Embora a hidrelétrica esteja
em operação há séculos, novos projetos e abordagens operacionais estão sendo
desenvolvidos, visando melhorar a flexibilidade, aumentar a vida útil, reduzir
impactos e custos. De fato, se examinamos os dados de 2000 a 2016 em relação
aos investimentos públicos em pesquisa e desenvolvimento (Research &
Development - R&D) do setor hidrelétrico, 2016 foi o ano com maiores
investimentos, cerca de 27 milhões de euros, com a Finlândia em primeiro lugar.
Entre 2000 e 2016, na União Europeia foram gastos 167 milhões em dinheiro público para a R&D, apenas os Estados Unidos e o Canadá gastaram mais. Porém, é com os investimentos privados que a UE ocupa o primeiro lugar, com 1000 milhões de euros, valor 5 vezes superior aos EUA (período 2003-2016). Isso é devido ao fato que na Europa existem grandes empresas com departamentos de R&D na vanguarda, produtoras de turbinas e de usinas hidrelétricas. Na verdade, o número de patentes registradas na Europa no setor hidrelétrico aumentou constantemente de 2004 até hoje, com um número de patentes 5 vezes superior aos EUA, Canadá e Rússia, mas 4 vezes inferior em relação à China (que totalizou cerca de 220 patentes em 2014). Estão aumentando também os projetos de pesquisa financiados pela Comissão Europeia no setor hidrelétrico, em geral voltados ao incremento da flexibilidade das usinas e ao melhoramento da sustentabilidade ambiental. Entre estes, FitHydro (Fish Friendly Innovative Technologies in Hydropower – Tecnologias Inovadoras e Amigas dos Peixes na Energia Hidrelétrica) e X-Flex Hydro (Hydropower Extending Power System Flexibility - Flexibilidade da Extensão do Sistema de Energia Hidrelétrica ) de pouco mais de 7 milhões de euros cada um.
As tecnologias mais inovadoras
Entre as tecnologias inovadoras
recentemente introduzidas, que visam aumentar a flexibilidade das usinas
existentes, citam-se os mecanismos de controle do fluxo nas turbinas quando
operam com rendimento reduzido, a velocidade de rotação variável e novos
sistemas de turbinas, que consentem também o funcionamento da turbina em
modalidade de bombagem.
A primeira grande usina à
velocidade variável encomendada na Europa foi a Goldisthal em 2004, equipada
com quatro unidades de bombagem de 265-MW. Além disso, estima-se que a energia
produzida por usinas hidrelétricas poderia aumentar em 42TWh anuais através da
implementação da digitalização (cerca de 1% a mais por usina) a nível mundial.
Neste âmbito, Enel Green Power está trabalhando para desenvolver o algoritmo
HydEA per maximizar a energia para usinas multi-grupo e com plano de produção
definido.
Para reduzir o risco de mortalidade dos peixes que, infelizmente, poderiam ser arrastados para dentro da turbina, estão em fase de desenvolvimento e realização, novas turbinas ecolόgicas, como as turbinas Alden, Dive e la Minimum Gap Runner. Mesmo tecnologias de baixa queda, como rodas d'água e turbinas VLH, mostram taxas de mortalidade muito baixas em configurações ideais.
Novos potenciais de marés e ondas, recuperação de barreiras e solar flutuante
Estima-se que o potencial das
marés e das ondas seja, respectivamente, de 800 e 750 TWh/anuais a nível
mundial, em particular 250 e 210 TWh/anuais para os EUA, 94 e 105 TWh/anuais no
Reino Unido e 110 TWh/anuais no Canadá (da maré) (Yuce e Muratoglu, 2015),
cerca de 1/5 do potencial energético hidrelétrico desenvolvido a nível global.
Um estudo levado ao JRC da
Comissão Europeia estima que o potencial de armazenamento de energia mediante
usinas de bombagem possa alcançar 29 TWh (conectando entre si barreiras e
reservatórios existentes a uma distância de 20 km).
Novas oportunidades estão
surgindo também com o retrofitting (readaptação) de usinas existentes, dado que
na Europa a idade média delas é de pouco mais de 40 anos, incrementando a
energia que pode ser produzida.
A instalação de usinas solares flutuantes nas bacias geradas pelas barragens poderia gerar 4400 GW (6270 TWh) assumindo uma cobertura com fotovoltaica flutuante de 25% dos 265,7 mil km2 das bacias hidroelétricas existentes.
Existe, ainda, a instalação
de turbinas hidráulicas em aqueduto, para fins de fornecimentos elétricos
locais, ou para a recuperação de barragens existentes. O repowering
(repotenciamento) de instalações histόricas com baixos saltos, barragens e moinhos,
poderia produzir um potencial máximo dia 8.7 TWh/anual, e 6.8 TWh/anual de
eletricidade e poderia ser adicionado melhorando as infraestruturas.
O hidrelétrico continua a ser um setor chave para o abastecimento de eletricidade, bem como uma fonte de inspiração para inúmeros avanços tecnológicos que se encontram para atuar num contexto multidisciplinar. Apesar da construção de grandes usinas na UE estar agora na fase de esgotamento, enquanto em outras áreas continua crescendo (China, América do Sul, Balcãs), as oportunidades de desenvolvimento de novas tipologias de usinas fazem com que o setor hidrelétrico continue vivo, principalmente na otimização e na recuperação de barragens e usinas existentes.
Emanuele Quaranta
Responsável Científico no
Joint Research Centre (Centro Comum de Investigação) da Comissão Europeia
Engenheiro hidráulico,
trabalha como Responsável Científico no Joint Research Centre (Centro Comum de
Investigação) da Comissão Europeia, com a qual já havia colaborado em tecnologias
emergentes no setor hidrelétrico.
De 2014 a 2019 foi
pesquisador do Politécnico de Turim, onde obteve o doutorado, ganhando, em
2017, o prêmio de melhor tese italiana em engenharia hidráulica. Seu campo de
pesquisa está relacionado à energia hidrelétrica, ao nexo entre água e energia
e às soluções baseadas na natureza. Colabora também com a International Energy
Agency e com o SINTEF Energy Research sobre a interação entre energia
hidrelétrico e peixes.
É refere científico de
periódicos e congressos internacionais, divulgador científico em publicações de
empresas e associações internacionais, como a International Hydropower
Associaton, Prescouter, Qual Energia e Solar Power World, e curador de uma
edição especial sobre o futuro do setor hidrelétrico para a revista
internacional Sustainability MDPI. (enelgreenpower)
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