Dependência de caminhões e carros: Lição para o
futuro
Sofrer
pela dependência dos caminhões e carros poderia servir para mudar desse modelo
rodoviário, que negligencia alternativas, para investir em ferrovias. Nos
países desenvolvidos, trens e metrôs são fundamentais no transporte de cargas e
passageiros.
Não
precisa ser especialista no assunto para ver que apenas 30 mil km de ferrovias
é uma quantidade insignificante, em contraste com cerca de 1,8 milhão de km da
malha rodoviária, embora apenas 12% asfaltados e só 10 mil km de autoestradas.
Os
caminhões transportam entre 60 a 80% das cargas, segundo diferentes
estatísticas. Há 2,2 milhões de motoristas sendo mais de um milhão empregados e
menos de um milhão de autônomos. Os altos custos diminuem o número de autônomos
e atualmente haveria cerca de 58% empregados, 27% autônomos e 15% classificados
como tendo “outros tipos de contratos”.
Brasileiro
é apaixonado por carro, como já dizia uma propaganda de uma rede de postos. Se
tem uma paixão nacional é essa de pegar o seu carro e sair por aí. O mesmo com
os caminhões, ou com as motos, são parte da nossa cultura, jeito de ser,
preferência nacional.
Um
projeto de país, porém, tem de ser racional e um país para se desenvolver
precisa de ferrovias e metrovias estratégicas, para cargas e passageiros. Nada
impede de desenvolvermos uma paixão por trens, também, como em alguns poucos
locais que tem “rotas românticas” para passeios turísticos.
Imaginem
São Paulo e Rio se não tivessem ao menos linhas básicas de metrôs e trens? Nas
outras capitais há poucas linhas, mas deveria ser uma prioridade nacional.
Lembro de músicos que se apresentavam no metrô de Recife, por exemplo, por
iniciativa própria. Nada impede de tornar nossos metrôs mais atrativos, mas em
primeiro lugar é preciso que eles existam.
No
transportes de cargas, nossas poucas ferrovias estão mais ligadas a transportar
minérios ou soja até portos para o exterior, do que para o abastecimento
interno. Um episódio diferente dessa crise foi o de Bauru, no interior
paulista, onde não faltou gasolina, porque o abastecimento é feito de trem.
Uma
crise é uma oportunidade de repensar prioridades e estratégias e essa
escancarou um modelo atrasado, que é a dependência absoluta de transporte
rodoviário. Muitas questões merecem debates, desde a estratégia econômica da
Petrobrás, até a dependência de petróleo e as energias alternativas, além dos
impostos abusivos. Mas, mais que isso, é preciso pensar num projeto de país.
(ecodebate)
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