“Como a fonte eólica possui maior geração no período seco do
ano, ela pode contribuir muito para o armazenamento de água nos reservatórios
das hidrelétricas”, diz a presidente da Associação Brasileira de Energia
Eólica Abeeólica.
Na disputa por uma
fatia na matriz energética brasileira, o setor eólico vem conquistando espaço
significativo e se tornou a “segunda fonte de energia mais competitiva” no
país, diz a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica – Abeeólica,
Elbia Melo (foto), à IHU On-Line. Na entrevista a
seguir, concedida por e-mail, ela informa que no último ano, o setor cresceu,
conquistando dois pontos percentuais na matriz energética, “empatado com o
setor termelétrico”. Segundo as estimativas, “a previsão para 2016 é que a
fonte eólica represente 5,5% da matriz elétrica”, ressalta.
De acordo com Elbia
Melo, “a contribuição do setor eólico é de extrema importância, pois
com a geração das eólicas temos mais energia limpa e competitiva sustentando o
sistema, o que implica na redução dos encargos gerados e por consequência em um
menor custo da tarifa dos consumidores”.
Elbia Melo é graduada em Ciências Econômicas pela
Universidade Federal de Uberlândia, mestre em Economia pela Universidade
Federal de Santa Catarina, e Doutora em Engenharia pela mesma universidade.
IHU On-Line – Qual a
atual situação do setor eólico brasileiro? Como funciona a gestão desses
parques atualmente?
Elbia Melo – O setor
eólico brasileiro encontra-se em crescente expansão, a expectativa é de que
sejam contratados 2GW por ano de energia eólica através dos leilões realizados
pelo governo. Hoje, a matriz energética brasileira conta com uma capacidade
eólica instalada de 2,5GW. Já somado a esse número estão os 622MW
impossibilitados de transmitir a energia gerada devido à falta de uma linha de
transmissão que conecte o parque à rede elétrica. A gestão dos parques é
realizada, normalmente, por empresas que desenvolvem e constroem os parques
eólicos. Os contratos de fornecimento possuem 20 anos de duração.
IHU On-Line –
Como funciona o sistema de transmissão de energia eólica no país?
Elbia Melo – Toda
usina de energia elétrica precisa de um sistema de transmissão para escoar a
energia produzida. A energia pode ser escoada através de instalações coletoras
de geração (ICGs) ou podem também estar conectadas em redes já existentes de
alta tensão.
IHU On-Line –
Quais são hoje os parques mais importantes?
Elbia Melo – Podemos
citar o parque Alto do Sertão na Bahia e o de Osório no Rio Grande do Sul,
porém todos os parques existentes possuem importante participação na matriz
elétrica brasileira.
IHU On-Line –
Há uma crítica ao setor eólico, porque dos 50 parques eólicos que devem entrar
em operação neste ano, muitos não possuem linhas de transmissão para fornecer
energia ao sistema. Quais as razões da falta de linhas de transmissão?
Elbia Melo – As
linhas de transmissão não são necessariamente de responsabilidade do investidor
do parque, ou seja, as linhas de transmissão possuem seus próprios
investidores. Sendo assim, o atraso torna-se responsabilidade da empresa
investidora de transmissão que por alguma razão não conseguiu atingir os prazos
estipulados, o que traz a falta das linhas.
IHU On-Line –
Qual é o incentivo que o governo brasileiro tem dado ao setor eólico?
Elbia Melo – No
Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica –
PROINFA, os parques eólicos participantes recebem uma tarifa
subsidiada, porém esse programa conta com 1,4 GW contratados que foram muito
importantes para o início do desenvolvimento da fonte eólica no Brasil. Desde
os leilões de 2009, a fonte eólica participa dos leilões promovidos pelo
governo competindo com as demais fontes de geração. Nos leilões são contratados
os projetos mais competitivos e a fonte eólica teve grande destaque por ter se
tornado a segunda fonte mais competitiva.
IHU On-Line –
Qual a perspectiva em relação à implantação de novos parques eólicos? Que
percentual da matriz energética brasileira é destinada ao setor?
Elbia Melo – A
perspectiva para 2013 é de se implantar 125 novos parques que totalizam pouco
mais de 3GW instalados até dezembro. Ao final de 2012, com o total de 2,5 GW
instalados, o setor eólico teve na matriz energética brasileira dois pontos
percentuais empatado com o setor termelétrico, que também conquistou dois
pontos percentuais. A previsão para 2016 é que a fonte eólica represente 5,5%
da matriz elétrica.
IHU On-Line –
Qual o espaço do setor eólico no Plano Decenal de Energia?
Elbia Melo – A fonte
eólica foi contemplada no Plano Decenal de Energia como uma das fontes que mais
crescerá até 2021, com 16 GW de capacidade instalada representando 9% da matriz
elétrica.
IHU On-Line –
Alguns engenheiros propõem um sistema de energia interligado, chamado de
hidreólico, que integra o setor elétrico e eólico. Como avalia essa sugestão?
Elbia Melo – A
complementariedade entre os ventos e as chuvas é muito conhecida na
climatologia. Existem períodos no ano onde ocorrem mais chuvas do que vento e
períodos do ano com altos índices de vento e baixos índices pluviométricos.
Dentro deste contexto, a própria ABEEólica apresentou em 2012 um estudo de
integração contábil entre a fonte hidrelétrica e a fonte eólica para o modelo
do setor elétrico brasileiro.
IHU On-Line –
Quais as contribuições do setor eólico para a matriz energética brasileira,
considerando a discussão sobre os possíveis riscos de desabastecimento
energético no futuro?
Elbia Melo – A
contribuição do setor eólico é de extrema importância, pois com a geração das
eólicas temos mais energia limpa e competitiva sustentando o sistema, o que
implica na redução dos encargos gerados e por consequência em um menor custo da
tarifa dos consumidores.
Como a fonte eólica
possui maior geração no período seco do ano, ela pode contribuir muito para o
armazenamento de água nos reservatórios das hidrelétricas. Podemos e devemos
pontuar também sobre a extensa variedade de vantagens socioambientais como a
geração de empregos, geração de riqueza para o Estado, nacionalização de grande
parte da matéria-prima necessária para produção dos aerogeradores. (EcoDebate)
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