Expansão de eólicas é de 216% em três anos
Preço do megawatt hora caiu de R$ 300 para R$ 100 e já desbanca fontes
tradicionais.
Com um custo superior a R$ 300 o megawatt hora (MWh), poucos
acreditavam no sucesso da energia eólica no Brasil. Até 2009, a participação na
matriz elétrica era modesta: não passava de 0,6% do total. Mas o cenário mudou
radicalmente. Em três anos, a fatia da energia produzida com a força do vento
na matriz nacional cresceu 216% e o preço caiu para cerca de R$ 100, desbancando
fontes tradicionais, como as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs).
Parque eólico de Caetité, na Bahia, construído pela Renova Energia: a
paisagem da região mudou com 14 parques e 184 aerogeradores.
Até 2016, quando entram em operação todos os parques eólicos
que participaram dos últimos leilões promovidos pelo governo federal, o País
terá 8,4 mil MW de capacidade instalada - que representará investimentos da
ordem de R$ 25 bilhões. De acordo com o Plano Decenal de Energia, elaborado
pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a previsão é que a capacidade
instalada dos parques eólicos atinja 16 mil MW em 2020, ou 9% da matriz.
Os números da Associação Brasileira de Energia Eólica
(Abeeólica) são mais otimistas. A expectativa da presidente da entidade, Elbia
Melo, é alcançar 20 mil MW até o fim desta década. "A fonte já está
inserida na matriz elétrica. Agora estamos passando por um período de
consolidação e sustentabilidade." A executiva argumenta que o ponto
essencial nesta fase é manter a previsibilidade de contratação da energia
eólica. "Ou seja, precisamos ter, pelo menos, um leilão por ano para
manter a competitividade da fonte."
Subsídios
Até pouco tempo atrás, a construção das usinas eólicas era
subsidiada pelos brasileiros. Em 2004, o governo federal lançou o Programa de
Incentivo às Fontes Alternativas (Proinfa), que tinha o objetivo de contratar
3,3 mil MW de energia eólica, de biomassa e PCHs. Na época, o preço de cada MWh
era R$ 312 e o custo de investimento era de R$ 6,5 milhões por megawatt
instalado.
Cinco anos mais tarde, um novo cenário foi desenhado pela
crise mundial. Com demanda fraca, grandes produtores de energia eólica, como
Alemanha, Espanha e França, praticamente zeraram seus projetos. Sem outra
alternativa, os fabricantes miraram novos mercados. O Brasil foi o principal
deles. Nesse ambiente, o governo realizou o primeiro leilão especialmente
voltado para eólicas. Dos 10 mil MW inscritos, 1.837 MW foram contratados, a um
preço que variou entre R$ 131 e R$ 153,05 o MWh, números muito abaixo do que o
mercado esperava.
De lá pra cá, foram quatro disputas, sendo que a última
reduziu o preço para cerca de R$ 100 o MWh, preço mais caro apenas que o das
grandes hidrelétricas. Alguns especialistas acreditam que a forte concorrência
levou o setor a praticar preços abaixo do custo de produção e que não há mais
espaço para queda. "Não acredito em grandes quedas nem em grandes altas.
Acho que vai se manter no patamar atual", destaca o presidente da CPFL
Renováveis, Miguel Saad.
A empresa tem 558 MW de energia eólica em operação, 602 MW
em construção e 2,4 mil MW em estudos. Segundo Saad, a expectativa é atingir em
dez anos cerca de 2 mil MW de energia eólica. A maioria dos projetos deverá ser
instalada no Nordeste, onde os ventos são melhores, avalia o executivo. No
Brasil, o fator de capacidade de geração está na casa de 40% diante de uma
média de 22% da Europa.
Mas como o avanço da tecnologia esse potencial já consegue
chegar a 45%, destaca Elbia, da Abeeólica. Ela explica que hoje as torres são
mais altas, em torno de 100 metros, e conseguem captar melhor o vento. "A
produtividade melhorou e o volume de investimento, que antes era de R$ 6,5
milhões, caiu para R$ 3,4 milhões o MW instalado." Outro motivo de comemoração
é que o potencial eólico do Brasil, até então calculado em 143 mil MW, está
subestimado. Elbia diz que o novo mapa eólico deve trazer números da ordem de
300 mil MW.
Empresas
Diante de números tão vigorosos, os produtores de
equipamentos não pensaram duas vezes e instalaram suas fábricas em várias
regiões do Brasil. Em 2009, quando houve o primeiro leilão, eram duas empresas
no País. Hoje já são 11 fabricantes nas Regiões Sudeste e Nordeste. "A
dinâmica do setor mudou, ganhou uma nova conotação. O jogo nessa nova fase é de
consolidação e eficiência", avalia o diretor de investimentos da Renova
Energia, Pedro Pileggi.
A empresa inaugurou em julho o maior parque eólico da
América do Sul, com 184 aerogeradores e 293,6 MW de potência, mas que ainda
está parado por falta de linha de transmissão. A estatal Chesf, responsável
pelas obras, não conseguiu licença ambiental para levar a construção adiante e
só deve concluir os trabalhos no segundo semestre do ano que vem. Hoje, os
investimentos da Renova estão concentrados no oeste da Bahia.
Até 2016, a companhia terá 1,1 mil MW de capacidade
instalada na região. Pileggi conta que o potencial do semiárido baiano, com
terras já arrendadas, é da ordem de 4 mil MW. "Para nós a escala é
importante. Na nossa lógica, não compensa fazer um parque eólico de 50 MW. Tem
de ser de 250 MW, 300 MW para dar escala ao projeto e reduzir o custo
unitário", explica o executivo. (OESP)
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