Sem chuvas, país está sujeito a novos apagões, dizem
especialistas
Sistema está atuando no limite da infraestrutura, com a
geração de energia no gargalo e o consumo elevado.
Sem as chuvas necessárias para um período
úmido, o país vive um momento delicado no que diz respeito ao setor elétrico,
que pode culminar em novos cortes de carga como o que ocorreu em 19/01/15.
Especialistas do setor dizem que o sistema está estressado, atuando no limite
da infraestrutura, com a geração de energia no gargalo e o consumo elevado, com
recordes consecutivos, por conta das altas temperaturas. E com os reservatórios
baixos, explica Walfrido Ávila, da Trade Energy, as hidrelétricas perdem a sua capacidade
de aumentar rapidamente a geração.
"Se não chover, se não aumentar a vazão e
as usinas hidráulicas não tiverem como ajudar o sistema, isso vai acontecer
mais vezes, é normal acontecer. Ficar sem água é que é anormal", apontou
Ávila em entrevista à Agência CanalEnergia.
Segundo o Operador Nacional do Sistema
Elétrico, na última segunda-feira, restrições na transferência de energia das
regiões Norte e Nordeste para o Sudeste, aliadas à elevação da demanda no
horário de pico, provocaram redução na frequência elétrica. Com isso, ocorreu a
perda de unidades geradoras de diversas hidrelétricas, totalizando 2.200 MW.
"Ainda bem que a proteção das usinas
atuou. Se não tivesse proteção, queimaria o gerador e a usina não poderia
voltar a operar", comentou o executivo. Para Fábio Cuberos, gerente de
Regulação da Safira Energia, o que está por traz dessas ocorrências no sistema
é o planejamento e a execução das obras do setor. "O relatório de
fiscalização da Aneel mostra que 35% das obras de geração previstas até 2020
estão atrasadas, então isso acaba comprometendo a segurança do sistema. Além
disso, o planejamento precisa ser integrado. Algumas usinas ficaram prontas sem
linhas de transmissão. Esse é um ponto crucial para resolver o problema",
destaca Cuberos.
Ele avalia que o atraso nas obras de
transmissão compromete o escoamento da energia entre as regiões, porque em
momentos com consumo elevado é crucial poder transferir energia de uma região
para outra. Além disso, é preciso, na opinião do executivo, realizar programas
de racionalização, de eficiência energética, que o governo reluta em adotar.
"São três pontos cruciais: a fiscalização das obras, o planejamento
integrado da geração e transmissão e o consumidor poder ajudar na redução do
consumo", analisa Cuberos.
Ávila, da Trade Energy, diz que não há uma
solução de curto prazo para a crise existente, a não ser que chova. "Não
construímos os reservatórios que deveríamos ter construído ou as térmicas
necessárias para substituírem esses reservatórios. Então, nos próximos meses,
se não chover, estamos sujeitos a esse tipo de ocorrência", completou. O
executivo alerta que a segurança do sistema está ameaçada e que o nível de
risco, que é normalmente de 5%, está acima do programado. "O sistema está
todo calibrado assim. O GSF, que está dando problema para os geradores, foi
calculado assim também. Não é para ter esse problema de risco. A operação do
sistema está acima do nível de risco programado. Assim, dá problema de
apagãozinho aqui, ali, dá problema financeiro, porque está tudo
desajustado", aponta Ávila. (canalenergia)
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