Fontes renováveis serão as
únicas a registrar crescimento no ano enquanto o gás natural deve recuar após
10 anos. O carvão será o mais pressionado.
A pandemia de covid-19
representa o maior choque para o sistema global de energia em mais de sete
décadas. Essa é a principal conclusão de um relatório da Agência Internacional
de Energia, publicado em 04/05/2020. A queda na demanda deste
ano resultará em um declínio anual recorde nas emissões de carbono de quase 8%.
Já a demanda por eletricidade deverá diminuir em 5% em 2020, a maior queda
desde a Grande Depressão na década de 1930.
Com base em uma análise de
mais de 100 dias de dados reais até agora este ano, a publicação, Global Energy
Review (acessível neste link, em inglês) inclui estimativas de como as
tendências de consumo de energia e emissões de dióxido de carbono (CO2)
provavelmente evoluirão ao longo de 2020. Esses dados são baseadas em
suposições de que os bloqueios implementados em todo o mundo em resposta à
pandemia são progressivamente diminuídos na maioria dos países nos próximos
meses, acompanhados por uma recuperação econômica gradual.
O relatório projeta que a
demanda de energia como um todo cairá 6% em 2020 – sete vezes o declínio após a
crise financeira global de 2008. Em termos absolutos, equivale a perder toda a
demanda de energia da Índia, o terceiro maior consumidor de energia do mundo.
Nas economias avançadas devem
ser registrados os maiores declínios, sendo 9% nos Estados Unidos e 11% na
União Europeia. A entidade lembra que o impacto da crise na demanda de energia
depende fortemente da duração e do rigor das medidas para conter a propagação
do vírus. Nos cálculos da AIE constatou que cada mês de bloqueio mundial nos
níveis vistos no início de abril reduz a demanda global anual de energia em
cerca de 1,5%.
Apesar deste cenário, as
energias renováveis devem ser a única fonte de energia que crescerá em 2020,
com sua participação na geração global de eletricidade projetada para aumentar,
graças ao acesso prioritário às redes e aos baixos custos operacionais. Mesmo
com as interrupções na cadeia de suprimentos que levaram à paralisação ou
atrasaram a implantação em várias regiões, a solar fotovoltaica e a eólica
estão no caminho para ajudar a elevar a geração de eletricidade renovável em 5%
em 2020, auxiliada por uma maior produção de energia hidrelétrica.
De acordo com a AIE, as
alterações no uso de eletricidade durante os bloqueios resultaram em declínios
significativos na demanda geral de eletricidade, com níveis e padrões de
consumo nos dias úteis parecidos com os de um domingo anterior à crise. Os
bloqueios completos reduziram a demanda de eletricidade em 20% ou mais, com
menores impactos de bloqueios parciais.
Depois de superar o carvão
pela primeira vez em 2019, as fontes de baixo carbono devem estender sua
liderança este ano para atingir 40% da geração global de eletricidade. Esse
índice representa 6 pontos porcentuais à frente do carvão. Assim, essa
tendência está afetando a demanda por eletricidade a partir de carvão e gás
natural, que estão cada vez mais pressionados entre a baixa demanda geral de
energia e o aumento da produção vinda das fontes renováveis.
Como resultado, a
participação combinada de gás e carvão no mix global de energia deve cair 3
pontos porcentuais em 2020 para um nível registrado em 2001. Assim, o carvão é
particularmente atingido, o maior declínio desde a Segunda Guerra Mundial. Após
o pico de 2018, a geração de energia a carvão deverá cair mais de 10% este ano.
Já a demanda de gás natural está a caminho de cair 5% em 2020, a primeira
interrupção após uma década de expansão.
Em sua análise o diretor
executivo da AIE, Dr. Fatih Birol, aponta que ainda é muito cedo para
determinar os impactos em longo prazo, mas o setor de energia que emerge dessa
crise será significativamente diferente daquele que veio antes.
Contudo, a entidade destaca
que apesar da resiliência das energias renováveis na geração de eletricidade
em 2020, seu crescimento deve ser menor do que nos anos anteriores. A energia
nuclear, outra importante fonte de eletricidade com baixo teor de carbono, está
a caminho de cair 3% este ano em relação à alta histórica de 2019.
A
queda de 8% nas emissões são o resultado dessas tendências, impulsionadas
principalmente pelas reduções no uso de carvão e petróleo. Se confirmado esse
resultado terá atingindo seu nível mais baixo desde 2010 e a maior redução de
emissões já registrada, quase 6 vezes maior que a queda recorde anterior de
400 milhões de toneladas em 2009, resultante da crise financeira global.
Para Birol, os governos podem
aprender com essa experiência colocando tecnologias de energia limpa – além de
geração – ações de eficiência energética, baterias, hidrogênio e captura de
carbono, no centro de seus planos de recuperação econômica. Na opinião da
entidade, investir nessas áreas pode criar empregos, tornar as economias mais
competitivas e direcionar o mundo para um futuro de energia mais resiliente e
mais limpo. (canalenergia)
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