• Países devem mudar de rumo para evitar níveis de produção de
carvão, petróleo e gás muito superiores ao necessário para limitar a temperatura
em 1,5°C.
Os países planejam aumentar a
produção de combustíveis fósseis durante a próxima década, mesmo quando as
pesquisas mostram que o mundo precisa diminuir a produção em 6% ao ano para
limitar o aquecimento global a 1,5°C, de acordo com o Relatório sobre a Lacuna
de Produção 2020.
Lançado em 2019, o relatório
mede a diferença entre metas do Acordo de Paris e metas de produção de carvão,
petróleo e gás planejadas pelos países. Conclusão é de que a “lacuna de
produção” permanece grande, pois os países planejam produzir, em 2030, mais do
que o dobro de combustíveis fósseis do que seria consistente para limitar o
aumento da temperatura em 1,5°C.
A edição especial deste ano
analisa as implicações da pandemia de COVID-19 – e das medidas de estímulo e
recuperação dos governos – na produção de carvão, petróleo e gás. E chega em um
momento potencialmente decisivo, já que a pandemia desencadeia ações
governamentais sem precedentes e as principais economias, incluindo China,
Japão e Coreia do Sul, se comprometeram a atingir emissões líquidas zero.
“Os devastadores incêndios
florestais, enchentes, secas e outros eventos climáticos extremos deste ano
servem como poderosos lembretes de por que devemos ser bem-sucedidos no
enfrentamento da crise climática. Enquanto procuramos reiniciar as economias
após a pandemia de COVID-19, investir em energia e infraestrutura de baixo
carbono será bom para empregos, para economias, para a saúde e para a qualidade
do ar”, afirmou Inger Andersen, Diretora Executiva do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). “Os governos devem aproveitar a
oportunidade para direcionar suas economias e sistemas energéticos para longe
dos combustíveis fósseis, e reconstruir melhor rumo a um futuro mais justo,
sustentável e resiliente”, concluiu.
O relatório foi produzido
pelo Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI), Instituto Internacional de
Desenvolvimento Sustentável (IISD), Instituto de Desenvolvimento Internacional
(ODI), E3G e PNUMA. Dezenas de pesquisadores contribuíram para a análise e
revisão, envolvendo diversas universidades e organizações de pesquisa.
“A pesquisa está muito clara. Enfrentaremos graves perturbações climáticas se os países continuarem a produzir combustíveis fósseis nos níveis atuais, quanto mais em seus aumentos planejados”, disse Michael Lazarus, autor principal do relatório e diretor do SEI’s US Center. “A pesquisa é igualmente explícita sobre a solução: políticas governamentais que diminuam tanto a demanda quanto a oferta de combustíveis fósseis e apoiem as comunidades atualmente dependentes deles. Este relatório sugere passos que os governos podem tomar hoje para uma transição justa e equitativa para longe dos combustíveis fósseis”.
Relatório sobre Lacuna de Produção analisa as implicações da pandemia da COVID-19 – e das medidas de estímulo e recuperação dos governos – na produção de carvão, petróleo e gás.
Governos reduzirão a produção
de combustíveis fósseis em 6% ao ano para limitar aquecimento global
catastrófico e irreversível.
As principais conclusões do
relatório incluem:
• Para seguir um caminho consistente de 1,5°C, o mundo
precisará diminuir a produção de combustíveis fósseis em cerca de 6% ao ano
entre 2020 e 2030. Na contramão, os países estão planejando e projetando um aumento
médio anual de 2%, o que até 2030 resultaria em mais do que o dobro da produção
consistente com o limite de 1,5°C.
• Entre 2020 e 2030, a produção global de carvão, petróleo e
gás teria que diminuir anualmente em 11%, 4% e 3%, respectivamente, para ser
consistente com o caminho de 1,5°C.
• A pandemia de COVID-19 – e as medidas de “lockdown” para
deter sua propagação – levaram a quedas de curto prazo na produção de carvão,
petróleo e gás em 2020. Mas os planos pré-COVID e as medidas de estímulo pós-COVID
apontam para uma continuação da crescente lacuna global de produção de
combustíveis fósseis, com riscos de graves perturbações climáticas.
• Até hoje, os governos do G20 comprometeram mais de US$ 230
bilhões em medidas relacionadas à COVID-19 junto a setores responsáveis pela
produção e consumo de combustíveis fósseis. Isso é muito mais do que o valor
investido em energia limpa – cerca de US$ 150 bilhões. Os formuladores de
políticas devem reverter esta tendência para cumprir as metas climáticas.
“O choque de demanda
provocado pela pandemia e a queda dos preços do petróleo este ano demonstraram
mais uma vez a vulnerabilidade de muitas regiões e comunidades dependentes de
combustíveis fósseis. A única saída para esta armadilha é a diversificação
destas economias para além dos combustíveis fósseis. Infelizmente, em 2020
vimos muitos governos dobrando o consumo de combustíveis fósseis e reforçando
estas vulnerabilidades”, disse Ivetta Gerasimchuk, uma das principais autoras
do relatório e líder para o fornecimento de energia sustentável no IISD. “Em
vez disso, os governos deveriam direcionar os fundos de recuperação para uma
diversificação da economia e transição para energias limpas que ofereçam melhor
potencial econômico e de emprego em longo prazo. Este pode ser um dos
empreendimentos mais desafiadores do século XXI, mas é necessário e possível”.
O relatório também analisa
como o mundo pode fazer uma transição equitativa afastando-se dos combustíveis
fósseis, com redução mais rápida em países com maior capacidade financeira e
institucional e que são menos dependentes da produção destes combustíveis.
Alguns dos maiores produtores deste grupo, incluindo Austrália, Canadá e
Estados Unidos, estão atualmente entre os que buscam grandes expansões no
fornecimento de combustível fóssil.
O relatório também explora
formas de facilitar a cooperação, uma vez que países altamente dependentes de
combustíveis fósseis e com capacidade limitada necessitarão de apoio
internacional para uma transição equitativa.
“Diminuir a produção de
combustíveis fósseis a um ritmo compatível com os objetivos de Paris requer
tanto cooperação internacional quanto apoio”, explicou a pesquisadora do SEI
Cleo Verkuijl, que é uma das principais autoras do relatório. “À medida que os
países comunicam compromissos climáticos mais ambiciosos antes da Conferência
da ONU sobre Mudança do Clima de 2021, em Glasgow, eles têm a oportunidade de
incorporar metas e medidas para diminuir a produção de combustíveis fósseis em
seus planos, ou NDCs”.
O relatório define seis áreas de ação e fornece aos formuladores de políticas opções para diminuir a produção de combustíveis fósseis enquanto promulgam os planos de recuperação da COVID-19. Entre outras recomendações, o documento sugere reduzir o apoio governamental aos combustíveis fósseis, introduzir restrições à produção e garantir que os fundos de estímulo sejam direcionados para investimentos verdes (enquanto amarram qualquer apoio de alto carbono com condições que promovam o alinhamento a longo prazo com as metas climáticas).
“Este relatório lança uma luz sobre como a ação governamental, em muitos casos, corre o risco de nos prender em caminhos alimentados por combustíveis fósseis. E também apresenta a alternativa, com soluções e exemplos para ir além da produção de carvão, petróleo e gás”, pontuou o Diretor Executivo do SEI, Måns Nilsson. “É hora de imaginar, e planejar um futuro melhor”. (ecodebate)
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