Até o reino mineral sabe que
não existe fonte de energia que não cause problemas sociais, impactos ao meio
ambiente, produzam resíduos e contaminações; e assim não poderiam ser chamadas
de limpas. Afinal não existe energia limpa, e sim sujas e menos sujas.
As fontes de energia sujas
são conhecidas, as fontes não renováveis, como o petróleo e seus derivados, o
carvão mineral, e o gás natural; os vilões das emissões de GEE (Gases de Efeito
Estufa). Também nesta classificação, é considerada a energia produzida pelos
minerais radioativos.
E as fontes menos sujas, são
as fontes renováveis provenientes do Sol, do vento, da água, da biomassa. Dependendo
de como é produzida a energia elétrica, a partir das fontes renováveis, se
tornam menos ou mais sujas. A produção centralizada, em grandes usinas,
parques, centrais, são as mais sujas. Enquanto a produção descentralizada de
energia nos telhados, ocupando pequenas áreas são as menos sujas. Esta
nomenclatura corresponde ao que realmente acontece em campo ao analisar a
geração centralizada e a geração descentralizada. No caso da geração
centralizada, as boas práticas socioambientais foram abandonadas pelas empresas
que se dedicam ao negócio do vento e do Sol.
Os defensores de usinas nucleares insistem em chamar esta fonte de energia elétrica, de limpa. Pura esperteza, má fé, “fake news”. Tentam confundir, influenciar, e assim formar opinião com base em premissas falsas. Enganam os incautos, pois mundialmente, e no país, a fonte nuclear desperta na população repulsa, temor, medo e perigo. Chamando-a de limpa querem tornar mais palatável esta fonte de energia perigosa, cara e suja.
É preciso saber que existem várias fases e processos industriais envolvidos, que transformam o minério de urânio no combustível que vai gerar energia térmica (reações nucleares) e sua conversão em eletricidade nos reatores nucleares. Para se obter o combustível usado nas usinas, denomina-se de ciclo do combustível nuclear os vários processos industriais envolvidos, desde a mineração e beneficiamento do minério radioativo, a conversão em gás, o enriquecimento isotópico, a reconversão de gás para material sólido, a fabricação das pastilhas e do combustível, e a geração na usina nuclear. Rejeitos de alto grau de radioatividade são produzidos nos reatores nucleares e devem ser tratados e armazenados.
Um dos maiores problemas
causados pelo volume descartado, popularmente chamado de “lixo nuclear”, merece
uma discussão a parte, sobre o que fazer com este “lixo”, como armazená-lo com
segurança, pois a radioatividade, e o perigo que ela representa para as pessoas
e meio ambiente, pode perdurar por milhares de anos. E a pergunta que não quer
calar é sobre a questão ética de legar para as gerações futuras, mais este
grandioso problema.
Também pouco é discutido com
a sociedade, o que fazer com as usinas depois de findarem suas vidas úteis de
funcionamento. O processo de descomissionamento é caro e longo. Alguns estudos
mostram que o custo envolvido nesta etapa pode ser próximo do valor gasto na
instalação da própria usina. E quem finalmente pagará será o consumidor.
Além das questões postas sobre os inúmeros motivos para ser contra a instalação de usinas nucleares, sem dúvida a falta de transparência do setor nuclear é sua marca indelével. Está no DNA do setor o desrespeito completo para com a sociedade, sobre as explicações, ações, motivações e justificativas das decisões tomadas. Sem dúvida interesses militares contribuem para que informações não cheguem à população, sejam dificultadas e mesmo omitidas. O debate democrático é necessário sobre o futuro das usinas nucleares no país. Se é que haja futuro para esta fonte de energia.
Diferentemente do que afirmam os nucleopatas, o Brasil não precisa da energia nuclear para garantir sua segurança energética. O atendimento do consumo de energia elétrica pode ser ofertado apenas com fontes renováveis de energia sem recorrer a usinas nucleares de potência. Inúmeros estudos apontam para a exuberância e o enorme potencial dos recursos solares, eólicos, e da biomassa existentes nas várias regiões do país. Além de uma extensa costa marítima que permitiria o uso das marés, das ondas, das correntes marítimas como fonte de energia em futuro próximo.
Outra afirmação que ofende a
inteligência alheia diante da realidade é que esta fonte energética esteja
crescendo no mundo, com grande aceitação entre os países. Mentira deslavada.
Na reunião do Clima em
Glasgow-COP26 pouco se falou na alternativa nuclear para o enfrentamento da
emergência climática. A exceção foi a presença dos grupos de pressão, que se
beneficiam economicamente desta insana escolha, dos lobistas, das grandes corporações
interessadas em fazer negócios.
Todavia, merece destaque a declaração conjunta assinada pela Alemanha, Portugal, Luxemburgo, Áustria e Dinamarca, nesta reunião, defendendo que não devem ser disponibilizados recursos financeiros da Comunidade Europeia para financiar novas usinas nucleares. Os italianos já haviam em 2011, através de referendo popular, por larga margem (94% dos votantes), serem favoráveis ao banimento das centrais nucleares de seu território. As quatro que existiam foram fechadas. Na Alemanha foi decisão do governo, de que em dezembro de 2021, metade dos reatores nucleares ainda em operação seja desativado. A outra metade deverá sair de operação no próximo ano, e assim de vez abolir a energia nuclear de seu território.
Em outros países existem fortes resistências ao uso da energia nuclear para geração elétrica. Mesmo naqueles poucos países que têm aumentando a participação do nuclear em suas matrizes elétricas, existem fortes embates entre as posições pró e contra, e questionamentos sobre o uso destas “chaleiras atômicas”.
Não se pode aceitar que
decisões de pequeno grupo, sobre questões essenciais, tão relevantes para a
sociedade, sejam acatadas simplesmente, em detrimento da opinião do povo
brasileiro que não gosta da ideia de ter usinas nucleares no país. A
reivindicação é de que a sociedade brasileira seja ouvida com relação a
instalação de usinas nucleares. Ainda mais sendo uma escolha que compromete não
só as gerações atuais, como também as futuras, a uma fonte energética polêmica,
para falar o mínimo, e desnecessária.
A energia nuclear não é a fonte prioritária para ser apoiada e disseminada, e compor um mix com outras fontes para diversificar a matriz elétrica, como recentemente declarou o almirante-ministro de Minas e Energia. Posição equivocada, contrária aos interesses públicos e da natureza. Sem lastro em análises técnicas, econômicas, ambientais; a decisão de priorizar a fonte nuclear na matriz elétrica é um erro que está sendo cometido açodadamente, sem que verdadeiramente haja um debate nacional sobre o papel desta fonte de energia insustentável no cenário elétrico brasileiro. Existe em todo território brasileiro disponibilidade de fontes energéticas mais econômicas, mais seguras, menos sujas.
A boiada no setor nuclear deve ser contida. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário