Especialistas apontam vantagens do uso de energia eólica
O Brasil ainda
precisa superar uma “visão turva” sobre a energia eólica, que coloca em
desconfiança a geração que provém dos ventos, sob o argumento de que esse
recurso seria “sazonal e intermitente”. A crítica foi feita pela presidente da
Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeólica), Élbia Melo, na audiência
realizada pela Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) em 17/04/13.
Como observou a
expositora, toda fonte que vem da natureza é, por definição, sazonal e
intermitente. Observou que o mesmo fator está presente na produção de energia
hidráulica, especialmente as usinas construídas a “fio d’água”, sem
reservatórios. No caso da energia eólica, explicou ainda que é perfeitamente
possível conter riscos por meio do aumento da quantidade de geradores montados.
- Temos que acabar
com esse mito da confiabilidade, algo que ainda não está claro inclusive para
os nossos técnicos e para os formuladores de políticas públicas – afirmou.
Participou ainda do
debate, que foi dirigido pelo presidente da CI, senador Fernando Collor
(PTB-AL), o engenheiro Adão Linhares Muniz, diretor da RM Soluções em
Infraestrutura. Assim como Élbia Melo, ele defendeu a diversificação da matriz
energética do país, destacando que o importante é harmonizar as diversas fontes
disponíveis, para garantir ao país um sistema forte e coordenado.
Para os expositores,
existe ampla complementaridade entre a geração hidráulica e eólica, inclusive
por conta de aspectos climáticos. Explicaram que a ocorrência de ventos sempre
é mais intensa nos períodos de estiagem, exatamente quando a escassez de água
pode afetar a produção hidroelétrica.
Entre outros
benefícios da energia eólica, eles destacaram ainda os ganhos de renda nas
localidades onde são implantados os parques. De acordo com Élbia Melo, para
cada megawatt instalado são gerados 15 empregos. Ela informou que os 12 mil
postos de trabalho atuais, em todo o país, podem subir para 280 mil até 2020.
Do ponto de vista ambiental, lembrou também que a energia eólica não é emissora
de gases de efeito estufa.
Capacidade instalada
No momento, a
capacidade instalada em energia eólica é de apenas 2,69 mil megawatts, o
equivalente a 2% da matriz energética. A projeção é de que, até 2017, serão 8,8
mil megawatts, chegando a 5% da matriz. Os convidados disseram que esse rápido
crescimento deve-se a projetos de novos parques eólicos iniciados em 2009,
quando se comprovou a produtividade dessa modalidade de energia e o governo
federal realizou leilão para contratar oferta.
Para Adão Muniz, a
trajetória de crescimento do setor pode ser ainda mais forte, mas ainda há
contenção por parte do governo. Ele enxerga uma preocupação, a ser ver como uma
espécie de “freio”, em relação aos limites de contratação de garantia de
compra. Disse que há uma visão diferente em outros países, como na Espanha e na
Dinamarca, onde a geração de energia eólica está sendo preponderante.
- Não pode ter freio.
Ao contrário, tem que ter um motor empurrando, pois se trata de energia com
enorme potencial – cobrou.
Élbia Melo concordou
que o momento é de avançar para a consolidação do setor no país. Além de
investimentos na expansão de novos parques produtivos, ele considera
indispensável desenvolver toda a cadeia produtiva, com pesquisa e
desenvolvimento de equipamentos nacionais adequados às características dos
ventos do país. Outra questão é a resolver diz respeito à capacitação de mão de
obra, de técnicos a engenheiros.
Paradoxo ambiental
Adão Muniz apontou
ainda a necessidade de solução para a questão dos licenciamentos ambientais.
Disse ser “paradoxal” haver dificuldades de licenciamento para a produção de
energia limpa. Também cobrou “sincronia” entre a implantação dos parques e das
linhas de transmissão, problema que no momento impede o aproveitamento da
energia produzida em parque situado na Bahia. Ao senador Sérgio Souza
(PMDB-PR), ele disse discordar da solução estudada pelo governo para que os
parques fiquem restritos a regiões onde já existam linhas.
- A localização deve
estar onde tenha vento, de preferência o melhor vento. Nós é que temos de
buscar a energia onde esteja a fonte, assim como fazemos com a energia elétrica
– opinou.
O senador Lobão Filho
(PMDB-MA) elogiou a “coragem” do Ministério das Minas e Energia em promover o
leilão de 2009 para contratar energia eólica, quando os preços ainda estavam
elevados, acima de R$ 250 por megawatt. Disse que a iniciativa favoreceu
investimentos e ganhos de produtividade. Agora, em seu estado, já seria
possível contratar energia eólica por R$ 90 por megawatts. Depois, cobrou a
mesma atitude em relação à contratação de garantia para oferta de energia
solar.
- Há certa
resistência à energia solar, que continua caríssima, mas no meu entendimento
iria haver o mesmo sucesso – destacou.
O senador Walter
Pinheiro (PT-BA) mostrou satisfação com a evolução do setor, mesmo num período
de menor crescimento econômico. Em relação às questões de licenciamento
ambiental, salientou a necessidade de soluções mais rápidas para que os
projetos sejam desembaraçados e executados.
- Não quero linha
passando em cima de caverna. Mas se há caverna, tem que se encontrar a solução,
na velocidade do vento ou mesmo da luz, que é muito melhor – disse.
Com participação de
telespectadores, que enviaram perguntas à CI, a audiência é parte do programa
de debates “Investimento e gestão: desatando o nó logístico do país”, proposto
pelo presidente da comissão. Nesta quarta, houve mais um painel dedicado ao
exame de energias alternativas, dentro do ciclo temático “Energia e
Desenvolvimento”. (EcoDebate)
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