sexta-feira, 14 de junho de 2013

20% da matriz energética brasileira será renovável

Energias renováveis não convencionais poderão representar 20% da matriz energética brasileira em 2021
Energia eólica atravessa ciclo virtuoso – As energias renováveis não convencionais deverão ter uma participação de 20% da matriz energética brasileira em 2021, de acordo com as projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Atualmente, essas fontes de energia alternativas são responsáveis por 14% da matriz, de acordo com Maurício Tolmasquim, presidente da EPE. Nessa categoria, encontra-se a energia gerada em Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), e aquela originada de biomassa, além da eólica e solar.
Segundo Tolmasquim, o maior crescimento de capacidade instalada se dará com a energia eólica, que sairá de uma participação de atuais 2% da matriz para 8%. No total das energias renováveis, incluindo a gerada pelas grandes usinas hidrelétricas, a capacidade instalada sairá de 83% para 85% em 2021.
Tolmasquim explica que o crescimento significativo da energia eólica deve-se ao preço mais competitivo nos leilões de energia realizados pelo governo. Desde 2009, 70% da energia comprada por meio de leilões foi de energia eólica. “Nos últimos leilões, cerca de 400 parques eólicos participaram com projetos de geração”, disse.
Segundo o presidente da EPE, contudo, o fato de a energia eólica ser uma fonte variável e não controlável cria insegurança em relação ao fornecimento, o que levou o governo a realizar leilões para garantir o fornecimento. No próximo leilão de energia para entrega em 2018 (A-5) a ser realizado em agosto, por exemplo, os projetos participantes serão apenas de hidrelétricas, PCHs e termelétricas movidas a combustíveis fósseis, como o carvão.
Nos últimos três anos, houve um aumento expressivo da competitividade dos projetos de eólica no Brasil em função principalmente de uma revolução tecnológica que barateou o custo dos equipamentos, explica Elbia Melo, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). A maior competitividade atraiu cerca de R$ 40 bilhões em investimentos em projetos que devem entrar em operação até 2020. De uma capacidade instalada atual de 2,8 Gigawatt de energia eólica, a expectativa é de que 8,2 GW estejam instalados até 2016, de acordo com a EPE, ante 9 GM de biomassa de cana-de-açúcar. A participação da biomassa na matriz deve cair de atuais 8% para 7% em 2021, de acordo com a EPE.
Para Tolmasquim, enquanto o preço da eólica conseguiu reduzir seu valor em mais de 60% desde 2005, a biomassa não encontrou mecanismo de redução de preço, o que fez cair sua competitividade.
Para Zilmar de Souza, gerente de bioeletricidade da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), a competitividade da biomassa de cana está vinculada, atualmente, à existência de novos projetos de usinas de etanol, os chamados greenfields. “Mas como não há novos projetos, o preço da energia de biomassa reflete o custo de transformar antigas usinas para produzir eletricidade, o que fica mais caro”, disse.
Para Elbia Melo, da ABEEólica, a tendência é de que a energia eólica cresça ainda mais porque vive um momento virtuoso, tanto do ponto de vista estrutural como conjuntural. Segundo ela, o setor passa por avanços tecnológicos que permitiram o barateamento do preço. Além disso, a modelagem dos leilões brasileiros favorece a competitividade. Outro ponto é que com a crise na Europa, os fabricantes precisaram procurar novos mercados, o que também barateou custos e atraiu empresas para o Brasil. “A taxa de câmbio também ajudou no processo.”
A energia solar ainda não aparece de forma isolada nas estimativas da EPE. Tolmasquim vê um potencial de crescimento de oferta no longo prazo, quando os preços dos painéis fotovoltáicos de captação forem acessíveis e as residências puderem captar essa energia para utilização própria e, em caso de excedente, colocarem-no na rede e terem desconto em sua conta mensal. “A maior sensibilidade do consumidor para assuntos ambientais está fazendo com que estes projetos se tornem realidade.”
Algumas empresas estão, contudo, trabalhando na diversificação de seu portfólio energético e investindo em energias renováveis não convencionais. A distribuidora Ampla, concessionária que atua no Rio de Janeiro, está implantando a Cidade Inteligente Búzios. Segundo o presidente da Ampla, Marcelo Llévenes, o projeto modelo já conta com painéis de energia solar que devem abastecer as pousadas com 40% da energia necessária. “O Brasil é o primeiro país em que a energia solar poderá ser mais a energia mais barata da grade”, disse.
Cerca de seis mil medidores eletrônicos estão sendo instalados em Búzios para que o consumo seja medido por faixa horária. “Fora de horário de pico, os preços são menores e estamos trabalhando para que algumas atividades econômicas que usam eletricidade possam ter seu horário alterado. Até o momento, já conseguimos uma redução de até 20% na conta”, disse ele. Além disso, carros elétricos e até um barco que funciona como um táxi aquático estão operando com eletricidade. Orçado em R$ 36 milhões oriundos de fundos do governo, fundos privados e recursos próprios, o projeto visa atender, no longo prazo, os 12 mil habitantes da localidade.
Outras empresas, como a CPFL, estão investindo na parceria com usinas de cana para produção de energia a partir da queima do bagaço. Além disso, a empresa está, através da CPFL Renováveis, investindo também em PCHs e em energia eólica. Segundo a empresa, seu portfólio de projetos totaliza 5.553 MW, sendo composto por 35 PCHs, 15 parques eólicos e 6 térmicas a biomassa em operação (1.153MW), 18 parques eólicos e 2 UTEs em construção (582 MW), além de outros 3.818MW em preparação e desenvolvimento nas três fontes. (EcoDebate)

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