Brasil entra com atraso no rol de países
produtores de veículos elétricos, diz ABVE
Táxis elétricos começam
a circular no Rio de Janeiro em projeto piloto.
Embora não seja
novidade no resto do mundo, o Brasil está entrando atrasado no terreno dos
veículos elétricos. A opinião é do presidente do conselho consultivo da
Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Jaime Buarque de Holanda. Há
cerca de 13 anos, a entidade vem chamando a atenção de que seria importante o
Brasil se preparar para essa transição tecnológica. “De modo geral, essa coisa
não foi bem percebida aqui no Brasil”, disse Holanda em entrevista à Agência
Brasil.
Segundo ele, não há
incentivos fiscais para o desenvolvimento do veículo elétrico no país. O
Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), no caso de veículos elétricos,
chega a 25%, enquanto para os carros movidos a gasolina a alíquota é até 7%.
“Isso não significa que as pessoas sejam contra o carro elétrico”. Trata-se
apenas, disse Holanda, de uma “inércia burocrática”, uma vez que as alíquotas
do imposto dizem respeito ao tamanho da câmara de combustão (espaço em que
ocorrem as explosões da mistura ar-combustível em um motor).
Ele reiterou que
enquanto no mundo os países oferecem redução de impostos para as empresas
desenvolverem o carro elétrico, no Brasil “só agora a ficha está caindo”.
Holanda considerou importante a criação pelo governo fluminense de um grupo de
trabalho para avaliar a implantação de uma fábrica de veículos elétricos no
estado. Ele disse que vê na iniciativa a percepção política do momento que vive
a cidade, sede de vários eventos internacionais, em querer atrair o máximo de
fábricas para o Rio de Janeiro.
Do mesmo modo, ele
destacou o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia
Produtiva de Veículos Automotores (Inovar-Auto), dentro do Plano Brasil Maior,
do governo federal, cujo objetivo é estimular o investimento na indústria
automobilística nacional, por meio da inovação e da pesquisa. A estimativa é
que o programa envolva, até 2015, mais de R$ 50 bilhões em investimentos no
setor. O programa oferece vantagens do ponto de vista fiscal para quem fabricar
carros com acionamento híbrido ou elétrico, de preferência usando etanol como
combustível, disse Holanda. “É o primeiro despertar no Brasil para esse
assunto”.
Alguns fabricantes
vêm desenvolvendo protótipos de ônibus elétricos e híbridos no país. Existem,
segundo Holanda, três famílias de veículos elétricos, que são distinguidos pela
forma como equacionam a questão do motor a bordo.
A primeira são os
trólebus, como os que existem em São Paulo, por exemplo. São ônibus que
circulam capturando energia elétrica transmitida por um cabo aéreo sobre o seu
trajeto. A segunda categoria são os veículos híbridos, em que a energia
elétrica é produzida a bordo, por meio de um gerador, embora continue
dependendo de um combustível. Outra classificação são os veículos elétricos a
bateria. Esta é recarregada quando ligada na rede elétrica.
De acordo com a ABVE,
de 4 milhões a 5 milhões de carros elétricos híbridos circulam atualmente pelo
mundo. Esse tipo de veículo elétrico foi o que mais rapidamente atendeu às
necessidades do mercado, salientou Jaime Holanda. Seu lançamento foi estimulado
pela questão ambiental em função da poluição urbana causada pela descarga dos
veículos. Em relação aos veículos movidos a bateria, o peso ainda é um
empecilho para que seu uso seja disseminado, bem como a autonomia. Holanda
disse que uma autonomia de 150 quilômetros já é considerada, atualmente,
razoável para alguns usos.
Na capital paulista,
desde junho do ano passado vêm sendo testados com sucesso táxis elétricos
modelo Nissan Leaf, de emissão zero. O projeto piloto chegou ao Rio de Janeiro
em março deste ano, resultado de parceria entre a Nissan, a prefeitura local e
a Petrobras Distribuidora. Os táxis podem ser recarregados em dois postos
Petrobras, situados na Lagoa Rodrigo de Freitas e na Barra da Tijuca. A bateria
tem autonomia de 160 quilômetros.
O Rio de Janeiro
deverá sediar também uma fábrica de motos da Kasinski, que dará prioridade aos
veículos elétricos, como scooters, bicicletas e até motos. De acordo com anúncio
feito no início deste ano pela direção da empresa, em solenidade no Palácio
Guanabara, a fábrica deverá ser implantada no município de Sapucaia, na divisa
com Minas Gerais.
Um dos fabricantes
nacionais de veículos com tração elétrica para o transporte de carga e
passageiros é a Eletra, localizada em São Bernardo do Campo (SP). Holanda
ressaltou, porém, que a pioneira no Brasil em termos de produção de veículos
elétricos foi a Fiat que, em parceria com Itaipu Binacional e a Kraftwerke
Oberhasli (KWO), produziu uma edição limitada de veículos elétricos a bateria
para a geradora de energia. Outras montadoras internacionais estão trazendo
modelos de veículos elétricos para o Brasil, entre as quais a Ford e a Toyota.
Jaime Holanda
acredita que os incentivos dados pelo governo podem acelerar o processo de
produção de veículos elétricos no país. A expectativa é que isso já esteja
ocorrendo daqui a quatro anos. Para o cidadão, a principal vantagem é que ele é
mais barato por quilômetro, disse. “A conta de energia é um terço ou um quarto
menor (em relação ao combustível)”. Reconheceu, entretanto, que no início do
processo, o custo do veículo elétrico no Brasil ainda é alto, situando-se, em
média, em cerca de R$ 200 mil. Os impactos positivos indiretos incluem eficiência
e menor poluição.
Estudo da ABVE prevê
que em 2020, a venda de veículos elétricos terá participação de 25% no mercado
nacional automotivo, sendo 12% híbridos, 10% híbridos plug in (com maior
capacidade de baterias a bordo que podem ser recarregadas a partir da rede
elétrica) e 3% a bateria. (EcoDebate)
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