O boom do xisto nos EUA favorece importações de carvão
‘barato’ pelas usinas da Europa
Fracking (fratura
hidráulica), imagem em www.gaslandthemovie.com
Gás de xisto nos EUA
favorece usinas a carvão na Europa – O boom do xisto nos EUA continua a ampliar
seu impacto, e um número crescente de geradoras europeias de energia estão
sendo obrigadas a colocar em banho-maria suas modernas usinas a gás, incapazes
de competir com as crescentes importações de carvão barato proveniente dos EUA.
A Statkraft, estatal
de energia norueguesa, declarou ontem ter paralisado a operação de uma usina a
gás na Alemanha, incapaz de competir com concorrentes a carvão. Já a alemã E.ON
disse estar avaliando seriamente suspender as operações de outras usinas a gás,
entre elas uma tecnologicamente avançada na Eslováquia.
Outras companhias de
eletricidade europeias tomaram decisões semelhantes, colocando os formuladores
de políticas diante de um dilema: energia mais barata produzida pela queima de
carvão poderá proporcionar algum alívio às economias em dificuldades na região,
mas especialistas do setor advertem que isso é incompatível com os objetivos de
longo prazo em termos de emissões de carbono e do uso de energia renovável.
O fechamento de
usinas em toda a Europa é outro exemplo do longo alcance do boom de oferta de
energia na América do Norte. Os crescentes estoques de gás natural extraído do
xisto por uma nova combinação de tecnologias denominada “fratura hidráulica”
levaram muitas companhias de eletricidade nos EUA a abandonar o uso de carvão,
que passou a ser exportado a preços baixos em crescentes quantidades para a
Europa.
Em 2012, as
exportações americanas de carvão para a Europa cresceram 23%, para 66,4 milhões
de toneladas, segundo dados do governo dos EUA. Grande parte desse carvão está
tomando o lugar do gás natural como combustível para geração de eletricidade.
No Reino Unido, por exemplo, em 2012, a proporção de energia gerada pela queima
de carvão subiu para seu nível mais alto em 17 anos, enquanto o gás caiu para
um mínimo correspondente.
“A situação econômica
de nossas operações na Europa, particularmente na geração de energia
convencional, continua difícil”, disse o presidente da E.ON, Johannes Teyssen.
A empresa informou queda de 94% no lucro operacional do primeiro trimestre
referente às usinas que empregam a extremamente eficiente tecnologia de
turbinas a gás de ciclo combinado.
“As empresas estão em
dificuldades para operar usinas de energia acionadas a gás, mesmo em caso de
operações modernas, tecnologicamente avançadas”, porque o carvão barato corroeu
sua vantagem competitiva, disse Kash Burchett, analista da IHS Energy.
Os preços do carvão
para entrega em um ano na Bolsa Europeia de Energia caíram quase 19% nos
últimos 12 meses. Já o gás natural em grandes volumes na Europa continental tem
seu preço fixado em relação ao petróleo, e o preço médio do petróleo tipo Brent
caiu só 5%, segundo dados da BP.
Isso mudou a dinâmica
do mercado de energia. A CEZ, companhia checa de eletricidade, disse na semana
passada que poderá manter suspensa por longo período uma nova usina a gás que
deveria começar a operar no verão, porque ela seria deficitária desde o
primeiro dia de funcionamento. A SSE, empresa de eletricidade britânica,
anunciou em março o fechamento de uma usina a gás, a redução da capacidade de
uma segunda usina e o cancelamento da construção de novas usinas por vários
anos devido à inviabilidade econômica.
O fechamento de
usinas da E.ON poderia ter sido mais amplo se a empresa não tivesse firmado
acordo com a agência reguladora da rede elétrica alemã e com uma operadora da
rede para manter duas usinas a gás modernas, porém não rentáveis, em operação.
A E.ON e suas parceiras nas usinas tinham considerado a paralisação das
operações, mas a agência competente considerou-as cruciais para a segurança do
suprimento energético no sul da Alemanha.
Segundo a
Eurelectric, associação do setor de eletricidade na Europa, em 2010 – ano mais
recente para o qual há estatísticas disponíveis–os 27 membros da UE geraram,
respectivamente, 24% e 23% de sua eletricidade com base no consumo de carvão e
de gás, com o restante derivado de um mix de energia renovável e nuclear.
O carvão barato não é
má notícia para todas as empresas. A alemã RWE, maior produtora de eletricidade
em termos de capacidade geradora, que produz mais de 62% de sua eletricidade da
queima de carvão, informou neste ano que elevou em 16% a produção de
eletricidade em suas usinas à base de carvão e de lignite em 2012.
A RWE espera ter
lucro operacional inalterado em 2013, ao passo que a E.ON prevê queda de até
15% em relação ao ano anterior.
Poderão surgir também
vantagens mais amplas. “No momento, a economia como um todo está se
beneficiando da produção mais barata de energia”, disse Marcus Schenck,
principal executivo financeiro da E.ON. Mas isso vale somente se “assumirmos
que a proteção ambiental não é mais uma prioridade da política energética”.
A União Europeia
comprometeu-se em reduzir suas emissões de dióxido de carbono em 20% em relação
aos níveis de 1990 e, suprir 20% de sua demanda energética de fontes renováveis
até 2020. Um porta-voz do comissário europeu de Energia, Gunther
Oettinger, recusou-se a comentar as mais recentes paralisações da usinas a gás.
Em entrevista em abril, ele disse que o bloco deve ampliar o foco de sua
política energética, fazendo mais do que simplesmente reduzir as emissões de
gases, para assegurar também que a energia permaneça barata.
Especialistas alertam
ainda que o fechamento de mais usinas a gás poderá enfraquecer a segurança
energética do continente, à medida que fontes intermitentes de energia
renovável, como a eólica, tornarem-se mais disseminadas.
“Na prática,
capacidade geradora intermitente exige alguma forma alternativa de segurança”,
disse Burchett, da IHS Energy. A possível escassez de usinas a gás, que são
ideais para ajudar a atenuar os desequilíbrios que podem ser causadas por
mudanças imprevisíveis na disponibilidade de energia renovável, como a energia
eólica, pode agravar o problema, disse ele.
A França está implementando um novo modelo de mercado que poderá oferecer incentivos financeiros para beneficiar empresas de eletricidade por que mantenham em operação usinas de reserva a gás, disse Burchett.
Na Itália, país que efetivamente oferece incentivos financeiros para manter em condição operacional as usinas de reserva, um porta-voz da companhia de eletricidade Enel disse não ter planos para suspender a operação de suas usinas. (EcoDebate)
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