Em dezembro de 2012, a China tomou
o lugar dos Estados Unidos como o maior importador de Petróleo do mundo. Nesse
mês, de acordo com dados preliminares da US Energy Information Administration,
a China importou o correspondente a 6,12 b/d enquanto os Estados Unidos
importaram 5,98 b/d. Os americanos lideravam o ranking dos importadores desde
meados dos anos 1970 e, apesar dos dados se referirem apenas ao mês Dezembro e
no consolidado do ano os EUA seguirem liderando, analistas acreditam que essa
ultrapassagem mensal sinaliza claramente a tendência de longo prazo de
supremacia chinesa nas importações mundiais de petróleo.
Embora a China seja o maior
produtor de carvão do mundo, a forte expansão do consumo e os preços domésticos
desfavoráveis fizeram com que a importação de carvão começasse a crescer a
partir de 2002; de tal forma que em 2009 o país já era um importador líquido e
em 2010 ocupava o segundo lugar no ranking mundial de importações carboníferas,
perdendo apenas para o Japão.
Mesmo no caso do gás natural, a
China se tornou um importador dessa fonte de energia pela primeira vez em 2007.
Desde então a participação da importação líquida cresceu fortemente, saltando
de 2% do consumo nesse ano para 22% em 2011.
Assim, a China, que em 1971
apresentava uma importação líquida negativa, correspondente a (-) 0,5% da sua
demanda total de energia, em 2010 importava 14 % da energia que consumia e era
responsável por 8% das importações mundiais de energia.
Dessa maneira, o vigoroso crescimento
econômico chinês, que levou o país a ultrapassar o Japão e ocupar a posição de
segunda maior economia do mundo, foi acompanhado de um forte aumento no consumo
de energia, que levou o país a superar os Estados Unidos e, desde 2009, ocupar
a posição de maior consumidor de energia do mundo. Mais do que isso, esse boom
econômico e essa explosão do consumo de energia foram acompanhados por um
acentuado aumento da dependência energética.
Aumento esse que colocou a
segurança energética como uma questão essencial para o Estado chinês, gerando
consequências que transcendem a política energética e alcançam a grande
estratégia geopolítica chinesa.
Dada a extensão do controle do
Estado chinês sobre a economia, a gestão dos recursos energéticos é crucial e
requer que o governo desempenhe um papel muito mais intrusivo e proativo que no
caso das outras grandes economias. Isto implica que a formulação das questões
relacionadas à segurança energética na China se pleiteia de forma mais ampla e
complexa no que diz respeito aos planos e ações do estado.
Nesse sentido, é claro para Pequim
que a segurança energética é fundamental para a segurança econômica e essa, por
sua vez, é essencial para a segurança nacional.
Desde 1949, a China apostou em um
desenvolvimento independente que se refletiu em uma estratégia autárquica de
abastecimento energético, fundada na autossuficiência, na utilização dos seus
próprios recursos para atender à sua demanda de energia.
Assim, explorar e controlar esses
recursos fazia parte da própria noção chinesa de soberania.
Essa ênfase na autossuficiência se
coaduna com uma concepção de política externa cuja visão do sistema
internacional está intimamente ligada a percepção da ameaça externa como sendo
fundamental para a construção da identidade do Estado e para a legitimação do
regime.
O crescimento da dependência
energética representa uma inflexão nessa estratégia, na medida em que ele
requer uma integração mais profunda com os mercados financeiros e de energia;
ao mesmo tempo em que levanta questões geopolíticas profundas em relação ao
papel da China na região.
É evidente que esses conjuntos de
questões afetam obrigatoriamente a própria concepção da política externa e, em
consequência, a própria forma de inserção da china no sistema internacional.
Assim, a maior dependência
energética muda não só a política energética chinesa, mas sua política externa.
Política externa essa vista como chave para a sua segurança nacional que, nesse
caso, significa a manutenção do suprimento energético vital para a sua expansão
econômica.
A busca por maior segurança
energética está mudando a política energética chinesa e terá impactos
significativos no âmbito global.
Uma China ávida por energia e
disposta a ir buscá-la onde ela estiver passa a ser um ator chave na evolução
da trama energética mundial. Trama essa que provavelmente ultrapassará em muito
não só as fronteiras chinesas, mas, acima de tudo, as próprias fronteiras da
energia.
*Ronaldo Bicalho e Felipe de Souza
são pesquisadores do Grupo de Economia de Energia do Instituto de Economia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (GEE/UFRJ). (ambienteenergia)
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