Da Secretaria de Comunicação da UnBJá imaginou chegar em casa e ligar o carro na tomada para “encher o tanque”? E dirigir pelas ruas sem aquela fumaça preta que contamina o ar e a poluição sonora vinda dos barulhentos motores? Pois essa é a realidade do carro elétrico, ideia que ganha cada vez mais espaço no mundo e no Brasil. O primeiro modelo genuinamente brasiliense deve ficar pronto em fevereiro. O veículo, batizado de BR 12v, é fruto da pesquisa de um grupo de estudantes da Faculdade UnB Gama.
A carcaça do modelo é de um Gurgel BR 800, primeiro carro criado e desenvolvido no Brasil, em 1988. Mas a tecnologia que vai dentro é de ponta. “Escolhemos adaptar o Gurgel por ter uma lataria mais leve, de fibra de vidro. Vamos retirar o motor antigo e inserir um novo, 100% elétrico”, explica o estudante Wagnei Lemes Martins, do 5º semestre de Engenharia Automotiva. Ele e outros nove alunos são orientados no projeto pelo professor Rudi Henri Van Els.
Cálculos e desenhos do BR 12v já estão prontos. O motor, que deve chegar até o fim do ano, será importado da Alemanha com recurso do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Infelizmente, o motor ainda não é fabricado no Brasil”, explica o professor Rudi. A expectativa é que o Gurgel recapeado, e sem uma gota de gasolina, ganhe as ruas no início de fevereiro de 2011.
18 Baterias – O BR 12v contou com uma dose da improvisação tipicamente brasileira para sair do papel. A bateria usada nos carros elétricos que já circulam pela Europa, Estados Unidos, Índia e China, – de íons de lítio, semelhante às dos celulares – ainda não pode ser comercializada no Brasil por falta de legislação sobre o seu descarte. “O jeito foi usar as baterias convencionais para botar o carro em movimento”, diz Wagnei. Ao todo, nada mais nada menos que 18 baterias – pesando 4,2 kg cada – serão usadas no modelo da UnB.
Seis delas ficarão junto com o motor. As outras 12 serão acomodadas sob o banco de trás. “A bateria de lítio fornece até 15 vezes mais energia do que a convencional”, observa Wagnei. “Mas esse é só o primeiro passo. A ideia é que o carro seja um laboratório e que outros alunos possam aprimorar a tecnologia empregada ao longo dos anos”, incentiva. Por conta do peso das baterias, o motor com 15 cavalos de potência do guerreiro BR 12v só poderá carregar o motorista e um passageiro por vez.
Esqueça os postos de gasolina e o sobe desce do preço do combustível. O BR 12v será abastecido na tomada. “A cada 6h de carga o tanque está cheio e pronto para rodar até 45 km”, conta Wagnei. Segundo os pesquisadores, a vida útil das baterias é de aproximadamente quatro anos e a conversão de energia elétrica em mecânica no BR 12v chega aos 90% (na combustão é de 30%). “Estamos estudando num modo de realimentar a bateria quando o carro estiver na banguela”, adianta.
O possante, que chega aos 80 km/h, também é sinônimo de economia. Apesar de ainda não terem sido feitos cálculos precisos sobre os gastos para manter o modelo, a equipe garante que vale muito a pena para o bolso. “Calcula-se que ter um carro elétrico em casa eleve em cerca de 10% o consumo de energia por mês em uma residência comum”, diz Wagnei. Todo tipo de ruído também desaparece no modelo elétrico. “Teremos que fazer um sistema luminoso para indicar a troca de marcha”.
Na opinião do professor Rudi, a mudança é uma questão de tempo. “A tecnologia já não é um entrave, mas é preciso vontade política”, aponta. Segundo o especialista, o carro elétrico não se tornará uma realidade no Brasil enquanto não houver incentivos para a fabricação de peças no país. “As taxas de importação são altíssimas. Para ele se popularizar será preciso baratear o processo”, observa Rudi, destacando ainda a questão da sustentabilidade em torno da redução das emissões de gases poluentes.
Natureza – O apelo ambiental pela substituição dos carros convencionais pelos elétricos faz sentido. “Hoje estima-se que 23% das emissões de CO2, (gás causador do efeito estufa) venha dos carros a combustão”, conta o professor Carlos Gurgel. Especialista do Departamento de Engenharia Mecânica da UnB, ele ainda destaca as melhorias na qualidade de vida das grandes cidades. “Boa parte dos problemas respiratórios, que geram altos gastos para o Estado, vem da péssima qualidade do ar”.
Por outro lado, o pesquisador alerta para a alta demanda de energia elétrica que seria necessária para “abastecer” os veículos. “Imagina todo brasileiro plugando o carro na tomada para recarregar as baterias. Seria necessário inaugurar várias hidrelétricas, o que acarretaria em um alto impacto ambiental”. Gurgel ainda alerta sobre o mito de que os carros elétricos não poluem. “O processo de fabricação, que também gera impacto e poluição, é praticamente o mesmo. Sem falar no descarte das baterias”.
Polêmicas à parte, o pesquisador da UnB Cristiano Vaz ressalta a importância do debate. “É uma ideia interessante diante da pressão pela quebra de paradigmas energéticos no século XXI”. No entanto, o engenheiro, que não acredita na consolidação do carro elétrico no Brasil nos próximos 10 anos, alerta para a necessidade de preparar o terreno para receber o modelo. “Podemos trocar seis por meia dúzia. É preciso planejamento para assegurar o acesso e evitar um colapso energético”.
Você sabia?
O Itaipu, primeiro carro elétrico brasileiro, foi produzido pela Gurgel Motores em 1974.
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