‘Macaúba é o novo ouro brasileiro’, diz pesquisador da Federal de Viçosa
No
início dos anos 2000, a partir do Programa Nacional de Uso e Produção de
Biodiesel, verificou-se que a macaúba era uma das espécies de planta mais promissoras
para a produção de biodiesel e bioquerosene - fontes de energia limpa. Mas o
furor inicial passou e o interesse diminuiu. Contudo, com a retomada das
discussões sobre aquecimento global e desenvolvimento sustentável, a palmeira
nativa do Brasil voltou a tomar espaço nas discussões sobre alternativas de uso
de energia. Para o professor e cientista da Universidade Federal de Viçosa
(UFV), Sérgio Yoshimitsu Motoike – que pesquisa a planta desde 2005, a macaúba,
hoje, pode ser considerada o novo ouro brasileiro. Tanto que a Petrobras é a
maior financiadora das pesquisas da universidade em relação à planta.
"O
aquecimento global é uma realidade reconhecida neste ano, inclusive pelos
grandes emissores de gases do efeito estufa, como a China e os Estados Unidos.
Mudanças climáticas são percebidas em diversas regiões do mundo, inclusive no
Brasil, que passa pela maior seca dos últimos anos. O mundo busca soluções para
sustentabilidade do planeta e a macaúba pode se tornar uma dessas soluções, e
de grande impacto. Ela poderia ser cultivada em mais de 160 milhões de hectares
ocupados atualmente pela pastagem (pecuária). Só em Minas Gerais seriam 25
milhões de hectares. Nessa área pode-se produzir de quatro a seis toneladas de
óleo por hectare a cada ano, que pode ser a matéria-prima do biodiesel e do
bioquerosene. Já imaginou quanto biodiesel e bioquerosene poderíamos produzir
no Brasil? O petróleo é considerado o ouro negro. Já a macaúba pode ser o
petróleo renovável cultivado nos campos brasileiros, o ouro", avaliou o
professor.
Para
Motoike é fácil traduzir em números o potencial econômico da macaúba. "Só
em Minas temos 25 milhões de hectares de pastagem. Se a macaúba produz de
quatro a seis toneladas por hectare, isso significa que são 100 a 150 milhões
de toneladas de óleo por ano. E se o óleo for comercializado a R$ 1 mil a
tonelada teríamos entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões de faturamento. Isso só
em Minas Gerais. Sem contar os outros produtos que podem ser advindos da
macaúba", explicou.
Quando
fala em "outros produtos", Sérgio Motoike refere-se às mil e uma
utilidades da palmeira. Ela também pode servir de matéria-prima para produtos
de tratamento capilar; os frutos são comestíveis (a torta da amêndoa da
macaúba, por exemplo, tem de 25% a 30% de proteína); o endocarpo do fruto (parte
dura do coco) é matéria-prima de alto valor para a produção de carvão ativado
utilizado em filtros (também pode ser empregado em siderurgia); suas folhas são
forrageiras e possuem fibras têxteis que podem ser utilizadas na confecção de
redes e linhas de pesca, por exemplo.
Mas
por quê uma planta tão promissora foi tão negligenciada no passado? Segundo o
pesquisador da UFV, um dos motivos, e seguramente o mais importante, é que não
se conseguia promover a propagação do cultivo. "As sementes apresentavam
demência e não germinavam, o que frustrava as tentativas do cultivo
agrícola", comentou Motoike. E foi aí que cientista e equipe entraram para
reverter a situação. Em 2005, logo após o lançamento do Programa de Uso e
Produção de Biodiesel, a Universidade deu asas as intensões da equipe, que
conseguiu reverter o problema da germinação das sementes, possibilitando o
cultivo.
"O
nosso grupo de pesquisa se concentra na área agrícola. Transformar uma planta
selvagem como a macaúba em uma planta agrícola domesticada requer um trabalho
coordenado das diversas áreas da agronomia. Buscamos desenvolver desde
variedades através do melhoramento genético, adubação, controle de praga e
doenças à colheita e pós-colheita da macaúba", explicou Motoike, revelando
que a maior financiadora das pesquisas é a Petrobras. "Ela (Petrobras) tem
interesse na planta para a produção de biodiesel. Contudo, outras empresas,
como a europeia Sky Energy, fornecedora de combustível de aviação, buscam
informações para a produção de bioquerosene", revelou.
Na
Zona da Mata, as primeiras plantações de macaúba aconteceram em Lima Duarte.
Mas a empresa que iniciou o plantio, a espanhola Entaban, faliu com a crise em
2009 e, por isso, os investimentos foram interrompidos. Atualmente, segundo
Motoike, outras empresas como a Acrotech e a Soleá investem na cidade de João
Pinheiro, no Noroeste de Minas.
Para
o pesquisador de Viçosa, a palmeira representa sem dúvida o futuro ligado à
sustentabilidade. "Considerando a versatilidade e a alta produtividade
dessa espécie, quanto os diversos produtos que ela pode produzir e à
necessidade de o mundo de se tornar cada vez mais sustentável, acredito que a
macaúba é a bola da vez. Nós brasileiros devemos aproveitar a oportunidade que
se abre para crescer, desenvolver e se tornar cada vez mais sustentável",
destacou.
Cadeia extrativista
Em
recente entrevista na cidade de Dores do Indaiá, no Centro-Oeste de Minas, o
secretário de Desenvolvimento de Minas Gerais, Rogério Nery, reconheceu o poder
da macaúba e ressaltou que este é um momento histórico para a produção de
energia limpa no Brasil e em Minas Gerais. “Isso vai transformar o campo em
produção de combustível ecologicamente correto, atendendo as necessidades do
mercado mundial. Hoje, na aviação é uma regra que tem que ser cumprida e o
volume de combustível a ser consumido é muito superior a condição que o país
tem de produzir”, afirmou.
E
mercado para isso o governo do estado garante que já existe. “Nós temos que
começar a produzir as primeiras toneladas para exportar. Países como Holanda e
Alemanha têm refinarias para este tipo de óleo e podem ser as principais
consumidoras”, finalizou Nery. (biodieselbr)
Nenhum comentário:
Postar um comentário