Novas fontes de energia tiram poder do cartel do petróleo
A maior parte da nova produção de petróleo mundial nos últimos cinco
anos ocorreu fora dos países da organização.
A Agência Internacional de Energia (AIE) anunciou
oficialmente em 14/05/13 que o boom do xisto betuminoso americano está
atingindo o mundo.
Isso em parte já é tangível, uma vez que o petróleo - que
antes era importado pelos Estados Unidos - está hoje sendo enviado para outras
partes e a crescente produção americana pode contrabalançar as perturbações no
Oriente Médio.
Rompendo de modo marcante com o passado, esse novo informe
da agência indica que a maior parte da nova produção de petróleo mundial nos
últimos cinco anos ocorreu fora dos países da Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (Opep).
Só no ano passado o aumento da oferta se dividiu entre
países da Opep e dos países não integrantes da organização.
Mas a mudança também é psicológica.
"Ela reforça o afastamento do sentimento de escassez",
disse Jim Burkhard, vice-presidente e chefe de pesquisa de mercados
petrolíferos, cenários na área energética e serviços integrados na empresa IHS
CERA. "Em 2008, prevalecia a percepção de que ficaríamos sem petróleo. O
renascimento da produção de petróleo nos Estados Unidos alterou esse sentimento
e hoje a percepção é de uma oferta mais ampla".
Avanços tecnológicos nos últimos anos ajudaram a aumentar a
produção de gás natural e petróleo leve em formações antes consideradas
inacessíveis, e do petróleo bruto produzido de areias betuminosas canadenses.
Com sede em Paris e criada em resposta às crises do petróleo
na década de 70, a AIE monitora os mercados energéticos e realiza estudos de
mercado periódicos.
No informe publicado, a AIE afirma que
"ondas de choque" provocadas pela produção de gás de xisto e petróleo
leve nos Estados Unidos e de petróleo das areias betuminosas no Canadá foram
sentidas em todo o mercado global de petróleo. E seu impacto foi agravado pelas
revoltas políticas e sociais da Primavera Árabe, no sentido de mudar a maneira
como o petróleo é produzido, comercializado e consumido em todo mundo.
"Eles poderiam simplesmente divulgar o título do seu
relatório: 'O continente privilegiado, América do Norte'", brincou Tom
Kloza, analista da Oil Price Information Service.
Constatação. Sob alguns aspectos, o estudo reflete o que
analistas e outros estudiosos já vinham afirmando há mais de um ano, ou seja,
que a crescente produção de xisto nos Estados Unidos não só ajudou a reduzir as
importações americanas de petróleo estrangeiro, mas também impulsionou a
economia, especialmente em Estados onde as perfurações são mais ativas.
Mas para quem acha que vamos retornar aos dias da gasolina a
US$ 1,25 o galão, ou mesmo US$ 2,50, melhor pensar novamente. "O mercado
global vai dominar em termos de preço", disse Gürcan Gülen, economista
sênior e chefe do Bureau of Economic Geology na Universidade do Texas.
E o mercado global é impelido pela demanda de economias
emergentes como China, Índia e outros países, acrescentou Gülen.
As refinarias americanas prosperaram no ano passado,
substituindo o petróleo importado pelo doméstico, mais barato, especialmente o
que vem de Bakken Shale, em Dakota do Norte e de Eagle Ford, no Sul do Texas,
como também do Canadá. Para Güllen a tendência deve continuar enquanto o
petróleo cru produzido na América do Norte corresponder às exigências das
refinarias. "No momento os preços do petróleo doméstico são um pouco
menores do que os internacionais. O que significa que o petróleo produzido
internamente pode ser competitivo. Mas as refinarias ainda precisam decidir se
ele é mais adequado à sua tecnologia."
"Tudo isso não é nenhuma novidade, pois já era
comentado nos Estados Unidos e no mundo todo", afirmou Joseph A.
Stanislaw, conselheiro da Delloite. Mas o novo relatório é "o
reconhecimento global por uma das mais importantes instituições globais",
disse ele. "De certo ponto de vista é realmente algo importante. E terá
impacto sobre as tomadas de decisão de governos em todo o mundo."
A agência não tem poder para estabelecer limites de
produção, mas segundo Stanislaw, líderes governamentais com frequência recorrem
à agência para adotar decisões em assuntos considerados chave. A agência
representa 28 países membros fora da Opep, incluindo os Estados Unidos.
A instituição prevê que os países-membros da Opep aumentarão
a produção do petróleo bruto em 1,75 milhão de barris por dia em 2018, ao passo
que os países não membros da Opep deverão aumentar a produção em 6 milhões de
barris ao dia.
Mas a diretora executiva da AIE, Maria van der Hoeven, nas
observações oferecidas com o relatório, afirma que a Opep permanece um elemento
importante no fornecimento de petróleo no mundo. "O petróleo da Opep
continuará muito necessário. Essa nova fonte de oferta não implica o fim
daquela organização".
Mas para Jim Burkhard será um período difícil que as antigas
gigantes da produção de petróleo deverão enfrentar. "A Opep poderá deparar
com uma situação em que todo o crescimento da demanda seria suprida por países
não membros da organização e pelo Iraque", afirmou.
Países não membros da Opep seriam Estados Unidos,
Canadá e Brasil. O Iraque é membro da organização. (OESP)
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