terça-feira, 30 de julho de 2024

Hídricas sim, até mesmo sem grandes reservatórios

Consultoria PSR elenca os fatores pelos quais o Brasil não deve abrir mão de ampliar seu parque hidrelétrico sob novas premissas.
Ainda que impedimentos socioambientais tornem difícil a construção de novas hidrelétricas convencionais, com reservatórios de armazenamento, as possibilidades de expansão das hídricas estão longe de se esgotar no Brasil e têm um longo caminho à frente, a depender de arranjos regulatórios e de consensos sociais.

Esse caminho passa por alternativas que vão da repotenciação, modernização e ampliação das usinas existentes, construção de usinas reversíveis aproveitando ao máximo reservatórios atuais para atuarem em circuito fechado com reservatórios superiores construídos em locais criteriosamente escolhidos, até a construção de usinas de pequenas que das (até 10 metros) com tecnologias de última geração.

Todas essas e outras possibilidades estão discutidas detalhadamente no editorial de 16 páginas da edição de maio do boletim Energy Report, da consultoria PSR. “Cabe a todos nós, agentes privados e governamentais, especialistas e consumidores assegurar que este patrimônio seja usado da maneira que o país precisa, e merece”, conclui o texto após fazer um verdadeiro inventário das perspectivas.

“No Brasil, a geração hidrelétrica praticamente coincide com o desenvolvimento dos sistemas elétricos por Thomas Edison, George Westinghouse e Nikola Tesla”, começa o editorial, afirmando que a primeira usina hídrica do país foi inaugurada pelo imperador D. Pedro II e que a UHE Fontes, em Piraí (RJ), de 24 MW foi “a Itaipu no início do século XX”.

A PSR divide a história do sistema hidrelétrico brasileiro em duas fases: Hidrelétricas 1.0, com a construção de todo um sistema, incluindo a diversificação de bacias a partir dos anos 1960. E Hidrelétricas 2.0, a partir do ano 2000, quando elas servem de suporte para

a disseminação das novas renováveis, atuando como espécies de “armazéns energéticos”.

Na sequência, a consultoria propõe a fase das Hidrelétricas 3.0, no seu entender, uma janela de oportunidades. Ela derivaria de fatores como as mudanças climáticas, os usos múltiplos dos reservatórios, a necessidade de flexibilidade e armazenamento para a gestão dos grandes montantes de renováveis intermitentes entrando no sistema, a inviabilidade econômica e ambiental da construção de novos grandes reservatórios e a sinergia entre as hídricas e solares para a construção de usinas solares flutuantes.

A partir dessas premissas, a PSR discute as possibilidades das hídricas em sete seções, começando pelo “Nexo água, energia e clima”, passando pelas reversíveis (baterias de água), flutuantes, modernização/repotenciação, ampliações, associadas aos leilões de capacidade, até terminarem em um artigo sobre “Cheias, Mudanças Climáticas e Segurança de Barragens”, escrito pelo especialista Jerson Kelman (colunista da Brasil Energia), ex-diretor-geral da Aneel e ex-presidente da ANA.

O editorial está referenciado em novas tecnologias desenvolvidas neste século, inclusive pela própria PSR, para otimizar o aproveitamento hídrico e em experiências internacionais, como o documento “Diálogo Incomum entre Hidrelétrica, Restauração de Rios e Segurança Pública”, de 2018 (EUA), que, ao mesmo tempo, reconhece a importância das hídricas para a descarbonização do sistema elétrico do país e sugere alternativas para preservação dos ecossistemas aquáticos.

Na parte de reversíveis, o texto cita o programa chinês de construção de 89 GW desse tipo de usina, quase 90% da atual capacidade hidrelétrica brasileira, como “recursos flexíveis à disposição do planejamento do sistema de transmissão”.

O capítulo de modernização, repotenciação e ampliação é referenciado na famosa nota técnica “Repotenciação e Modernização de Usinas Hidrelétricas – Ganhos de eficiência, energia e capacidade instalada”, publicado pela EPE em 2019.

PCH Saltinho, no Rio Grande do Sul: obras iniciadas em setembro de 2023, prevista para inaugurar em 2025.

Com investimento de R$ 200 milhões, usina de 27,27 MW, no Rio Grande do Sul, teve suas obras iniciadas em setembro de 2023.

A diretoria da Aneel aprovou a declaração de utilidade pública (DUP) da área de 81,51 hectares necessária à instalação da PCH Saltinho, de 27,27 MW, no rio Ituim, entre os municípios gaúchos de Ipê e Muitos Capões. A construção da usina foi iniciada em setembro de 2023 e sua operação comercial está prevista para começar em julho de 2025.

De acordo com o engenheiro Luis Fernando Achá Mercado, responsável pela obra, a construção da usina, com investimento de aproximadamente R$ 200 milhões, encontra-se em fase de escavação dos três túneis, com pouco mais de 3 km somados, que farão parte das instalações. Essa parte da obra está a cargo da empresa Pedra Branca Escavações.

Os equipamentos, turbinas e geradores que irão compor as três unidades geradoras da usina serão fornecidos pela Weg, as obras civis estão a cargo da Fraga – Construções e Engenharia, especialista em obras hidrelétricas no segmento de PCH, e a terraplanagem está sendo executada pela gaúcha LJ Terraplanagem.

A PCH Saltinho vendeu 13 MW med no leilão de energia nova A-4 de 2022, estando comprometida a entregar o produto no mercado regulado a partir de janeiro de 2026. Como a usina deve entrar em operação quase seis meses antes, a ideia é vender a produção no mercado livre no intervalo anterior à obrigação já contrata da, antecipando receita.

Mercado disse que a empresa pretende iniciar as negociações dessa energia no segundo semestre deste ano. Atualmente, segundo o engenheiro, está em andamento a licitação para a escolha da empresa que construirá a linha de transmissão de 6 km necessária à conexão da usina ao SIN.

Mercado é engenheiro da Estelar Engenheiros Associados, empresa especializada em projetos de geração renovável, idealizadora da usina. Viabilizado o projeto, a Estelar monta uma SPE, no caso a Saltinho Energia S.A., e negocia participações acionárias no empreendimento.

Renovável, limpa, nacional e com dezenas de outros usos para a água.

De acordo com o executivo, a Estelar vem desenvolvendo vários outros projetos de PCHs para início de obras a partir do próximo ano. Um deles é o da PCH Lebon Régis, de 6 MW, no município catarinense do mesmo nome. Segundo Mercado, o projeto já possui licença ambiental prévia (LP) e vendeu energia no leilão A-5 de 2022. (brasilenergia)

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