A oferta de matérias-primas para a indústria de
biodiesel sempre foi uma das principais preocupações do setor. Ter certeza de
que – lá na frente – seria possível abastecer o mercado sem sustos, sempre foi
uma das condições do governo federal na hora de discutir o futuro do setor. Por
isso, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) dedica um
bocado de atenção ao assunto, é o que conta o assessor da Coordenação de
Agroenergia do Ministério, Tiago Giuliani, que participará do 2º dia da Conferência
BiodieselBR 2015.
Embora, nesse momento, não haja nenhum debate
avançado sobre novos aumentos da mistura obrigatória, Giuiliani explica que,
como o Ministério de Minas e Energia vem estudando facilitar projetos de
mistura autorizativa, os esforços com o dimensionamento correto da oferta de
matérias-primas precisam ser redobrados. “Temos um GT [grupo de trabalho] que
se dedica só ao acompanhamento da evolução no uso de matérias-primas”, explica
Guiliani reconhecendo, contudo, que esse acompanhamento tende a se concentrar
sobre a soja. “Até porque a soja é mais de 75% do mix do setor”, justifica.
E o biodiesel tem impactado bastante a lógica do
óleo de soja. “O biodiesel e o processamento [de soja] cresceram, mas, mesmo
assim, estamos tendo uma inflexão nas exportações”, prossegue.
Precisão
Mesmo para matérias-primas bem estabelecidas no
mercado como o sebo bovino e o caroço de algodão esbarra na dificuldade em ter
dados precisos. “Isso dificulta o acompanhamento, a gente até sabe o número de
abates [de gado bovino], mas não temos como precisar o rendimento de sebo por
cabeça”, exemplifica. A situação vem melhorando na medida em que as empresas
setor de reciclagem animal vêm refinando seus históricos de produção, mesmo
assim ainda falta precisão.
O próprio mercado de óleo de soja tem seus pontos
cegos. Por exemplo, Giuliani explica que não há qualquer obrigação para que o
mercado compile informações precisas sobre o consumo interno no segmento
alimentar. “A gente não sabe estimar com precisão os volumes porque não há uma
obrigação que a indústria informe”,
E mesmo com toda a sua sofisticação, as previsões
sobre o plantio de soja esbarram no imponderável das questões climáticas.
“Ainda não sabemos como vai ser a safra de soja 2015/16. Por ser uma cultura
que abrange uma área muito grande do território nacional, temos, no mesmo ano,
regiões onde as condições são muito boas e outras onde é muito ruim”, comenta.
Diversificação
Uma solução para minimizar os impactos dessa
dependência em relação à soja – apesar da excelência da sojicultura brasileira,
um alto grau de dependência aumenta os riscos da indústria – seria a
diversificação na produção de oleaginosas. Essa é uma das promessas do PNPB que
nunca chegou a ser devidamente equacionada.
Guiliani considera natural que, em sua evolução, a
indústria tenha se escorado em duas commodities: a soja e um subproduto da
carne bovina. “Para reduzir os custos, o programa acabo se direcionando para
matérias-primas que tenham muita liquides”, opina. Mesmo quando as usinas
investem em outras oleaginosas para cumprir obrigações relacionadas à
agricultura familiar, ela acaba preferindo usar esses óleos para fins mais
nobres – e rentáveis.
“Não vejo problema nisso. Para que o preço do
biodiesel siga pareado com o do diesel fóssil, a indústria tem que produzir com
as matérias-primas mais baratas disponíveis. Os incentivos à agricultura
familiar independem das oleaginosas serem usadas na produção de biodiesel”,
complementa.
De qualquer forma ele considera que há motivos para
otimismo no horizonte graças ao crescimento da área plantada com palma-de-óleo
no país que, nos últimos anos, praticamente triplicou indo de 70 para
praticamente 200 mil hectares plantados. “O preço do óleo de palma no mercado
brasileiro ainda é maior que o do de soja, então, o biodiesel vai continuar
sendo feito com soja. O importante é continuarmos desenvolvendo essas culturas
para que, no futuro, elas sejam competitivas”, finaliza. (biodieselbr)
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