela adição de um ácido, tal como o ácido sulfúrico. Depois do pós-processamento, neutralização e lavagem, a glicerina bruta proveniente da produção de biodiesel contém cerca de 80% de glicerina, 10% de água, 7% de cinzas, e menos de 1% de metanol.
O biodiesel é produzido de forma convencional, com um catalisador alcalino homogêneo (NaOH ou KOH), embora catalisadores ácidos também sejam usados em alguns processos industriais. Catalisadores enzimáticos, com uma maior tolerância para a presença de água, foram desenvolvidos, mas ainda não são economicamente viáveis. O uso de catalisadores heterogêneos seria útil para reduzir a contaminação da glicerina produzida, reduzindo também a necessidade de adição contínua de catalisador no processo. Pesquisas sobre catálise heterogênea para a produção de biodiesel estão em curso e, apesar de projetos completos que a utilizam estarem disponíveis, as abordagens tradicionais ainda é a mais comum, embora já existam usinas em operação, utilizando catalisadores heterogêneos.
Glicerina e bioetanol
Outra oportunidade prontamente disponível para a glicerina bruta é na indústria de bioetanol. Ao fermentar açúcares em etanol, o glicerol é simultaneamente produzido pela levedura. Esta glicerina é importante na produção de vinho, mas um subproduto indesejado da produção industrial de bioetanol como combustível. Pesquisas demonstraram que os níveis de produção de glicerina, em comparação com etanol, situam-se entre 5 e 15% (w/w), dependendo da matéria prima e das condições do processo. No entanto, essa glicerina não é tão facilmente recuperada quanto na produção de biodiesel, pois é apenas um componente no complexo de produtos resultantes da fermentação. Este fluxo também contém outros compostos químicos, os quais serão de interesse em uma futura biorrefinaria integrada, tal como ácido acético, ácido succínico, e outros ácidos orgânicos e álcoois superiores. A extração de glicerina deste fluxo residual não é economicamente viável, mas estudos revelam ser possível aumentar a produção de glicerina na fermentação de etanol, para se obter volumes de glicerina adequados para extração.
Entretanto, este processo não seria factível com o mercado atual e com as instalações de fermentação existentes, viabilizando-se apenas quando houver uma demanda maior e não atendida de glicerina, e quando as atuais usinas de etanol efetivamente operarem no conceito de biorrefinaria, deixando de maximizar a produção de etanol para melhorar o rendimento total de compostos extraíveis, no bojo de uma estratégia de maximização da lucratividade industrial.
Estimativas conservadoras indicam que a glicerina que pode ser extraída nas indústrias de bioetanol seria de 3% (w/w) do etanol produzido, um volume muito maior do que a glicerina proveniente da produção mundial de biodiesel, posta a diferença de magnitude na produção dos dois biocombustíveis. Supondo-se que uma proporção maior da glicerina possa ser produzida no processo de fermentação de etanol (6 ou até 10%), a oferta potencial desta fonte é muito grande. No entanto, dificilmente este recurso ficará disponível para o mercado, pois pesquisas recentes de fermentação microbiana de glicerina para o etanol obtiveram resultados muito positivos. Transformar, na própria indústria, resíduos (glicerina) em produto (etanol) será muito interessante para os produtores de etanol, se um processo viável, em escala industrial, for desenvolvido.
A Figura 3 apresenta estimativas da produção mundial de glicerina, a partir de biocombustíveis, conforme estimativas efetuadas em um estudo conjunto da FAO e da OCDE.
Longo prazo
Na perspectiva de mais longo prazo, há várias oportunidades para um fornecimento estável de glicerina, se as tecnologias para transformá-la em produtos químicos de alto valor forem utilizadas em larga escala. Uma fonte promissora para obtenção de produtos químicos e combustíveis, a partir de matéria prima renovável, são as microalgas, que têm sido estudadas intensamente para diferentes aplicações – apesar de a produção de biodiesel atrair o maior interesse dos grupos de pesquisa. As possibilidades e obstáculos para produzir biocombustíveis utilizando microalgas foram discutidas em profundidade por Pienkos e Darzine.
As microalgas têm recebido muita atenção nos últimos anos, por apresentarem alta produtividade e poderem ser cultivadas sem competir por terras aráveis com a produção de alimentos, com perspectivas de produzir grandes quantidades de óleo a custo mais baixo que oleaginosas tradicionais. No caso de algas podem ser usados solos efetivamente áridos, ou sua produção pode ocorrer diretamente no oceano, ao contrário do apregoado para vegetais não édulos (pinhão-manso ou camelina), os quais disputam terra, insumos, capital e trabalho que poderiam ser utilizados para produção de alimentos. Entretanto, o mercado ainda aguardando o desenvolvimento de processos produtivos em larga escala, com baixo custo e grande eficiência. A eventual produção em grande escala de combustíveis de algas geraria uma quantidade ainda maior de glicerina.
Outro método seria o de utilizar algas para produzir diretamente a glicerina, usando microalgas do gênero Dunaliella. Estas algas têm a vantagem de produzir glicerina em grandes quantidades e com rendimentos elevados, podendo ser cultivadas em meios com concentrações salinas elevadas. O uso destas altas concentrações salinas evita, eficazmente, a contaminação de outros organismos vivos e, assim, garante um processo de produção eficiente.
Estratégias comerciais
Sem ingressar nos detalhes das tecnologias de novos produtos à base de glicerina, que estão em desenvolvimento, três opções mercadológicas genéricas, vinculadas ao negócio de biocombustíveis, podem ser identificadas. Estas estratégias, relacionadas com o produto final do processo industrial, são determinadas pelo preço e pelo volume do produto, as quais podem ser denominadas de alto, médio ou baixo valor. A possibilidade de sucesso e viabilidade econômica para essas estratégias é, naturalmente, relacionada com os fluxos de matérias-primas que estão disponíveis, a qualidade de matéria-prima necessária para o processo específico, e o custo da matéria prima.
Os produtos com alto valor são especiarias químicas com preço específico muito elevado, porém o volume requerido pelo mercado é baixo, sendo um mercado pouco elástico e de baixa dinâmica. Embora os preços elevados para essa classe de produtos químicos constituam uma boa motivação para desenvolver um processo, deve-se reconhecer o risco iminente de flutuações indesejáveis do mercado, em especial deixando de ser comprador.
O ocorrido recentemente no mercado da glicerina é um bom exemplo: um produto químico previamente vendido a um preço alto parecia ser uma boa fonte de renda para um subproduto da fabricação de biodiesel, mas o grande fluxo do produto rebaixou os preços, e provocou o colapso do mercado. O mesmo pode acontecer com outros produtos químicos neste segmento de mercado, ou seja, o desenvolvimento de um processo de produção suficientemente barato para competir com os métodos atuais de produção, pode transformar perspectivas de lucros promissores em prejuízo.
Assim, desenvolver e investir em novos processos visando um segmento de mercado muito limitado constitui um alto risco, mesmo que o lucro inicialmente possa ser elevado. Nesta categoria incluem-se especiarias químicas da química fina ou compostos utilizados nas indústrias farmacêuticas e de alimentos funcionais.
Produtos com média valorização constituem outro segmento do mercado de produtos químicos, com preços mais moderados, mas com maior demanda do mercado. Assim, a estabilidade do mercado desses produtos químicos pode ser maior, por exemplo, se eles forem usados em muitas aplicações diferentes, ou em grandes quantidades em algumas indústrias. A necessidade de otimização do processo pode ser maior nesta estratégia de valorização, mas há maior previsibilidade nas receitas futuras.
As categorias de produtos dentro desse segmento são os monômeros para os bioplásticos e outros polímeros de base biológica, materiais para os quais o interesse está aumentando de forma firme e constante.
Finalmente, o mercado para produtos de baixo valor é composto por aqueles que requerem matéria-prima em grande quantidade e de mais baixo custo, tornando os produtos finais disponíveis a baixo custo e em grandes volumes. Os lucros por quantidade específica são necessariamente mais baixos para esses produtos, mas os altos volumes de venda tornam esta estratégia mais conservadora e segura.
O principal tipo de produto nesta estratégia são os biocombustíveis. A estratégia consiste em amortizar os custos de investimento e operação, e garantir margem mínima com a venda de grande quantidade de biocombustíveis. A ampliação da margem do investidor impõe uma estratégia de valorização de matérias-primas de baixa qualidade, como a glicerina bruta com alto teor de sal ou ácidos carboxílicos, e usar os recursos e a infraestrutura existentes para a elaboração de produtos de maior valor agregado, ou seja, capturando parte do mercado de média ou alta valorização.
De acordo com a teoria econômica, o processo capaz de agregar maior valor à matéria-prima com o menor custo vai dominar o mercado. Diversas tecnologias estão sendo desenvolvidas para uso da bioglicerina. Algumas dessas tecnologias demandam, simplesmente, extrair a glicerina bruta, utilizando as instalações convencionais de produção de biodiesel. Tecnologias adaptadas ao uso de glicerina de mais baixa qualidade serão vantajosas se permitirem adicionar um valor ao produto maior do que o custo de refino da glicerina para os graus necessários para outras aplicações.
No entanto, os custos de transação e outros fenômenos que perturbam o mercado ideal devem ser sempre analisados. Os impostos são perturbações do mercado, e podem ter uma incidência menor em combustíveis renováveis do que em outros produtos químicos. Examinando por este ângulo, usar a glicerina para a produção de biocombustível pode ser uma alternativa promissora. Como mencionado, existem rotas alternativas para transformar glicerina em biocombustíveis, que estão sendo pesquisadas. Porém o aspecto crucial é dispor da segurança de que alguma delas vai ser viável técnica e economicamente, competindo favoravelmente com as alternativas já posicionadas no mercado. Como os maiores fornecedores de glicerina serão os produtores de biodiesel e bioetanol, a disponibilidade in house desse insumo pode ser determinante para viabilizar mercadologicamente biocombustíveis baseados em glicerina.
Considerações finais
Particularmente, as instalações de biodiesel pode ter a oportunidade de fechar o circuito matriz-produto, produzindo metanol da glicerina, eliminando a necessidade de aquisição de metanol proveniente do gás natural, transformando o biodiesel em um produto completamente renovável. Este “carimbo top” ambiental, se bem explorado mercadologicamente, possui um enorme potencial de agregação de valor e de aceitação social. Por outro lado, a indústria de bioetanol pode expandir a produção deste biocombustível, fermentando glicerina para bioetanol, em um segundo processo de fermentação.
As possibilidades para a utilização em larga escala de glicerina provenientes da indústria do bioetanol dependem integralmente da possibilidade de sua extração eficaz e a baixo custo, posto que, nas instalações atuais, não é possível extrair a glicerina resultante do processo de fermentação. O aumento da produção de glicerina em processos de fermentação de etanol pode, em tese, aumentar drasticamente a oferta global de glicerina, especialmente nos EUA e no Brasil. Nesse cenário, a glicerina provavelmente continuaria disponível no mercado, a um custo baixo, nas próximas três décadas.
Admitida esta possibilidade, serão favorecidos aqueles países ou indústrias particulares que investirem em desenvolvimento tecnológico continuado, para dispor de inovações que permitam o aproveitamento da glicerina e a ampliação de sua margem. Um detalhe dentro deste quadro maior: tecnologias viáveis para a conversão de glicerina em combustíveis líquidos poderia, no entanto, ter o efeito contrário, ou seja, perturbar o mercado de glicerina, pois, neste caso, tratar-se-ia de avançar mais no mercado de baixo valor, havendo espaço mercadológico para colocação dos volumes adicionais de biocombustíveis produzidos com glicerina. No entanto, mesmo este último aspecto não obnubila a tese maior: o maior espaço do mercado de produtos à base de glicerina pertencerá a quem detiver a melhor tecnologia, mais eficiente e de menor custo. (biodiesel)



sexta-feira, 14 de junho de 2013

20% da matriz energética brasileira será renovável

Energias renováveis não convencionais poderão representar 20% da matriz energética brasileira em 2021
Energia eólica atravessa ciclo virtuoso – As energias renováveis não convencionais deverão ter uma participação de 20% da matriz energética brasileira em 2021, de acordo com as projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Atualmente, essas fontes de energia alternativas são responsáveis por 14% da matriz, de acordo com Maurício Tolmasquim, presidente da EPE. Nessa categoria, encontra-se a energia gerada em Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), e aquela originada de biomassa, além da eólica e solar.
Segundo Tolmasquim, o maior crescimento de capacidade instalada se dará com a energia eólica, que sairá de uma participação de atuais 2% da matriz para 8%. No total das energias renováveis, incluindo a gerada pelas grandes usinas hidrelétricas, a capacidade instalada sairá de 83% para 85% em 2021.
Tolmasquim explica que o crescimento significativo da energia eólica deve-se ao preço mais competitivo nos leilões de energia realizados pelo governo. Desde 2009, 70% da energia comprada por meio de leilões foi de energia eólica. “Nos últimos leilões, cerca de 400 parques eólicos participaram com projetos de geração”, disse.
Segundo o presidente da EPE, contudo, o fato de a energia eólica ser uma fonte variável e não controlável cria insegurança em relação ao fornecimento, o que levou o governo a realizar leilões para garantir o fornecimento. No próximo leilão de energia para entrega em 2018 (A-5) a ser realizado em agosto, por exemplo, os projetos participantes serão apenas de hidrelétricas, PCHs e termelétricas movidas a combustíveis fósseis, como o carvão.
Nos últimos três anos, houve um aumento expressivo da competitividade dos projetos de eólica no Brasil em função principalmente de uma revolução tecnológica que barateou o custo dos equipamentos, explica Elbia Melo, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). A maior competitividade atraiu cerca de R$ 40 bilhões em investimentos em projetos que devem entrar em operação até 2020. De uma capacidade instalada atual de 2,8 Gigawatt de energia eólica, a expectativa é de que 8,2 GW estejam instalados até 2016, de acordo com a EPE, ante 9 GM de biomassa de cana-de-açúcar. A participação da biomassa na matriz deve cair de atuais 8% para 7% em 2021, de acordo com a EPE.
Para Tolmasquim, enquanto o preço da eólica conseguiu reduzir seu valor em mais de 60% desde 2005, a biomassa não encontrou mecanismo de redução de preço, o que fez cair sua competitividade.
Para Zilmar de Souza, gerente de bioeletricidade da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), a competitividade da biomassa de cana está vinculada, atualmente, à existência de novos projetos de usinas de etanol, os chamados greenfields. “Mas como não há novos projetos, o preço da energia de biomassa reflete o custo de transformar antigas usinas para produzir eletricidade, o que fica mais caro”, disse.
Para Elbia Melo, da ABEEólica, a tendência é de que a energia eólica cresça ainda mais porque vive um momento virtuoso, tanto do ponto de vista estrutural como conjuntural. Segundo ela, o setor passa por avanços tecnológicos que permitiram o barateamento do preço. Além disso, a modelagem dos leilões brasileiros favorece a competitividade. Outro ponto é que com a crise na Europa, os fabricantes precisaram procurar novos mercados, o que também barateou custos e atraiu empresas para o Brasil. “A taxa de câmbio também ajudou no processo.”
A energia solar ainda não aparece de forma isolada nas estimativas da EPE. Tolmasquim vê um potencial de crescimento de oferta no longo prazo, quando os preços dos painéis fotovoltáicos de captação forem acessíveis e as residências puderem captar essa energia para utilização própria e, em caso de excedente, colocarem-no na rede e terem desconto em sua conta mensal. “A maior sensibilidade do consumidor para assuntos ambientais está fazendo com que estes projetos se tornem realidade.”
Algumas empresas estão, contudo, trabalhando na diversificação de seu portfólio energético e investindo em energias renováveis não convencionais. A distribuidora Ampla, concessionária que atua no Rio de Janeiro, está implantando a Cidade Inteligente Búzios. Segundo o presidente da Ampla, Marcelo Llévenes, o projeto modelo já conta com painéis de energia solar que devem abastecer as pousadas com 40% da energia necessária. “O Brasil é o primeiro país em que a energia solar poderá ser mais a energia mais barata da grade”, disse.
Cerca de seis mil medidores eletrônicos estão sendo instalados em Búzios para que o consumo seja medido por faixa horária. “Fora de horário de pico, os preços são menores e estamos trabalhando para que algumas atividades econômicas que usam eletricidade possam ter seu horário alterado. Até o momento, já conseguimos uma redução de até 20% na conta”, disse ele. Além disso, carros elétricos e até um barco que funciona como um táxi aquático estão operando com eletricidade. Orçado em R$ 36 milhões oriundos de fundos do governo, fundos privados e recursos próprios, o projeto visa atender, no longo prazo, os 12 mil habitantes da localidade.
Outras empresas, como a CPFL, estão investindo na parceria com usinas de cana para produção de energia a partir da queima do bagaço. Além disso, a empresa está, através da CPFL Renováveis, investindo também em PCHs e em energia eólica. Segundo a empresa, seu portfólio de projetos totaliza 5.553 MW, sendo composto por 35 PCHs, 15 parques eólicos e 6 térmicas a biomassa em operação (1.153MW), 18 parques eólicos e 2 UTEs em construção (582 MW), além de outros 3.818MW em preparação e desenvolvimento nas três fontes. (EcoDebate)

quarta-feira, 12 de junho de 2013

O que falta para o carro elétrico?

Comuns no mercado internacional, os carros elétricos começam aos poucos a transitar no Brasil, mas ainda estão longe de se tornarem populares. A Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) estima que a frota desses veículos no país não passe de 200 automóveis. Apesar dos benefícios com a redução da dependência energética de combustíveis fósseis e o consequente ganho ambiental, a tecnologia enfrenta dificuldades para se popularizar no país. Um dos motivos para isso, segundo especialistas, é a elevada carga de impostos sobre o preço final.
Mesmo com os entraves, o panorama sobre os carros elétricos no Brasil é positivo para quem estuda o assunto. O avanço da tecnologia de baterias e a onda do consumo sustentável são algumas das razões que explicariam o fenômeno. “A disseminação de carros elétricos no país ainda é incipiente, mas extremamente promissora”, relata o diretor- presidente da ABVE, Pietro Erber.
Quando a entidade foi fundada, em 2006, carros elétricos ainda não passavam de uma curiosidade no Brasil. “O conhecimento do grande público sobre o tema limitava-se aos carrinhos de golfe, usados para patrulhamento da orla marítima pela polícia, especialmente no Rio de Janeiro”, conta Erber.
A associação foi criada pelo Instituto Nacional de Eficiência Energética, que já vinha organizando seminários sobre o tema. Naquela época, a eficiência no uso da energia oferecida pelo veículo elétrico já era reconhecida.
Um dos principais benefícios obtidos com a tecnologia é o controle de emissões de gases causadores do efeito estufa, como o CO2. Embora seja menos poluente, o carro elétrico ainda precisa superar alguns obstáculos para se tornar popular. “O problema dos veículos elétricos, tanto a bateria como híbridos (que funcionam a gasolina e a eletricidade), é o preço. Eles ainda custam mais caro”, avalia Erber.
No Brasil, um automóvel elétrico custa em torno de R$ 120 mil a R$ 130 mil. Como são importados, os impostos pesam no valor final. Mesmo assim, os entusiastas dos veículos elétricos acreditam que haverá uma redução de custo e, por consequência, uma maior adesão a esses veículos. “A primeira coisa a ser feita é reduzir os impostos. Eu não vejo que no Brasil o governo dê grandes incentivos”, opina o presidente da ABVE.
Jayme Buarque de Hollanda, presidente do Conselho Diretor da ABVE, acredita que os incentivos dados pelo governo podem acelerar o processo de produção de veículos elétricos no país. A expectativa é que isso já esteja ocorrendo daqui a quatro anos. Para o cidadão, a principal vantagem é que ele é mais barato por quilômetro, disse. “A conta de energia é um terço ou um quarto menor (em relação ao combustível)”.
De acordo com a entidade, o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) que incide sobre carros elétricos é de 25%. “É o imposto que incide sobre carros de luxo e de grande potência. Em carros convencionais, [o IPI] fica na faixa de 12%”, compara.
Iniciativas nacionais
Jayme Buarque de Hollanda comenta que, enquanto no mundo os países oferecem redução de impostos para as empresas desenvolverem o carro elétrico, no Brasil “só agora a ficha está caindo”. Hollanda considerou importante a criação pelo governo fluminense de um grupo de trabalho para avaliar a implantação de uma fábrica de veículos elétricos no estado. Ele disse que vê na iniciativa a percepção política do momento que vive a cidade, sede de vários eventos internacionais, em querer atrair o máximo de fábricas para o Rio de Janeiro.
Do mesmo modo, ele destacou o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar-Auto), dentro do Plano Brasil Maior, do governo federal, cujo objetivo é estimular o investimento na indústria automobilística nacional, por meio da inovação e da pesquisa. A estimativa é que o programa envolva, até 2015, mais de R$ 50 bilhões em investimentos no setor. O programa oferece vantagens do ponto de vista fiscal para quem fabricar carros com acionamento híbrido ou elétrico, de preferência usando etanol como combustível, disse Holanda. “É o primeiro despertar no Brasil para esse assunto”.
Alguns fabricantes vêm desenvolvendo protótipos de ônibus elétricos e híbridos no país. Existem, segundo Hollanda, três famílias de veículos elétricos, que são distinguidos pela forma como equacionam a questão do motor a bordo.
A primeira família é a dos trólebus como os que trafegam em São Paulo, por exemplo. São ônibus que circulam capturando energia elétrica transmitida por um cabo aéreo suspenso sobre o seu trajeto. A segunda categoria são os veículos híbridos, em que a energia elétrica é produzida a bordo, por meio de um gerador, embora continue dependendo de um combustível. Outra classificação são os veículos elétricos a bateria. Esta é recarregada quando ligada na rede elétrica.
Um dos fabricantes nacionais de veículos com tração elétrica para o transporte de carga e passageiros é a Eletra, localizada em São Bernardo do Campo (SP). Hollanda ressaltou, porém, que a pioneira no Brasil em termos de produção de veículos elétricos foi a Fiat que, em parceria com Itaipu Binacional e a Kraftwerke Oberhasli (KWO), produziu uma edição limitada de veículos elétricos a bateria para a geradora de energia. Outras montadoras internacionais estão trazendo modelos de veículos elétricos para o Brasil, entre as quais a Ford e a Toyota.
Primeiros carros elétricos surgiram no século 19
Embora sejam considerados um grande avanço tecnológico, os carros elétricos não são novidade. Os primeiros veículos elétricos surgiram já no século 19. De acordo com o professor Luiz Artur Pecorelli Peres, do Grupo de Estudos de Veículos Elétricos (Gruve) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em 1918, a cidade do Rio de Janeiro inaugurou a linha de ônibus elétricos entre a Praça Mauá e o então existente Palácio Monroe. Segundo ele, jornais da época referiam-se à tecnologia como “confortáveis ônibus de tração elétrica, movidos a bateria, com rodas de borracha maciça, sem barulho, sem vibração, fumaça e os inconvenientes da gasolina”.
Apesar de esta tecnologia não ser recente, os veículos elétricos perderam espaço para os automóveis convencionais a partir dos anos 1930. Na época, a tecnologia e a distribuição da energia elétrica ainda não acompanhavam o desenvolvimento do setor. O conceito só não desapareceu graças aos carrinhos de golfe e veículos de serviço, como empilhadeiras. O lançamento do híbrido Prius, da Toyota, em 1997, marcou uma nova fase dos automóveis híbridos e elétricos.
De acordo com a ABVE, de 4 a 5 milhões de carros elétricos híbridos circulam atualmente pelo mundo. Esse tipo de veículo elétrico foi o que mais rapidamente atendeu às necessidades do mercado, salientou Jaime Hollanda. Seu lançamento foi estimulado pela questão ambiental em função da poluição urbana causada pela descarga dos veículos. Em relação aos veículos movidos a bateria, o peso ainda é um empecilho para que seu uso seja disseminado, bem como a autonomia. Hollanda disse que uma autonomia de 150 quilômetros já é considerada, atualmente, razoável para alguns usos. (ambienteenergia)

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Novas fontes energéticas superam o petróleo

Novas fontes de energia tiram poder do cartel do petróleo
A maior parte da nova produção de petróleo mundial nos últimos cinco anos ocorreu fora dos países da organização.
A Agência Internacional de Energia (AIE) anunciou oficialmente em 14/05/13 que o boom do xisto betuminoso americano está atingindo o mundo.
Isso em parte já é tangível, uma vez que o petróleo - que antes era importado pelos Estados Unidos - está hoje sendo enviado para outras partes e a crescente produção americana pode contrabalançar as perturbações no Oriente Médio.
Rompendo de modo marcante com o passado, esse novo informe da agência indica que a maior parte da nova produção de petróleo mundial nos últimos cinco anos ocorreu fora dos países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Só no ano passado o aumento da oferta se dividiu entre países da Opep e dos países não integrantes da organização.
Mas a mudança também é psicológica.
"Ela reforça o afastamento do sentimento de escassez", disse Jim Burkhard, vice-presidente e chefe de pesquisa de mercados petrolíferos, cenários na área energética e serviços integrados na empresa IHS CERA. "Em 2008, prevalecia a percepção de que ficaríamos sem petróleo. O renascimento da produção de petróleo nos Estados Unidos alterou esse sentimento e hoje a percepção é de uma oferta mais ampla".
Avanços tecnológicos nos últimos anos ajudaram a aumentar a produção de gás natural e petróleo leve em formações antes consideradas inacessíveis, e do petróleo bruto produzido de areias betuminosas canadenses.
Com sede em Paris e criada em resposta às crises do petróleo na década de 70, a AIE monitora os mercados energéticos e realiza estudos de mercado periódicos.
No informe publicado, a AIE afirma que "ondas de choque" provocadas pela produção de gás de xisto e petróleo leve nos Estados Unidos e de petróleo das areias betuminosas no Canadá foram sentidas em todo o mercado global de petróleo. E seu impacto foi agravado pelas revoltas políticas e sociais da Primavera Árabe, no sentido de mudar a maneira como o petróleo é produzido, comercializado e consumido em todo mundo.
"Eles poderiam simplesmente divulgar o título do seu relatório: 'O continente privilegiado, América do Norte'", brincou Tom Kloza, analista da Oil Price Information Service.
Constatação. Sob alguns aspectos, o estudo reflete o que analistas e outros estudiosos já vinham afirmando há mais de um ano, ou seja, que a crescente produção de xisto nos Estados Unidos não só ajudou a reduzir as importações americanas de petróleo estrangeiro, mas também impulsionou a economia, especialmente em Estados onde as perfurações são mais ativas.
Mas para quem acha que vamos retornar aos dias da gasolina a US$ 1,25 o galão, ou mesmo US$ 2,50, melhor pensar novamente. "O mercado global vai dominar em termos de preço", disse Gürcan Gülen, economista sênior e chefe do Bureau of Economic Geology na Universidade do Texas.
E o mercado global é impelido pela demanda de economias emergentes como China, Índia e outros países, acrescentou Gülen.
As refinarias americanas prosperaram no ano passado, substituindo o petróleo importado pelo doméstico, mais barato, especialmente o que vem de Bakken Shale, em Dakota do Norte e de Eagle Ford, no Sul do Texas, como também do Canadá. Para Güllen a tendência deve continuar enquanto o petróleo cru produzido na América do Norte corresponder às exigências das refinarias. "No momento os preços do petróleo doméstico são um pouco menores do que os internacionais. O que significa que o petróleo produzido internamente pode ser competitivo. Mas as refinarias ainda precisam decidir se ele é mais adequado à sua tecnologia."
"Tudo isso não é nenhuma novidade, pois já era comentado nos Estados Unidos e no mundo todo", afirmou Joseph A. Stanislaw, conselheiro da Delloite. Mas o novo relatório é "o reconhecimento global por uma das mais importantes instituições globais", disse ele. "De certo ponto de vista é realmente algo importante. E terá impacto sobre as tomadas de decisão de governos em todo o mundo."
A agência não tem poder para estabelecer limites de produção, mas segundo Stanislaw, líderes governamentais com frequência recorrem à agência para adotar decisões em assuntos considerados chave. A agência representa 28 países membros fora da Opep, incluindo os Estados Unidos.
A instituição prevê que os países-membros da Opep aumentarão a produção do petróleo bruto em 1,75 milhão de barris por dia em 2018, ao passo que os países não membros da Opep deverão aumentar a produção em 6 milhões de barris ao dia.
Mas a diretora executiva da AIE, Maria van der Hoeven, nas observações oferecidas com o relatório, afirma que a Opep permanece um elemento importante no fornecimento de petróleo no mundo. "O petróleo da Opep continuará muito necessário. Essa nova fonte de oferta não implica o fim daquela organização".
Mas para Jim Burkhard será um período difícil que as antigas gigantes da produção de petróleo deverão enfrentar. "A Opep poderá deparar com uma situação em que todo o crescimento da demanda seria suprida por países não membros da organização e pelo Iraque", afirmou.
Países não membros da Opep seriam Estados Unidos, Canadá e Brasil. O Iraque é membro da organização. (OESP)