Governo e sociedade civil divididos em debate na Câmara
sobre energia nuclear
A retomada do
programa nuclear brasileiro colocou estudiosos sobre o tema e o governo em
lados opostos da mesa, durante debate organizado em 22/05/13 pela Comissão de
Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados.
Professores e ambientalistas defenderam que a energia nuclear não pode ser uma
alternativa para suprir o aumento da demanda por energia e para reduzir
emissões de gases de efeito estufa, substituindo fontes fósseis como o carvão
mineral.
“Não há razões para o
Brasil investir em nucleares. O país tem recursos naturais diversos, é um país
ensolarado, tem muita água e áreas agrícolas para produção de biomassa. Podemos
usar isso para o desenvolvimento. A insistência em manter a energia nuclear tem
surpreendido”, disse o físico Heitor Scalambrini, professor da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE) e representante da Articulação Antinuclear
Brasileira.
Para o professor, o
desastre nuclear que ocorreu no Japão há dois anos foi um aviso para o mundo.
“Hoje, pesquisas mostram que, em média, 69% dos entrevistados no mundo rejeitam
essa fonte de energia. No Brasil, mais de 75%”, disse Scalambrini. Segundo ele,
todas as fontes de energia podem apresentar problemas e riscos, como o de
incêndio em termoelétrica ou de ruptura em barragens. “No caso da nuclear, os
riscos também existem, mas quando ocorrem são devastadores. O caminho é não
instalar essas usinas”, defendeu.
O Japão foi o cenário
do último desastre envolvendo problemas com usinas nucleares. Em marco de 2011,
um terremoto seguido e um tsunami que afetaram a região Nordeste do país
provocaram explosões e vazamentos na Usina de Fukushima. A Agência
Internacional de Energia Atômica ainda teme por riscos de acidente no local.
Os representantes de
grupos críticos à energia nuclear lembraram que vários governos estão anunciando
a eliminação ou redução da participação de fontes nucleares em suas matrizes
energéticas.
O governo da Alemanha
anunciou que, até 2020, não vai mais recorrer a essas fontes. A participação de
energias renováveis na matriz energética alemã tem sido crescente. No primeiro
semestre do ano passado, mais de 25% da demanda por energia foram atendidos por
fontes eólicas e fotovoltaicas. No Japão, o governo anunciou que o fim das
usinas nucleares ocorrerá até 2030 e a França definiu a redução da participação
da nuclear que hoje representa 75% da matriz, para 50%.
Altino Ventura Filho,
secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas
e Energia, disse que o governo “trabalha com fatos” e não se opõe a qualquer
tipo de fonte de energia. “A análise é que a opção nuclear continua sendo
desenvolvida no mundo”, disse ele, ao citar investimentos nesse tipo de energia
na China, na Índia e nos Estados Unidos.
O governo chinês,
informou, está construindo 28 usinas nucleares, que devem entrar em operação
nos próximos cinco anos, e mais 40 usinas estão projetadas para os próximos dez
anos. Na Índia, sete unidades nucleares estão sendo construídas, no Reino Unido
existe um projeto em andamento e nos Estados Unidos estão sendo concluídas as
construções de três usinas.
Mesmo criticado por
basear seus argumentos em políticas de países que não têm cumprido
recomendações mundiais em prol do meio ambiente e da sustentabilidade, Ventura
Filho alertou que o Brasil precisa atender a uma demanda crescente por energia.
A meta do governo é produzir 7 mil quilowatts-hora por habitante.
Isso significa dobrar
a produção nos próximos anos e aumentar os investimentos sobre o potencial
hidroelétrico do país, que tem a maior participação na matriz energética brasileira.
“Mas essa principal fonte de nossa matriz se esgota em 2030. É ilusão pensar
que apenas fontes renováveis vão resolver. O governo está investindo nessas
fontes, mas precisamos de uma fonte de base para levar à frente a expansão”,
explicou.
Segundo Ventura
Filho, apesar de o Japão ter anunciado a intenção de eliminar as fontes
nucleares, o governo japonês declarou que não está encontrando alternativa que
não seja retomar as atividades das usinas. “Quatro usinas já foram reativadas e
o país está enfrentando um racionamento fortíssimo”, disse ele.
Segundo o governo, a
Usina Nuclear Angra 3, que começou a ser construída em 2010, terá potência de
1.405 megawatts (MW) e deve entrar em operação em 2016. A construção da nova
unidade da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, em Angra dos Reis, no
litoral sul do estado do Rio de Janeiro, está estimada em R$ 10 bilhões.
Além desse projeto, o
Plano Nacional de Energia (PNE), que indica a necessidade de expansão da
geração de energia e as estratégias para os períodos até 2030, prevê a
construção de mais quatro usinas nucleares de 1 mil MW cada. (EcoDebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário