sábado, 17 de outubro de 2015

Perspectivas para as matérias-primas do biodiesel

A oferta de matérias-primas para a indústria de biodiesel sempre foi uma das principais preocupações do setor. Ter certeza de que – lá na frente – seria possível abastecer o mercado sem sustos, sempre foi uma das condições do governo federal na hora de discutir o futuro do setor. Por isso, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) dedica um bocado de atenção ao assunto, é o que conta o assessor da Coordenação de Agroenergia do Ministério, Tiago Giuliani, que participará do 2º dia da Conferência BiodieselBR 2015.
Embora, nesse momento, não haja nenhum debate avançado sobre novos aumentos da mistura obrigatória, Giuiliani explica que, como o Ministério de Minas e Energia vem estudando facilitar projetos de mistura autorizativa, os esforços com o dimensionamento correto da oferta de matérias-primas precisam ser redobrados. “Temos um GT [grupo de trabalho] que se dedica só ao acompanhamento da evolução no uso de matérias-primas”, explica Guiliani reconhecendo, contudo, que esse acompanhamento tende a se concentrar sobre a soja. “Até porque a soja é mais de 75% do mix do setor”, justifica.
E o biodiesel tem impactado bastante a lógica do óleo de soja. “O biodiesel e o processamento [de soja] cresceram, mas, mesmo assim, estamos tendo uma inflexão nas exportações”, prossegue.
Precisão
Mesmo para matérias-primas bem estabelecidas no mercado como o sebo bovino e o caroço de algodão esbarra na dificuldade em ter dados precisos. “Isso dificulta o acompanhamento, a gente até sabe o número de abates [de gado bovino], mas não temos como precisar o rendimento de sebo por cabeça”, exemplifica. A situação vem melhorando na medida em que as empresas setor de reciclagem animal vêm refinando seus históricos de produção, mesmo assim ainda falta precisão.
O próprio mercado de óleo de soja tem seus pontos cegos. Por exemplo, Giuliani explica que não há qualquer obrigação para que o mercado compile informações precisas sobre o consumo interno no segmento alimentar. “A gente não sabe estimar com precisão os volumes porque não há uma obrigação que a indústria informe”,
E mesmo com toda a sua sofisticação, as previsões sobre o plantio de soja esbarram no imponderável das questões climáticas. “Ainda não sabemos como vai ser a safra de soja 2015/16. Por ser uma cultura que abrange uma área muito grande do território nacional, temos, no mesmo ano, regiões onde as condições são muito boas e outras onde é muito ruim”, comenta.
Diversificação
Uma solução para minimizar os impactos dessa dependência em relação à soja – apesar da excelência da sojicultura brasileira, um alto grau de dependência aumenta os riscos da indústria – seria a diversificação na produção de oleaginosas. Essa é uma das promessas do PNPB que nunca chegou a ser devidamente equacionada.
Guiliani considera natural que, em sua evolução, a indústria tenha se escorado em duas commodities: a soja e um subproduto da carne bovina. “Para reduzir os custos, o programa acabo se direcionando para matérias-primas que tenham muita liquides”, opina. Mesmo quando as usinas investem em outras oleaginosas para cumprir obrigações relacionadas à agricultura familiar, ela acaba preferindo usar esses óleos para fins mais nobres – e rentáveis.
“Não vejo problema nisso. Para que o preço do biodiesel siga pareado com o do diesel fóssil, a indústria tem que produzir com as matérias-primas mais baratas disponíveis. Os incentivos à agricultura familiar independem das oleaginosas serem usadas na produção de biodiesel”, complementa.
De qualquer forma ele considera que há motivos para otimismo no horizonte graças ao crescimento da área plantada com palma-de-óleo no país que, nos últimos anos, praticamente triplicou indo de 70 para praticamente 200 mil hectares plantados. “O preço do óleo de palma no mercado brasileiro ainda é maior que o do de soja, então, o biodiesel vai continuar sendo feito com soja. O importante é continuarmos desenvolvendo essas culturas para que, no futuro, elas sejam competitivas”, finaliza. (biodieselbr)

Nenhum comentário: